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Definitivamente, Bárbara é uma doida!
Se arrependimento matasse, eu já estaria morto. Não devia ter tido essa ideia de dar o meu carro para ela dirigir, a Babi parece uma louca no volante! A velocidade mínima que ela alcança é 120km/h e ela nunca, NUNCA, diminui a velocidade para fazer uma curva, e olha que ela nem conhece Florença para sair confiante assim pelas ruas.
Minha mão já está doendo de tanto agarrar o apoio na porta do carro. Felizmente chegamos aonde ela quer ir, o GPS disse duas vezes "seu destino está à esquerda", em português, antes dela estacionar.
Babi escolheu vir para a Galleria degli Uffizi, um enorme museu de artes e pinturas principalmente do Renascimento. Vejo os olhos da minha noiva brilharem de ansiedade por estar nesse lugar e isso me admira, pois sou um grande apreciador da arte clássica do meu país. Parece que, sem querer, encontrei uma mulher que ama tanto quanto eu, na verdade, ela é a primeira pessoa que conheço ser assim.
– Eu nunca, em hipótese alguma, imaginei que estaria em um lugar tão lindo assim! – Babi diz, quase que soltando brilhos de tão feliz que está.
– Como você sabia desse lugar? – Pergunto transparecendo, só um pouco, a minha animação também.
– Vi uma vez no meu livro do ensino médio, quando a gente estava estudando o Renascimento. É aquelas informações de rodapé sabe? Mas eu vi e fiquei apaixonada pela ideia de conhecer esse museu. Nem em um milhão de anos eu pensei que realizaria esse sonho.
– De nada, viu. – Digo, descontraído, e ela revira os olhos sorrindo.
Peço que ela me aguarde um pouco, vou comprar os ingressos. Só espero que dê certo, porque da última vez que eu vim aqui, tinha de compra-los on-line. Felizmente, estão vendendo bilhetes na portaria, o problema mesmo é a fila.
Acomodo-me atrás da última pessoa e espero cerca de meia hora, mas, ainda assim, não sou atendido. A impaciência me corrompe, surge em mim uma vontade de furar a fila e ameaçar todo mundo com a minha arma. Claro que eu me controlo, não sou tolo assim para me denunciar. Além disso, Babi está por perto e eu não quero passar uma péssima impressão.
Falando nela, eu a perdi de vista. Antes, assim que me afastei para comprar os ingressos, vi-a sentar em um banco não muito longe de mim. Babi ficava olhando as pessoas passarem pela calçada, demonstrando seu lado bem observador que antes eu não havia reparado. Minha noiva se torna cada vez mais interessante.
Agora, não estou mais vendo Babi sentada no banco, mas ela deve ter ido não muito longe daqui. Vejo que o sou o próximo a ser atendido e, sem muita enrolação, peço nossos ingressos. Pago vinte euros por cada um, o que eu acho uma mera quantia em dinheiro, em comparação a riqueza cultural que esse lugar oferece. Guardo-os no bolso e vou procurar pela Babi.
Dirijo-me até o banco que a Babi estava, só por precaução, e não a encontro. Olho no carro e ela também não está lá. Dou uma olhada pela praça – que não é bem uma praça – ao redor do museu, porém sem sucesso. Começo a ficar preocupado.
Ela pode ter sido sequestrada. Se estiver mal, ferida ou assustada? Não consigo parar de lembrar daquele filho da puta que tentou estuprar a Babi no dia do nosso jantar de noivado. Meu sangue começa a ferver de raiva. Se tiverem sequestrado minha noiva, vão se arrepender; vou fazer algo muito pior do que eu fiz com aquele cretino.
Volto a procurar pela Babi, tentando manter toda a neutralidade possível, mas já quase beirando ao desespero por dentro. Não quero que ela passe por uma experiência traumática de novo. Se isso acontecer, é bem provável que ela resolva ir embora, e como ficará o contrato? Vou perder minha chance de casar e assumir meu cargo como dom da Máfia Paviole!
Mas a questão é, esses são os verdadeiros motivos pelo meu desespero?
[...]
O Coringa está demorando muito na fila e estou começando a ficar com sede. Eu poderia pedir que ele compre alguma coisa para mim, mas a forma como sua expressão está, parece que ele vai matar o próximo que falar com ele. Por isso, resolvo procurar sozinha um lugar onde posso beber água.
