7: Dores & Lembranças
Abro os meus olhos com dificuldade, minha cabeça está doendo e cada músculo meu parece estar definhar. Ergo o meu corpo e observo o ambiente onde estou, pela grande janela percebo que o crepúsculo cobre a cidade.
- Olha quem acordou - Lucas aparece no meu campo de visão - Como está se sentindo, maçãzinha?
- Com muita dor - olhei para o meu corpo, vendo que estou com uma blusa masculina - O que aconteceu?
- Você desmaiou no meio do lago e eu trouxe você para o hotel - Lucas se sentou ao meu lado - Beba o remédio em cima da mesa de cabeceira, que vou para meu quarto. Teremos um dia longo amanhã.
- Eu não sei se consigo - a dor no meu peito começou a me sufocar - Eu preciso descansar.
- Você está mais pálida. O que está acontecendo?
- Só preciso ficar sozinha - lágrimas começam a descer pela minha bochecha.
- Não vou te deixar sozinha.
Ele se deitou ao meu lado e me puxou para perto do seu corpo quente. Tento convencer a mim mesma que Lucas não era Michael e nem nenhum dos seus amigos.
- Beba isso, vai te ajudar com a dor.
Coloquei o remédio na boca e engoli. Lucas me prendeu em seus braços, acomodei a minha cabeça em seu peito.
- Vamos fazer uma brincadeira? - meu olhar encontrou o seu - Você pergunta algo sobre mim e eu pergunto algo sobre você.
Essa brincadeira poderia me ajudar a descobrir algo sobre ele, mas, ao mesmo tempo, Lucas poderia perguntar algo sobre os meus exs, já basta o meu subconsciente querer me ferrar.
- Você quer começar? - ele arqueou uma sobrancelha.
- Sim - ele me afastando um pouco - Que acidente aconteceu na sua família.
- Ok - Ele soltou um suspiro pesado.
- Vou escolher outra coisa.
- Não precisa - ele limpou a garganta - Quando eu tinha quatorze, minha mãe e a tia Aline foram fazer uma viagem para comprar os enfeites da festa de quinze anos da Yasmin. Mas uma falha técnica do carro - seus olhos ficaram marejados - levou às cair em um precipício, tirando a vida das duas. Quando as encontram seus corpos estavam em decomposição - ele limpou as lágrimas que escorriam nos seus olhos.
- Sinto muito por fazer você relembrar desse momento ruim.
- Agora é minha vez - engoli em seco - O que levou a fazer os cinco cortes na sua coxa?
- Como você sabe?
- Quando troquei a sua roupa, as vi - ele desviou o olhar.
- Você quer saber da primeira, segunda, terceira, quarta ou quinta vez? - tento esconder o meu rosto, mas ele segura o meu queixo, me fazendo olhar para os seus lindos olhos.
- A mais profunda e mais dolorida.
- Foi quando os meus pais se divorciaram e o meu pai me disse que iríamos mudar para o Brasil, mas que o meu irmão não iria conosco - engoli em seco - Minhas crises de ansiedade vieram mais forte e eu entrei em uma depressão profunda.
- Não precisa continuar - ele me puxou para perto do seu peitoral - Durma, amanhã é um novo dia.
Me olho no espelho, meu reflexo é deplorável. A única coisa que eu queria saber era o que ela tem que eu não tenho, o porque dele está me traindo com outra garota quando tudo que faço é por ele.
Abro a gaveta da minha escrivaninha retirando uma tesoura de tecido, separo o meu cabelo em dois e começo a cortar. Lágrimas escorrem pelo meu rosto é um nó se formou na minha garganta sufocando cada grito que eu queria dar de raiva, minhas mãos tremem e as minhas juntas estão esbranquiçadas de tanta força que aperto da tesoura.
- Filha, posso entrar? - a voz do meu pai e calma atrás da porta.
- Por favor me deixe sozinha - acabo de cortar o meu cabelo e coloco às duas mechas em cima da estante.
- Filha, conversa comigo. Sei que você me culpa por ter te tirado do seu irmão, mas eu ainda sou o seu pai e me preocupo com o seu bem-estar.
- Eu já disse que estou bem.
A porta se abriu e meu pai encarou, seu semblante está neutro, não demonstrando nenhuma reação ao meu cabelo cortado. Ele se aproxima de mim com os braços abertos, hesitei por um instante, mas eu precisava que alguém é o meu pai que está aqui por mim. Aconcheguei-me em seu peito, o abraçando com força e ele fez a mesma coisa, me transmitindo a sua segurança paterna. Minhas lágrimas começam a escorrer e soluços involuntários saiam da minha garganta.
- Essa dor vai passar, minha linda.
- Mas doei tanto e me sufoca de uma maneira que tudo parece desabar.
- Eu sei, eu sei - ele me deu um beijo no topo da minha cabeça - Nessa vida nosso sofremos, mas nada melhor do que uma pessoa que realmente te ama para te ajudar a curar esses ferimentos
- Porque as coisas ruins sempre acontecem comigo? Não aguento mais essa vida.
- Não seja tola - sua voz é firme - A morte não vai te dar a paz que você procura, minha bonequinha.
- Então o que vai me dar? Sou a garota esquisita dos pais divorciados e que o namorado trai com uma puta qualquer.
- Não fale assim de uma mulher, se tem alguém que está errado nessa história é o Mike - Meu pai tragou o ar com força - Meu bem, em relação a mim e a sua mãe, as coisas não iam bem. Tentando de várias formas resolver nossas diferenças, mas não estava fazendo bem nem para nós e também não estava fazendo bem para David. Ele já era mais velho e sabia que as coisas estavam estranhas, então pelo bem de todos nós, preferimos nos divorciar de forma amigável.
- Isso não existe, ninguém se divorcia de forma amigável.
- É claro que sim, meu amor. Às vezes o casal não está mais se dando bem, mas o afeto de um pelo outro ainda continua. Você mesma percebeu que nunca me importei de ter a sua mãe dentro da nossa casa, como ela nunca se importou de eu entrar na casa dela. Mas temos os nossos limites para que a situação não fique tão desagradável para o outro, por isso que a Liz não conhece a sua mãe e eu não conheço o namorado dela. São os limites, tudo que você for decidir na sua vida, limites tem que ser colocados.
- E quando ultrapassam esses limites? - meu pai engoliu em seco e fez uma prece silenciosa.
- Se alguém ultrapassa os seus limites, significa que essa pessoa não está preocupada com você e sim com ele mesmo - ele me afastou e me encarou bem no fundo dos meus olhos - Agora você merece um belo descanso, para que a minha bella dama esteja linda amanhã.
- Você pode deitar comigo, só pelo mesmo até eu pegar no sono?
- Claro que posso fazer isso por você boneca.
Soltei-me do seu abraço e deitei na minha cama, meu pai se deitou ao meu lado e eu me aconcheguei no seu peito. Ele alisa o meu cabelo com os dedos, enquanto cantarolava All I Want, deixo-me levar pelas vibrações da sua voz e me entrego por completo ao sono.
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