𝘐𝘐
"E eu sei que nós acabamos de nos conhecer, mas você poderia me levar a todos os lugares que já foi?"
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🅕🅞🅡🅜🅘🅓🅐🅥🅔🅛
𝓞távio foi o primeiro a descer, ajudando a garota em seguida. Era absurdamente estranho existir alguém que nunca andou de ônibus, e o pior, esse alguém não morar em uma mansão com vinte quartos. Chegava a soar engraçado e trágico na cabeça do rapaz.
A vista que se erguia diante de seus olhos era de tirar o fôlego. O sol ainda não estava em seu limite máximo, por serem 09h da manhã, mas já brilhava com toda a sua potência, obrigando as mais diversas pessoas a se abanarem.
O céu estava com uma coloração de azul deslumbrante, o que refletia nas águas, que geralmente não eram tão cristalinas como estavam.
Graças ao clima litorâneo, já podiam sentir as peles mais pegajosas e os cabelos mais pesados. Aquele, sem dúvidas, era o lugar favorito dos dois jovens. Algo que tinham em comum, mas ainda não discerniam.
A garota fechou os olhos, sentindo a rajada de vento arrepiar os pelos de seu corpo, atraindo a atenção do rapaz.
Jasmim era dona de uma beleza extraordinária e disso ninguém poderia discordar, mas agora, na visão de Otávio, ela estava formidável. Os fios curtos e cacheados balançavam graças ao vento, a peça simples e azul que ela vestia voava ao seu redor e os lábios estavam entreabertos.
Sem nem raciocinar, o rapaz tirou o celular da mochila, fotografando-a. Como estava ocupada demais saboreando o clima, Jas nem notou.
— Nunca me canso deste lugar — ele irrompeu o silêncio.
Jasmim abriu os olhos, encarando o rapaz à sua frente, com os olhos mais claros do que antes, desconcertando-o. As íris cor de mel da jovem brilharam e ela abriu um sorriso, que despertou a vontade do garoto de beijá-la.
Tinha conhecimento que deveria se controlar, pois, estava sendo "emocionado", mas com ela, não havia controle, não naquele dia.
— Eu também não. Tchê! Meu sonho era vir aqui sozinha.
— Nossa, Jasmim. Magoou.
Para um efeito dramático, o jovem levou a mão ao peito, arrancando uma gargalhada curta da morena.
— Quis dizer sem algum guarda-costas junto, guri. Minha família sempre foi muito super protetora e eu só podia sair com eles.
Ela fez uma careta e a compreensão inundou os olhos do jovem, que entendeu o porquê de uma garota que não sabia usar o transporte público decidiu sair sozinha.
— Sua companhia é até agradável.
— Até agradável, morena? Já me disseram coisas melhores, suba seu nível, visse — ele brincou e ela negou com a cabeça, rindo.
— Ok! Por que me perguntou sobre o famoso que eu seria?
Os jovens começaram a andar pelo calçadão, que não estava lotado naquela manhã, por ser uma segunda-feira, e o último dia de janeiro. O barulho das ondas soava como música em seus ouvidos, tornando o clima leve e descontraído.
— Porque seremos eles por hoje. — Ele deu de ombros.
— Bah! É sério?
— Bah! Sim, meu — ele debochou e ela riu.
— Tu fica fofo falando assim.
— Fofo? Eu esperava um "atraente". Matuê não é fofo, ele é gostoso.
A garota riu pela milésima vez naquela manhã, sentindo-se extremamente confortável, como não se sentia há um bom tempo. A palavra correta era: viva.
Um forró animado, que explodira no ano anterior, preencheu seus ouvidos e o garoto sorriu, parando perto do carrinho, que era a fonte da música. Jasmim não compreendeu sua atitude, mas o seguiu, desconfiada.
— O que está fazendo?
— Nosso lema de hoje é: Só se vive uma vez. Entendido?
— Sim, capitão — ela concordou, sorrindo e levando a mão à testa, como no exército.
— Então topamos absolutamente tudo, porque depois de hoje, as coisas voltarão a ser como antes. Isso inclui sermos invisíveis um para o outro.
A primeira proposta a assustou. "Tudo" era uma palavra perigosa quando usada em um contexto diferente.
— Não. Mesmo que o dia peça tudo, deve haver limites, Matuê — ela ironizou o final, arrancando uma risada do rapaz.
— Certo, Dua. Então usaremos o "azul" para quando ultrapassarmos o limite um do outro, combinado?
— Gostei da ideia, das duas, incluindo a de sermos invisíveis um para o outro quando o dia chegar ao fim.
— Fechado.
Quando a música chegou ao refrão, Otávio puxou o corpo de Jasmim contra o seu, incendiando ambos os corpos. A conexão presente entre os dois era surreal e qualquer um que passasse poderia notá-la.
