Um barulho estridente de celular toca.

Meus olhos se abrem ligeiramente e, dentro do quarto, ainda parece ser de madrugada. Percebo que estou abraçada a Coringa, com a cabeça no seu peito. Ele também acordou e está com cara de quem quer matar alguém.

– É o seu? – Ele pergunta, com a voz rouca.

Sem me soltar dele, pego meu celular que descansa na cabeceira da cama e vejo que não é ele quem está tocando e que já são dez horas da manhã. Penso se não está adiantado no horário, mas talvez seja as cortinas black-out que passam a impressão de que lá fora está tudo escuro.

– Não. – Respondo, com preguiça.

Coringa se estica e alcança seu celular do outro lado da cabeceira e o atende. Estou com tanto sono que não faço questão de prestar atenção no que ele está conversando com sabe-se lá quem do outro lado da linha. Não é hora para o meu cérebro tentar aumentar o vocabulário em italiano. Depois de breves segundos, eles solta um ar de reprovação e desliga a chamada.

– Eu vou ter que sair. – Ele diz, desgostoso.

– Ah, não. Aqui tá tão bom. – Aninho-me a ele.

Coringa me abraça de volta e fica alguns minutos assim, posso sentir sua bochecha encostada na minha cabeça. Por fim, ele me afasta um pouco e passa a mão no meu cabelo. Infelizmente sei que isso é a sua deixa. De alguma forma, uma sensação de "acordar para a realidade" começa a surgir.

– Eu queria mesmo continuar agarradinho com você. – Coringa declara – Quem sabe até fazermos de novo um amorzinho gostoso, mas vou ter que sair, de verdade.

Faço beicinho e ele passa seu polegar na minha bochecha. Ter o Coringa só para mim estava bom demais para ser verdade.

– E você vai pra onde? – Pergunto com um muxoxo.

Coringa hesita por um momento. Minha cabeça quer processar o que está acontecendo – o porquê dele hesitar diante de uma pergunta simples – mas apenas continuo alimentando a dor da partida.

– Tenho alguns negócios para fazer. – Coringa responde.

– Mande o Crusher!

– Não dá, Babi. Isso tem que ser eu mesmo para resolver. Mas vai ser rápido, volto a tempo de receber os convidados às 14hrs.

Sou envolvida pelos seus braços mais uma vez até me sentir convencida de que tenho deixá-lo ir. Ele então se solta de mim e levanta da cama. Vejo-o caminhar pelado pelo quarto até o banheiro e, logo em seguida, ouço o barulho do chuveiro.

É... Parece que o dia de ontem foi há um mundo de distância de mim.

[...]

O horário de receber os convidados se aproxima. Na verdade, ainda falta quase uma hora, mas Rosalynd disse que viria algum tempo antes do horário marcado para me ajudar a alocar todos na casa do Lago. Para ser sincera, fiquei aliviada. São muitas pessoas e não sei nem em que quarto cada um vai ficar, além disso, com Rosy aqui, não preciso lidar com o pai de Coringa. Meu maior medo agora é estar sozinha de novo com esse velho.

Pensando nisso, começo a me sentir nervosa com a demora do Coringa e quero o quanto antes vê-lo. Se ele estiver aqui, vou me sentir bem melhor. Não que eu não saiba me defender, é só que com ele, tenho mais segurança para lidar com George Paviole. Mas o meu noivo não aparece, nem mesmo me avisa em que horas vai chegar.

Quando finalmente ouço o ronco de um motor na propriedade da casa, corro para a janela. Surpreendo-me ao ver que não é o carro que Coringa está usando, na verdade é uma Ferrari vermelha que brilha com o reflexo do sol. Quem está dirigindo, estaciona na entrada e eu desço para recebê-lo. Um misto de medo e ansiedade me consomem. Não faço a mínima ideia de quem seja.

No hall de entrada, abro a porta e, surpreendentemente, Rosalynd entra. Ela me abraça forte e me dá um beijo na testa. Atrás dela, vejo Crusher travar a Ferrari com o controle e caminhar como um bad boy até mim.

– E aí, cunhadinha. – Ele me cumprimenta com um beijo na bochecha.

– E aí, metido. Qual é desse carrão aí? – Ele gargalha com minha pergunta.

– Rosy disse que queria vir comigo, então peguei o meu melhor carro para trazer ela.

