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O ódio que sinto do meu pai se acumula, a cada dia, desde que tenho entendimento do mundo. Nunca sequer me deu motivos para pelo menos gostar dele. Na sua tentativa obsessiva de me tornar um Dom melhor que ele, treinou-me com todo o desprezo e dureza possível. Seu objetivo era me transformar em alguém sem sentimentos, antes, movido pela razão, que age a sangue frio.
Na sua cabeça, qualquer pequena porção de atenção ou carinho que eu recebesse me tornaria um homem fraco, incapaz de ser o Dom que ele sempre quis que sucedesse seu legado. Meu pai fez isso mais por si mesmo do que por mim. Segundo suas próprias palavras, um herdeiro medíocre não pode manchar o seu nome.
Em todas as gerações da nossa família, ser temido por todos é questão de honra. Por isso, cresci apanhando de vara, chicote ou fios do meu pai por cada tolice de criança que fazia, passei noites no frio intenso para adquirir resistência, aprendi a manusear armas, dominei artes maciais, matei um cara com uma única mão, fiz coisas terríveis, só para que eu pudesse provar a ele que sou capaz de ser temido também.
No entanto, o mais difícil foi crescer sozinho. Tive que me virar e não depender de ninguém, na verdade meu pai queria me tornar alguém assim. Às vezes, quando eu tentava aceitar o carinho que Rosalynd me dava, ele me castigava.
Tudo isso me excluiu, me pôs em uma bolha e eu achei que ninguém ia penetrar nela. Mas a Babi apareceu, ela foi capaz de fazer isso, e a simples possibilidade do meu pai perceber isso me deixa terrivelmente preocupado. Pergunto-me o que ele fará se ao menos pensar que a Babi é um empecilho para o seu plano de herdeiro perfeito. Sei muito bem do que George Paviole é capaz de fazer para eliminar "problemas que impedem seus objetivos".
Meu pai é um homem sujo, sem escrúpulos, mal e perverso. O que ele poderia fazer com ela?
Sinto uma raiva tão grande que sou quase incapaz de me controlar, só quero mata-lo como desejei em toda a minha vida, mas, por estar na frente da Babi, não demostro nada. Ela está assustada e não quero piorar a situação. Por isso, levo-a até o meu carro, é o lugar mais seguro possível longe do lunático que chamo de pai.
Abro a porta pra Babi e a ajudo a colocar o cinto de segurança. Ela está apática, olhando para o nada e sem esboçar nenhuma reação. A verdade é que nem eu imaginava que meu pai ia surtar desse nível. Desde o momento em que a Babi chegou na Mansão, ele simplesmente não fez nada ou deu a atenção devida ao meu noivado. O que diabos esse filho da puta está tramando?
– Você está bem? – Pergunto, ainda segurando a porta do carro para que ela fique aberta e eu converse com a Babi.
– Estou. – Babi diz, sem convicção.
Uma agonia surge dentro de mim. Babi não merece, estar passando por isso por minha causa. Arrependo-me de tê-la envolvido nessa confusão toda, cheia de muitos riscos, mas por outro lado, não gosto de imaginar que se eu não tivesse feito esse contrato, não a teria conhecido.
Fecho a porta e dou a volta no carro. Entro e começo a digerir para fora da propriedade da Mansão. Agora, mais do que nunca, devemos partir para a casa do lago na qual haverá nosso casamento, quero afastar a Babi do meu pai o máximo possível.
Esse contrato está saindo fora do meu controle... Em todos os sentidos.
[...]
Meu noivo de mentira dirige para um lugar desconhecido e não faço questão de prestar atenção ou querer saber para onde vamos. Eu só quero ir para o mais longe possível daquela casa. Parece que quanto mais distante estou, menos sufocada eu fico.
Ainda estou processando o problema com o pai do Coringa, quando Coringa diminui a velocidade da sua Mercedes e entra numa estrada de cascalhos.
– Estamos chegando. – Coringa avisa.
– Para onde vamos? – Eu pergunto, já me livrando um pouco do estado de choque que a ameaça do pai de Coringa me trouxe.
– Para o heliporto. Vamos de jatinho até a casa do lago.
Pela primeira vez não o questiono, apenas encosto mais minhas costas no banco e olho para fora do carro. Com a música triste que toca no rádio, posso jurar que estou gravando um videoclipe bem vibe Olivia Rodrigo. Bom, minha vida está se tornando isso agora... São tantas coisas inacreditáveis que vem acontecendo que duvido não parecer com um roteiro de filme melodramático.
[...]
Meia hora depois, pousamos no heliporto da propriedade do lago. Um carro espera na ponta da pista, mas dessa vez não há motorista para nos levar, na verdade é Coringa que vai dirigindo.
– E as nossas malas? – Pergunto, lembrando-me que nós simplesmente saímos de casa e viemos para Milão sem nem mesmo ter uma bolsa de mão.
– Já mandei trazerem. Não deve demorar a chegar. – Coringa diz, desviando os olhos da estrada rapidamente.
