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Alvorecer de Esperança

"Por que você me deu falsas esperanças? Por que passou sal nas minhas feridas? Foi embora e me deixou sangrando, sangrando"

Tiago
Acordei com a sensação de que um batalhão de tambores ensaiava em minha cabeça. A luz do dia espreitava por entre as cortinas, intensificando a dor de uma ressaca feroz que me fazia jurar, mais uma vez, nunca mais beber. Tentei me erguer, mas meu estômago revirou-se em protesto. Com um gemido, desisti e relaxei de volta no travesseiro, cobrindo o rosto com as mãos, numa tentativa inútil de bloquear a claridade.

Pressentimentos incômodos agitavam-se em minha mente nebulosa, mas qualquer tentativa de pensar se dissolvia na cacofonia interna. Foi quando um brilho intermitente chamou minha atenção. O celular piscava com uma urgência que não pude ignorar. Kate. Seu nome, repetido vezes sem fim, tornava-se um mantra na tela bloqueada ao lado de uma série de chamadas perdidas.

Sentei-me, sobressaltado, um fio de ansiedade serpenteando pela névoa alcoólica. Por que Kate me procuraria tantas vezes, se é conhecida pela sua paciência quase infinita? Disquei seu número com dedos trêmulos, esperando que me atendesse com sua voz calma que sempre conseguia dissipar minhas tempestades internas. Mas só o que encontrei foi o frio toque da caixa postal.

Naquele instante, algo me dirigiu à TV. O controle remoto pareceu saltar para a minha mão e no segundo seguinte, o mundo parou. "Notícia de Última Hora" dançava na tela enquanto a imagem de chamas devorando estruturas familiares cruéis e impiedosas me golpeava os sentidos.

Era o ateliê de Kate. O lugar onde ela derramava alma e paixão em cada pincelada, onde criava cores e formas que eram mais do que arte, eram pedaços de nós. O fogo consumia tudo com uma fúria voraz, e eu, paralisado, só conseguia imaginar o pior.

O telefone escorregou de minha mão, batendo com um estalo surdo no tapete. O peso da realidade pressionou meu peito com a força de uma tonelada de tijolos. Kate, a mulher que com seu sorriso poderia iluminar o mais escuro dos quartos, agora estava envolta numa incerteza aterradora.

Não me recordo de vestir-me ou de trancar a porta ao sair. Lembro-me apenas de correr pelas ruas como se pudesse desafiar o tempo e a distância, impulsionado pela necessidade de encontrar Kate, de garantir que ela estivesse segura, de ver seus olhos me garantindo que este pesadelo era só isso - um pesadelo.

O ar cheirava a cinzas e desespero quando me aproximei do que restou do ateliê. O esforço descomunal dos bombeiros formava um contra-ataque heróico contra o monstro de fogo, mas eu sabia que o que realmente importava pra mim não podia ser salvo pelas mangueiras de água e espuma.

Kate, onde você está? A pergunta ecoava não apenas em minha mente, mas no pulsar cada vez mais acelerado de meu coração assustado.

Com o peito arfante e a respiração pesada turvando o ar frio, circulei o perímetro de segurança onde os bombeiros e policiais se movimentavam freneticamente. A multidão de curiosos e vizinhos angustiados formava uma barreira viva que eu tentava, a todo custo, penetrar com o olhar, buscando o rosto amado.

Minha voz se perdia na cacofonia de sons caóticos - o crepitar das chamas, as ordens gritadas, a água batendo contra o que sobrevivia do inferno - mas eu a gritava de novo, uma e outra vez, uma súplica na imensidão do tumulto.

Foi então que senti uma mão em meu ombro. Virei-me abruptamente, esperança e medo brilhando nos olhos. O policial diante de mim tinha um semblante grave, e meu coração teve um sobressalto.

— Você está procurando por alguém? — A voz do policial era quase um sussurro sobre o rugir do desastre.

— Kate. Kate Carter. Ela é a artista... era o ateliê dela ali.

Ele acenou com a cabeça, compreensão e simpatia marcadas em seu rosto cansado.

— Espere aqui um minuto.

