Chapter Nine
Tia Jenna tinha razão sobre os biscoitos amanteigados com decoração natalina. Ontem Melissa e eu tivemos bons momentos enquanto fazíamos esses deliciosos biscoitos, nós duas precisamos ter mais momentos como esses. Depois de arrumar e organizar toda a bagunça que fizemos, fui para o meu quarto dormir. Melissa apareceu, logo depois, com o seu travesseiro, perguntando se tinha espaço para mais uma. Agora, pela primeira vez desde a morte dos meus pais, abro a porta do cômodo do quarto que era deles. Durante esse período, minha irmã quem limpou e cuidou dos pertences dos dois. Entro devagar observando cada canto do cômodo, fecho a porta atrás de mim e respiro fundo. Hoje eu acordei com o mesmo sentimento de ontem à tarde, quando eu só queria fugir para o colo da minha mãe. Bem, o quarto dela é tudo o que sobrou além das minhas lembranças.
Aproximo devagar da cama e sento logo em seguida, abaixo a cabeça e encaro os meus pés por alguns instantes.
— Se a senhora estivesse aqui, tenho certeza que me daria algum conselho sábio. E, é claro, o papai me ensinaria alguma receita nova. — murmuro para mim mesma.
Eu não vou desistir do concurso, ontem à noite pensei melhor e concluí que, seja como for, eu preciso enfrentar a situação, mas ainda estou constrangida e chateada. Ainda não escolhi a receita, um dos motivos para eu estar aqui, é tentar me inspirar e encontrar o bolo perfeito. Talvez estar aqui faça com que eu acesse as minhas memórias rapidamente. Abro a gaveta da cômoda para procurar o álbum de fotos, minha mãe sempre o guardou aqui. Volto a sentar na cama com o álbum em mãos, com um aperto no coração e com vontade de chorar, observo cada foto devagar. Algumas mais antigas que outras, como uma em que foi tirada quando eu tinha quinze anos. Melissa, meu pai e eu estávamos fazendo o bolo de aniversário dela. Minha mãe não fazia parte desses momentos, ela apenas presenciava e, como neste dia especificamente, tirava fotos. Outras fotos são mais recentes, como algumas que tiramos no ano anterior, na época do Natal. Mamãe estava tão animada naquele dia, eu ainda lembro perfeitamente. Atrás de uma delas, tem um bilhete escrito com uma caligrafia rápida, porém, autêntica e genuína.
Para as minhas filhas Emily e Melissa. Vocês sempre serão os meus tesouros. Com amor, mamãe.
Provavelmente ela queria nos presentear com a foto, infelizmente não deu tempo. Respiro fundo e aplico a técnica que eu desenvolvi para não chorar em lugares públicos, que é pensar em algum momento feliz da minha vida e esquecer por um instante os sentimentos ruins. Devolvo o álbum de fotos para o seu lugar e saio do quarto. Essa experiência me deu uma ótima ideia para a prova criativa, mas reviver esses momentos trouxe ainda mais saudades, porém, sem o peso que eu costumo carregar quando se trata desse assunto, é inexplicavelmente um sentimento quase agradável, por recordar tudo o que passamos juntos.
Encontro com a Melissa no corredor, ela me lança um olhar questionador, porque sabe muito bem que eu não entro nesse quarto, depois avisa que vai preparar o café e eu digo que também vou para à cozinha, analisar o livro de receitas. O velho livro de receitas do papai. Nele contém exatamente o que eu preciso para o concurso. A campainha toca e eu vou em direção à porta. Uma visita da tia Jenna em um sábado de manhã não é inesperado.
— Espero que já tenha feito os biscoitos. Estou aqui para seguirmos para a próxima etapa. — ela diz e fecha a porta ao entrar.
— Não sei se estou pronta, tia. A senhora deveria ter avisado.
— Se eu tivesse avisado, você não iria se arrumar agora mesmo, surpresas podem ser divertidas.
— Mas eu não estou indo me arrumar. — ela olha para as unhas da mão direita como se fosse a coisa mais importante — Tudo bem. Já entendi. Temos tempo para tomar café?
— Sempre há tempo para um bom café.
Seguimos para a cozinha. Tia Jenna conversa com a minha irmã sobre assuntos do dia-a-dia. Esperamos o café ficar pronto enquanto conversamos mais. Após eu beber o primeiro gole da minha bebida favorita do café da manhã, pergunto para a minha tia aonde vamos e o que faremos.
