Pulo em cima da última mala, para facilitar fechar o zíper. Ao todo, são duas malas grandes de roupas e mais uma pequena, com alguns objetos pessoais e quatro pares de sapato – vou para um lago, então, escolhi somente tênis e um par de botas de cano curto. Eu sei, é muita coisa para apenas três dias, mas fui informada por Rosalynd que Coringa pretende passar mais sete dias na casa do lago, segundo ele, isso será a nossa "lua de mel".

Estou a ponto de vomitar meu próprio estômago de tanto nervosismo. Depois daquela despedida ardente de Coringa, apenas algumas horas atrás, não faço a mínima ideia do que pode acontecer nesse fim de semana e no que vem depois dele, quando aí sim estiver apenas nós dois em uma casa enorme e totalmente livre de olhares. Se Coringa não tivesse dito o quase literal "te desejo ardentemente", eu poderia muito bem pensar que ele passaria todo esse tempo me evitando ou até mesmo fora de casa, afinal, as pessoas só precisariam pensar que estamos numa lua de mel, não precisaria ser de verdade. Mas agora, sabendo de seus anseios, a casa pode ser pequena para nós.

Uma parte de mim está ansiosa para explorar todos os desejos sexuais possíveis através do corpo dele, mas a outra, tem medo do que isso vai gerar no meu coração. Quando o desejo se mistura com amor, é impossível separá-los depois.

Meus pensamentos começam a se embaralhar e depois de alguns segundos, noto que estou olhando para o nada há um tempo. Resolvo me movimentar. Abro a porta do meu quarto e procuro por GS no corredor, mas não o encontro. Que estranho. Era para ele estar aqui, como meu segurança. Vou procura-lo, pois preciso de ajuda com as malas; elas são muito pesadas para uma magrela, como eu, conseguir descê-las escada abaixo.

No entanto, ao passar pelo corredor, sou abordada por alguém, cujo o descaso comigo foi sua única atitude desde que me mudei para a Mansão. Ele me ignorou completamente, desprezando todas as minhas tentativas de agradá-lo ou pelo menos chamar sua atenção. Parece que, aos seus olhos, sou apenas um estorvo em sua casa, lhe sugando o dinheiro, como se nem mesmo alguma vez fui digna do seu olhar.

– Salve, signor Paviole. – Digo, com certo ar de orgulho por saber cumprimenta-lo em italiano.

– Não precisa se dirigir a mim com esse italiano medíocre. – O pai de Coringa diz em um português quase perfeito, sem sotaque, desmontando toda a minha confiança.

Arregalo os olhos. Esse tempo todo ele fala a minha língua e pode me entender? Mas que merda está acontecendo? Por que esse velho ridículo ficou fingindo que não me entendia? Se eu não estivesse tão surpresa, ficaria com muita raiva agora. Sou incapaz de exigir uma explicação, pois a consciência de que é o Dom da máfia mais perigosa da Itália que está na minha frente me paralisa. Mais que isso, o olhar assassino em seus olhos está mais nítido do que antes. Só de imagina-lo fazendo algo contra mim ou minha família por eu apenas desafiá-lo, sobe em meu corpo um arrepio frio e tenebroso.

Ele aproveita o meu silêncio para continuar, aumentando o aperto do meu pulso:

– Eu estava agora mesmo indo ao seu quarto para termos uma conversa.

– E sobre o que era? – Falo ao passo que tento me soltar dele discretamente. Sinto um medo irreconhecível percorrer minhas veias.

– Só quero deixar uma coisa muito bem clara...

George Paviole me olha com um olhar assassino, como se quisesse me matar bem aqui e agora. Fico paralisada no lugar. Por que, do nada, o pai do Coringa resolver vir falar comigo, e justamente para me ameaçar? Alguma coisa está muito, muito errada. Um homem como esse não dá nó cego em ponta de corda.

– Eu tenho quase certeza que você é só mais uma peça do jogo traiçoeiro do meu filho. – Ele continua a falar – Coringa jamais se casaria com alguém, muito menos com você. Devo até dar os parabéns a vocês dois, que conseguiram continuar esse teatrinho até aqui. Mas se estão achando que podem me enganar, digo que contaram vitória antes do tempo.

Sinto minha garganta fechar. Felizmente, meu cérebro me envia sinais suficientes para que eu possa reagir e não acabar em uma enrascada.

– Do que o senhor está falando? Eu amo o Coringa, nunca fingimos nada. – De certa forma, isso soa como uma verdade até para os meus ouvidos.

– É mesmo? – O pai de Coringa me olha com os olhos semicerrados, como um psicopata – Veremos, então.

Sinto o aperto no meu braço se fechar mais ainda; deve estar querendo quebrar o meu pulso só pode. Acabo de perceber que ele pode ser mais louco e perigoso do que imaginei. Até agora, não tinha me dado conta que eu estava tentando enganar um homem que, diga-se de passagem, é muito inteligente e astuto, não é à toa que é um bandido de primeira. Como eu, uma amadora qualquer, poderia passar a perna em um mafioso?

– O senhor pode me soltar? Está me machucando. – Peço, com a voz trêmula.

– Criança tolinha... Não pensa que me engana com esse ar se inocência.

– O senhor é um louco. – Digo, sem controlar minha língua.

Eu só posso ter perdido a noção do perigo mesmo, simplesmente resolvi desafiar um mafioso lunático. No entanto, sinto uma rajada invisível de força às minhas costas, alguém se aproxima rapidamente de mim.

– Solte minha noiva, AGORA! – Ouço a voz raivosa de Coringa.

Como reflexo, olho-o rapidamente com olhos urgentes e cheios de medo. Não me preparei psicologicamente para enfrentar essa versão do pai dele. Felizmente, Coringa desfaz o contato entre mim e o senhor Paviole sem pensar duas vezes; no mesmo instante, sinto uma alivio. Ele analisa a região super avermelhada em meu pulso, causada pelo aperto, e logo após dirige ao seu pai um olhar mortífero, mas não diz sequer uma palavra.

Segurando-me pela cintura, me conduz para o lado oposto ao senhor Paviole, em direção às escadas. Pórem, mal damos dois passos e ouvimos a voz alterada dele falando às nossas costas:

– Se eu descobrir que estão me enganando, eu mato os dois.

Não preciso olhar para trás para sentir o peso dessa ameaça que recai sobre nós.

[...]

Agora, as coisas vão esquentar. Estou preparando vocês para o climax. O que acham que vai acontecer? Comentem aqui!

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