Observei enquanto ele conversava via rádio com alguém invisível para mim. Em algum lugar por trás dos meus olhos vermelhos e inchados da noite mal dormida, um fio de esperança se acendeu, tênue e trêmulo.

— Sargento Rivera à suas ordens. Prazer, estou procurando Kate Carter. Sou o namorado dela — limpei a garganta. — A senhorita Carter esteve aqui ontem à noite. Ela ficou aqui alguns minutos e logo em seguida pediu para que eu chamasse um táxi — disse o oficial à minha frente, tentando lembrar os detalhes. — Você não tem ideia de onde ela pode ter ido? — perguntou com certa preocupação na voz.

— Não, infelizmente. Ela pegou a sua mala e subiu para o carro sem dizer outra palavra.

— Você disse mala?

— Sim.

— Sargento? — uma voz ecoou de longe.

— O dever me chama — disse o oficial, que antes estava à minha frente e agora desaparecia do meu campo de visão.

Assim que o sargento saiu do meu campo de visão, meu coração parou. Meu celular era um cemitério de ligações não atendidas e mensagens desesperadas que deixei para Kate. Eu precisava fazer alguma coisa. Com uma sensação de pressa pulsando em meus ouvidos, peguei o celular e disquei o número do meu pai.

— Alô? Pai, sou eu, Tiago.

— Tiago? Que voz é essa? Aconteceu alguma coisa? — A preocupação dele já estava evidente na voz.

— Pai, é a Kate — disse, sentindo minha voz tremer. — Ela sumiu, e o ateliê dela foi incendiado. Eu tenho um mau pressentimento.

— Deus do céu... Tiago, onde você está, e quem é Kate?

— Estou no ateliê e falo depois sobre Kate, mas antes, pai, preciso que você me ajude.

— Claro, filho. O que você precisa que eu faça?

— Pode verificar nos aeroportos, ver se ela saiu do país ou qualquer coisa assim? — pedi, tentando manter a calma.

— Sim, posso fazer isso. — Eu quase podia ouvir seu cérebro processando, indo de pai preocupado a profissional em modo de resolução de problemas. — Tenho alguns amigos que trabalham na segurança dos aeroportos. Eles podem verificar as listas de passageiros rapidamente.

— Obrigado, pai — suspirei com algum alívio no meio do caos.

— Tiago — meu pai disse com uma firmeza que trazia alguma estabilidade ao meu mundo giratório —, nós vamos achar a Kate. Vou chamar você assim que tiver alguma informação.

— Está bem. Pai, obrigado. — Desliguei, um turbilhão de emoções invadiu meu peito, mas entre elas havia uma faísca de esperança. Graças ao meu pai, talvez pudéssemos encontrar um fio que nos levasse até Kate.

Embora a ansiedade me consumisse, a chamada do meu pai finalmente chegou:

— Tiago, conferi com meus contatos. Nada de Kate nos aeroportos, nem reservas , nem embarques nos voos de hoje.

Alívio e frustração se entrelaçaram dentro de mim.

— Obrigado, pai. Isso já ajuda a concentrar a busca.

— Esteja onde ela estiver, vamos encontrá-la — disse ele, com a certeza de quem já enfrentou tempestades piores. — Alguma pista do lado aí?

— Nada ainda. Vou ver o que posso descobrir.

— Tenha cuidado, filho. Mantenha-me informado.

— Eu manterei.

Desliguei o telefone, respirei fundo e acelerei rumo ao ateliê, ciente de que cada segundo poderia ser crucial.

Dirigi-me à casa dos pais de Kate, um lugar familiar onde já havíamos compartilhado muitos jantares e risadas. O caminho pareceu eterno, cada semáforo e curva ampliando minha ansiedade.

Chegando lá, o jardim estava tão bem cuidado quanto sempre, contrastando dolorosamente com o caos das minhas emoções. Bati à porta, um misto de esperança e temor pulsando em cada batida.

A mãe de Kate atendeu, os olhos inchados de preocupação.

— Não temos notícias dela — disse, sua voz quebradiça, e fechou a porta.

