2 | 8
Eu, Victor Augusto Paviole, nunca pensei que estaria aqui, preparando um pedido de casamento. Por um lado, é um alivio saber que é tudo uma farsa e que a Babi já sabe. Na verdade, não fazia muito sentindo eu ter realmente feito uma surpresa de verdade para uma noiva de mentira. Assim, ninguém cria expectativas atoa.
Odeio quando as pessoas criam expectativas sobre mim, porque quase nunca consigo supera-las.
No entanto, mesmo planejando e já sabendo tudo o que iria acontecer, a Bárbara fugiu do roteiro e faz algo que talvez ninguém tenha feito comigo antes: ela me surpreendeu. Eu não imaginava que a Babi iria reagir dessa forma ao pedido de casamento. Esperava que ela no máximo "chorasse de emoção". Pelo contrário, simples desmaiou, quer dizer, fingiu.
Todos acreditaram no desmaio dela, pelo que parece. Antes de os dois expectadores, meu pai e Crusher, saírem da varanda, posso perceber o mais velho franzir a testa e cruzar os braços. Com certeza ele está considerando a situação. Então, por fim, saem da varanda, talvez com a intenção de vir para cá.
Ao passo disso, GS chega ao jardim e corre exasperado para onde estamos. É bem provável que ele estivesse espreitando-nos da sala da clareira. Com a prima no chão, seu disfarce está sendo totalmente esquecido.
Babi pode estar fingindo muito bem, imóvel em meus braços, mas eu não acredito também, pelo menos não no início. Quando a peguei antes que batesse a cabeça no chão, ela puxou discretamente meu terno e eu soube que era só fingimento. Mesmo assim, entro na onda e começo a interpretar um papel de noivo preocupado.
– Amor! – Gritei. Minha cara de ator é a melhor – Chamem uma ambulância!
GS nos alcança e, desesperado, sacode a prima.
– Acorde, Babi! – Ele diz, com a voz trêmula.
Babi, dessa vez, não mostra para o primo que é fingimento, apenas continua acordada como uma pedra. Ela é esperta. Penso. Com o desespero do primo, a cena parece muito mais real.
– Pare com isso e vá chamar a ambulância. – Ordeno-o.
– Não precisa. – Uma voz feminina impede que GS diga algo – Eu dou conta.
Ao levar os meus olhos, percebo que é a pessoa da qual evitei encontrar desde que cheguei: Rosalynd, a governanta da casa. Sinto aos poucos meu rosto de contrair até chegar em um nível de amargura comprimida. Um gosto de ferro se torna característico na minha boca; acabei de morder a língua.
Depois que minha mãe morreu, Rosalynd me criou como seu filho. Sou grata a ela por não ter deixado que minha infância fosse somente marcada por momentos ruins, pelo menos uma parte dela foi claro como o dia. Mas hoje, depois de todas as coisas que já fiz, principalmente, depois de todas as pessoas que já matei, tenho vergonha de ficar perto dela. Rosalynd me ensinou a ser uma boa pessoa, mas mesmo assim eu me tornei o monstro que sou.
Alguém sujo como eu não é digno de estar na presença de uma pessoa tão pura e amável como Rosalynd.
– Deixe que eu cuido dela. – Rosalynd diz em português, com um sotaque inglês carregado.
Meu pai faz questão de que tudo nessa casa venha de um lugar diferente do mundo, incluindo seus filhos e a governanta. Rosalynd é inglesa, dos arredores de Londres, ele a trouxe quando era uma jovem moça, talvez da mesma idade que Babi tem agora. Claro que ela se preocupou em aprender português, diferente do meu pai que fez pouco caso. Ele, na verdade, não se importa muito comigo.
Percebo que ele não veio ver o que está acontecendo, quando Crusher aparece sozinho no jardim. Deve ter ido para a adega da casa ou até para o seu quarto. Nitidamente seu interesse por mim é igual a zero.
– Leve-a ao quarto. – A governanta diz – Vou preparar algumas coisas para quando ela acordar.
Ela não espera minha resposta, porque sabe que eu não a darei. Apenas se retira entra na mansão. Então, pego Babi no colo com muita facilidade, porque afinal, ela está estirada no chão.
Tomo cuidado para que o vestido de Babi não fique preso e acabe mostrando coisas que ela não queira e, principalmente, tomo cuidado onde ponho minhas mãos em seu corpo. Não quero que ela pense que estou tentando me aproveitar da situação. Coloco os braços dela ao redor do meu pescoço para não irem balançando.
Ela é tão pequena, cabe perfeitamente em meus braços.
– Você bem que podia fingir estar acordando pra eu não precisar te carregar. – Digo baixinho, já que ninguém está por perto.
