🎩 Capítulo 4 - MacBélgio
Ambrose estava deitado em sua pequena cama na sua carroça sobre rodas. Aquela carroça no estilo cigano vinha sendo seu lar nos últimos três anos. Por dentro havia uma cama e uma mesa minúscula, alguns bancos com almofadas coloridas. Debaixo da cama e ao longo das paredes, existiam armários e baús onde eram colocadas as provisões. Janelas pequenas com cortinas alegres. Os objetos pessoais do mágico ficavam bem espalhados. Tanto em algumas caixas, como nas prateleiras das paredes, além dos baús que ficavam escondidos.
Ambrose amava seu lar, não foi nada fácil conseguir sua carroça. Para isso ele teve que provar seu talento, ao sair de seu lar na floresta e seguir com o circo, Ambrose não fazia a mínima ideia do que encontraria. Em sua inocência ele pensou que encontraria seu destino rapidamente. Mas não foi bem assim.
Era inexplicável a sensação que ele teve ao ver o circo pela primeira vez. Ele olhou para aquela enorme tenda de lona e sentiu vontade de chorar, uma emoção que o deixou com nó na garganta. Enquanto via os vários artistas saltimbancos naquela enorme tenda demonstrando suas habilidades, em troca de algumas contribuições, ele teve a certeza que ali era seu lugar no mundo, o lugar para alguém com suas habilidades, e mais, ele sentiu que aquele circo o levaria até seu destino.
Fazer sua escolha foi fácil, o difícil foi ter que prova seu talento. Jack Earle e Krao Earle. Irmãos e proprietários do circo, não acreditaram muito quando um jovem de 18 disse ter o domínio do ilusionismo, mesmo estando sem um mágico na trupe, os Earle não queriam arriscar. Ali estava a primeira batalha de Ambrose. Provar para os irmãos Earle que ele era sim bom. Bom não, o melhor.
Depois de quatro encontros improdutivos, do qual os irmãos sempre encontravam uma desculpa para não receber o jovem, Ambrose invadiu a tenda deles.
- Mais O que você está fazendo aqui garoto? - Jack Earle ficou revoltado com a audácia daquele garoto. - Já disse para você que não há lugar para crianças no circo.
- Criança é? Eu vou te mostra o que sei fazer. - Retrucou Ambrose com atrevimento.
Sem dar nenhuma chance para a reação dos homens, Ambrose puxou do bolso da calça um longo lenço na cor vermelha. Em seguida, amarrou o lenço ao redor do pescoço, fazendo dois nós nas pontas de cada lado, em seguida os irmãos ficaram chocado quando viram o jovem mágico puxar com força o lenço. Mais chocados ainda ficaram quando viram o lenço atravessar o pescoço do mágico e depois terminar nas mãos dele. Eles ficaram chocados.
Depois o mágico colocou o lenço nas mãos, e dele fez brota duas rosas, em seguida colocou as duas rosas, e fez aparece 4, na sequência, cobriu as quatro rosas com o lenço e fez surgiu 10 rosas. Até que ele escondeu as 10 rosas e as cobriu com o lenço e de baixo dele saiu 10 borboletas coloridas voado pela tenda . Jack, assim como seu irmão, estava chocado. Sem palavras. Eles pegaram as borboletas e constataram que eram reais.
- Co... como você faz isso? -Krao Earle perguntou.
Ambrose sabia que quanto mais profissional e impressionante o número for, mais intenso é o desejo de saber o que está por trás dele. Aí era que estava o problema, ninguém poderia saber o que era, ele prometeu à sua mãe.
- Não revelo meus segredos, agora vocês sabem meu talento, então, me acham bom o suficiente ou terei que procurar outra trupe? - Disse Ambrose com atrevimento.
Jack Earle e Krao Earle, tiverem uma séria conversa, afinal o garoto era um enigma, ele não disse da onde tinha vindo, e eles poderiam ser acusados de bruxaria. Porém o garoto apresentava algo único, a chance do circo alcançar o inimaginável. Assim sendo, logo Ambrose partiu com o circo.
