Capítulo 10 - I Believe
Como em um dia sem acalanto, a chuva cai do lado de fora do Literachá, Alice caminha até a última estante da livraria e se senta em uma poltrona surrada pelos anos de uso, suas mãos estão trêmulas e ela respira com dificuldade, tentando não deixar as lágrimas caírem sobre os papéis que Bruno havia lhe entregado no dia anterior.
Não fazia muito tempo desde que os dois tinham se encontrado no cemitério. Ele, como em todas as outras vezes, estava lá, no único dia em que suas feridas sangravam. Mas agora, olhando para o documento em suas mãos, se deu conta de que ele era ainda pior do que aparentava ser. Recibos dos mais diversos estavam dentro do envelope, Bruno havia pago diversas dívidas de Alice.
Um nó se formou em sua garganta, como ela não percebeu que os descontos fornecidos não eram reais? Todo esse tempo Bruno esteve por trás das únicas ações que mantinham a livraria em funcionamento. Ela então entendeu porque ele estava tão convicto de que desta vez ela aceitaria vender a propriedade. Agora, ela tinha uma dívida com ele.
Colocou todos os recibos dentro de um envelope e limpou as lágrimas. Só uma pessoa poderia ajuda-la, essa pessoa era Miguel. Não parecia certo, é claro, afinal de contas, só estavam juntos há algumas semanas. Agora, era tudo ou nada, ele mesmo já havia se oferecido para ajudar.
Não bastando esse problema com Bruno, em dois dias teria audiência com uma das empresas a quem ela devia dinheiro. Diante daquela situação, ela queria fugir e se esconder do mundo e acima de tudo, precisa que alguém estivesse ao seu lado, mesmo que fosse para mentir, dizendo que tudo iria ficar bem. Pegou o celular e enviou uma mensagem para Miguel:
"Se não estiver muito ocupado, poderia vir aqui mais tarde?"
Em menos de 10 minutos, Miguel respondeu:
"Acabei de chegar em casa. Que tal desta vez você vir aqui?"
Não demorou muito para que ela estivesse subindo as escadas do apartamento dele.
Miguel, que esteve durante toda a parte do dia em uma reunião com o pai, estava um pouco pensativo já Carlos Alberto advertiu que o prazo para a sua resposta estava se esgotando. Ele acabou se irritando, definitivamente, não iria convencer a Alice de vender o Literachá. Agora, olhando-a parada em sua porta, tinha ainda mais certeza de sua decisão. Ele sorriu contente por sua escolha. Como era possível que um simples sorriso dela seja capaz de fazer o coração dele ficar em repouso?
– Oi. – Disse ele, escorado no batente da porta.
– Oi. – Respondeu ela, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
Ele estava com o cabelo molhado, penteado para trás e vestia uma calça moletom preta e uma camisa branca de algodão.
Miguel a pegou sua mão, trazendo-a para mais perto. Alice estava fria, coberta por uma fina camada de chuva, mas ele não se importou, queria ter ela nos braços pelo tempo que fosse possível e deu-lhe um beijo na testa. Ela sorriu.
– Senti sua falta, – Disse ela, o abraçando e repousando a cabeça no peito dele, sentindo o movimento de sua respiração.
– Também senti a sua. – Respondeu ele. – Está com fome? –Ele perguntou, levando-a em direção à cozinha.
Alice se surpreendeu com o apartamento de Miguel, que mesmo sendo tão pequeno quanto o dela, era milimetricamente planejado, com cortinas de voal branco nas janelas e móveis de primeira linha.
– Espero que goste de lasanha. – Diz ele, abrindo na geladeira.
– Ai meu Deus. Você sabe fazer lasanha? – Perguntou, se sentando na banqueta do balcão de mármore.
– Eu posso ter algumas qualidades, mas cozinheiro não é uma delas. – Ele riu, tirando uma embalagem de lasanha congelada de dentro da geladeira.
–Ah que pena. Achei que você fosse perfeito. – Ela finge fazer cara de decepção.
– Ai. Essa doeu. – Ele brinca, colocando as mãos no coração. – Mas você tem cara de que faz um ótimo arroz. – Diz, colocando um pote de arroz na bancada.
