Ainda sem saber o que fazer, apenas ergo meu braço para dentro do meu armário.

— Quem colocou isso aí? — Minnie pergunta assim que pego o pinguim de pelúcia dentro do meu armário.

Eu amo pinguins!

— Não faço a menor ideia!

O pinguim tem um envelope com o meu nome amarrado com um fitilho roxo bem no bico. Pego-o com a mão livre e coloco os livros dentro do armário de qualquer jeito. Minnie está tão curiosa quanto eu, óbvio. Tiro com cuidado o envelope do bico do pinguim e peço que Jasmim o segure, amei a pelúcia e não quero que nada aconteça a ela.

Dentro do envelope tem dois convites para a tal festa que falávamos e uma carta não muito grande que aguça demais a minha curiosidade.

— São convites para a festa? — Jasmim pergunta, incrédula. Apenas assinto e permaneço com o olhar sobre a carta. — Lê logo! — minha amiga quase grita e me assusta, o que serve para me tirar do transe.

— "Querida, Sarah" — começo a ler a carta em voz alta, aproveitando que somente Minnie e eu estamos por perto —, "gostaria de saber se você me daria a honra de ser minha acompanhante para a festa do dia dos namorados e, talvez algo mais depois disso."

Dou uma pausa na leitura e fixo meu olhar nas palavras.

— Sarah! Eu quero saber o resto! — Jasmim grita ameaçando pegar a carta de mim. Pigarreio e volto a ler.

— "Há muito tempo venho criando coragem para falar com você, mas o jeito como você costuma julgar as pessoas apenas por seu status social ou conta bancária acaba me afastando um pouco. Então, tive a ideia de te dar um mês para tentar descobrir quem eu sou e assim entender que sou um garoto que gosta de você pelo que você é e espera que goste de mim pelo que eu sou. Não pelo que temos ou representamos. O que possuímos não importa para definir nossos sentimentos nem carregam o verdadeiro valor, afinal, são tesouros que a traça consome e fica para trás nessa Terra. Espero que não demore a me achar, pois estou te esperando há muito tempo. Com amor, seu príncipe. Espero ter minha Cinderela no dia dos namorados".

— AI, MEU DEUS! — Jasmim grita, dando pulinhos. — VOCÊ TEM UM ADMIRADOR SECRETO!

— Cala a boca, sua louca! — repreendo-a e ponho a mão livre sobre sua boca. — Isso com certeza é alguma brincadeira de mau gosto!

— Ah, não é, não! — Minnie diz afastando minha mão e me dando o pinguim. — Ele sabe o seu bichinho preferido — aponta para a pelúcia. — Sabe sua cor preferida — aponta o laço no envelope na cor roxa. Violeta, mais precisamente. — Sabe até sua princesa favorita! Impossível ser uma brincadeira e você tem que descobrir quem é.

Coloco o pinguim no armário com cuidado, mando um beijo para os meus adesivos de borboletas brancas que espalhei na parte interna e sigo para a quadra da escola com uma Jasmim enlouquecida me seguindo. Com certeza ela vai ficar com isso na cabeça até sabermos de quem se trata. Isso se descobrirmos de quem se trata.

É claro que minha parte racional não deixa de pensar que isso é uma brincadeira de muito mau gosto, mas uma parte dentro de mim sabe que a Minnie está certa e essa pessoa sabe demais sobre mim. Cinderela realmente é minha princesa favorita, exatamente porque ela dá a volta por cima e deixa a madrasta e as irmãs postiças no chinelo.

Eu preciso descobrir quem é esse ser engraçadinho que resolveu bancar o esperto para cima de mim. E eu não vou descansar até tudo isso se resolver.

A aula de Educação Física foi um saco, como sempre. Não que eu não goste de esportes, mas odeio como as Barbies controlam o professor Marlon com seus papos furados e acabam não fazendo quase nada na quadra e nós, que somos obrigadas a jogar, perdemos pontos se sairmos um metro sequer das nossas posições.

Minnie ficou o tempo inteiro me enchendo o saco sobre esse tal convite anônimo. Confesso que isso ocupou meus pensamentos por alguns minutos, principalmente o que dizia na carta, mas agora só quero esquecer.

Mesmo com a garota mais chata do mundo atrás de mim falando sem parar sobre a festa do mês que vem, corro para o vestiário a fim de me trocar e ir logo para casa. Tomo um banho rápido e tiro a roupa suada do jogo de handebol, continuo ouvindo Jasmim dizer o quanto é importante que eu descubra quem é o tal admirador secreto, o que me faz querer me livrar da única amiga que tenho.

Quando já estou em frente ao armário de novo para pegar minha mochila e ir embora, não aguento mais e explodo com a Minnie.

— Você pode, por tudo que é mais sagrado, calar essa boca e parar de falar sobre isso?!

— Ok — diz simplesmente. — Depois não venha se lamentar para mim.

Quando ela, enfim, cala a boca, abro meu armário e quase surto quando vejo que tem mais um presentinho lá dentro.

Quem será esse ser que sabe a combinação do meu armário?

— Que lindo! — Minnie exclama assim que vê a coroa prateada, de plástico, dentro do armário com mais um envelope de laço violeta. Pego a coroa e o envelope, desfaço o laço com cuidado e puxo o que dessa vez parece ser apenas um bilhete.

Um sorriso involuntário escapa de mim, mas logo o desfaço. Contudo, isso não é imperceptível aos olhos de águia da minha melhor amiga.

— Ah, meu Deus! Eu preciso saber quem é esse cara que vai derreter o coração da rainha do gelo! — ela sorri abertamente. — Ou melhor, a princesa!

Jasmim tem seu estilo punk e usa roupas pesadas, mas na verdade, dentro dela há aquela garotinha que acredita em contos de fadas e sei que ela está na esperança de saber quem é esse tal príncipe.

A curiosidade está me matando também...

Seja lá quem for, claramente está usando referências bíblicas e ninguém aqui da escola sabe que sou cristã. Ninguém. Nem mesmo Jasmim. Eu me converti há pouco tempo, depois de conhecer um grupo de jovens que fazia um trabalho lindo na comunidade para ajudar pessoas carentes. Participar disso e ver o quanto existem pessoas realmente necessitadas, só aumentou ainda mais a minha revolta com esse mundo elitista, desde então, resolvi usar todo dinheiro que meus pais deixam disponível para mim para ajudar nessa causa e tenho me encontrado com esse grupo há umas 3 semanas. Fui à igreja poucas vezes, mas resolvi me entregar a Cristo, só que ainda não sei quase nada sobre o Evangelho. Contudo, consigo identificar essas palavras, consigo sentir o significado.

Involuntariamente, olho para os lados, mesmo que saiba que é em vão. Não conheço quase ninguém nessa escola, mas os que conheço têm seu próprio deus: o dinheiro. E isso me faz questionar quem faria e escreveria coisas assim...

Quem será você?