A jovem abriu os lábios, para dizer algo, mas ele levou o indicador até eles, pedindo silêncio. Sua respiração estava ofegante e ela temia o que aconteceria nos próximos segundos, não querendo sair de seus braços.
Com o coração acelerado e um sorriso no rosto, Otávio a conduziu a uma dança animada, fazendo-a querer morrer pela vergonha que ardia em suas bochechas bronzeadas. Algumas pessoas paravam ao redor dos dois jovens, com as câmeras de seus celulares apontadas para eles.
Não sabendo se era possível, o rapaz a apertou mais contra o próprio corpo, com uma mão na curva de suas costas, um pouco acima de suas nádegas. O mero toque fez o coração da garota sambar ainda mais, no mesmo ritmo do piseiro.
Como se não tivesse a desconcertado o suficiente, Otávio levou a boca até sua orelha, com a respiração quente fazendo cócegas em seu pescoço e levando sensações a qual nunca provara antes, em lugares que preferia não recitar.
— Se solte, Jas. Só se vive uma vez.
Não saberia explicar nem se quisesse o que aconteceu depois dessas palavras. O corpo da garota ficou mais manipulável e ela deixou Otávio, que era claramente mais experiente nisso, conduzi-la, rodopiando-a pelo calçadão e ouvindo gritinhos de algumas pessoas, assim como risadas.
Sem conseguir segurar, enquanto os dois dançavam, Jasmim ria, leve como uma pena. Seus olhos brilhavam e ela sentia como se estivesse em um sonho do qual não queria mais acordar.
Quando a música chegara ao fim, os dois continuaram grudados, apreciando o calor um do outro. Poderia fazer 40°, mas se pudessem, continuariam na mesma posição. Era como se finalmente estivessem em casa e só existissem os dois ali, com aquele aroma maravilhoso do mar.
Aplausos altos o tiraram de seu transe, forçando os jovens a se afastarem e sorrirem um para o outro. Brincalhões, ambos fizeram uma mesura desengonçada em agradecimento. Otávio bateu na mão do dono do carrinho, que os elogiou e agradecera pela clientela que se formou e agora comprava as bebidas.
Para ajudar — e, porque estava morrendo de sede — o garoto comprou dois refrigerantes, entregando uma latinha para Jasmim, que sorriu em agradecimento.
Em situações normais, ela jamais tomaria refrigerante às nove da manhã, pois sabia que aquilo era um veneno ao seu organismo, algo implantado pelo pai viciado em academia. Porém, aquele era um dia em que deixaria tudo de lado.
— Visse, não foi tão ruim assim — ele disse após se sentarem em um banco de concreto, virados para o mar, à sombra de coqueiros.
— Bah! Você estava certo. Aliás, além de cantar, é um ótimo dançarino, Matuê.
Otávio riu, bebendo os últimos goles de sua coca-cola gelada e jogando a latinha no lixeiro certo ao seu lado.
— Eu sei, morena. Sou demais!
— Agora está sendo ridículo, piá.
— Piá, guri. Quais são os próximos nomes? — Ele perguntou, prendendo seu olhar e deixando seu peito aquecido. — Poderia ser... amor. Não achas?
Entrando em seu jogo sujo, Jasmim aproximou os lábios do seu, fazendo o garoto estremecer em anseio. Não estava acreditando que ela tinha realmente tomado a iniciativa e aquilo a deixava ainda mais atraente.
— Eu acho que você é um idiota — ela declarou, afastando-se.
O jovem tentou disfarçar a cara de decepção, mas a garota percebeu mesmo assim, soltando uma gargalhada estridente e colocando as mãos na boca depois.
Um fato sobre ela, que ele notou, era ela ser escandalosa. E mesmo atraindo olhares indesejados e resultando em bochechas rosadas, ele gostou disso.
— Ok! Nós temos 24 horas para transformar esse dia no melhor que já tivemos — ela avisou e ele concordou.
— Comigo ao seu lado, teu dia vai ser uma maravilha.
— Tchê! Seu ego me surpreende.
Ele sorriu, voltando a encarar o mar.
— Saí de casa prometendo pra mim mesma que hoje seria um dia incrível.
— Teus pais sabem que tu saiu?
A garota desviou o olhar do mar para o jovem ao seu lado, mordendo o lábio inferior e fazendo uma careta, que já lhe respondia.
— Meus pais jamais deixariam eu sair sozinha, piá.
— Que merda, hein. Quantos anos tu tem?
— Dezesseis.
— E eles não deixam tu sair?
— Não. É complicado e uma longa história.
— Vey, hoje é um dia sem regras. Então esse negócio de só contar as coisas depois de se conhecer pode esperar.
