3 | 3
Desde que eu acordei hoje, meu telefone não para de tocar; a maioria das ligações vem do México. São tantos problemas que tenho de resolver, cargas perdidas no mar, carregamento faltando, aviõeszinhos fugindo. Só faltava isso para me fazer explodir de raiva. Suponho que se alguém derramar café perto de mim, serei capaz de estourar os miolos dele.
Dirijo-me ao meu escritório, pois preciso de um telefone descartável para fazer uma ligação confidencial. São dez horas da manhã e ainda não vi o imprestável do meu irmão. Vou ter que ir arranca-lo da cama a força, sei que ele ficou a noite toda fora de casa em uma festa.
Entro no escritório e como eu imaginei, Crusher não está aqui. Ignoro isso e vou direto para o meu cofre, escondido atrás de um Caravaggio original, que me custou uma fortuna literalmente. Digito a senha e abro a porta do pequeno cubo metálico. Tiro de lá um dos celulares descartáveis, porém noto que alguma coisa está errada. Com os olhos mais clínicos, noto que a pilha de dinheiro que eu deixei aqui está bem menor.
– Alguém mexeu nas minhas coisas. – Falo comigo mesmo entre dentes.
Eu só precisava de um pretexto para espancar alguém e parece que eu achei. Suponho que foi meu irmão quem mexeu no cofre, pois somente ele, além de mim, sabe a senha. Com certeza, pegou o dinheiro para curtir na balada e bancar um de esnobe com as piranhas.
Mas alguma coisa insiste em me dizer que não foi bem assim que aconteceu. Crusher nunca fez isso antes e ele não é do tipo de esbanjar dinheiro em festas, na verdade, quem faz isso sou eu.
Fecho o cofre e me dirijo ao quarto de Crusher. Felizmente, o idiota deixou a porta do quarto destrancada. Escancaro-a de uma vez, espantando não só o meu irmão, como também uma mulher que está com ele. Pelo visto, os dois estão em um sexo matinal selvagem. Estavam na verdade, porque eu acabei com a festinha dele. A mulher pula da cama em um sobressalto, sem se importar que estou vendo toda a sua nudez e recolhe suas roupas do chão com velocidade. Ela apenas coloca o vestido apertado e enfia as peças intimas na bolsa. Com os sapatos na mão, ela passa por mim e desaparece do meu campo de visão, descendo as escadas.
– Ele deve achar que sou seu pai. – Digo sarcasticamente, apontando para onde a mulher escapou.
– Deve mesmo. Todos esses anos de babaquice te envelheceram rápido demais. – Crocker diz, com raiva.
Eu sei que deixei meu irmão puto por ter atrapalhado sua foda, mas não tenho culpa dessa vez. Foi sem querer. A forma como ele veste o short e sai para o banheiro me diz que está prestes a explodir de raiva, mas ele não vai, porque Crusher nunca explode.
– Você pegou dinheiro do meu cofre? – Digo alto, da porta do quarto. Eu não vou seguir meu irmão até o banheiro porque sei o que ele está fazendo lá.
Com poucos minutos ele volta, ainda com a raiva estampada no rosto, e me dá o dedo.
– Peguei, otário, mas não foi pra mim, foi pra sua noiva.
– Pra Babi? Pra quê ela precisa de dinheiro? – Pergunto, confuso.
Faz uma semana desde que chegamos na minha casa e, a cada dia mais, distancio-me de Bárbara. Ela está me ignorando quando estamos sozinhos. Na frente dos outros, interpreta seu papel com perfeição, sendo uma noiva bem atenciosa, mas quando estamos apenas nós dois, Babi nem me dirige o olhar, quanto mais fala comigo.
Depois daquele beijo, ela mudou. Eu mudei. Nos afastamos. O engraçado é que geralmente um beijo tem o efeito oposto. Mas talvez isso explique porque ela não falou comigo pedindo-me dinheiro, pelo contrário, recorreu à ajuda do meu irmão para assaltar meu cofre.
– Sei lá, se vira com sua noivinha. – Crusher diz – Eu dei pra ela ontem a noite, ela já deve ter gastado.
Bato a porta do quarto de Crusher e vou para o quarto de Babi, mas ela não está lá. Procuro pelo imprestável do GS, que talvez saiba onde ela está, mas não o encontro também. Será que ela saiu? Praguejo baixo. Tem horas que ela me deixa louco.
Quando estou quase saindo de casa para pegar meu carro e ir atrás dela, vejo um carro entrando na propriedade. O carro vem velozmente e estaciona, com um giro quase profissional, ao pé da escadaria externa. É o meu conversível e dentro dele está minha noiva.
– O que diabos está fazendo com meu carro, Babi? – Digo assim que ela desliga o motor.
– O que você acha? Eu precisei dele para ir a um lugar.
Babi retira os óculos de sol que está usando e pega a sacola branca com um símbolo da Apple que está descansando no banco do passageiro. Bom, pelo menos eu já sei para o que ela precisou do dinheiro. Ela desce do carro e se dirige ao primeiro degrau da escadaria.
