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03

Caminhei para fora da cozinha tentando processar o que acabara de acontecer, ainda podia sentir o calor do corpo do homem rente ao meu e aquela sensação me fez suspirar por alguns segundos, até minha mente dar lugar à culpa e a minha ficha cair; Hero estava desconfiado de que eu nutria sentimentos por ele. O que eu iria fazer agora?

Um leve desespero deitou em meu corpo após pensar na possibilidade de que meus sentimentos estivessem tão transparentes que até Elle fosse notar – uma pequena angústia abraçou meu peito ao pensar que eu poderia estragar tudo para ela e Hero.

Eu o amava, mas Elle também o amava, se casaria com ele, era o sonho da vida dela e eu não poderia interromper isso.

Notei que a copa estava vazia e que os pais dos meus amigos deviam ter ido à praia. Caminhei em passos lentos até a sala e encontrei Elle sentada no sofá com uma revista de noivas em suas mãos. Assim que notou minha presença, seu sorriso se abriu para mim e ela me convidou para me sentar ao seu lado.

— Eu estava mesmo querendo falar com você, Lie. – avisou. — Estou com dúvidas em relação às flores do casamento. Eu pensei em algo como jasmim ou copo de leite... O que você acha?

— Uma merda! – as palavras escaparam dos meus lábios antes que eu pudesse filtrá-las.

Os olhos de Elle se expandiram em minha direção e seu rosto foi tomado pela surpresa das minhas palavras, logo depois suas bochechas ganharam um tom rosado e ela limpou a garganta envergonhada.

— Huh, eu entendo que esteja chateada por Hero e eu não termos dito que íamos nos casar. – disse calmamente. — E entendo se você não quiser se envolver, no entanto, eu ficaria muito agradecida se pudesse me ajudar. – sorriu tímida. — Você acha mesmo a escolha das flores ruins?

Um leve desconforto se instalou em meu peito e suspirei, culpada pela minha atitude. Elle não tinha culpa se eu não era corajosa o suficiente para expressar meus sentimentos pelo meu melhor amigo.

Ninguém era.

— Me desculpe, Elle, eu não quis soar grossa. – dei um meio sorriso para ela. — Hero gosta de flores mais coloridas, talvez orquídeas? – sugeri.

Elle passou as folhas do catálogo rapidamente até encontrar a sessão de orquídeas. A ponta do seu dedo deslizou pela folha e ela lia atentamente cada descrição contida ali.

— Gostei da Vanda, ela tem uma cor muito bonita e vai combinar com o meu vestido. Não vou me casar de branco, acho um pouco ultrapassado. – sorriu. — Decidi que quero meu vestido em um tom de lilás bem clarinho e acho que essas flores irão ficar perfeitas e devem combinar com o terno de Hero também!

Olhei a página atentando-me à flor e sorri forçado para Elle, assentindo levemente.

— Perfeito! – forcei a voz. — Ótima escolha!

— Você e Brie, minhas madrinhas favoritas, irão usar um tom de rosa bem claro também, ficará tudo lindo sob o céu da Califórnia, tenho certeza.

A revista se fechou e o corpo da mulher repousou sobre o sofá, um suspiro estonteante escapou por seus lábios e suas mãos se cruzaram sobre o seu peito de uma forma apaixonada.

— Eu estou tão feliz, Amelie, e tão ansiosa! – suspirou feliz. — Eu não vejo a hora em que finalmente eu e Hero estaremos juntos para sempre!

A mulher se levantou rapidamente, sentou-se no sofá e me abraçou – sem jeito, tentei retribuir o seu abraço da forma mais verdadeira possível, ainda que isso fosse cruelmente difícil para mim.

— Estou feliz por vocês. – sussurrei.

Mas a verdade é que enquanto aquelas palavras saíam da minha boca, meus olhos transbordavam em lágrimas por ter a certeza de que Hero nunca seria meu.

O vento balançava os fios dos meus cabelos enquanto eu ouvia Brie e Hero em uma discussão de irmãos e, juntamente comigo, Elle se desmanchava em risos.