— Compras de Natal, é claro, ainda temos tempo para isso. Mas acho bom vocês começarem a montagem da árvore hoje mesmo, está em cima da hora, por isso não podemos perder um minuto sequer.
— Não acho que a Emy vai querer ir. Ela está cansada e ontem foi um dia difícil. — minha irmã fala.
Mais uma vez, conto sobre o fatídico dia que eu tive ontem. Porém, dessa vez, apresento uma versão resumida dos fatos. Não quero preocupar a minha tia sobre esse assunto.
— Uma garota do concurso não gosta de mim, eu não sei explicar a razão, ela fez algumas acusações falsas, obviamente. — junto toda força que eu tenho para dizer a próxima frase — Não foi nada, tia, já esclarecemos tudo.
Percebo sua desconfiança, com certeza mais tarde ela irá querer conversar melhor sobre o que aconteceu.
— Quem lhe ajudou? Creio que o verbo não está na segunda pessoa do plural em vão.
— O senhor Morgan. Lembra que eu comentei com a senhora há alguns dias que ele faz parte do time de jurados?
— Lembro sim. Se ele realmente ajudou, ganhou alguns pontos comigo.
— Comigo também. Mas quem é que está contando, certo? — deixo a xícara de lado para pegar o livro de receitas — Eu vou ir às compras com a senhora, só preciso resolver uma pendência antes.
Elas me olham com um pouco de receio, mas eu confirmo novamente que vou. Enquanto envio a receita por e-mail para o concurso, embarcamos em uma conversa sobre a confeitaria, a respeito das encomendas, do movimento de fim de ano e, mais uma vez, o feriado se torna o assunto entre nós.
— Já pensou sobre o que vai fazer no almoço ou vai passar o Natal na casa de alguém? — minha tia pergunta.
— Talvez eu vou para a casa da Ashley, mas ainda não está nada confirmado, não sei se a Melissa vai querer ir. Se ela não for, eu também não irei.
— Eu vou sim. Por que não disse antes?
— Se mudarem de ideia, convido vocês duas a irem comigo para a casa do meu irmão.
— Obrigada, tia Jenna. — a campainha toca novamente e eu peço licença para ir atender — Já volto.
Melissa e eu não estamos esperando ninguém. A única pessoa provável de vir sem avisar, além da tia Jenna que já está aqui, é a Lindsay. O que me lembra que eu preciso ligar para saber se sua mãe está melhor.
— Patinhos, senhorita Bennett? — ele diz quando abro a porta.
— Não é legal reclamar do pijama de uma mulher, John. — encosto no batente da porta e sorrio para ele.
— Eu concordo. Aliás, nunca pensei que você poderia ficar tão charmosa com um pijama de patinhos.
— Então me acha charmosa? Entre, não vou deixar você me elogiar do lado de fora, é o mínimo que eu posso fazer.
— Totalmente charmosa. Eu agradeço o convite, passei aqui para perguntar se você gostaria de sair comigo para tomar café. Como você está?
— Sério? Eu realmente não esperava isso de você, muito obrigada. Depois de comer vários e vários biscoitos ontem à noite e dormir como uma pedra, posso dizer que estou melhor.
— Talvez esteja na hora de parar de fazer suposições sobre mim.
— Tem razão. — John me presenteia com mais um de seus típicos sorrisos quando concordo com ele — Sinto muito, não posso aceitar hoje. — seu sorriso se fecha quando dispenso o convite, ele coloca as mãos dentro dos bolsos do casaco — Mas podemos remarcar para outro dia? É que eu me comprometi a fazer compras de Natal com a minha tia. Vai ser como uma terapia, ela está me ajudando a pensar diferente sobre essa época do ano. Tem certeza que não quer entrar? Está frio aí fora.
— Estou bem, obrigado.
— Você pode ir conosco ou podemos nos encontrar mais tarde. O que você prefere?
— Vou ter que negar a primeira opção, perdão. Não vou ser uma boa companhia para fazer compras e também não quero me intrometer na sua terapia. Quanto a nos encontrar mais tarde, eu posso sim.
— Ótimo. Pode me encontrar às dezesseis horas na confeitaria? Eu preciso passar lá para checar algumas coisas.
— Estarei lá, pontualmente. — ele se prepara para voltar ao seu carro, que está estacionado do outro lado da rua — Até mais tarde, Emily Bennett.