O fato é que desde que cheguei na Itália, o Coringa nunca me deu dinheiro, no caso, euros, para usar quando eu precisar. E o problema está aí, como vou comprar essa água? Só espero que aqui na Europa tenha o mesmo costume que nós, brasileiros, da famosa "água da casa" que é simplesmente água da torneira. Não é possível que eu não ache nenhum lugar aqui que me dê um mísero copo.
Próximo ao museu, localizo três restaurantes em que eu posso ir parapedir água sem me afastar muito. Tento no primeiro, mas eles não oferecem água,então vou para o segundo. No meio do caminho, penso se eu deveria ter avisado ao Coringa sobre minha saída ou não, mas acabo percebendo que não era necessário; com aquela fila enorme, vou voltar antes mesmo dele ser atendido.
Finalmente, o terceiro restaurante parece ser a minha solução. Ele é bem pequeno e estreitinho, com paredes na cor vermelho-escuro, janelas de vidraças transparentes que faz do exterior uma parte da decoração, mesas de uma madeira bem escurecida e plantas por todos os lugares. Tudo isso se compõe para um lugar bem aconchegante. Talvez eu volte aqui depois, sou conquistada. O proprietário também é muito legal comigo, consegue entender minhas palavras confusas do italiano básico, afinal, é a primeira vez que peço água em italiano, saindo algo do tipo "eu precisar água".
Enquanto ele vai buscar na cozinha, sento em um dos bancos curvados ao redor das mesas. Escolho um que fica defronte às vidraças que dão para rua. De repente, começo a rir da minha desenvoltura atrapalhada conversando com os nativos. Dou mais uma boa espiada no lugar. Tem muitos quadros na parede que imitam pinturas famosas, uma delas é até "O nascimento de Vênus" um dos meus preferidos. A Itália é mesmo fascinante. Cada vez mais me apaixono por esse lugar.
Surpreendentemente, minha matéria preferida na escola é artes, e eu amo profundamente todas as expressões artísticas do Renascimento. Acho que nasci para conhecer a Itália, pois a cada dia que passo aqui, mas percebo o quanto eu amo as coisas desse lugar.
Mas, meus pensamentos felizes de identificação com a Itália são interrompidos por uma pessoa que escancara a porta do restaurante com força. A princípio, eu penso: "que pessoa mais doida é essa?", depois, percebo que é o Coringa, que entra com a respiração pesada e olhos esbugalhados fixados em mim. Levanto-me do banco e nem tenho tempo de falar alguma coisa, pois ele já vem quase que correndo em minha direção e me abraça bem forte de uma vez só.
Coringa fica assim, por um tempo, apertando-me forte com o rosto enterrado no meu pescoço. Permaneço paralisada com essa atitude "anormal" dele, mas não deixo de sentir espasmos por todo o meu corpo. As borboletas no meu estômago estão super agitadas. Engulo em seco algumas vezes e sou incapaz de retribuir o abraço de Coringa.
Ainda estou em choque. Fui pega totalmente de surpresa.
Ouço alguém atrás de nós falando em italiano e eu reconheço que é a voz do dono do restaurante. Tento me desvencilhar dos braços fortes do meu noivo e ele oferece certa resistência em me soltar, mas por fim acaba deixando-me livre. Olho-o confusa e resolvo pegar logo o copo de água com o homem para não o deixar no vácuo. Após isso, volto-me para Coringa e pergunto:
– O que deu em você?
– Eu que devo te fazer essa pergunta! – Ele diz alterado – Onde você estava? Por que sumiu assim?
– Ãn? Do que você está falando, garoto? – Pergunto super confusa.
– Você sumiu. Saiu de perto de mim e eu não te encontrava em lugar nenhum. Eu pensei que... Eu...
Coringa está gaguejando e esbaforido, parece até que viu um ET. Não consigo compreender o motivo desse seu surto. Será que ele está preocupado comigo? Ele ficou tão nervoso só de pensar em eu ter sumido? Por quê?
As borboletas ficam ainda mais agitadas na minha barriga. Tomo um pouco de água e sento de novo no banco, depois, tomo todo o resto da água em um gole só. Coloco as mãos escondidas debaixo da mesa para não mostrar que elas estão tremendo. Por que Coringa está reagindo assim com relação a mim? Será que é pelo que aconteceu naquele dia terrível no hotel? Eu não quero nem lembrar.
– Me desculpa, eu achei que voltaria antes de você comprar os ingressos, eu só queria um pouco de água. – Digo baixinho.
– Tá tudo bem. – Coringa senta à minha frente e me olha com olhos preocupados – Mas dá próxima vez lembra de me avisar antes. Você sabe que corre riscos o tempo todo só por ser minha noiva, você é minha responsabilidade e não vou deixar você se machucar.
Coringa está com a voz mais calma, porém ainda tenso. Então, resolvo segurar as mãos dele sobre a mesa e lhe ofereço um sorriso confortante. Não deve ser fácil para ele, viver essa vida de constante medo. Provavelmente, desde a infância ele vive assim, e eu imagino como deve ter sido horrível. Talvez seja por isso que ele não gosta muito de falar sobre ele mesmo.
Tenho certeza que o meu noivo guarda grandes cargas de memórias ruins sobre suas costas, não é à toa que quase nunca o vejo sorrir por felicidade. Ele me joga seus sorrisos sexys e olhares enigmáticos, mas no fim, mantém sua expressão dura e séria, como se estivesse mandando uma mensagem invisível de que ele não tem motivos para ser feliz.
– Já é hora do almoço. Por que a gente não come aqui mesmo? Eu gostei desse lugar. – Digo tentando quebrar a tensão no ar.
– Pode ser, os ingressos não vão expirar mesmo. – Coringa concorda, com a sombra de um sorriso.
Olho o cardápio que já fica sobre a mesa e vejo uma variedade de pratos com massa. Peço ajuda do Coringa para entender certas palavras em italiano. É a primeira vez que eu o procuro para me ajudar com o italiano, depois de muito tempo, e percebo que ele fica bastante "elétrico". No fim, decidimos comer espaguete à bolonhesa, algo bem tradicional mesmo, hoje eu não estou afim de arriscar em "comidas novas".
– E o casamento? – Começo puxando assunto – Bom, falta uma semana e meia pra "o grande dia", né?
Eu rio um pouco e Coringa abre um sorriso simples. Parece que ele não gosta muito de falar sobre isso. Para ele, ainda é só um negócio qualquer, mas para mim, está se tornando algo a mais. E eu me odeio por chegar a esse ponto.
– Eu andei pensando sobre isso e felizmente temos duas coisas a nosso favor. – Ele faz uma pausa para beber um pouco do vinho que o garçom acabou de nos servir e depois volta a falar – Dinheiro e Bernard.
– Quem é Bernard? – Pergunto, curiosa.
– Um conhecido de infância. Ele é um grande cerimonialista e dono de uma das melhores empresas que organiza casamento. Eu já passei tudo para ele e amanhã mesmo começa os preparativos. Eu esqueci de te avisar sobre ele. Espero que não se importe de eu ter o contratado sem falar com você.
– Não me importo, não. – Solto um suspiro de alívio – Já estava começando a imaginar a possibilidade de eu ter que organizar tudo sozinha. Fico feliz que ele vai fazer isso por nós.
– Ele me disse que quer conversar com a noiva para saber os seus gostos e tudo mais, essa baboseira toda. Me diga um horário bom pra você amanhã e eu marco com ele.
– Pode ser a qualquer horário, eu não faço nada mesmo o dia todo.
De fato, não faço nada e isso já está me deixando maluca. Os preparativos serão um ótimo distrativo para mim, estou animada, mas ao mesmo tempo nervosa. Está chegando o dia do meu casamento de mentira. A cada dia que passa, mais incerta sobre o futuro eu fico e essa sensação de não saber o que vai acontecer é ultrajante.
[...]
Ihhhhh nosso Coringa tá começando a gostar da Babi, você concorda?
Espero que tenham gostado desse capítulo! ❤ COMENTE E DEIXE SEU VOTINHO.
ALÉM DESSE CAPÍTULO EU POSTEI MAIS 1 ENTÃO CORRE LÁ PARA VER!!!!!!!!
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