– Aonde você foi?
– Comprar um celular para mim. – Ela balança a sacola na minha frente. Estou um degrau a cima e fico ainda mais alto que ela, por isso ela precisa esticar o braço.
– E você foi sozinha? Tá ficando doida? Cadê o motorista e seu segurança? Alias eu vou matar eles por terem te dado o meu conversível.
– Para de surtar, Coringa. Eu fui e voltei ilesa.
Babi bufa e faz menção em começar a andar, mas eu não deixo. Pego a sacola de sua mão e tiro de lá o aparelho; ela comprou o último lançamento, ainda, um carregador, fones de ouvido e três cases. Isso explica porque pegou muito dinheiro.
– Pra que tudo isso, Bárbara?
– Só estou seguindo meu papel como noiva, estou esbanjando tanto quanto você.
– Hipócrita. – Digo, mas escondendo um sorriso.
Babi ri e toma a sacola das minhas mãos.
– Valeu. – Ela começa a subir as escadas. Sigo-a.
– Você sabe que foi muito perigoso ir sozinha ao centro de Florença. E se alguém tivesse te conhecido? Se alguma coisa acontecesse com você eu...
– Você o que? – Ela me interrompe – Você iria chorar? Para de drama, garoto, eu tô bem. Além disso, tenho que começar a impressionar seu pai.
Babi aponta com a cabeça para algo que está acima de nós. Antes de entrar em casa, vejo que ela está se referindo ao meu pai, nos observando da varanda. Nos lábios dele eu vejo um sorriso, não de deboche, mas de que está gostando do que está vendo.
[...]
Estou no meu escritório resolvendo um problema com meu pai. Apesar de estar deixando-me resolver tudo para que eu pegue jeito com Dom, ele ainda se envolve em algumas questões.
Meu pai quer que eu vá ao Canadá na próxima semana conversar com um de nossos "sócios" que não deu retorno do dinheiro das "mercadorias" que repassamos para ele, ou seja, que está devendo dinheiro de droga. Esse é um tipo de situação que não toleramos e a punição envolve morte e outros divertimentos a mais.
É quando ouço alguém bater na porta. Respondo em italiano dizendo que a pessoa pode entrar, pensando ser algum funcionário, mas, na verdade, é a minha noiva. Hoje ela está excepcionalmente linda.
– Mi scusi. – Ela pede licença em italiano.
Aceno com a cabeça e ela entra, cumprimentando meu pai em italiano normalmente; a pronuncia dela melhorou muito, o que me deixa com certa pontada de desconforto, porque sei que é meu primo, Bak, que está ajudando-a. Os dois devem passar muito tempo juntos.
Meu pai, por outro lado, olha surpreso para ela e dá um sorrisinho contido. Amontoa alguns papéis que trouxe para nossa pequena reunião e sai da sala nos deixando a sós.
– Você quer falar comigo? – Pergunto, cruzando os braços e me encostando na cadeira.
– Claro. Se eu não quisesse, não teria vindo aqui.
– Então... O que é? – Tento parecer indiferente.
– Queria saber se posso usar seu estúdio de artilharia pra aprender a atirar.
– Por que está me pedindo isso se para usar a academia você não me pediu? – Pergunto, arqueando uma sobrancelha.
Acho que ela não sabe que eu sei dos seus treinos matinais com meu primo. A acidez da fala de Babi só está me deixando ainda mais impaciente.
– Porque eles me barraram na entrada do estúdio por não ter sua autorização. - Ela responde, sem pensar muito.
Eu a olho. Há quase duas semanas, Babi nem mesmo queria ficar com a arma que eu dei para ela, mas agora, quer até aprender a atirar. Posso perceber que algo está diferente, mas o que foi que a fez mudar?
– Eu permito, mas com uma condição. – Digo, olhando-a com um ar de desafio – Quem vai te treinar sou eu.
Babi cruza os braços e contrai as expressões do rosto. Finalmente eu a deixei com raiva. Sei que não era isso que ela queria, mas infelizmente terá de seguir o meu joguinho. Vou descobrir o que está acontecendo com ela, o porquê de estar agindo com tanta raiva assim de mim.
No entanto, ela me surpreende com sua resposta:
- Não.
Babi se levanta para ir embora, mas eu saio da cadeira e seguro o seu braço. Ela para, mas não me olha.
– Tem certeza? – Eu pergunto.
Babi não responde nada, apenas me fuzila com o olhar. Depois, encara algum ponto fixo atrás de mim, parecendo que está evitando me olhar. Mas, não vou desistir fácil.
– Começamos amanhã, às 15h. – Falo e solto o braço dela.
Babi sai do escritório, pisando duro, enquanto eu torço para que ela apareça amanhã.
[...]
Deixem seus votinhos na história, estão quase chegando em uma parte top da historia! Aguardem <3
BEIJINHOS E ATÉ MAIS!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro