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Meu primeiro dia de aula na nova escola não poderia ter sido melhor. Embora as outras meninas não estudem aqui, tenho a Voltan e isso já é muito bom. Na verdade, a conexão que eu tenho com ela é diferente. Finalmente eu entendi que nós duas nos conhecemos antes de sequer imaginarmos crescer e morarmos na mesma cidade.
Sinto o sol quente do Rio na minha pele. Como são boas essas sensações. Calor. Afinidade.
Olho ao redor. Quase todos os alunos foram embora, ficando só alguns. Ajeito a alça da bolsa nas costas e me preparo para ir embora.
No entanto, a breve sensação de leveza se esvai. A saída da escola me reservou uma surpresa que eu não imaginava e agora está aqui, prontamente me entregando. O almofadinha que conheci no dia do acidente está em frente a minha escola. Na verdade, ele espera dentro do mesmo carro que eu vi na outra noite. É um Mercedes novinho em folha que deve valer o preço do morro todo.
Como alguém pode andar com algo tão caro aqui? Ele não tem medo de ser assaltado não?
O almofadinha mexe no seu celular, seus dedos são rápidos digitando. Ele está concentrado. Mesmo a alguns metros de distância, consigo ver cada detalhe dele. Hoje ele não está usando um terno, mas veste gravata e camisa social branca. Seu cabelo está meio bagunçado, o que o deixa meio sexy. Parece que ele está vindo de um longo dia de trabalho.
Ele para de olhar para a tela do celular e olha ao redor. E então me nota. A princípio ele fica surpreso, mas logo em seguida esbanja um sorriso malicioso. Travo no meu lugar, segurando a mochila com força. De repente, o almofadinha sai do carro e começa caminhar até mim.
Ele não vai fazer isso... Ele não vai...
– E aí, princesa. – Ele fala, como um sedutor.
– Não te dei essas liberdades pra você vir me chamando disso. – Falo, nervosa.
– Ui, que bravinha. Fica tão fofa assim. – Ele fala, com um sorriso torto. Babaca.
Eu encaro o almofadinha que parece ter todo tempo do mundo, ao contrário de mim, pois a presença dele me intimida. Além disso, meu primo chegará para me buscar a qualquer momento para comprar os presentes para Thaiga. Lembrando da forma com GS agiu ao vê-lo no hospital, suponho que ele não o trate cordialmente.
– O que você está fazendo aqui? Quer ser morto? – Pergunto, cruzando os braços.
– Como assim, princesa? – Ele fala, debochado.
– Olha a ousadia, garoto! Se não te matarem pra roubar esse teu carro de luxo, eu te mato por tomar liberdade comigo.
Ele sorri e enfia as mãos no bolso. Parece que o que ele estava fazendo dentro do carro não é mais tão importante.
– Posso saber o nome dessa "versão de bolso de um lutadora de MMA" que está na minha frente?
– Ora seu... – Resmungo baixinho.
Estou a ponto de xingá-lo. Toda a boa lembrança que eu tinha em minha memória se foi. A expectativa de reencontra-lo, que outrora existia, agora dá espaço para a indignação. Como ele pode ser tão cavalheiro e ao mesmo tempo terrivelmente sedutor?
Em meio ao meu silêncio, ele começa a falar como se eu quisesse participar – ou pelo menos prolongar – a conversa.
– Eu me chamo Victor Augusto, um nome lindo, concorda? Herdei o meu segundo nome do meu avô.
– Interessante. – Resmungo virando o rosto.
– O que disse, princesa?
– Dá pra parar de me chamar assim? – Tento ficar incomodada com isso, mas a única coisa que acontece é o agitar das borboletas no meu estômago.
– É só você me dizer seu nome que eu paro de te chamar de princesa. – Fala, o cínico – Nada mais justo não é mesmo? Eu te disse meu nome, afinal.
– Me chamo Bárbara, mas pode me chamar de Babi.
– Ah que legal, você tem apelido.
De repente, o almofadinha começa se aproximar, como um predador a espreita. Não consigo recuar, estou paralisada pela presença dele. As células que saem do meu corpo estão entrando em choque com as dele. Sinto o clima esquentar em instantes.
– Eu também tenho um apelido... – Ele diz, lento e suave.
– Ah, e qual é? – Falo, devagar. Merda, eu não consigo disfarçar minha cara de boboca.
– Coringa.
Eu o vejo esticar a mão, mas o seu toque não chega a me alcançar. Logo ouço um barulho de buzina de moto que me assusta. O tal Victor Augusto não move o corpo, apenas gira a cabeça de lado tentando ver o que nos "atrapalhou" com sua visão periférica. É GS chegando. Eu quero muito sentir o toque flamejante do almofadinha de novo, mas ao mesmo tempo quero fugir. Eu só posso estar ficando doida! Agora pouco eu não o odiava?
Corro para GS, com sua moto estacionada a poucos metros de nós, não sem antes ouvir Coringa falar alto:
– Não se esqueça que você me deve um favor... Babi!
Eu não vi seu rosto, mas posso jurar que ele deu um sorriso malicioso logo após dizer isso.
Ah droga, como vou pagar essa dívida?
[...]
GS não diz nada o caminho todo até a loja que vamos comprar os presentes para Thaiga. Ele está estranhamente quieto. Dirige até um bairro que margeia o centro, para o lugar que eu não faço a mínima ideia de qual seja, pois afinal, ele não me perguntou aonde eu queria ir.
Finalmente, depois de ansiosos minutos, chegamos ao destino. GS me trouxe em uma loja de departamentos enorme, cheirando a produtos caros. Talvez minhas economias não deem para comprar nem mesmo uma balinha.
– GS vamos comprar aqui mesmo? Não sei se vou ter dinheiro suficiente. – Digo, assim que desço da moto e lhe entrego o capacete.
– Relaxa, se você precisar de dinheiro eu te empresto. – Ele responde.
GS guarda a chave no bolso e ajeita a jaqueta jeans com lavagem clara. Desde quando meu primo tem dinheiro de sobra a ponto de emprestar a alguém? E essas roupas? Parece relativamente de boa qualidade. De onde veio o dinheiro para comprá-las?
– E como você tem essa grana toda? – Pergunto desconfiada.
– Papo de galinha, Babi.
Semicerro os olhos e o sigo até a loja. Depois de alguns minutos olhando vários e vários corredores, eu escolho dar para Thaiga um tênis que eu acho que combina com o estilo dela e ainda por cima, passa apenas vinte reais do meu orçamento.
Coloco o tênis na cesta e vou procurar o GS. Ele foi olhar a parte de roupas para ver se gostava de alguma coisa. Eu o aconselhei a escolher algo que quando ela use, lembre dele. A ideia da roupa pareceu agradar a nós dois, afinal, usamos roupas com frequência.
Demoro um pouco, mas o acho na parte das camisetas. Acho-o com duas blusas na mão, suspensas pelo cabide. Ele levanta uma e observa e faz o mesmo com a outra, em um looping sem fim de indecisão.
– Eu não acredito que você quer dar uma camiseta do Star Walls pra ela? – Eu digo, chegando perto dele – Isso é presente de natal que tua tia te dá no amigo secreto.
Eu rio da cara dele de espantado, pendurando a camisa de volta na arara.
– Você não sabe comprar presente mesmo, hein? – Não queria rir, mas GS não me deixou escolha.
– Tá legal, me diga qual sua sugestão? – Ele se rende.
Apoio meu braço com uma mão e com a outra, batuco os dedos no queixo, fingindo estar analisando.
– Você se lembra que eu lhe disse que havia uma condição para que eu te ajudasse?
– Ah não, lá vem você. – Ele joga os braços para frente.
– Trato é trato! – Bato o pé no chão.
– Ah vai, o que você quer?
Desfaço minha posição de "pensadora" e aponto para sua panturrilha tatuada. É algo que me deixou intrigada e quando eu coloco algo na cabeça, não paro até solucionar.
– É disso aí que eu quero saber. – Respondo.
– O que? Minha tatuagem nova? O que é que tem, Babi?
– Você odeia tatuagens, por que resolveu fazer essa?
GS engole em seco. Ele fica meio desconcertado e pensa por alguns segundos. Por fim, faz uma cara de tédio, tentando disfarçar o nervosismo.
– Qual é, Babi? Não odeio tatuagem. Eu fiz essa porque quis.
Essa resposta não me convenceu. Guardo para mim isso, no entanto. Olho para o meu primo tentando encontrar sinais corporais que indiquem mentira e encontro vários.
– E então, vai me dizer logo o que eu tenho que dar de presente a Thaiga? – Ele responde, me encarando pela primeira vez.
– Um colar.
– Sério? Não é muito manjado isso?
– Claro que não, Gilson.
Desacreditado, aceita o meu conselho depois de muito tempo. Vamos até a parte de joias e GS escolhe um que combine com Thaiga, uma lua metade brilhante, metade negra. Claro que teve a minha ajuda envolvida, por que, meu Deus, ele tem um gosto horrível.
Na fila do caixa, GS conversa comigo sobre o meu reencontro com o almofadinha. Demorou mais do que eu pensei para ele tocar nesse assunto.
– Então... – Ele começa – Aquele cara que estava falando contigo na porta do teu colégio era o mesmo do hospital não é?
– Era sim. – Confirmo.
– O que ele queria? – GS parece estar pisando em ovos.
– Comigo nada, ele só me cumprimentou.
GS solta um "aaaah" e fica calado. Tem algo muito estranho acontecendo. Meu primo se dá bem com todo mundo, nunca vi ele desgostar de ninguém, mas justo o Coringa ele está implicando.
– Babi, eu quero te pedir algo. – Diz GS.
– Fala.
– Fica longe desse cara tá? – GS não está zangado, mas sua voz soa preocupado. Eu não sei porque ele me pediu algo assim, mas não vou concordar.
– Por que não GS? – Pergunto, contrariada.
– Ele é perigoso Babi!
– Perigoso? Que mal ele pode me fazer?
– Você não sabe com quem estará se metendo.
– Então me diga, GS!
Meu primo não me responde. O silêncio que ele me oferece chega a ser tão irritante quanto o fato de ele estar me escondendo algo. Antes eu não havia percebido de fato, mas agora tenho a certeza de que algo de errado está acontecendo com meu primo. Ele está tão mudado desde a última vez que eu tinha o visto.
Agora ele está mais reservado e cheio de silêncios. Fez uma tatuagem e cortou o cabelo, coisa que ele jurou nunca fazer. Além disso, tia Gorete estava passando por dificuldades financeiras desde a morte do tio Carlos, mas aparentemente GS tem dinheiro para comprar presentes caros. O que está acontecendo? Com o que ele está metido?
A mulher do caixa grita "próximo" e GS me deixa para trás com essa dúvida. Ele não diz mais nada, apenas paga tudo e sai da loja. A volta para casa foi tão silencioso quanto a vinda.
[...]
Eita, parece que nosso Coringa conseguiu "encantar" a Babi né? Kkkk eu de primeira já teria pedido pra casar com ele kkk
Beijinjos meus amores e até o próximo capítulo!
(Se até o fim da semana batermos a meta de 100 visualiações, eu posto mais 3 capitulos por semana, tipo, ao inves de ser só 7, um por dia, vai ser 10)
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