Eles caminharam e viveram em diversos lugares. Logo Ambrose aprendeu que o circo tinha duas caras. A primeira era a que mostrava ao público. Quando armava a enorme tenda de lona colorida. O público via as mais variadas formas de diversão existentes naquela época. Com vários espetáculos impressionantes. Ambrose sendo o principal deles. Logo o jovem e belo mágico ganhou fama. Ele era impressionante. Uma mistura rara de beleza e enigma. O público só via a cara boa. A parte do sorriso dos artistas.
A outra cara do circo estava nas dificuldades daquela vida. Não havia um lar, ali eram pessoas renegadas pela sociedade. Que de alguma forma não tinham encontrado um lugar para viverem. A grande estrutura envolvendo o espetáculo circense vinha acompanhada de grandes e constantes mudanças de lugar. A casa deles era sempre uma pequena carroça. O ganha pão era fazer o espetáculo.
Muitas vezes essas mudanças aconteciam debaixo da chuva fria, os circenses sabiam sentir o cheiro da podridão da sociedade. Eles conheciam todas as ruas e vielas que abrigavam casas precárias. Pessoas de olhar duro e de fome, acostumadas ao sofrimento dos outros tanto quanto ao próprio, pessoas sofridas. O palhaço não era sempre feliz. Mas Ambrose se recusava a viver daquela maneira. Logo ele se deu conta que ali não havia calor humano, e que ninguém estendia as mãos a outro. Era cada um por si.
Foi com alívio e com sua fama. Que ele pode comprar sua carrocinha e fazer dela seu lindo lar, sempre que chegava em um local novo, ele tinha a expectativa de encontrar seu destino. Quando ele não encontrava, levantava a cabeça e partia para outra, todos os dias ele tinha que driblar aquela vida, lidar com pessoas de certa forma frustradas e com olhares esquisitos de todos. Até de seus patrões. Eles sabiam, pelo próprio Ambrose, que ele gostava de homens. Isso aconteceu porque certa vez ele foi questionado por não dar atenção a nenhuma jovem, isso só fez com que as pessoas ficassem mais afastadas dele.
Um mágico que faz coisas impressionantes, e diz gostar de homens , não era comum. Assim as pessoas tinham medo dele. Os irmãos Earle só não o tiravam da trupe pelo talento do rapaz, eles precisaram reconhecer que Ambrose era quem levava o nome do circo. Três anos depois ele se encontrava ali, na sua carroça, sozinho, indo novamente para um lugar desconhecido, na esperança de encontrar seu destino.
Os irmãos Earle estavam eufóricos, ao que parecia eles tinham fechado o verão inteiro na melhor terra da Escócia, o clã MacBélgio. Ambrose também estava estranhamente eufórico, mesmo sem saber o motivo. Quando chegou no clã, ele achou o lugar agradável. As pessoas eram hospitaleiras. Principalmente o chefe de guarda Andrew e esposa dela. Como sempre, algumas pessoas o admiravam, outros o acusavam de demônio, bruxo. Mas ninguém podia provar nada, mesmo assim haviam alguns fanáticos. Porém a segurança de Ambrose era bem feita pelos irmãos Earle.
Principalmente Jack, desde que ele soube de Ambrose, passou a tratar o jovem de outra maneira. Com cordialidade exagerada demais, o mágico sempre tentava manter distância de Jack. Ele não sabia dizer qual era a intenção do homem. Numa bela tarde, já em MacBélgio, ele foi convidado a tomar um chá na casa de Andrew. Por experiência própria. Ele já imaginava o teor da conversa. Não era difícil, afinal o chefe de segurança querendo falar com ele, não podia ser outra coisa.
- Bem-vindo Ambrose, fique à vontade. - Disse a bela esposa de Andrew, Lady Margie.
- Obrigado.
Assim que serviu chá e bolinho para o marido e o mágico, Margie deixou os dois. Andrew foi direto ao assunto assim que se viram sozinho.
- Recebi algumas acusações sobre você. - Disse Andrew.
- Deixa me ver, fui chamado de bruxo e de demônio? - Perguntou Ambrose comendo um bolinho, se tinha algo que ele não tinha, era vergonha de comer em público. Ainda mais porque ele, na maioria das vezes, fazia sua própria refeição e comia sozinho.
- Isso acontece com frequência? - Quis saber Andrew. Ele estava intrigado com o jovem.
- De tal forma, que estou até acostumando, acredite Sir. Não é a primeira vez que alguém quer me jogar numa fogueira, nem será a última. - Ambrose disse parecendo nem um pouco preocupado.
- Desculpe me, você parece confortável com essa situação ou é impressão minha ? - Andrew estava chocado.
- Não é confortável! É conformando. Eu não vou mudar a opinião das pessoas. É uma luta perdida. Ou me conformo, ou do contrário perderei meu emprego. - Disse Ambrose dando de ombros.
- Entendo, elas o acusam de bruxaria, devo confessar que fiquei impressionado com seu número.
- Não posso provar nada a ninguém, e também não revelo meus segredos de magia.
Andrew só afirmou com a cabeça, depois bebericou um pouco do chá e ficou pensativo. Ele olhou o jovem rapazinho em sua frente. Ele parecia inofensivo, alguém que não oferecia nenhum tipo de perigo. Em todos seus anos no exército de MacBélgio, primeiro como soldado, e hoje como chefe de segurança. Andrew aprendeu algumas coisas. Uma delas era ler e reconhecer o perigo em outras pessoas. Isso era uma tática de sobrevivência. Algo que garantia a segurança do Duque e do clã. E Andrew podia jurar que aquele jovem mágico não era uma ameaça. Embora ele soubesse que ele guardava algum tipo de segredo.
- Você representa alguma ameaça a alguém? - Andrew queria ouvir do rapaz a resposta.
- De forma alguma sir. Tem minha palavra, e pode pergunta aos irmãos Earle, eles vão confirmar.
Andrew sabia que era verdade, afinal ele próprio mandou investigar o circo antes de permitir a entrada deles em MacBélgio.
- Era tudo que precisava ouvir. Tem minha palavra que durante esse verão nada irá lhe acontecer. Sua vida está segura em MacBélgio.
- Obrigado. - Aquela foi a primeira vez que alguém o tratou como ser humano. Como alguém que precisava de segurança. E Ambrose passou a se sentir bem ali. Ele estava realmente feliz por estar em MacBélgio.
🎩
Duas horas antes do espetáculo daquela noite, Ambrose se via colocando seu casaco vermelho e organizando seus itens de mágico. Ele estava estranhamente eufórico aquele dia, e não sabia o motivo. Uma emoção tomava conta de seu corpo, uma inquietude, uma sensação de ter esperado por aquele momento durante toda sua vida. Se sentir assim, e não saber a causa, era um misto de angústia e insegurança. Ele sabia que sua vida iria mudar.
No decorrer da noite, Ambrose passou todo o espetáculo a espreitar, tentando ver alguma coisa ou alguém que fosse o responsável por aquela sensação. Sem resposta, ele colocou sua cartola e esperou ser anunciado. O mágico disse a si mesmo para manter a calma, ou acabaria fazendo algo imprudente. Respirando fundo ele esperou ser chamado.
- O grande Circo irmãos fantástico apresenta o maior espetáculo de ilusionismo da Terra! Atenção plateia, vem aí o mágico que não é apenas um ilusionista. Ele tira seus coelhos e todas as suas mágicas de sua infinita cartola. Ele tem truques que ninguém é capaz de desvendar. Ele é só um mágico ou uma pessoa com poderes sobrenaturais? Com vocês, recebam Ambrose.
Ambrose percebeu que suas mãos estavam tremendo. Ele respirou fundo e tentou manter o foco, não estava sendo fácil, uma vez que seu coração acelerou. Para tentar fazer seu número, ele fez o truque dos pombos. Assim ele esperava que a plateia ficasse distraída de uma forma que ninguém percebesse seu nervosismo.
Com a cabeça inclinada, a respiração ofegante, suas mãos suavam de nervosismo, mas algo dentro dele o mandava erguer a cabeça, e assim Ambrose fez. Lentamente, sem pressa ele ergueu a cabeça. Em sentado à sua frente estava o homem mais lindo que ele já tinha visto na vida, estava o sujeito que o fez procurar por ele esses longos três anos. A vontade de chorar e sorrir era enorme. A plateia estava alheia as emoções do mágico, Ambrose tinha finalmente encontrado seu destino. Aquele que ele esperou a vida toda. A espera tinha finalmente acabado. Então Ambrose abriu um lindo sorriso. Seu destino estava ali em sua frente. Ele tinha a sensação boa de começo de verão, de encontrar o verdadeiro amor.
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