— John! — chamo por ele quando ele caminha dois passos para sair do meu quintal. Assim que ele me olha, esperando pelo que eu tenho a dizer, eu digo as palavras que estão no meu coração — Obrigada mais uma vez por se preocupar comigo. É muito atencioso da sua parte.
— Fico feliz que esteja bem, Emy. — ele completa suas poucas palavras com um menear de cabeça.
John vai embora e eu fecho a porta. Melissa e tia Jenna estão na sala me encarando com curiosidade.
— Acho que você não está me contando tudo, Emily. — minha tia diz.
Jenna Williams, minha tia, insistiu para que mais tarde fôssemos à Fulton Street, eu neguei por dois motivos. Eu tenho um compromisso com o senhor Morgan às dezesseis horas e não sei quando vou chegar em casa. O segundo motivo, obviamente, é estar em um evento natalino com várias pessoas. Eu adorava o Natal antes da minha vida mudar, minha família sempre foi fã de bons feriados, principalmente desse. Acontece que eu não vou estar confortável vendo várias pessoas celebrarem a data, porque lembro de tudo o que eu perdi. Eu posso enfrentar isso outro dia, creio que passar a manhã e uma boa parte da tarde fazendo compras já é muito para mim.
Amanhã é dia de música na Jackson Square. Todos os anos, como uma tradição, cantores profissionais e moradores locais se reúnem para cantar canções natalinas. Velas e letras de músicas são distribuídas para o público. Cantamos e iluminamos a praça, a sensação é mágica, com todo o calor humano e a felicidade das pessoas. É um evento contagiante que atrai inúmeros turistas.
Já são quatorze horas e dez minutos. Minha tia, Melissa e eu circulamos por diversas lojas. A animação entre nós três com certeza é a razão por estarmos fazendo esse passeio. Quando estávamos no French Market, eu recordei de como é cansativo andar por aí segurando sacolas e comprando coisas que talvez não sejam necessárias. Como uma segunda estrela para pôr no topo da árvore de Natal. Apesar de tudo estar um verdadeiro caos, eu estou gostando de estar participando disso. Acredito que esse método da minha tia é realmente eficiente, faz com que eu lembre de alguns momentos do meu passado. Então, devo dizer, que é um caos divertido.
Estamos no Walmart, a nossa última parada, Melissa pediu permissão para montar a árvore e eu autorizei. Se eu posso lidar com uma guirlanda na porta da confeitaria e toda a decoração exagerada da cozinha do concurso, talvez eu consiga não me importar tanto com alguns enfeites na sala da minha casa. Por volta dos meus dezesseis anos, aconteceu uma competição entre os moradores da minha rua, para eleger a casa mais decorada. Minha mãe ficou em primeiro lugar e, no ano seguinte quando resolveram refazer a competição, minha mãe ocupou os três lugares do pódio, porque nenhuma casa ficou tão extravagante quanto a minha. Basicamente, todos desistiram quando viram o bom trabalho que Marisa Bennett fez. Tenho certeza que dava para iluminar toda Nova Orleans. Parece que a Melissa decidiu voltar àquele tempo, ela já preencheu metade do carrinho de compras com enfeites.
— Absolutamente não precisamos de uma terceira estrela, Melissa. — digo para ela quando coloca outra no carrinho.
— A menos que você queira ter três árvores, é preciso sim. — tia Jenna replica.
— Não acredito que a senhora está alimentando isso. Vai deixar todo o seu dinheiro aqui.
— É Natal, Emy. Divirta-se. — minha irmã fala — Meu Deus! — Melissa fica admirada ao ver alguns suéteres na arara — Precisamos comprar.
— São adoráveis sim, mas você já tem um. Papai comprou na véspera do Natal anterior.
— Isso não significa que eu não possa ter outro.
— Exatamente. — tia Jenna concorda com ela.
As duas olham as peças de roupas. Aproximo o carrinho de compras das araras e também olho os suéteres. Um deles em especial me chama atenção, parece com um que eu tive na infância. É vermelho com ilustrações de presentes, renas e árvore, porém, também tem luzes em volta dos dizeres "Merry Christmas!". É simplesmente colorido e iluminado, como a decoração que a mamãe fazia em nossa casa.
— Parece que alguém finalmente entrou no espírito natalino. — minha tia fala.
— Bom, não podemos negar que eu fico bem de vermelho. — respondo e ela sorri.
O que será que o John
diria sobre este suéter? Será que eu também fico charmosa com essas luzes e cores vibrantes?
Voltei para a casa com as minhas próprias sacolas. Comprei presentes para as minhas amigas, para a minha família e também para o John. Se eu for para a casa dele, não posso chegar de mãos vazias, principalmente porque é uma época de generosidade. Também comprei coisas pela qual não preciso, como um avental com estampa de renas, bengalas de açúcar e flocos de neve, não pude deixar de comprar para a Lindsay e a Ashley também. Adicionei no carrinho de compras alguns enfeites para a Sweet Dream. Acredito que as garotas vão adorar. Chegamos em casa com várias bugigangas. Melissa se animou para montar a árvore, os enfeites do ano passado estão guardados dentro de caixas na garagem, ela pretende usá-los também. Minha tia ficou na minha casa para ajudar no processo. Eu não pude ficar, pois me atrasaria para encontrar com o John.
Assim que coloquei os pés na confeitaria, um pouco antes do horário marcado, fui imediatamente preparar um bolo simples de laranja. O bolo está no forno e eu estou aproveitando o momento para verificar se tem todos os ingredientes para encomenda da véspera de Natal. Não quero ter nenhuma surpresa desagradável. Eu não vou poder ajudar muito, infelizmente, só estarei aqui no dia da entrega. Lindsay e Ashley precisam dar conta de tudo, eu confio nas duas, sei que vão adiantar o máximo que puderem.
Com o celular em mãos, aviso as garotas que temos tudo o que precisamos, depois entro na caixa de entrada do meu e-mail, ainda não olhei se recebi a confirmação da minha receita.
Parabéns! Você foi classificada para a final do concurso. Desejamos boa sorte. Recebemos a sua receita e vamos providenciar tudo que você precisará. Agradecemos pela sua colaboração.
Nessa última etapa do concurso, você poderá convidar alguém de sua confiança para ajudar na prova criativa. Estamos ansiosos para descobrir quem você irá trazer.
A equipe do concurso agradece.
Ter alguém para me ajudar vai deixar tudo mais fácil. Só não sei se a pessoa que eu tenho em mente vai querer fazer parte disso. Há um outro e-mail do concurso que foi recebido ontem à noite, é uma nota de desculpas pelo o ocorrido de ontem. Deixo o celular em cima do balcão e recolho algumas coisas para levar à dispensa, como algumas embalagens inutilizadas.
O sino acima da porta faz com que a entrada do senhor Morgan seja percebida. Ele fecha a porta ao entrar e caminha até onde estou. Hoje ele está com um de seus casacos cinzas e um cachecol vermelho.
— Pontualmente às dezesseis horas. — digo ao verificar o horário — Espero que não se importe de ficar aqui, John. Eu realmente precisava resolver algumas questões, mas está tudo certo agora. Mas, se você quiser, podemos ir para algum lugar que você prefira.
— Estou satisfeito de ficar aqui com você. Prefiro lugares mais reservados.
— Já que é assim, não vai se incomodar de estarmos aqui sozinhos.
— De forma alguma, mas você pode gritar, se quiser. — com o arquear da sua sobrancelha direita, eu entendo o significado implícito em suas palavras.
Saio de trás do balcão e ele acompanha o meu caminhar com os olhos. Seguro na maçaneta e giro a chave.
— Vou me lembrar disso. — tranco a porta — Pode me acompanhar até a cozinha?
Ele assente e seguimos para o coração da confeitaria. Coloco as embalagens dentro da dispensa. Abro o forno e retiro o bolo, colocando-o em cima da bancada.
— Como foi o passeio com a sua tia?
— Foi divertido. Compramos várias e várias coisas, a sala da minha casa ficou com tantas sacolas, você não faz ideia. — abro os armários e separo alguns utensílios e ingredientes para uma nova receita — Comprei um suéter de Natal, acredita? Provavelmente, quando eu usar, vou ficar parecendo uma decoração natalina ambulante.
— Se vai te fazer se sentir melhor, tenho certeza que você vai estar uma decoração ambulante encantadora.
— Espero que esse tom na sua voz não seja sarcasmo. — sinalizo para ele se acomodar em uma cadeira.
— Não, é o tom que eu uso quando estou sendo gentil. — ele tira as mãos do bolso e puxa uma cadeira para se sentar.
— Obrigada, já estou me sentindo melhor. Dois elogios no mesmo dia, estamos mesmo evoluindo. — coloco o leite e chocolate em pó em uma panela.
— Certamente. Também estou na mesma situação que você, Emily Bennett, Ashley comprou um para mim de presente.
