POV Ana

Permaneço admirando o horizonte ao longe, como todos os dias.

Não tenho problemas e frustrações a muito tempo, e não tenho do que reclamar desde que me foi tirado tais coisas.

Uma brisa fria e forte bate em meu rosto, e me permito aproveitá-la sentindo uma paz enorme tomar conta de mim.

__ Ana, preciso de você!

Abro os olhos assustada e giro meu corpo em direção a voz autoritária.
Relaxo ao ver de quem se trata.

__ Já estou indo.

Atravesso o enorme jardim que existe aqui, e paro ao lado do mestre.

__ O que desejas senhor?

Ele me aponta um grande livro aberto a nossa frente.

__ Te chamei pra conhecer a sua missão!

Me aproximo mais, e visualizo a imagem de toda uma família. Logo ao lado, existe um pequeno texto.

" Acidente trágico, ocasionando na morte dos pais. Filho mais novo em depressão e o mais velho em conflitos internos."

Levo as mãos a boca em total espanto.

__ O que eles fizeram pra merecerem tamanha crueldade? __ Questiono com a voz embargada.

__ Não é crueldade pequena Ana, apenas o destino se cumprindo como deve ser. Você já passou por tais dores, não se lembra?! __ Sua voz é suave, e mantém uma mão em meu ombro.

Baixo o rosto, sentindo que as lágrimas já rolam soltas.

__ Não perdi minha mãe num acidente. __ Consigo dizer entre soluços. __ Ela me deixou sozinha, indefesa, por conta daquele negócio que vivo me esquecendo o nome...

__ Crack. __ Lembra-me ele e faço que sim com a cabeça. __ Você precisou passar por isso e várias outras coisas pra entender o verdadeiro significado da sua missão.

Me desvencilho de seu braço e caminho até o meio do jardim.

O sol já está se pondo, e a brisa da noite esta ficando cada vez mais fria. Com isso, abraço meu corpo.

__ Posso imaginar, mesmo sem conhecê-los, a dor que devem estar sentindo.

Sinto a presença do mestre próximo a mim.

__ Como eu disse meu anjo, tudo tem um propósito.

Giro meu corpo para encará-lo ao meu lado.

__ Quando partirei?

__ Paciência Ana. Logo estará lá! __ Exprime se afastando e me deixando ali, perdida em pensamentos e reflexões.

°°°

Minhas mãos soam frio, e meu corpo todo da leves espasmos.

Nervosismo já me toma por completo. É a primeira vez que irei fazer isso.

__ Já sabe Ana, seja sincera e verdadeira sobre sua história e tudo dará certo.

Alisa meus cabelos longos cor mogno e me fita com os olhos verdes brilhando.

__ Você fala como se já tivesse feito isso Elo. __ Indago a observando plenamente calma em sua cama, com uma das mãos  em minhas madeixas e com a outra lendo algo que pouco me interessa neste momento.

__ Sabe como sou, gosto muito de conversar. Então, por isso, as outras pessoas com mais experiência nessas coisas, relatam que é algo tão natural quanto respirar.

Certo, eu não acho!

Rolo os olhos, e volto a andar em círculos pelo pequeno quarto.

Faltam apenas trinta minutos pra que tudo se cumpra, e eu comece o meu "trabalho"

__ Apenas respire Annie, respire!

Volto a sentar ao seu lado e ela põe as mãos em meus ombros desta vez. Fecho os olhos, e começo a sequência: Inspirar, segurar um pouco e expirar.

Passado algum tempo, ouvimos batidas na porta.

Três toques e um aviso.

Espera-te na sala do final do corredor o mestre.

Uma simples frase basta, pra que tudo dentro de mim volte a se agitar pro completo.

Levanto e a passos lentos vou de encontro a porta.

__ Ate breve! __ Despede-se minha companheira de quarto e grande amiga.

Sem conseguir emitir som algum, apenas aceno e saio rapidamente.

O corredor me parece mais extenso que o habitual e sei que isso se deve a minha tensão.

Paro próximo ao que me separa de minha missão e respiro fundo antes de abri-la.

__ Venha Ana, está quase na hora. __ Avisa o mestre ao me ver parada no vão da porta.

Minhas pernas estão travadas, e se recusam a prosseguir.

Repito o meu mantra de respiração e consigo sair do lugar.

Caminho em direção a grande mesa de madeira recém polida que há ali, e engulo a seco ao ver uma espécie de fundo branco ao fundo da sala, transmitindo o que me parece ser aquele mesmo rapaz de mais cedo - o mais velho dos rapazes - em um tipo de bosque deserto.

__ Será ali, onde tudo irá acontecer. Agora venha!

Faço o que me manda e me aproximo.

Meu vestido azul de repente se transforma em um branco brilhoso.

__ Assim está melhor. __ Comenta com um sorriso tímido no rosto. __ Agora, feche os olhos e lembre-se disso: A males que vem pro bem.

Repito a frase por várias vezes até gravá-la e fechos meus olhos.

Tudo acontece num flash, e quando os abro de volta já estou no tal parque. E lá está, meu protegido sentado de cabeça baixa...

✨✨✨