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"A minha vida inteira eu estava esperando por alguém como você"
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🅥🅞🅒🅔 🅜🅔 🅒🅞🅜🅟🅛🅔🅣🅐
𝓛ogo após saírem do mar, notaram o sol se pondo e algumas pessoas indo embora. Passaram tanto tempo aos beijos na água, que seus dedos pareciam uvas passas. Em outras circunstâncias Jasmim reclamaria disso, mas não poderia sonhar em fazê-lo quando olhava para o rapaz sorridente à sua frente.
Ao entregar o pagamento para o homem da barraquinha, ele avisou que precisavam retirar os guarda-sóis da praia, porque já havia dado a hora. Sem argumentar, Otávio apenas deu de ombros, já que não estava em seus planos ir embora tão cedo, não quando isso significava nunca mais conversar desta forma com Jasmim, ou tocá-la.
O jovem tinha plena ciência de que, caso quisessem prosseguir com a relação, os pais da garota jamais o aprovariam, mesmo com todo o seu dinheiro, e reputação do pai. Nem imaginava como os mais velhos estariam àquela altura.
Recolhendo os poucos pertences, Jasmim preferiu continuar com o biquíni, mesmo que uma brisa gélida a cercasse. Ela gostava de ver como seu corpo estremecia ao sentir o vento bater contra ele, era a única prova de que aquilo não era um sonho.
Otávio estendeu a manta na areia outra vez, com a ajuda da companheira de aventura, que não tirava o sorriso do rosto, despertando o desejo de beijá-la outra vez. Seus lábios eram tão macios, e mesmo inexperiente, fez um trabalho incrível.
Era assustador ver como ela mexeu com ele em tão pouco tempo. Nunca se apaixonara antes, mesmo já tendo saído com muitas garotas, e a sensação de estar nas nuvens despertava um certo desespero pela possibilidade de cair. Ele sabia que uma hora ou outra cairia e que não seria indolor quando acontecesse.
Observando a garota, que estava se sentando sobre a manta e enterrando os pés molhados na areia com a expressão relaxada, ele teve certeza de que ela o completava.
A essa altura, estava se xingando mentalmente pela sugestão que lhe deu mais cedo, de tudo voltar a ser como antes. Fora irracional, porque não imaginava que tudo tomaria tamanha proporção.
Se soubessem da situação, seus amigos o chamariam de emocionado, enfatizando que parecia um "virjão", que nunca vira uma mulher bonita antes. E ele com certeza não se importava com isso, mesmo sabendo que poderia ser verdade.
— Por que está me olhando assim de novo? Bah.
— Quer mesmo que eu responda, vey?
Sorrindo, Jasmim negou com a cabeça, desviando os olhos dos dele, avaliando o mar em seguida.
A parte da praia onde estavam ficara um pouco mais vazia, conforme a hora. Já passava das 18h e o céu começara a escurecer, sumindo com o sol extremamente quente, substituindo-o pela lua redonda e brilhante, que refletia levemente na água escura, como o céu.
Algumas estrelas também já pintavam a escuridão, o que deixava tudo ainda mais bonito. Otávio analisava a paisagem à sua frente com extrema devoção, pois sempre fora apaixonado por astronomia.
Jasmim notou que seus olhos brilhavam tanto quanto as poucas estrelas, sorrindo ao notar a admiração do garoto.
— Tchê! Você gosta de observar o céu?
— Sempre fui apaixonado, desde que era menino. Procurava vídeos na internet sobre o assunto. Meu sonho era trabalhar com isso, quem sabe até ir pro espaço.
Jasmim o fitou, intrigada. O garoto pareceu tão leve, descontraído e bonito ao lhe contar isto, que precisou se segurar para não beijá-lo outra vez.
— Bah! E por que não seguiu seu sonho?
— Não sei, vey. Como fui crescendo, tudo me pareceu mais um sonho de criança, do que algo perto da realidade. Tu entendes?
Ela assentiu com a cabeça, mordendo o lábio inferior e voltando a encarar as ondas, que estavam tranquilas.
A garota entendia bem a dor de Otávio, pois passava pela mesma coisa com sua arte. O Brasil com certeza não era o melhor país para realizar seus sonhos, a não ser que você quisesse se tornar um médico renomado.
— Entendo. Sou pintora, sabe? Minha paixão e sonho sempre foram a arte, desenhos, explorar todos os tons de cores existentes.
— E tu quer seguir isso?
— Era tudo o que eu mais queria — ela respondeu, com um olhar distante. — Bah! Você sabe que artistas não têm boas oportunidades no Brasil, não é?
— Verdade, mas se é o que tu quer, tem que ir atrás, Jas. Quem sabe tu não se destaque?
— Você tem razão. Acho que devemos ir atrás dos nossos sonhos, até porque não dá pra viver o dos outros, não é?