Estávamos todos sentados na varanda da casa de praia enquanto jogávamos conversa fora – Hero estava sentado à minha frente, ao lado de Brie, que estava ao lado da cunhada – por minha vez, eu estava um pouco mais afastada, mas ainda assim participava da conversa.

Levei o copo de café até minha boca, olhando para além do pequeno cercado da casa e avistando a areia da praia, e só notei que alguém se aproximava quando a caneca de porcelana azul foi puxada levemente das minhas mãos.

— Não entendo essa sua fascinação por café, é tão... Ruim? – uma careta preencheu a face de Hero e ele se sentou ao meu lado, inalando o cheiro do líquido. — Sério, Amelie, o que tem de bom nessa coisa?

Puxei a caneca de suas mãos com cuidado, lançando-lhe uma feição ofendida e colando uma das minhas mãos sobre o peito. O sorriso na face de Hero logo apareceu e ele deu de ombros.

— Não se chama café de “essa coisa”, tudo bem? Você pode ter um pouco mais de respeito? – rebati. — E se você não gosta é porque ainda não tomou o meu café, o que é uma ofensa considerando todos os nossos anos de amizade!

Os olhos do rapaz reviraram e sua mão empurrou levemente o meu ombro, me fazendo sorrir – olhei para o lado, notando Brie e Elle entretidas em uma conversa.

Olhei novamente para Hero, alcançando seus olhos que ainda estavam presos em mim. Seu olhar caía sobre mim fixamente, sem desvios. Sua expressão era firme e sufocante a ponto de me fazer queimar só por tê-lo me observando.

— Eu não sei quantas vezes eu disse isso, mas caramba, Amelie, você é linda pra caralho. – sua voz soou firme.

As palavras chegaram aos meus ouvidos no momento em que eu levava a xícara de café quente até a boca e, por um leve descuido, o líquido escuro queimou minha língua, fazendo-me gemer.

— Merda! – murmurei.

As mãos de Hero agarraram meu rosto rapidamente, puxando-me para perto, a preocupação excessiva estampada na sua face.

— Meu Deus, Amy, tome cuidado! – brandou alto. — Queimou muito?

Ouvi passos se aproximarem de nós, no entanto, não me movi para longe do toque de Hero, assim como ele não se afastou de mim e não desviou o seu olhar.

— O que está acontecendo aqui? – a voz de Elle soou confusa. — Por que vocês estão tão próximos?

Balancei a cabeça negativamente e me afastei do toque de Hero, sem conseguir formular uma frase. Meu olhar seguiu para Elle e Brie, que me encaravam atentas esperando uma resposta.

— Eu... – tentei dizer.

— Ela queimou a língua enquanto bebia café, só estava vendo se machucou muito. – Hero me interrompeu.

Elle cruzou os braços sobre o peito e voltou o seu olhar para seu noivo e depois para mim. Olhei para Brie suplicante e ela suspirou, revirando os olhos.

— Amy, estava falando com a Elle sobre o luau que vai ter hoje à noite, você quer ir? – a voz de Brie soou, cortando o assunto.

— Seria leg...

— Quero falar com você, Hero, a sós! – Elle interrompeu a minha fala, dando às costas e descendo a pequena escada presente ali.

Hero não se moveu, apenas deixou sua noiva ir, sem segui-la. Brie olhou para nós dois e ergueu as mãos no ar em forma de rendição, se afastando dali.

— Por que vocês não assumem logo o que sentem?

Meu queixo pendeu para baixo em espanto ao ouvir as palavras da minha amiga, pude sentir minhas bochechas corarem e não me atrevi a olhar para o homem ao meu lado devido à vergonha.

— É, Amelie, por que você não assume logo?

A voz de Hero me atingiu enquanto ele se levantava e caminhava para perto da sua noiva e consequentemente para longe de mim, e pela segunda vez no dia, senti que eu estava perdendo o homem que eu amo para sempre.



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