Ela respirou fundo, concordando com o que ele disse, mas não querendo contar o que aconteceu com seu irmão há alguns anos. Julgava ser um assunto extremamente íntimo, então se fosse necessário, usaria o código azul.
— Tudo bem. Há coisas que precisam ficar guardadas.
— Obrigada por entender.
Ela sorriu para ele, que devolveu o sorriso.
— Agora vamos pensar logo em coisas pra hoje — ele avisou e ela concordou, com a animação retornando ao seu corpo.
— Cada um escolhe uma coisa?
— Pensei em deixar a vida nos levar, igual naquele samba, tá ligada?
— Sim, nos duzentos e vinte.
Os dois deram risada da piada horrível que ela fez e Otávio balançou a cabeça negativamente.
— Podemos só viver, o que achas?
— Acho loucura, então concordo.
— É claro que sim — ele debochou, recebendo um empurrão de ombro, devolvendo.
— Quero passar o dia na água.
— Eu também, mas antes precisamos comprar algumas coisas.
Jasmim franziu a testa, lembrando do pouco dinheiro que levou consigo. Só tinha cem reais no cofre emergencial, que separou para as passagens de ônibus e almoço. Comidas na praia custavam uma fortuna.
— Comprar o quê?
— Vem, vamos comigo.
O garoto se levantou, segurando a mão de Jasmim inconscientemente, deixando a pele de ambos formigando. Era impossível negar essa atração que crescia a cada segundo entre os dois. Algo que nunca ocorreu na vida de nenhum deles.
Entrando na enorme tenda branca, onde eram geralmente vendidos os mais variados objetos para turistas, Otávio seguiu até a sessão de roupas e presentes. Jas estava confusa devido à escolha do rapaz, mas continuou calada.
— Como só se vive uma vez, vou estourar o dinheiro da conta do meu velho — ele explica e ela arregala os olhos.
— Bah! Tu vai morrer depois, guri. Meu Deus!
— Relaxe, Dua.
Para ele seria uma forma de vingança contra o pai, por todas as coisas terríveis — e desnecessárias — que vivia ouvindo. Porém, em seu íntimo, sabia que não estava fazendo isso só por ele, mas por sua mãe também, que teria o desgosto de saber pela boca do próprio filho que seu marido está a traindo com uma mulher vinte anos mais nova.
Descobriu da pior forma possível. Como o pai era um deputado muito querido por ali e tinha muito dinheiro, o que atraia "malas" de todo lugar, recebera uma mensagem anônima em seu celular, quando estava no ponto de ônibus, minutos antes de Jasmim chegar.
O recado continha uma foto onde o pai estava com uma jovem de aparentemente dezessete anos, e pedia uma quantia altíssima para ele, mas mixaria para o pai, ou então todos saberiam quem realmente era Roberto Días.
Sua vontade foi de apoiar o chantagista, mas o bom senso pediu alguns dias.
Estava indo para casa resolver toda a situação quando sentiu o perfume doce de lavanda, e ergueu o olhar para a garota que estava prestes a falar com ele.
Em um ato impulsivo, juntando seu desprezo com a recém-descoberta, estava disposto a se aventurar.
— Relaxe. Meu pai nem vai sentir falta desse dinheiro, isso lhe garanto.
— Bah! Só não quero problemas depois — ela avisou.
Pegando algumas mantas, calções, chapéus, óculos e até alguns presentes para Jasmim, que não ficou feliz com isso, ele passou tudo no caixa.
— Otávio, tem certeza de que não vai dar problemas pra ti?
— Relaxe, eu sei o que estou fazendo, vey. Mais tarde posso até contar porque tô fazendo isso.
— Se você diz...
Depois do pagamento, o rapaz pediu para trocar de roupa e uma atendente o levou até um lugar reservado, fazendo Jasmim esperar, distraída com o colar artesanal com um pingente de sol que ele lhe deu.
Pega de surpresa, Otávio segurou em sua cintura, aproveitando para sentir o perfume doce da morena mais de perto. Ela brigou com ele por tê-la assustado, mas sua risada fez com que não fosse levada a sério.
Saindo da tenda de conveniências, os dois retornaram ao calçadão, mas dessa vez com algumas sacolas em mãos. Jasmim sugeriu ao garoto que parasse e colocasse tudo na mochila em suas costas, porque ficaria mais fácil para os dois, e assim ele fez.
Em seguida, voltaram a caminhar, mas desta vez pela areia. Os adolescentes pegaram as havaianas nas mãos e enterraram os pés na areia, que àquela hora, não estava tão quente quanto costumava ser.
As ondas estavam calmas e atrativas, chamando-os para um mergulho.