Ela soltou uma risada fraca e Otávio concordou, aproximando-se dela lentamente, deixando-a ofegante e fazendo o clima triste evaporar em direção a água salgada.
— Concordo completamente, assim como acho que tu é muito arretada.
Jas sorriu, com a boca próxima à sua, sem fazer ideia do que a última palavra significasse. Tão leve que mal deu para sentir, ela encostou seus lábios no dele, fazendo-o arfar.
— Não sei o que é, mas espero que "arretada" seja um elogio.
Otávio sorriu, sentindo ela estremecer.
— Depende do contexto, morena.
E então ele a beijou de novo, segurando seu rosto entre as mãos.
Os beijos dele sempre começavam pacificamente, com cautela, e uma lentidão impressionante, para depois se transformar em algo urgente, quente e sedutor. Jasmim amava isso.
O rapaz a deitou na areia, ficando em cima de seu corpo e distribuindo beijos pelo seu pescoço, arrepiando-a. Ela não queria o interromper, mas sabia que precisava, mesmo que o lema do dia fosse "só se vive uma vez".
— Otávio — ela sussurrou, incerta.
— Hm?
— Não quero passar do limite. Não me sinto pronta.
Encarando seus olhos escuros, ela viu compreensão neles, sentindo-se incrivelmente aliviada.
— O código azul — ele relembrou.
Ela confirmou com a cabeça, acariciando sua face, que brilhava à luz da lua, iluminado como o céu. Sua pele era incrivelmente linda e macia, sem nenhuma única elevação.
Imaginava como ele ficaria ao chegar à idade avançada e, com certeza, mais inteiro do que ela.
— Obrigada.
Otávio achou melhor não prolongar o assunto, para que o clima não ficasse estranho, então apenas deu um aceno de cabeça e se deitou de barriga para cima ao lado dela na manta.
Os coqueiros balançavam em um ritmo suave, o zumbido dos carros era um pouco distante e o céu atingia cada vez mais uma coloração de preto surpreendente — e assustadora — para a garota, que curtia o clima.
Jasmim entrelaçou seus próprios dedos e os colou em cima de sua barriga, pensativa. Incerta, deitou a cabeça no peito do garoto, que começou uma carícia gostosa em sua cabeça. Não queria que aquele dia incrível chegasse ao fim, também não queria enfrentar a fúria dos pais, nem precisar se explicar para eles ou lidar com o castigo perpétuo que receberia.
Um ronco alto os assustou, até perceberem que foi a barriga do rapaz e desataram a rir, ficando sem ar. Era incrível como a coisa mais boba se tornava algo engraçado ou divertido para o casal.
— Aqui perto tem um habib 's, quer comprar algumas esfirras e depois voltar?
Jasmim concordou, com um sorriso de canto a canto, arrumando seus pertences, até se dar conta do que ele mencionou. Parando o que estava fazendo, fitou o garoto, surpresa.
— Tchê! Aqui tem habib 's?
Otávio riu de sua pergunta. Não era segredo para ninguém que em Alagoas só havia um único habib 's, o que era lamentável para quem residia no estado, especialmente quem morava em cidades de interior, que só tinham acesso ao estabelecimento quando iam para a praia da Jatiúca.
— Tu não sabia?
— Não! Nunca ouvi falar, então pensei que não tinha. Tchê.
— Apois agora tu sabes que tem.
A garota concordou com a cabeça, rindo e ajudando o garoto terminar de recolher seus pertences.
Ela vestiu a peça azul esvoaçante, torcendo os cabelos molhados e cheios dos finos grãos dourados. Sua pele estava grudenta graças ao protetor solar, mas não se incomodava. O garoto vestiu a camiseta, sorrindo para ela e colocando a mochila nas costas.
Juntos, saíram da areia, caminhando até o calçadão e seguindo em frente. A orla estava cheia e as pessoas estavam com roupas apresentáveis, com os mais variados sotaques, deixando claro que eram turistas.
Os coqueiros balançavam fortemente, levando uma ventania agressiva, mas gostosa, para quem estava passando. Na ciclovia, algumas bicicletas e patins eram usados e o aroma das mais variadas comidas se misturavam ao da maresia, vindo das diversas barraquinhas montadas nas areias, perto do calçadão.
Os adolescentes continuaram caminhando e admirando os mínimos detalhes, como se fosse a primeira vez. Mesmo que tivessem ido inúmeras vezes para a praia, nunca pararam para analisar cada minúsculo detalhe.
Os dois pararam em frente a uma faixa de pedestre, esperando o semáforo ficar vermelho, liberando sua passagem para o outro lado. Quando finalmente chegou a vez dos pedestres atravessarem, Otávio segurou a mão de Jasmim, inconscientemente, fazendo ambas as peles arderem.
