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Um bando de adolescentes; essa é a galera que GS me trouxe pra conhecer. São amigos do meu primo, o que me deixa bem mais aliviada. Minha ansiedade não se agitará tanto diante de um território menos hostil.
De um por um, vou conhecendo. Primeiramente, conheço o Mob – nome estranho, mas engraçado – que tem um risco na sobrancelha direita, charmoso. Conheço a Mih, logo em seguida. Os dois me cumprimentam brevemente e perguntam se estou gostando do Rio de Janeiro. Mob estende sua mão pra fazer um gesto ao concordar com minha resposta "Claro, estou sim" e só aí percebo que ele estava segurando a cintura da Mih. Pelos poucos segundos em que estou perto dos dois, posso supor que ela e o Mob tem um lance. O jeito como os dois se olham é diferente, quase denuncia o sentimento que há entre eles.
Depois de viajar um pouco em uma fanfic que não é minha, conheço a garota que eu tenho quase certeza de que meu primo está apaixonado por ela. Com seus cabelos curtos, pintados de uma cor de cada lado, e risada divertida, ela chama atenção de todos. Thaiga. Até seu nome tem presença. Sua animação ao me conhecer me faz perguntar porque qual motivo eu estava com receios de vir aqui.
A última pessoa a quem sou apresentada me parece muito familiar, como se meu cérebro estivesse tentando me dizer que, em algum lugar aqui dentro, a imagem dela está gravada. A galera a chama de Voltan. Talvez seja a sensação de reconhecimento, mas essa loira da cara fofinha conquistou meu coração. Parece que nós duas somos amigas de uma vida toda ao invés de apenas alguns minutos.
Todos gostam de jogos, tanto de videogame quanto de celular, e eu me identifico com eles, porque afinal, a única coisa que eu sei fazer de melhor é jogar, na verdade, eu poderia até ser uma gamer, em modéstia parte. Assim, percebo que GS me trouxe aqui intencionalmente, ele sabe o quanto sou tímida e que eu conseguiria fazer amizades sozinha aqui no Rio, não tão rapidamente. Que bom que tenho um primo que cuida de mim!
Estamos na casa de Mob, é mais ou menos umas onze horas da manhã. Eles parecem ter dormido aqui, pois a sala está cheia de colchões. Aliás, a casa dele tem, estranhamente, um ar mais "sofisticado" que o comum das casas do morro. Aparentemente alguém aqui faz uma grana rentável. A mãe do Mob está preparando o almoço enquanto conversamos esparramado pelos colchões. Ela é muito legal, parece ser bem mais nova do que realmente é.
E em certo momento eles tocam em um assunto que eu não entendo muito bem.
– Mano, a partir de hoje começa o toque de recolher. – Mob diz.
– Até parece que eu vou seguir isso. Se não quero, não faço. – Thaiga responde em seu jeito intenso e único.
– Não é questão de querer, amiga. A gente tem que obedecer se não... – Voltan não termina a frase, apenas me olha de canto de olho, desconfiada.
– Mas por que colocaram isso mesmo, gente? – Mih pergunta. Solto um risinho. Com certeza ela é a mais "lerdinha" da turma.
O fato de não entrarem em muitos detalhes só me deixa mais curiosa ainda. Eu só queria saber quem tem toda essa autoridade pra mandar no horário que as pessoas devem ou não ir para casa. E o nosso direito de ir e vir?
– Você sabe. – GS diz, meio sombrio.
Ele ajeita seu tope e coloca um travesseiro no colo. Mob desvia a conversa pra outro assunto e eu acabo me esquecendo dessa pequena discussão intrigante.
[...]
Lá pelas três da tarde a gente almoça; todo mundo acordou tarde e demorou a sentir fome. A mãe de Mob fez macarronada e frango frito, uma combinação que eu definitivamente amo. GS, o esfomeado, come três vezes. Puft! Depois a pedreira sou eu. Mas eu até entendo essa fome toda do meu primo, com todos esses músculos e grande altura, ele precisa mesmo de muita comida pra manter o poste.
– Quem vai me ajudar a lavar a louça? – A mãe de Mob pergunta e todos soltam um gemido de frustação.
Alguns se levantam, sorrateiramente, e fogem para sala, ficando somente Gilson e eu à mesa. Ele ainda não terminou de comer.
– GS! – Mob chama por ele, pouco tempo depois – PH tá aqui.
Gillson se inquieta. Ele expressa nervosismo ao passo que coloca os talheres no prato.