– Modéstia a parte meu arroz é o melhor. – Ela dá uma piscadinha pra ele e começa a ajudá-lo com o jantar.
O jantar foi silencioso, ela tentava não pensar muito nos problemas que tinha que enfrentar. E naquele momento, com Miguel ao seu lado, ela preferia apenas aproveitar o momento.
Miguel, por outro lado, olhando para a delicadeza dos movimentos de Alice, percebe que ao lado dela, ele se sente diferente. Como se ela fosse uma faísca de calor em um dia frio e uma mistura de sentimentos, sendo capaz de fazer com que ele se sinta agitado e ao mesmo tempo se tornar sereno, mesmo sabendo que a vida dos dois poderia desmoronar a qualquer momento. De repente, foi tomado por uma súbita vontade de protegê-la do mundo, impedir que qualquer lágrima viesse a sair dos seus olhos, e Deus como testemunha sabia muito bem, que o coração de Miguel é assim. É nesse coração que Alice está agora, porque ela era como um sonho, quase como um milagre, capaz de fazê-lo acreditar que podem sonhar juntos. Foi então que ele percebeu, que e ele a queria tanto, que seu corpo inteiro doía. Mas sentiu medo, o que ela fará quando descobrir a verdade que ele vem escondendo?
Alguns minutos depois, ela estava lavando os pratos e Miguel enxugando e guardando, quando não aguentou mais e se deixou levar pelo desejo desesperado de tê-la nos braços. Ele colocou o pano sobre a pia e a abraçou por trás, com delicadeza deslizando as mãos pela lateral do corpo dela, virando-a de frente pra ele.
– O que é isso que você faz comigo? – Sussurrou ele, com os lábios encostados nos dela.
– Eu não sei. – Alice respondeu, tentando não perder o controle de suas próprias pernas que estavam mole igual gelatina.
A pele macia de Alice se arrepia com o toque das mãos de Miguel. Ele sente uma pequena onda de calor quando ela desliza as mãos pelas suas costas. Seus lábios estão tão próximos que a respiração dele se mistura com a dela, e com o olhar fixo nos dela, ele percebe a tonalidade esverdeada em torno da íris castanha dos olhos dela. Lentamente, os lábios de Miguel tomam os de Alice, que arfa com a gentileza dos lábios dele. Ela o aperta contra si e Miguel a pega pela cintura, levando-a até o quarto, onde a repousa sobre o colchão. O coração de Alice bate acelerado enquanto seu corpo parece estar entrando em combustão. Miguel tira a camisa e a joga no chão.
– Você é linda, – diz ele, antes de voltar a beijá-la.
Miguel beija cada uma das pálpebras de Alice, e vai deixando um caminho de beijos entre o pescoço e o colo dela. Seu desejo é evidente sob o moletom.
Ela geme baixinho enquanto Miguel abre os botões da camisa dela, revelando a renda azul do seu sutiã. Miguel se sente inebriado pela visão de Alice, a pele dela é como a mais pura seda. Ele desliza o dedo indicador pelo pescoço dela como se estivesse desenhando uma pintura a óleo. Ele a deseja com tanta intensidade, mas algo em sua mente lhe diz que é tão errado fazer amor com ela, quando há uma mentira assombrando o relacionamento dos dois. Ele luta desesperadamente entre a vontade de se perder no corpo de Alice e a necessidade de ser sincero com tudo que vem acontecendo. Miguel precisa ser digno de receber o amor desta mulher, ela não tem culpa da carga nebulosa que ele carrega nas costas.
Em um momento de autocontrole que nem ele sabia ser possível, ele se deita ao lado de Alice e a puxa para seus braços, envolvendo-a em um abraço apertado.
– Me deixe cuidar de você essa noite? – Pergunta ele, afagando-lhe os cabelos.
Ela o abraça e se aninha em seu peito desnudo, sentindo sua respiração acelerada e o coração batendo forte. Alice se sente tão cansada de tudo, que fecha os olhos e se deixa levar pelos carinhos de Miguel e adormece, com a sensação de que a vida pode talvez entrar nos eixos, mesmo que leve algum tempo. Ela acredita que merece ser feliz.
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