Quando chegaram ao outro lado, a garota começou a rir, parando de andar.
— Tá rindo por quê? — Ele perguntou, rindo com ela.
— Você segurou a minha mão como se eu fosse uma criança, piá.
— Ah! É?
— Sim. Foi bem constrangedor, tchê.
Ele colocou as mãos na cintura, com um sorriso no rosto e os olhos brilhantes.
— Tu tá mangando de mim?
— Bah! Não sei o que é, mas acho que sim.
Rindo ainda mais, ela encostou em uma parede de um estabelecimento local e o garoto a seguiu.
— Rindo de mim, Jasmim. Caramba! Rimou — ele riu.
Os dois continuaram rindo, atraindo alguns olhares confusos e julgadores, não se importando nem um pouco.
— Todos sempre fazem essas brincadeiras com o meu nome e o "mim", acredita? Bah!
Ela revirou os olhos, cruzando os braços acima do peito e sorriu.
— Acredito. Inclusive vou fazer sempre, morena.
— Sempre seria uma trova, guri.
— Trova?
— Mentira.
— Vey, que nomes estranhos,
— Vocês dizem migué. Isso é estranho.
Ela riu outra vez e o garoto a cercou com seus braços, puxando seu corpo para o dele e lhe dando um selinho.
— Sabe, se virássemos amigos ou ficantes depois de hoje, eu precisaria de dicionário pra entender tu — ele debocha.
— Então que bom pra ti que não vai precisar deste dicionário, não é?
As palavras dela o atingiram em cheio, fazendo-o lembrar que a vida não seria assim diariamente e que quando ela fosse para casa, não teriam mais contato. Ao contrário do que pensava, o que Jasmim disse não afetou apenas a ele, mas a ela também.
Os dois odiavam a ideia de não conversarem ou ficarem juntos mais. Chegava a ser doloroso.
— É. Que bom — ele concordou, roboticamente.
Jasmim saiu de seus braços e os dois continuaram caminhando até chegarem ao estabelecimento, onde fariam seus pedidos. Com um sorriso no rosto, prometendo a si mesma que não deixaria seus sentimentos ridículos estragarem o fim do dia, os jovens entraram no lugar.
Otávio perguntou para ela quais sabores ela gostava e a garota disse que sua preferência era doce, especificamente chocolate. Jasmim amava doce, até mais do que salgados, com certeza.
Deixando o rapaz fazendo os pedidos, a jovem esperou do lado de fora, sentindo a brisa a cercar. Ela se sentou em uma cadeira preta disponível perto da porta e fechou os olhos, respirando fundo.
Tinha conhecimento de que se não voltasse para casa naquele dia, seus pais chamariam a polícia, o que viraria uma bola de neve. Como eram 20h da noite, estabeleceu o limite até 00h. Antes de 00h iria embora, ouvir a bronca e desespero de seus pais.
Interrompendo seus planos, Otávio a chamou, mostrando a caixa enorme com a logo do habib's. Ela sorriu, levantando-se e caminhando ao lado dele.
Os dois atravessaram a rua outra vez, caminhando em direção a praia escura, iluminada apenas pelos postes e lua.
Os dois tiraram as havaianas, e o rapaz tentou colocar a manta sem a ajuda da garota, que segurava a caixa, tentando olhar quais ele havia pedido.
— Pare de ser curiosa e venha me ajudar aqui, Jas.
Rindo e percebendo que ele não conseguiria sozinho, graças ao vento que ficou ainda mais forte, ela tentou o ajudar. Quando finalmente venceram a luta com a manta, sentaram-se no tecido, respirando aliviados.
Jasmim notou os copos descartáveis e a coca-cola de 1 litro debaixo do braço do garoto, sorrindo ao ver que ele pensou em tudo. Pegando um enquanto ele os enchia.
Ao abrir a caixa de esfirra, ela viu a enorme quantidade, arregalando os olhos. Tinha certeza de que ele pegou uma de cada e que gastou uma fortuna, porque os preços estavam um absurdo.
— Bah! Você gastou quanto?
— Juro que foi insignificante pro meu velho o que eu gastei.
— Seu pai é um médico ou algo assim?
— Não, vey. Melhor ainda, ele é um deputado. Roberto Días. Roubar o povo é sua especialidade — ele brincou.
— Tchê! Agora está explicado.
Ela riu e ele a acompanhou, mordendo uma esfirra de brócolis, fazendo a garota franzir o nariz.
— Você é estranho, guri. Quem gosta de brócolis?
— Tu não gostas?
Ela negou com a cabeça, torcendo o nariz outra vez.
— E eu que sou o estranho? — Ele riu. — Tu não sabe o que é bom.
— Tem certeza?