– Quem é esse? – Pergunto, recolhendo os pratos.
– Um cara aí... – Gilson diz, com a boca suja de molho.
– Nossa, que misterioso. – Digo sorrindo.
Ele não responde, nem mesmo sua expressão suaviza. Com o rosto tenso, ele calça os chinelos que estão jogados embaixo da mesa e sai, apressado.
Termino de tirar a louça suja da mesa, porém deixo o prato de GS na mesa, não sei se ele vai voltar para terminar de comer. Levo tudo pra lavar na pia. Procuro pela bucha, mas não consigo achar. Talvez ela esteja perdida debaixo desse tanto de panelas e pratos.
– Cadê a bucha, tia? – Pergunto à mãe de GS, que está retirando as panelas da mesa e colocando sobre o fogão.
– Ah, meu amor, não precisa se preocupar. Você já trouxe os pratos. Pode ir sentar com seus amigos.
Ela acaricia minha cabeça e sorri. Mob tem sorte de ter uma mãe assim, bondosa e meiga. Insisto mais algumas vezes para ajudá-la, porém ela recusa em todas. Vencida, dou meia volta e me dirijo a sala. Antes que eu saia, ela diz:
– Tem bolo-gelado na geladeira. Pega um pra você.
Esbanjo um sorriso. Amo bolo-gelado! Abro a geladeira frost-free e noto que ela está abarrotada de coisas. Frutas, iogurtes, refrigerante e cervejas, bolos e frios. Penso que deixei em casa uma geladeira igual ao Polo Norte: gelada e só a água. Me pergunto o que os pais de Mob são, eles levam uma vida boa.
– Obrigada tia! A senhora que fez? – É meio óbvia a resposta, mas eu sinto que ela quer que eu pergunte.
– Foi sim. Eu vendo, na verdade.
– Ah tá, e quanto é? Posso trazer o dinheiro quando eu voltar aqui?
– Pra você é de graça, Babi. Volte sempre que quiser, terá muitas coisas gostosas te esperando.
Ela ri e volta à sua pilha de louça. Meu coração se aquece por um momento, sinto-me cativada.
Comendo meu bolo-gelado, vou para a sala e vejo, então, uma movimentação estranha. Haviam mais três amigos de GS que antes não estavam aqui. O primeiro é mais baixo, mas bem parrudo, provavelmente já tem mais de trinta anos, tem uma cara carrancuda e é todo tatuado, até o pescoço. O que está a direita dele, é mais alto e mais magro. Pele negra e um bigodinho fininho singular. Ele tem um risco na sobrancelha igual à de Mob, porém é menos tatuado que o primeiro.
O último tem um ar de prepotência em sua postura, vejo um leve volume no bolso de trás dele, como se ele carregasse alguma coisa grande lá. Ele tem uma barba bem desenhada e preenchida, de fazer inveja a qualquer um. Tem poucas tatuagens, mas fez uma bem diferente na mão esquerda, um lagarto enrodilhado como cobra, com uma língua vermelha bem marcante.
– PH, essa é minha prima Babi. – GS me apresenta ao cara da tatuagem de lagarto.
– E aí Babi. Esses são Will e Bradoock. – PH aponta para os outros dois e continua falando – Nova por aqui?
– Sim, me mudei a uma semana. – Respondo meio tímida, sou péssima com apresentações – Vocês são amigos do GS?
– Digamos que sim. – PH responde, deixando meu primo desconcertado.
Eles esquecem de mim por um momento e trocam algumas palavras. Falam tantas gírias e termos sem nexo do qual eu não entendo, que acabo perdendo o interesse na conversa e decido me sentar com as meninas no sofá. Depois de um tempo GS vem até nós.
– Babi, eu vou pra um rolê com o PH. – Ele parecia divertido, mas ansioso – Você volta pra casa com as meninas, tá? Elas vão te levar.
Fico em alerta. Meu maior medo é andar sozinha por aqui ou sem alguém que eu conheça. Eu sei das histórias que rondam sobre esse lugar, das pessoas que foram mortas só porque entraram sem querer em uma rua. A barra é pesada aqui. Eu acabei de chegar, não quero encrencas para mim e minha família.
– Se cuida, Pinscher! – Ele me dá um beijo na testa.
Eu não tenho tempo de me zangar pelo apelido que eu odeio. Estou mais preocupado em saber para onde meu primo foi.
[...]
Que deusaaa! Maravilhosa demais a Voltan. Gostaram do capítulo? Deixem um votinho ☆
♡ Beijinhos e até mais ♡
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