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O meu noivo de mentira tem uma qualidade, talvez a única: ele é bem pontual. Quando eu disse que aceitava sair nesse tal passeio que Coringa planejou, pedi-lhe uma hora e ele demorou exatamente isso para bater na porta do meu quarto. Nem um segundo a mais e nem um segundo a menos. Felizmente, já estou arrumada.
Abro a porta e o encaro, analisando-o. Coringa está tão... diferente. Algo nele mudou e estranhamente o deixou mais atraente. Está vestindo algo que eu nunca vi usando antes; uma calça jeans de lavagem clara e bonita, parecendo bem cara, além de uma camisa social branca com as mangas dobradas até os cotovelos e o primeiro botão aberto. Ele ficou um gato vestido assim, está totalmente diferente de quando usa smokings ou moletons.
Mas, acho que não é só a roupa que ele mudou. Tem algo a mais. Será que é algo no rosto? Ou no cabelo? Mas como ele pode ter mudado assim em apenas uma hora?
– Para de me encarar, tá ficando estranho. – Coringa diz e ri.
– Não estava te encarando. – Digo, meio risonha.
– Vamos logo, pois temos uma longa agenda pra cumprir até o fim do dia.
– Não é só um passeio? – Faço cara de tédio. Já me bateu uma preguiça e um arrependimento por ter aceitado o convite.
– Também, mas temos um compromisso para cumprir, como um casal.
Ele indica o corredor e me deixa passar na frente, sendo cavalheiro. Seu sorrisinho sacana me deixa com raiva. Caminhamos lado a lado até chegar na escada. Ele vem depois de mim e me ajuda a descer o último degrau.
– Por que você sempre faz isso? – Pergunto, sarcástica, parando no meio do hall de entrada.
– Isso o que? – Ele diz bem despreocupado, parando também.
– Você sempre me ajuda a descer o último degrau da escada.
– Eu tenho bons modos, uai! Já pensou se você tropeça e quebra um braço?
– Isso é impossível, não tenho tendência a ser desastrada.
– Claro que não, só tem tendência a ser surtada e malvada. – Ele ironiza e eu mostro a língua para ele.
– Não sou surtada!
– Você está surtando nesse exato momento.
O idiota me joga um sorriso torto e sai para fora de casa. Eu o sigo. É bem difícil controlar meus nervos quando estou perto do Coringa. Ele me leva ao extremo!
Há um carro esperando por nós bem ao pé da grande escadaria externa; digamos que esses italianos amam escadas. Para provocar o Coringa, finjo não ver a mão dele estendida para mim, a fim de me ajudar a descer o último degrau, e ele solta um risinho irônico. Meu noivo entra no carro e o motorista começa andar, dá a volta no grande chafariz e segue pela mesma estrada de cascalhos.
– E então, o que vamos fazer nesse passeio? – Ironizo a última palavra.
– Eu pensei que como ainda é cedo, podemos tomar o café-da-manhã em um lugar bem legal. – Responde, pretensioso.
– Que lugar?
– Segredo, bobinha. – Ele desliza o dedo pelo meu nariz e começa a olhar para fora do carro, para os vinhedos.
[...]
A viagem no carro foi silenciosa, mas um silêncio gostoso de se sentir. Eu odeio admitir, mas a presença do Coringa me faz bem, o que eu acho bem irônico, considerando o fato de que ele está me "pagando" para ser companhia dele, algo não muito legal de se fazer. Pergunto-me o que levou esse homem a não procurar conhecer alguém de verdade, se apaixonar de verdade e se casar de verdade.
Chegamos ao lugar que suponho ser aonde vamos tomar o café da manhã e eu me surpreendo, é um lugar lindo! Ao que parece, aqui é onde produzem os vinhos do vinhedo Paviole; vejo uma grande construção de pedra, com a parte externa do teto pintada de branco e janelas de vidro e madeira. A arquitetura é bem antiga. Há também uma rua de cascalhos e um chafariz, que até mesmo sai vinho de verdade da botija que uma estátua de anjo a segurando. É incrível!
A primeira coisa que faço quando desço do carro é correr até a fonte de vinho. Experimento para ver como é o gosto, toda admirada.
– Não sei porque as pessoas sempre reagem desse jeito ao ver a minha fonte. – Coringa diz, brincando.
Nós entramos na grande casa de pedra. O hall de entrada é, na verdade, uma sala, com sofás quadriculados, lareira e quadros antigos. Há um balcão de atendimento que não é muito comum ver em uma sala, mas tirando isso, é bem aconchegante.
– Que lugar é esse, Coringa? – Pergunto, com os olhos brilhando de admiração.
– Bem-vinda a minha vinícola, amore mio! – Ele responde.
Eu o olho por um momento e ele parece estar gostando disso tudo.