Sorrindo e entendendo o que a garota quis dizer, ele não se aguentou e riu, unindo seus lábios em um beijo lento. Ao sentir o gosto de brócolis, a garota se afastou rapidamente, furiosa ao perceber que ele fez aquilo de propósito.
— Tu é um idiota! Que ódio.
Otávio soltou uma gargalhada alta e estridente, adorando seu mau-humor, comendo mais uma esfirra e encarando o mar.
— Um idiota que tu gosta.
— Irritante, arreganhado e idiota.
O rapaz gargalhou alto outra vez, encarando-a outra vez, que se lambuzava com sua esfirra de chocolate e m&m coloridos. Parecia uma criança comendo doce pela primeira vez.
— Arreganhado?
— É, exibido.
— Não, Jas. De todos os nomes que tu já falou, esse foi o pior.
Ele riu mais um pouco e ela o acompanhou, terminando de comer a esfirra e pegando outra doce.
— Vocês falam "amostrado", quer comparar? — Ela perguntou, erguendo uma sobrancelha e o encarando.
— Quero. Vey, tu me chamou de arreganhado.
— Sim, porque você é.
— Não, vey.
Ainda rindo, Otávio abriu as pernas e a garota balançou a cabeça negativamente, bebendo um pouco da coca e rindo.
— Agora eu estou arreganhado.
— Você é muito engraçadinho.
— Eu sei, assim como sei que tu gosta.
— Agora você está se precipitando, piá.
Sorrindo, a garota pegou outra esfirra. Otávio tinha razão, ela era um dragãozinho quando dizia respeito a comidas, especialmente doces.
— Você vai querer alguma doce?
— Não, pode comer. Odeio esfirras, pizzas, e qualquer coisa que misture doce com salgado.
Jasmim arregalou os olhos, desacreditada.
— Você não está falando sério, está?
Ele franziu a testa, encarando a garota e afirmando com a cabeça.
— Bah! Agora tive a certeza de que você é maluco.
Os dois sorriram e continuaram comendo, degustando do barulho das ondas, da ventania gélida que batia contra seus corpos e das saborosas esfirras.
Quando terminaram, Otávio levou a caixa e a garrafa para o lixo mais próximo, voltando para o lado da garota, que o esperava pensativa na areia.
Ele notou que havia algo errado com ela, então passou os braços ao redor de sua cintura, acariciando-a de leve e levando ondas de choque por todo o seu corpo. Jasmim aninhou a cabeça no peito do rapaz, encarando o mar escuro e alguns barcos distantes.
— Não gosto de ver você assim. Tu não queria um dia inesquecível?
— E foi. Só tô pensando no que eu vou encontrar quando chegar em casa.
— Pais peidados, com certeza, mas os meus também vão estar, se te servir de consolo.
— Peidados? O que isso tem a ver com a minha "fuga"?
— Peidado é a mesma coisa que indignados, bravos.
Ela riu, fazendo o corpo do garoto chacoalhar junto com o seu.
— Bah! E você rindo de arreganhado.
— Arreganhado foi demais, Jas.
— O pior é peidado, parece que eles se cagaram, sabe?
Ele riu, concordando e percebendo que ela estava certa.
— Que horas tu vai voltar?
— Meia noite.
Algo dentro do estômago do rapaz se contorceu com o anúncio e ele fez o que sempre fazia quando queria fugir de algo que não gostava: transformar em risadas.
— Ui! Pique Cinderela.
A garota riu, suspirando. Estar em seus braços era tão bom. Não queria voltar para casa, porque já estava em casa.
— Já está quase na hora, né?
Olhando o relógio ele concordou com a cabeça, vendo que já passavam das 22h. As horas estavam voando e eles não estavam contentes com isso.
— E no fim nem foram vinte e quatro horas de verdade — ela lamentou.
— É. Poderia ser, se tu quisesses. Eu poderia alugar um quarto de hotel e amanhã te levava pra sua casa.
— Bah! Querer eu quero, mas se não voltar hoje, amanhã minha cara vai estar estampada nos jornais e se te viram comigo podem até pensar em sequestro.
Com o coração apertado ele concordou, lamentando.
— Então vamos aproveitar nossas duas horas que restam, vey.
Concordando, a garota avançou nos lábios do rapaz, em um beijo urgente e desesperado. Queria guardar cada detalhe dele em sua memória, de seu gosto, seu toque, corpo. Absolutamente tudo. Aprovando a ação da garota, ele a puxou para seu colo, apertando sua cintura e a fazendo grunhir.
Sentindo-se estranhamente pronta e segura do queria, Jasmim deixou que Otávio a tomasse por completo naquela noite. Notando que ele a completava de uma forma extraordinária, sabendo que os próximos dias seriam difíceis por estar longe dele.
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