Capítulo 3 - Where Are U
Miguel ficou esperando pelo tio por meia hora, quando a secretária o informou que o mesmo atrasaria por cerca de mais uma hora. Cansado de esperar, sentado em um minúsculo sofá que provavelmente for desenhado apenas para apresentar um bom designer, ao invés de trazer conforto, resolveu tomar um ar do lado de fora, já que estava uma agradável tarde de primavera e aquele sofá estava fazendo–o ficar muito desconfortável.
– Deixe–me o número do seu celular, que ligarei assim que o Sr. Augusto retornar. – Disse a recepcionista.
– Oh, eu ainda estou usando o meu número de exterior, tem algum problema? – Com tantos compromissos, Miguel ainda não havia resolvido à questão do celular e mantinha o mesmo número dos EUA.
– Bem, isso nunca nos ocorreu antes. Acho que posso fazer uma ligação internacional, mesmo o senhor estando aqui no mesmo bairro que eu. – A recepcionista parecia confusa.
–Tem alguma loja de celulares por aqui? – Miguel quis saber.
– Na outra quadra há uma lojinha que vende capas e chips para celulares.
– Ótimo, só preciso de um chip local e já retorno com um número novo.
– Estarei aguardando, Senhor.
Ao chegar à quadra indicada pela recepcionista, notou um prédio curioso. Ele era diferente dos demais, não havia pintura em suas paredes, apenas tijolinhos vermelhos, com algumas flores trepadeiras subindo por entre os tijolos. Na calçada havia algumas mesas e cadeiras de madeira sob a sombra de um toldo. Uma plaquinha de madeira entalhada pendurada sobre a porta indicava o nome do local, Literachá Livraria e Casa de Chá.
A livraria, que parecia ter saído de uma cena de filme, chamou a atenção de Miguel, que tomado pela curiosidade resolveu entrar no local. Ao passar pela porta, que estava parcialmente aberta, observou que o local era ainda mais encantador por dentro do que era por fora. Havia estantes de livros, intercaladas com pequenas mesas de madeiras do mesmo modelo das mesas que ficavam na calçada, porém, essas eram coloridas de amarelo, azul e rosa. Penduricalhos dos mais variados pendiam do teto, onde um enorme apanhador de sonhos balançava iluminado por minúsculas lâmpadas de led.
Caminhou vagarosamente por entre algumas estantes, quando ouviu uma voz familiar e aproximou–se na tentativa de descobri quem falava de maneira tão áspera. Ao perceber que era Bruno, que praticamente gritava com a jovem do balcão, escondeu–se entre as estantes de livros do Nicholas Sparks e observou a discussão que ocorria no local. Virou–se para o lado contrário, quando Bruno passou á poucos metros de onde estava e saiu batendo a porta. O Coração de Miguel bateu acelerado quando um suave som adentrou em seus tímpanos.
– Perdão, pelo ocorrido. – Disse a jovem que caminhava constrangida em sua direção, fazendo–o engolir em seco a perceber que ela era a mesma que o havia derrubado na noite anterior.
– Ah, não se preocupe. Todos têm algum momento constrangedor na vida, não é? – Ele sorriu, tentando acabar com a tensão que estava no ar.
– Você tem razão. É o famoso "quem nunca". – Ela gentilmente dá um papinha no ombro de Miguel, que sente o corpo se contrair, já que não é tão acostumado com a mania de toque que brasileiros tem. – Mas me diga em que posso te ajudar. Gosta do Nicholas Sparks também? Ele é um dos meus favoritos. – Diz Alice, pegando o livro Querido John e depois colocando de volta da estante.
– Nunca li nenhum livro dele. É bom? – Uma súbita vontade de ler um romance surgiu em Miguel, que só lia livros voltados para o mundo empresarial.
– São ótimos, mas eu sou suspeita para falar. – Ela então o olha de maneira séria. – Você não parece ser do tipo que lê romance, talvez deva ler O Poder do Hábito, acertei?
– Não faço a menor ideia do que se trata. – Miguel nem sabia da existência desse livro.
– Ah, não seja por isso, venha comigo. – Ela caminha em direção oposta de onde estavam, percorrendo a parte central da livraria, indo em direção de uma parte que menos colorida e dando–se conta de que no local havia música ambiente, era o som de We Don't Talk Anymore que tocava baixinho nos alto falantes.
– Gosto desta música que está tocando, tem o som agradável.
– É gostosa de ouvir, não é? Faço questão de sempre ter música tocando, mesmo sendo em volume tão baixo, para não atrapalhar as pessoas que estão lendo. Só é ruim por que não sei as traduções, acabo escolhendo pela melodia.
– Você não sabe nada de inglês? – Miguel era tão acostumado com a língua inglesa, que as vezes se esquecia que no Brasil são poucas pessoas fluentes nesta língua.
– Apenas o básico da escola e do aplicativo que tenho no celular – Ela se estica para tentar alcançar o livro amarelo na parte de cima da estante. – Ai, é tão alto. Ela se estica mais um pouco, mas Miguel levanta o braço, pego o livro e entrega á ela – Obrigada... Como é mesmo o seu nome?