— Eu preciso ver você usando alguma cor que não seja neutra. — ligo o fogo e misturo delicadamente com uma espátula — Vou fazer chocolate quente, você lava a louça.
— Gosto de usar cores neutras para passar despercebido, você sabe que não sou sociável como a minha irmã.
— Impossível você passar despercebido John, ainda mais com a fama que te precede. — adiciono uma colher de amido de milho e continuo mexendo — Você passa uma imagem muito séria, mas agora que estou te conhecendo melhor, sei que tem o seu lado divertido.
— A fama que me precede? Gostaria de saber mais sobre isso.
— Quando eu li no panfleto do concurso que teria um jurado misterioso, imediatamente associei o mistério com alguém crítico. Bem, você não pode negar que eu estava parcialmente certa. Acho que a questão é como você se expressa. Ontem fiquei realizada de saber que você colocaria o meu naked cake em sua confeitaria, se você tivesse uma, é claro. John, geralmente você não fala muito e isso deixa as pessoas apreensivas, incluindo eu.
— Eu não sabia, de fato, que eu causava essa reação nas pessoas. — ele levanta da cadeira, pega uma colher e experimenta o quase chocolate quente, depois adiciona mais chocolate em pó — Talvez seja positivo para a minha reputação. É bom manter uma imagem séria, como a senhorita disse, principalmente por causa da minha posição como jurado.
— Como quiser, senhor sabe tudo, — ele abre mais um de seus sorrisos contidos ao ouvir o seu pronome de tratamento especial — mas não é somente apreensão que você causa nas pessoas.
— O que mais eu causo nas pessoas, senhorita Bennett? — ele aproxima um pouco mais e desliga o fogo.
— Ontem à noite era Emy. — respondo sem pensar — O que mudou, John?
— Você não respondeu a minha pergunta, Emy. — agora sim é um tom sarcástico ao dizer o meu apelido.
— Outro dia no banheiro eu ouvi uma garota da produção do concurso falar algumas coisas quentes sobre você com uma outra garota. — começo a cortar a barra de chocolate em quadrados menores, John pega outra faca e colabora com a tarefa.
Ele solta uma risada rouca por uns instantes, infelizmente por pouco tempo, deixo o que estou fazendo de lado para observar o seu rosto. Estando tão perto agora de mim, talvez faça com que eu concorde com o que a garota do banheiro disse.
— Bom, não posso dizer que não faz bem para o ego de um homem, mas isso não é nada para mim.
Despejo o chocolate na panela e mexo mais um pouco para derreter. Em seguida, transfiro o chocolate quente para duas xícaras.
— Então, espero que lavar a louça não seja ruim para o seu ego. É toda sua!
Levo o bolo para a mesa e corto algumas fatias. Também coloco dois pratos para sobremesa acompanhados com garfos e colheres, garfo para o bolo e colher para o chocolate quente. Embaixo das xícaras, coloco porta-copos. Fico sentada enquanto observo ele lavar a louça. Definitivamente, não é uma cena que eu esperava que acontecesse na minha cozinha. Depois que ele termina, senta de frente para mim, provo do bolo de laranja e ele repete o meu gesto.
John estava certo ao dizer para eu parar de fazer suposições sobre ele. Há alguns dias, quando o vi pela primeira vez, eu tinha uma opinião forte em relação a sua personalidade. Hoje eu penso de forma diferente, ele me surpreende muito ultimamente e, com certeza, foram descobertas boas. As pessoas são mais do que aparentam ser. O interior pode ser muito mais interessante e intenso que o exterior.
— Gostou? — pergunto quando ele termina de comer.
— Sim, mas ainda prefiro o seu bolo de ontem.
— Eu também prefiro. John, — desperto a sua atenção novamente para mim — eu quero te conhecer mais, não quero ficar limitada às minhas suposições. Eu sei que você é muito mais que isso. Então, sugiro um jogo, você também pode saber algumas coisas sobre mim. Vai ser divertido!
— Tudo bem. Como funciona esse jogo?
— Muito simples, na verdade. Vou fazer algumas perguntas, se você não quiser respondê-las basta tomar um gole do chocolate. E, se eu não quiser responder, faço o mesmo. Posso começar?
— Vá em frente. Estou curioso.
— Está bem. Qual a sua lembrança mais constrangedora da infância?
— Aos meus dez anos me declarei para a Alissa, estudávamos na mesma classe, e ela respondeu com um sonoro e doloroso não. Foi constrangedor porque todos os alunos da sala ouviram.