– Aqui é onde produzimos nosso vinho e além disso, temos uma loja, uma adega para degustação e, durante a semana, passeios turísticos pelas entranhas desse lugar. – Coringa explica, como um pai fala quando está orgulhoso do filho.
– Que massa!
Encaro as paredes de pedra cheias de quadros, prateleiras e luminárias.
– Tem um lugar especial que não é aberto ao público, obviamente. – Ele me diz, jogando um sorriso torto – Quer ver?
Confirmo com a cabeça e Coringa aponta para um corredor às suas costas. Quando passo por ele, sinto sua mão pousar nas minhas costas e ele me conduz até o tal lugar especial. Fica bem no meio da vinícola, como se fosse uma estufa, só que lá dentro não tem flores, pelo contrário, há uma mesa posta para duas pessoas. Há tanta comida que eu nem sei por onde vou começar.
– Sente-se, por favor! – Ele diz, puxando a cadeira para mim.
Odeio e gosto ao mesmo tempo quando ele dá um de cavalheiro.
Coringa senta em seu lugar e nós começamos a comer. Eu como primeiro uns pãezinhos com geleia de frutas vermelhas e, meu Deus!, é a coisa mais gostosa que já comi. Depois, como queijo, bolo e muito mais coisas. Coringa me olha como se eu estivesse "devorando " tudo feito uma leoa; ele não para de rir debochado da minha cara.
– Então, por que você me trouxe aqui? – Pergunto com a boca cheia de bolo, não sendo nenhum pingo educada de propósito.
– Queria que você me conhecesse melhor. – Coringa responde, dando um gole no seu café.
– Te conhecer melhor? Não seria mais fácil, então, estarmos no galpão que você costuma levar as pessoas para matar ou no lugar que você encaminha as drogas pra os seus cartéis? – Eu digo, rindo.
– Muito engraçada você. – Ele força um sorriso – Minha família não leva a sério só a máfia, Babi. Produzir e vender vinho também é algo que gostamos de fazer.
Sinto uma pontada de sinceridade na voz dele. Tomo um gole enorme de suco de maracujá e pigarreio.
– Sério? Por quê?
– Por que é tradição da nossa família apreciar o vinho, somos especialistas nisso. – Coringa explica.
– Então você que é o poderoso chefão da vinícola? – Brinco e levanto as sobrancelhas – Entendeu?
– Não. O que isso significa? – Coringa franze o cenho e um ponto de interrogação surge no meio das suas sobrancelhas.
– Você não sabe o que é isso, Coringa? Você nunca assistiu esse filme?
Coringa continua com sua expressão confusa e eu escorrego pela cadeira, dizendo:
– Puxa, que garoto sem cultura! Você devia assistir mais filmes, sabia?
– Não tenho muito tempo para isso, Babi. – Ele responde e se levanta.
Estranho sua atitude; ele nem terminou o café dele. Endireito-me na cadeira. Mas, ao invés de sair da estufa, meu noivo de mentira se aproxima de mim. Se abaixa um pouco para ficar da altura do meu rosto e leva seu polegar até o canto da minha boca. Sinto-o desliza-lo pela minha pele e eu percebo que está limpando. Coringa me dirige um olhar sexy. Ele paralisa, segurando meu rosto e me encarando bem no fundo dos olhos.
– Sabe, mio amore, eu adoraria assistir filmes com você, de preferência só nós dois. – Ele diz, lento e arrastado.
– Que interessante, Coringa. – Murmuro, mas nem sei o que estou dizendo, apenas fico petrificada olhando esse sorriso malicioso que só ele tem.
– Você tem que começar a me chamar por algum apelido, principalmente na frente dos outros, porque eu te chamo. – Coringa continua a dizer como se estivesse alheio a toda a tensão no ar.
– Mesmo? – Falo feito idiota.
– Mesmo.
Engulo em seco e desvio o olhar para o peitoral de Coringa, que está muito mais evidente com essa blusa branca. É isso! Essa roupa deixa o corpo de Coringa mais marcado, mostrando os músculos que ficam "camuflados" pelos moletons e camadas de ternos com camisas sociais que ele costuma usar. Isso o deixa muito mais atraente.
– Eu vou pensar em algum. – Respondo e pisco algumas vezes para sair do transe.
– Ótimo... Mio amore. – Coringa diz, irônico.
Ele solta meu rosto e volta a se sentar. Começa a comer um pedaço de baguete e continua a conversar como se nada tivesse acontecido.
[...]
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ALGUNS AVISOS:
1) Uma notícia boa, até domingo teremos quatro capítulos por dia!
2) FALEM AQUI PRA MIM: VOCÊS PREFEREM QUE EU POSTE OS CAPÍTULOS DE DIA OU A NOITE?
Beijinhos, amo vocês ❤
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