Observo meu noivo de mentira. Coringa está usando calças de tecido jeans e um suéter por cima de uma camisa social branca. Essa roupa definitivamente não parece seu estilo, mas acho que ele nem se importa com isso. No braço direito, usa um relógio super caro e nos pés, sapatos que devem custar um absurdo, além disso, penteou o cabelo modelando o topete. Essa visão dele é muito atraente. Por um momento, ele olha para mim, flagrando-me.
– Obrigada. – Eu digo.
– Pelo que, mio amore? – A voz de Coringa está calma.
– Por me tirar de lá.
Ele não me responde, apenas me olha com um olhar indecifrável.
Depois disso não conversamos mais nada, pois a viagem foi bem rápida para a casa do lago e logo nós chegamos. Desço do carro assim que ele para e a primeira coisa que noto é o imenso lago azulado a minha frente. A cidade de Como no fundo, bem distante, completa a paisagem.
– É de tirar o fôlego, né? – Coringa diz, se colocando ao meu lado, com as mãos nos bolsos da calça.
– É mesmo. É incrível. Eu poderia viver aqui.
Estar especificamente nesse lago me deixa estranhamente relaxada e feliz. De todos os lugares que já fui na Itália, aqui é o que mais gosto. Talvez seja pela tranquilidade que as águas desse lago trazem ou talvez seja pelo completo silêncio do mundo ante o sussurro baixo da natureza. Posso esquecer tudo que passa na minha cabeça apenas olhando para essa linda vista.
– Vamos conhecer a casa? – Coringa sugere.
Concordo, balançando a cabeça. A casa não fica muito longe da margem do lago, na verdade é cercada por árvores típicas dessa região e me faz lembrar vagamente dos parques nos quais eu ia com meus pais na minha infância. A suas paredes são todas de uma arquitetura toscana, de tijolinhos e comportam, inteligentemente, janelas são de vidro e madeira enormes que possibilitam a visão do lago mesmo quando se está dentro de casa.
Por dentro, a casa é ainda mais impressionante. Ela tem um total de oito quartos, três salas e duas cozinhas, além de outros cômodos como biblioteca, sala de jogos e de cinema. É incrível como os donos conseguiram combinar o antigo e o moderno em apenas um lugar. Por todos os lugares há pinturas, sofás imperiais, cortinas de seda e lustres, mas também há aparelhos supermodernos e uma das cozinhas é toda inoxidada.
Coringa me leva por todos os corredores até chegarmos em nosso quarto, no segundo andar, que é a maior suíte da casa. Os tons da decoração são em tons pastéis, com cortinas de seda que balançam com o vento fraco. Há um grande armário de madeira, mas nenhum sinal de closet, o que me faz perceber que me acostumei com esse luxo erroneamente. A decoração e os móveis são simples, o que eu amo, gosto de coisas assim, pois sinto-me mais confortável com elas. Observo, porém, que o quarto só tem uma cama de casal. Felizmente ela é muito grande e vou dormir bem na pontinha.
– Tem uma varanda. – Coringa diz, falando atrás de mim me provocando um leve susto.
Só então percebo que estou parada no quarto olhando fixamente para a cama.
– Ah sim. – Respondo.
Atrás das cortinas de seda está a varanda. Dirijo-me até lá. Ela oferece uma vista de cima do lago e daqui posso ver melhor a luz do sol refletindo sobre as águas. Estou completamente relaxada.
Pouco tempo depois, Coringa para ao meu lado. Não demoro muito a perceber que ele está me observando descaradamente. Retribuo o olhar e ele sorri, aquecendo meu coração como o primeiro raio de sol do verão.
– Sinto muito por te fazer passar por todas essas coisas. – Ele começa dizendo.
Eu não sabia que era isso que estava esperando ouvir há muito tempo. Sei que o Coringa não tem culpa de nada, não é culpado por eu sair fugida de casa e vir para a Itália, não tem culpa quando aquele velho asqueroso tentou me aliciar no banheiro da festa que deram para nós em Milão, não tem culpa nem pelo seu pai lunático ter atitudes estranhas. A única culpa que ele tem é ter me feito apaixonar-me perdidamente, como nunca antes.
– Não sinta. – Digo atrevidamente – Não tive nenhum arrependimento ao assinar esse contrato e continuo não tendo.
Olhos de Coringa varrem toda a minha face e percebo que nossas células começam a se agitar, ansiando um pelo outro. De repente, um silêncio daqueles que não se precisa dizer nada para preenche-lo surge entre nós.
E então, como imã, nos aproximamos aos poucos, até que o espaço entre nós seja mínimo. Nossas respirações estão cortadas. Tento entender como o clima entre nós mudou tanto, mas no fim acabo deixando de lado por não chegar a uma resposta lógica.
– Mas eu te envolvi em coisas tão perigosas. – Ele fala num sussurro.
– Não se preocupe. Vale a pena arriscar. – Dirige meus olhos para os seus lábios convidativos.
– Você não entende, Babi...
– O que eu não entendo?
Coringa respira profundamente e fecha os olhos por um momento, sentindo todo o clima quente ao nosso redor.
– Eu já consigo mais ficar longe de você, mas eu sou o perigo! Por minha causa sua vida está em risco o tempo e a ideia de que algo te aconteça me deixa louco.
– Por quê? – Meu peito estoura em agitação.
[...]
Continuem a ler, só digo que o próximo capítulo é fogo kkk
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