Abro um sorriso simples. Isso foi comovente, até. Parece que Rosalynd é mesmo importante para os irmãos Paviole. Saber que pelo menos eles tiveram alguém amoroso na sua infância me deixa um pouco mais aliviada. Talvez os cuidados dela mantiveram uma pequena parte da humanidade desses garotos intacta.

– Uau! – Digo – Eu não sabia que você podia ser gentil, Crusher.

– Engraçadinha. Me mostre logo meu quarto que eu estou precisando de um banho.

Vejo Rosy chegar perto dele e fingir sentir um cheiro ruim. Ela pressiona o nariz com os dedos e diz:

– Humm, precisa mesmo, menino!

Solto uma gargalhada e todo o meu nervosismo se esvai. Nunca pensei que veria Rosy brincar com alguém, assim. Essa casa no lago tem o incrível poder de despertar o melhor lado das pessoas. Ou talvez seja porque na minha frente, Rosalynd não precise esconder o afeto que tem por Crusher.

– Concordo, com você, Rosy. – Digo, limpando uma lágrima do canto do olho – Mas eu não sei qual é o seu quarto. Para ser sincera, estou perdida.

– Tudo bem, Babi. – Rosy intervém – Eu te ajudo com isso. Venham!

Nós subimos para o andar de cima e Rosalynd começa a olhar quarto por quarto, verificando qual é o melhor para cada um dos nove convidados que vão se hospedar aqui para o jantar de noivado.

Depois de tudo, ela me leva para a cozinha e sentamos na ilha, ao passo que Crusher vai fuçar a geladeira em busca de algo para comer. Rosy pega um papel e tenta reproduzir uma planta baixa dos quartos e suas disposições. No centro de cada quadrado, ela coloca os nomes.

– Nesse primeiro quarto, podemos instalar o senhor Bak e a Samanta, porque há duas camas de solteiro. – Rosy explica – No quarto ao lado, o mais indicado é colocar uma pessoa só, então pensei na senhorita Lara Silva.

– Ela vem? – Pergunto, com um brilho nos olhos.

– Sim! Ela quem vai fazer a sobremesa de hoje a noite. Além disso, ela vai preparar o bolo do casamento amanhã aqui e isso demanda muito tempo.

– Ah, entendi.

– E o meu quarto? – Crusher entra no meio da conversa.

– Seu quarto é o de frente para o do senhor Bak. Tem uma vista linda do lago pela janela.

– Quer dizer que eu não vou ficar com um quarto com varanda? – Ele protesta, com seu ar brincalhão.

– Infelizmente, o único quarto com varanda é a suíte do senhor Coringa e da Babi.

– Droga, Babi. Você só fica me roubando privilégios!

Dou um murrinho no seu braço e ele sai da cozinha rindo, talvez já querendo ir tomar o seu tão esperado banho.

– Continuando... – Rosy resgata minha atenção – No quarto ao lado de Crusher, vou instalar os senhores Bernard e Paolo, já que é um quarto com uma cama de casal. O senhor George ficará no quarto ao lado de Lara Silva, e Melchior, no quarto da frente.

Engulo em seco. O quarto do meu futuro sogro de mentira está próximo demais de mim. Na verdade, ainda que se instalasse no Polo Norte, seria muito perto para a minha total despreocupação.

– Tem como trocar o quarto de Crusher com o do pai dele? – Pergunto, nervosa, esperando que Rosy não me pergunte de volta qual o motivo do meu pedido.

– Claro, como você quiser. – Felizmente, ela apenas responde isso.

– Ótimo!

Rosalynd termina de escrever os nomes no mapa improvisado e eu me lembro de algo.

– E o seu quarto?

– Ah, esqueci de dizer. – Ela coloca a caneta sobre o papel, sorrindo com os olhos – Vou dormir no quarto aqui embaixo. Ele é pequeno e bem aconchegante.

– Tem certeza?

– Sim. Vou ficar bem aqui. É perto da cozinha e vai facilitar meu trabalho. Além disso, não vou precisar ficar subindo essas escadas toda hora.

– Sendo assim, me dê aqui esse mapa. Eu mesma vou instalar os convidados, assim você não vai subir tanto para o primeiro andar.

– Não precisa, Babi.

– Precisa sim. Como boa anfitriã, devo fazer isso, não é?

Ela sorri e por fim concorda comigo. Passa-me o mapa e vou atrás de Crusher para mudá-lo de quarto antes que o seu pai chegue.

[...]

Gostaram do capítulo de hoje? Desculpem a demora para publicar capítulos novos. Expliquei o motivo no meu mural 🤭

Tem mais capítulo postado então continua lendo!

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