— Eu realmente não esperava por isso. É uma pena ela não ter aceitado você. Talvez seja por isso que você é mais reservado. — como um pouco mais do bolo.
— E a sua lembrança constrangedora da infância?
— Uma vez eu estava com as mãos nos bolsos e caí, isso aconteceu na escola também. Acho que a escola é um ambiente propício para sofrer constrangimentos. Isso nunca ocorreu com você? Você está a maior parte do tempo com as mãos nos bolsos. John, você tem vergonha das suas mãos? — provoco.
Ele engasgou com o bolo ao ouvir a minha pergunta. Tento ajudá-lo, mas ele consegue se recuperar sozinho.
— Eu não sou fã de luvas, por isso prefiro os bolsos. Até porque, como a senhorita já pode ter percebido, não tenho nada em minhas mãos para ter vergonha.
— Isso é ótimo. Agora é a sua vez de fazer perguntas.
— Com quem foi o seu primeiro beijo?
— Isso também foi inesperado. — bebo um longo gole do chocolate quente.
— Foi tão ruim assim? — percebo uma sutil expressão de divertimento em seu rosto.
— Foi péssimo, mas vou responder, eu só queria saborear o chocolate mesmo. O meu primeiro beijo aconteceu com o Brian Collins. Foi tão estranho. Espero que ele não se lembre desse dia, tem muito tempo que não o vejo, provavelmente irei vê-lo em janeiro, no casamento de sua irmã mais velha, Summer. Você me deu uma ótima ideia para perguntas. Aproveitando que estamos nesse assunto, você já se apaixonou alguma vez ou está apaixonado?
Ele fica um pouco tenso e incomodado com a minha pergunta. Ele bebe seu chocolate e responde com quatro palavras.
— Eu receio que sim.
Ele bebe mais um pouco e eu faço o mesmo.
— É tão ruim que você não quer falar? — faço uma pergunta parecida, com o mesmo tom divertido que ele usou comigo.
— Ela é extraordinária. — ele sorri atrás da xícara, perdido em seus pensamentos.
Não conversamos mais, colocando um fim no jogo. Quando termino de comer o bolo, ele ainda continua em silêncio. Curiosa como sou, não consigo deixar de saber mais.
— Uma moeda pelos seus pensamentos.
— Quer mesmo saber? — respondo que sim e ele foca sua atenção em mim, me observando mais uma vez — Sua boca é delicada com os lábios rosados.
Outra coisa inesperada. Levanto da cadeira, um pouco constrangida, e coloco a minha xícara com o prato na pia.
— Acho que você consumiu chocolate demais por hoje.
Encosto na pia com os braços cruzados. Sustento o seu olhar lançado para mim. John levanta da sua cadeira e faz o mesmo que eu, colocando sua xícara na pia, depois aproxima um pouco mais e toca a minha bochecha, quase tocando os meus lábios também.
— Sabe, Emily, o chocolate não influenciou em nada. Sei o que estou falando.
— O que você está fazendo? — consigo perguntar.
— Guardando você na minha memória.
Sorrio para ele. John retira a sua mão do meu rosto e uma sensação de vazio surge. Respiro fundo e digo para ele o que eu percebi desde o primeiro momento.
— E eu acho os seus olhos inexpressivos. Raramente, como agora, você deixa transparecer algum sentimento. Fico contente que você compartilha esses poucos momentos comigo.
Ele sorriu. Um sorriso nada contido. Pela primeira vez, vejo John Morgan sorrir abertamente, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e olhos brilhantes.
E, Santo Deus, deveria ser proibido alguém sorrir como ele.
❣
Eu amo esse capítulo. Amo o fato de a Emily estar se permitindo mais, apesar da dor que ela ainda sente, e amo o encontro que ela tem com o John. Eu sou suspeita para falar, mas o John é maravilhoso.
E, com toda certeza, amo esse final. No próximo capítulo temos o último dia do concurso. Estão preparados? Quem será que vai ganhar? E com o fim do concurso, chega também o fim do livro. Estamos mesmo na reta final.
Não deixem de votar e comentar, é muito importante para o crescimento do livro, ajuda a chegar em outras pessoas. Agradeço a todos que estão fielmente acompanhando, votando e comentando. Muito obrigada mesmo. Vocês são incríveis!
Faltam sete dias para o Natal!
Beijos e bengalas de açúcar!
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