– Eu me chamo Miguel. – Diz ele estendendo a mão para cumprimenta–lá. – Já sei que você se chama Alice.
Ela sorri, lembrando que ele havia escutado toda a discussão que tivera com Bruno há alguns minutos, estende a mão e retribui ao cumprimento de Miguel.
– Muito injusto isso, acabamos de nos conhecer e você até já me viu gritando. – Ela faz bico de constrangimento. – Mas eu tenho a impressão de que te conheço de algum lugar.
Miguel lembrou–se da noite anterior, quando ambos caíram na calçada, mas negaria até a morte, que tenha sido ele que ficara alguns segundos prendendo–a sob o seu corpo.
–Hmm, eu acabei de chegar à cidade, estive fora muitos anos.
– Ah, me desculpe, é que achei seu rosto muito familiar. Talvez você seja parecido com algum ator de dorama, assim com seus olhos amendoados. Seus olhos te atrapalham enxergar? – Ela puxa seus próprios olhos tentando imitar os de Miguel.
– Você é engraçada, Alice. Não se preocupe, eu enxergo como todo mundo. – Ele percebe que estar perto daquela jovem tão pequena, faz seu coração bater acelerado.
– Juro solenemente, que sou uma pessoa normal – Diz ela, fazendo ambos gargalharem.
– Pegue, este é o livro O Poder do Hábito, acho que você vai gostar.
– Quanto é? – Diz ele, enquanto ambos caminham para o balcão.
– Ah, não se preocupe. Este é por conta da casa. É minha forma de pedido de desculpas pela discussão que você presenciou agorinha á pouco.
– Não, eu faço questão de pagar. Me diz quanto é – Ele tira a carteira do bolso, mas é ignorado por Alice.
– Já disse que é por conta da casa! – Ela sorri.
– Você é teimosa! – Ele cede.
– Você nem sabe o quanto. – Ela retruca, dando de ombros.
Ela coloca o livro em uma embalagem e entrega novamente à Miguel, que ainda está aturdido por estar levando um livro de graça.
– Volte quando terminar a leitura ou apenas para tomar um chá, aqui tenho chás de todos os tipos. Ou ainda, venha aos sábados, que a livraria se torna um mine pub de cerveja regional.
– Muito eclético seu estabelecimento – Miguel se surpreendeu como Alice geria o local.
– São tempos de crise, preciso manter esse negócio de pé. – Diz gesticulando como se tivesse mostrando o local á alguém.
–Te entendo perfeitamente, essa crise pegou todo mundo. Mas ok, prometo que voltarei para um chá ou para uma cerveja.
– Estarei te aguardando.
– Prometo que voltarei. Tchau, Alice.
–Tchau, Miguel.
Miguel saiu da livraria sentindo–se como um menino que acabara de ganhar um presente valioso. Foi até a loja de celulares e depois retornou á imobiliária, onde seu tio já o aguardava para lhe mostrar os apartamentos.
Duas horas depois, cansado de ver os mais variados tipos de apartamentos, Miguel já estava desistindo de contratar os serviços de Augustos, já que o apartamento que procurava não deveria ser grande e luxuoso uma vez que ele iria morar sozinho.
–Tio, entendo que o senhor quer que eu fique com um apartamento confortável, mas eu realmente não preciso de um apartamento tão grande. Me contento em ter o mínimo de conforto e uma garagem para que eu guarde o carro. – Disse, enquanto fechava a porta do quinto apartamento que visitara naquela tarde.
Augusto que também já estava ficando preocupado com o fato do sobrinho não encontrado nenhum apartamento que o agradasse, lembrou que na cobertura da imobiliária, havia um pequeno apartamento que estava sendo usado como deposito. Bastaria penas uma pequena faxina e a retirada de alguns letreiros que estavam guardados lá, se tornando um local tranquilo para Miguel.
– Se não se importar, tem um pequeno apartamento na cobertura da imobiliária, pode ficar lá se quiser.
– Pode me mostrar? – Animou–se, tudo o que precisava era de um bom lugar para descansar.
– Claro que sim, vamos.
Quando estavam retornando para a imobiliária, passaram em frente ao Literachá, de onde Miguel pôde ver Alice servindo alguns clientes que conversavam nas mesinhas de madeiras. Sorriu, quando pensou na possibilidade de morar tão próximo a Alice.
– Vejo que gosta da possibilidade de ter encontrado um apartamento. – Disse tio, que notara o sorriso no rosto do sobrinho.
– Ha, o senhor nem faz ideia, meu tio.
Alguns minutos depois, lá estava Miguel, adentrando o pequeno e abarrotado apartamento que logo se tornaria seu novo lar. Seriam necessários alguns ajustes, um retoque na pintura e a troca de algumas lâmpadas, mas nada que não fosse capaz de ser feito em alguns poucos dias.
E assim, uma nova fase na vida de Miguel dava inicio.
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ALICE
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