– Cala a boca! Só me leva logo pro quarto. – Ela retruca, ranzinza. Fala tão baixo que quase não escuto.
Dou um solavanco fingindo ajeitá-la nos meus braços e ela aperta suas unhas grandes no meu bíceps. Um sorriso fajuto escapa dos meus lábios. A verdade é que meu coração bate muito forte no peito, porque isso sempre acontece quando toco na Babi.
Levo minha noiva até o seu quarto e deito-a na cama. Rosalynd chega atrás de mim com algumas coisas para cuidar da Babi. Dou espaço para ela e apenas observo de longe, em pé.
A minha "quase" mãe começa tirando os saltos de Babi e colocando-os ao pé da cama. Ela cobre minha noiva com o cobertor e passa um pano molhado na sua testa. Babi finge acordar aos poucos quando sente isso. Ela é uma boa atriz, deveria seguir carreira.
Logo me lembro que ainda estou interpretando o papel e corro para segurar a mão da minha noiva.
– Amore mio, você acordou! – Digo, com uma voz suave.
Babi me dirige seus olhos brilhantes como a lua e dá um sorriso pequeno. Ela se apoia na cama e senta. Põe a mão na cabeça fingindo estar tonta e diz:
– O que aconteceu?
– Você acabou desmaiando com o meu pedido. – Explico – Acho que a emoção foi grande.
Nós dois rimos e percebo pelo olhar periférico uma mínima reação alegre em Rosalynd também. Babi balança a cabeça e a governanta começa a preparar um chá com a água quente e as ervas de um pote de porcelana que trouxera na bandeja. Com o líquido fumegando e já pronto, ela entrega para Babi.
– Pra que isso? – Babi pergunta, com um sorriso amarelo.
– Para recuperar as forças. – Rose responde.
Enquanto ela se afasta para recolher as coisas que trouxe, Babi diz que odeia chá apenas mexendo os lábios. Eu sorrio e dou de ombros como se dissesse "você que começou isso". Minha noiva revira os olhos e toma um gole, forçadamente, do chá.
– Quem é a senhora? – Babi pergunta só pra mim.
– Rosalynd, a governanta da casa. – Digo, olhando para a janela.
Desde o meu primeiro assassinato, eu nunca mais consegui falar em voz alta que Rosalynd é minha mãe do coração. Eu... Eu não consigo. O "Victor" que ela criou deixou de existir a muito tempo. O peso da culpa me obrigou a isso.
– Muito prazer, Rosalynd, e obrigada por cuidar de mim. – Babi, chama a atenção da governanta. Mesmo não tendo passado mal de verdade, ela ainda consegue ser gentil.
Rosalynd encara a Babi e curva minimamente, tentando dizer em português que não tinha sido nada, que fez isso por que é o seu trabalho. Babi parece ter entendido, porém.
– Com o tempo você se acostuma com o sotaque dela. – Digo sem perceber. Olho para Rose pela primeira vez desde o início dos fatos, e ela balança a cabeça confirmando.
– Ah, não tem problema, eu entendi tudo. – Babi sorri – Na verdade estou aliviada por pelo menos você falar português. Eu já estava ficando maluca com tanta gente falando italiano por aqui.
– Já que está tudo bem, vou me retirar. Eu sugiro que você faça alguns exames só para garantir que está tudo bem. – Rosalynd diz.
Rose sai do quarto e me deixa a sós com a Babi. Nós olhamos um pro outro, sustentando um silêncio intrigante. Ela começa a sorrir, depois, cai na gargalhada.
– Você é mesmo sacana! – Digo, sorrindo – Fingir desmaio, Babi? Por que você só não disse um "sim"?
– Eu queria ser original. – Ela diz, arrancando uma gargalhada minha.
– Foi uma péssima ideia.
O sorriso da Babi me provoca uma sensação no pé da barriga, nem sei explicar o que é. Por isso, fico com medo. Fazer o contrato com a Babi foi uma jogada de mestre da minha parte, porque ela estava precisando de ajuda e toparia qualquer coisa para salvar o seu primo. Foi muito fácil convence-la; vou finalmente assumir meu cargo de Dom sem fazer quase nada. Mas, a Babi tem me feito sentir coisa que eu nunca senti na vida e isso é um mal sinal.
Um assassino não "sentes coisas", muito menos, ter um ponto fraco.
[...]
Que tal maratonar esse livro esse fim de semana? Tem mais cinco capítulos fresquinhos esperando por vocês, aproveitem! <3
ESPERO QUE TENHAM GOSTADO! VOTEEEE!
Beiinhos ❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro