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O sol começa a esquentar e, consequentemente, a estufa também.
Coringa resolve me levar para o local onde acontece a fermentação do vinho. Lá, há barris de madeira de carvalho que devem chegar a 8 metros de altura no mínimo. O meu noivo me disse que alguns vinhos passam décadas nesses reservatórios só esperando o momento certo para serem retirados e vendidos.
– Na vida, sou como os vinhos, quanto mais o tempo passa, mais gostoso fico. – Coringa comenta, sem intenções aparentes, quando estamos terminando o passeio pelo galpão de barris.
– Nossa... Que convencido – Digo revirando os olhos e sorrindo – Que bom que você comentou isso.
– Como assim? – Ele me olha, curioso.
– É que eu queria saber coisas sobre você, sabe. Eu fiquei só falando de mim no café da manhã inteiro e você não disse absolutamente nada.
– Então quer dizer que você quer saber como eu sou gostoso?
– Não, não é isso que eu estava me referindo. – Sinto minhas bochechas esquentarem.
– Mas caso você queira, eu posso aproveitar que nós estamos sozinhos e te mostrar o quanto eu sou gostoso ao paladar.
– Não seja idiota! Se encostar um dedo em mim, te arranco a mão.
Balanço o suéter, pois estou começando a sentir calor. Acho que é por causa dessa roupa que é muito grossa para esse ambiente, um galpão bem abafado. Faço um coque baixo no cabelo, evitando acumular suor no pescoço. Felizmente, saímos para um lugar aberto e fresco, o lado de fora da estrutura. Nossos pés começam a fazer barulhos sobre os cascalhos e Coringa volta a falar:
– Eu gosto de ouvir você. – Ele diz isso de uma forma tão natural, que chega ser sacana. Meu peito se inquieta com um nervosismo sem lógica. Me pergunto porque eu fico assim perto do Coringa.
– O quê? Me ouvir falar da minha cidade e da minha vida chata? – Respondo, nervosa.
– Claro, ambas as coisas me deixam intrigado.
Ele rola os olhos até meu rosto, mais especificamente, até minha boca e morde os lábios.
– Você é mesmo um bad boy, igual ao dos filmes! – Ironizo.
– O quê?! – Ele fica confuso, mas com um sorriso travesso.
Nós paramos perto da fonte de vinho e simplesmente ficamos em pé, parados e conversando, como dois desocupados.
– O que eu quero dizer é que você fica mantendo essa marra de Durão e não fala nada sobre sua vida.
– Por que você quer tanto saber sobre mim, Bárbara? – Ele me chamou pelo nome e tenho a leve impressão de que é mal sinal, parece que está ficando impaciente.
– A resposta é meio óbvia, não acha? – Apoio o peso do meu corpo numa perna e cruzo os braços – Faz quase três semanas que estamos "juntos" – faço as aspas com o dedo – e eu não sei nada sobre você. Você pode me falar, por exemplo, sobre o seu irmão Belchior que eu nunca conheci.
Coringa enfia as mãos no bolso e vira o rosto para o lado. Ele contrai o rosto, com o raio de sol repentino que excede sobre nós e fica calado. Que estranho.
– Não tem nada pra falar sobre ele. Melchior é só um pirralho de internato. – Coringa diz. Não é que ele não queira falar do irmão, parece que está escondendo uma coisa.
– Tudo bem, se não quiser falar não tem problema. Preciso pelo menos conhecer você para que a gente possa desenvolver uma relação normal com você se nós pretendemos continuar um mês casados.
– Você tem razão, levando em consideração que depois do casamento vamos ficar sozinhos em uma casa gigante. Seria estranho e constrangedor.
Espera um pouco, a gente vai morar sozinhos depois de casar? Vacilo na minha postura por um momento. Só de imaginar isso, fico nervosa. Fingir ser noiva do Coringa na casa do pai dele é fácil, porque eu só preciso ficar dentro do quarto ou fazer refeições com a família. Mas morando sozinha com o Coringa vai ser diferente. Ele só vai conversar comigo e eu só vou conversar com ele. Sinto um frio na barriga.
– Essa parte você não me contou. – Dou um sorriso amarelo.
– Desculpa, mio amore, era surpresa. – Coringa responde, sarcástico.
– Você é um palhaço mesmo.
Lanço-lhe um sorriso e saio de perto dele. Mas, a verdade é que eu não quero que ele note o meu nervosismo com essa possibilidade de morar sozinha com ele. Algo me passa pela cabeça. E se nós tivermos de dormir no mesmo quarto? Não, não, não, impossível! Está no contrato que ele tem que respeitar meu espaço e além disso, levando em consideração o gosto por luxo do Coringa, a casa deve ter infinitos quartos. Ele não vai escolher dormir junto comigo.
Mas a questão é que, eu quero mesmo dormir em quartos separados? Por que essa dúvida estúpida fica rondando minha cabeça?
– Aonde você vai? – Coringa pergunta vindo atrás de mim.
– Esse passeio que você escolheu está muito chato, eu quero fazer algo divertido. – Respondo caminhando rápido para perto do carro que nos trouxe até a vinícola.
– Você não quer conhecer o negócio do seu noivo, Babi? – Ele pergunta brincalhão.
– Claro que não! Muito chato.
Desfaço a pergunta dele com as mãos e tento abrir o carro, mas está trancado.
– Abre aqui, por favor. – Peço, sem olhar para ele.
– Você quer mesmo ir embora, hein? Eu não estou com a chave, está com meu motorista.
– Ótimo, peça pra ele trazer.
Coringa começa a digitar no celular, provavelmente mandando mensagem para o motorista, e logo depois o homem aparece e entrega a chave ao meu noivo.
– Olha, quer saber, você quer fazer uma coisa legal, certo? – Coringa me pergunta, rodando as chaves do carro no dedo indicador.
Confirmo com a cabeça.
– Então vamos lá, dirija o carro.
Ele estende a chave na minha direção e meus olhos brilham. É uma Mercedes, eu não posso deixar de aproveitar essa oportunidade. Quem sabe quando vou dirigir um carrão desse de novo?
Toda animada, pego as chaves do carro dele e corro para o lado do motorista. Rapidamente, já estou dentro do carro e rodo a chave. Aqueço o motor, acelerando algumas vezes e coloco a macha na primeira. Olho o Coringa ainda do lado de fora do carro e grito para ele entrar.
– Caralho, você é apressadinha. – Coringa diz essa frase, talvez com um duplo sentido.
– É uma Mercedes! – Eu simplesmente digo.
– Então senta o pé nesse acelerador!
– E pra onde nós vamos? – Pergunto.
– Sei lá, para onde você quiser. É só digitar no GPS.
Eu penso por um momento e decido ir a um lugar de Florença que eu vi na internet, em uma das minhas tardes tediosas na mansão. É o local perfeito para tirar fotos!
Só tenho uma coisa a dizer, o Coringa vai se arrepender de ter deixado eu dirigir esse carro. Pressiono o acelerador, jogando cascalhos para todo lado, contorno a fonte de vinho e saio da propriedade da vinícola.
[...]
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Os outros dois capítulos vão sair mais tarde!
Amo vocês de todo o meu coração ❤
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