Capítulo 11 - Forgetting You
Escolhas não são fáceis de serem feitas, mas é o ser humano quem molda a sua própria história, o destino até tenta deixar tudo programado, mas o ser humano é tão imprevisível. Prova disso era Bruno e Miguel sentados na recepção do fórum, na espera do advogado para uma audiência. Ele não sabia, mas foi um grande erro ter ido até lá.
– Não sei por que também tenho que estar aqui, Bruno. – Miguel está impaciente, já que ele ainda não tem nenhuma relação hierárquica com a empresa de seu pai.
– Eu já te falei, nosso pai quer que você comece a se inteirar pelos assuntos relacionados ao departamento jurídico. – Respondeu Bruno, com um riso sarcástico e se recostando na cadeira.
– Eu não sei o que meu pai está pensando, eu não tenho conhecimento jurídico. Não deveria estar aqui. – Algo dentro de Miguel lhe diz que estar ali não era uma boa ideia. Ele coça a cabeça em sinal de irritação. – Eu nem ao menos sei do que se trata essa audiência.
– Relaxa, o advogado já vai chegar e nos explicar tudo. – Bruno se levanta e pega um café, retornando para se sentar ao lado de Miguel, que remexe os pés com nervosismo.
O celular de Miguel vibra em seu bolso, ele o pega, notando ser uma mensagem de Alice.
"Miguel, tenho um compromisso pela manhã, mas te espero para almoçarmos juntos."
Bruno franze o cenho, ao notar o risinho que se forma nos lábios de Miguel. Ele desconfia que seja um recado de Alice, fazendo-o sentir ainda com mais raiva do que já estava sentindo naquela manhã, quando teve uma ideia muito absurda.
O advogado surge passando pela porta da sala de audiências e se sentando ao lado de Bruno. Ele tem uma barba grisalha mal feita, mas se veste de maneira muito distinta, abre a maleta preta e retira os papéis, entregando-os para Miguel.
– Bom dia, Não se preocupem. Não temos nenhuma proposta de acordo pra essa audiência. – Disse ele. – Vocês devem permanecer calados e assinar a ata ao final. O restante é comigo
Miguel ia abria a pasta com o documento, quando foi surpreendido pela entrada do Juiz, seguido por uma mulher que ele reconheceu na hora.
Primeiro ele abriu a boca, mas as palavras lhe fugiram. Depois olhou para Bruno, que estava indiferente. Baixou os olhos, aquilo só podia ser um pesadelo. O mundo que ele vinha construindo ruiu bem aos seus pés.
– Srta. Alice. – Pode se sentar aqui, disse uma moça loira de porte franzino, que Miguel descobriu ser a advogada dela.
– Obrigada. – Disse, encarando Bruno e Miguel em sua frente. Eles eram tão parecidos, que qualquer um diria que eram irmãos.
Bruno segurou a vontade de rir ao ver o desconforto de Miguel e de Alice. Hoje seria um dia de vingança. Pela primeira vez em muitos anos, era ele quem estava controlando a situação.
O mundo despencou sobre a cabeça de Alice quando ficou sabendo que Miguel era o meio irmão de Bruno. Demorou alguns segundos para que ela entendesse o motivo de Miguel ter se aproximado dela nas ultimas semanas. A propriedade. A maldita propriedade. Já estava tudo perdido, a audiência, como esperado, não teve sucesso e o processo continuaria. Mas saber que Miguel tinha se aproveitado dela, Ah! Isso doem em lugares que ela nem sabia ser possível sentir dor.
Alice saiu nervosa da sala de audiência, desceu as escadas apressada, tropeçando nos próprios pés.
– Alice! – Miguel a chamou, mas ela continuou sem olhar para trás. – Por favor, me escuta, Alice. Eu posso explicar.
– Eu não preciso das suas explicações. – Ela respondeu, apressando o passo e virando a esquina, a mesma esquina em que ela e Miguel se trombaram a não muitas semanas atrás. Mas ele foi mais rápido, o desespero dele gritava em seu interior. Pegou-a pelo pulso e a virou, mas Alice puxou a mão e conseguiu se desvencilhar. – Me esquece, Miguel.
– Você precisa me ouvir. – Deus, como queria que ela o ouvisse. Mas não, ela se virou novamente. – Confie em mim, Alice. Eu não fiz de propósito.
As pessoas começam a olhar de forma estranha pra aquela situação. Mas Miguel não se importa, ele precisa fazer com que ela o escute.
– Confiar em você? – Ela cospe as palavras. – O que eu mais fiz nesses últimos dias foi confiar em você. – Sua voz falha. Ela sofre. Era doloroso demais ter sido enganada pela única pessoa por quem ela se deixou apaixonar.
– Eu não tenho nada a ver com os negócios do meu pai. – Miguel sentiu a dor de pronunciar aquelas palavras. Os negócios do pai dele, que também eram negócios de Bruno, o usurpador. Era irônico, a posição de Bruno, que tanto fez Miguel sentir inveja, era tudo o que ele queria provar não existir naquele momento.
– Bruno, apenas não. Tá bom? – Ela se sente enganada. Como pôde cair na lábia de alguém como ele? Só porque ele tinha palavras doces e a tratava como se fosse alguém especial? Ela não precisava passar por uma situação tão vergonhosa.
Ele tenta protestar, mas seu celular começa a tocar e ele atende sem nem ao menos verificar de quem era a ligação. Alice aproveita a deixa e sai apressada, atravessando a rua e se distanciando o mais rápido que pode.
Ao chegar ao Literachá, ignora a funcionária e vai direto para o seu apartamento, onde pega o bilhete enviado por Miguel há alguns dias e o joga no lixo. É doloroso se sentir enganada, mas precisa seguir a vida com a cabeça erguida, mesmo que para isso precise se desfazer do seu bem mais precioso, a livraria.
Ela não tinha como negar, já não havia mais solução para seus problemas financeiros. Talvez, só talvez, Bruno sempre estivera razão, vender e usar o dinheiro seria a melhor solução. Ficou deitada sobre a cama, com o olhar fixo no retrato com sua mãe na parede, deixou as lágrimas caírem. Até quando ela teria que chorar por tantos problemas? Ela nunca seria feliz? Perdão, mãe, mas eu não sei mais o que fazer. Os pensamentos gritavam dentro dela.
Se apaixonar por Miguel foi um erro, e pensar sobre isso faz ela se sentir ainda pior. Amar é doloroso, não há como se esquecer de forma fácil. É triste saber que entregou o coração para uma pessoa que o destroçou logo depois. Ela queria voltar no tempo, evitar olhar novamente em seus olhos, culpou a carência por tê-la feito de idiota. Mas agora já era tarde demais e sua decisão já estava tomada.
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