— Não me leve a mal, Dua. Talvez seja pelos seus milhões de 'streamings', mas tu tem uma cara de amostrada, então preciso perguntar — ele chamou sua atenção, arrancando-lhe uma gargalhada.
— O que seria amostrada?
— Metida, vey — ele contou, fazendo-a afirmar com a cabeça e rir.
— Tchê! É claro, senhor humildade, pergunte-me o que quiser — ela voltou para a brincadeira, fazendo-o sorrir.
— A madame se importaria de sentar em uma manta na areia, ou teria que alugar um guarda-sol?
Jasmim riu enquanto encarava o céu e sentia o calor do sol. Ela não se importava de se sentar na areia, afinal, fora para lá justamente para isso. O grande problema era que o sol do meio-dia fritava qualquer um.
— Não me incomodo, inclusive pensei no mesmo, mas quando der meio-dia teremos que correr.
— Imaginei, morena.
A garota sorriu e ele deixou a mochila na areia, estendendo uma manta que comprara com esse intuito, tendo a ajuda de Jas no processo.
Os adolescentes colocaram uma havaiana nas quatro pontas, sentando-se em cima do tecido em seguida.
Pegando os óculos escuros que comprou, um formato que Jasmim elogiou combinar com as maçãs de seu rosto, o garoto colocou o objeto na face, sentindo os olhos agradecerem.
O sol esquentava sua pele, implorando para que ele entrasse na água, e sem nem discutir, Otávio começou a erguer a camisa listrada que usava, revelando seu peitoral definido, graças às horas que se dedicava na academia.
Pega de surpresa, Jasmim observou o belo porte do rapaz, que estava atraindo o olhar de algumas mulheres que estavam na praia antes deles chegarem. Sem camisa, com os calções que comprou e os óculos de sol, ele não poderia estar mais atraente.
A jovem queria uma desculpa para tocá-lo, encostar em seu corpo outra vez, e então o protetor solar que trouxe lhe veio à mente.
Com um sorriso orgulhoso, a jovem tirou o frasco pequeno da bolsa média. Ainda tinha o bastante para ser usado naquele dia.
— É bom passar um pouco do protetor, ou vai ficar vermelho feito um camarão, guri.
O jovem olhou o frasco que estava em suas mãos delicadas, estremecendo ao pensar nelas em suas costas. Com um sorriso malicioso ele concordou com a cabeça, pegando o frasco que ela oferecia.
O adolescente passou por todo o corpo, menos nas costas, porque não alcançava e mesmo que alcançasse, deixaria o trabalho para ela.
— Acho que vou precisar de ajuda aqui.
Reprimindo o sorriso, a garota despejou o produto branco na mão, esfregando uma palma na outra e fitando os olhos do rapaz.
— Vira aí, guri.
Sem protestar, ele virou de costas para ela, que começou seu trabalho, lambuzando as costas do companheiro de passeio. Achou que fora coisa de sua cabeça ao senti-lo estremecer ao passar as mãos em seu pescoço, mas ao refazer o teste, teve noção do poder que tinha sobre Otávio.
Deixando as mãos ainda mais leves, ela deslizou um pouco mais de protetor em suas costas, invadindo "sem querer" seu peitoral, deixando o rapaz louco. Ao terminar, ele se virou rapidamente para ela, impedindo-a de se mover ao segurar seus braços.
O rapaz encarou as íris castanhas da jovem, aproximando o rosto do seu, mas não o bastante para que seus fôlegos se misturassem. Provocá-la estava virando seu afazer favorito.
Devagar, ele moveu as mãos da garota até seu abdômen definido, sentindo-a estremecer, assim como ele, que reprimiu a vontade de fechar os olhos. Prendendo seu olhar ao dele, o rapaz notou os lábios entreabertos da garota, aproximando o rosto do seu, desviando para a orelha, arrepiando-a.
— Sei que tu queria me tocar, morena. Tente inventar uma desculpa mais convincente na próxima vez que quiser me provocar.
Com as bochechas rosadas pela vergonha que sentia, ela bateu em seu peito com toda a sua força, fazendo o rapaz resmungar um "ai!".
— Você é um idiota!
Ele riu, levantando-se a contra gosto.
— Um idiota que você começou a gostar, admita.
— Bah! Nem morta que eu vou cair nesse balaqueiro!
Otávio franziu o cenho, afastando-se um pouco da garota.
— Balaqueiro? Essa é nova.
— Papo-furado.
— Vou precisar de um dicionário com tu.
— E eu com você. Isso se não te matar antes — ela ameaçou.
— Esperarei ansioso.
Com seu jeito debochado, Otávio caminhou em direção ao mar, arrancando um sorriso da garota, que se repreendeu em seguida.
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