Kate

Desperto com o som insistente do meu celular. Demoro alguns segundos para focar minha visão no brilho da tela, piscando com as muitas notificações. Pelo menos cinco chamadas perdidas de Tiago e uma enxurrada de mensagens. Ele deve estar preocupado. A última noite é uma neblina na minha memória, e a agitação do incêndio ainda joga sombras pesadas sobre meus pensamentos.

Meu pulso acelera, uma mistura de ansiedade e o resquício temeroso da noite anterior. Ainda estou processando o fato de que meu ateliê, minha segunda casa, agora não passa de cinzas e escombros. Respiro fundo, sentindo a náusea da ressaca e do estresse se misturarem.

Deslizo o dedo pela tela e retorno a chamada de Tiago. O telefone toca, e ele atende quase que imediatamente. Sua voz é carregada de alívio e tensão.

— Kate! Onde você está? Você está bem? — A voz de Tiago evidencia o pânico mal contido.

— Eu... estou bem, Tiago. Estou em um hotel — digo, e minha voz soa distante aos meus próprios ouvidos. — A noite passada foi... Eu não sei, tudo aconteceu tão rápido.

Ele suspira pesadamente, e consigo imaginar a preocupação em suas feições.

— Kate, você precisa me dizer onde você está. Eu estava indo para o local do incêndio. Onde você está agora? Eu preciso te ver, garantir que você está segura.

Pego um papel com o cabeçalho do hotel e leio o endereço para ele.

— Estou no Hotel Hi Boston, na Quinta Avenida, quarto 407.

— Eu estou indo para aí. Não saia, por favor, fique aí até eu chegar.

— Ok, Tiago. Eu vou esperar.

Desligo o telefone, e a solidão do quarto de hotel se aconchega ao redor de mim como uma manta fria. Espero, ancorando-me nesse silêncio que antecede a tempestade, a tempestade de explicações que se avizinha quando Tiago chegar. Meus olhos fixam-se na porta, e meu coração pesa com a antecipação e o temor do que está por vir.

Tiago

Desligo o telefone, um turbilhão de emoções agitadas correndo por mim. Alívio por Kate estar salva, preocupação com o que ela pode ter enfrentado, e uma pressa urgente em ver minhas suspeitas esclarecidas.

Atravesso as ruas, o trânsito se tornando apenas um buzz ao fundo de meus pensamentos focados. O hotel que Kate mencionou não é distante, mas cada minuto parece se arrastar interminavelmente.

Chegando ao Hotel Hi Boston, voo pelo lobby e tomo o elevador, minha impaciência palpável. O dígito '4' brilha diante de mim enquanto o elevador sobe, e ensaio o que vou dizer, como vou apoiar Kate.

Chego ao quarto 407, minha mão vacila antes de bater. A porta se abre e lá está Kate, visivelmente abalada mas, para meu imenso alívio, fisicamente ilesa. Nossos olhos se encontram, cheios de perguntas não ditas e emoções mal compreendidas.

Nós nos abraçamos, um reencontro que traz uma mistura de conforto e um novo sentimento de urgência.

— Estou tão feliz que você está bem — sussurro, a tensão começando a se dissipar.

— Eu estava tão assustada, Tiago — Kate começa, a voz embargada. — Eu vi o fogo e...

— Eu sei, eu sei... mas você está segura agora. Vamos descobrir o que aconteceu — a conforto. E nós nos sentamos, rodeados pelas paredes silenciosas do quarto de hotel, prontos para desenredar a teia de eventos que culminou no incêndio que destruiu não apenas um ateliê, mas uma parte da vida e sonhos de Kate.

— Você também me abandonou ontem — diz Kate com os olhos lacrimejantes. — Eu pensei que se o meu mundo estivesse acabando você viria, mas você não veio — a garota com o sorriso mais lindo que já vi agora derramava as lágrimas mais profundas.

Fito os olhos lacrimejantes de Kate e sinto uma pontada de culpa tão forte que meu coração parece pesar no peito.

— Kate, eu... — paro, procurando palavras que pudessem aliviar a dor que ela sentia, a dor que eu tinha involuntariamente aprofundado. — Eu sei que não há desculpas para o que parece um abandono — começo de novo, minha voz trêmula com emoção. — Quando soube do incêndio, entrei em pânico. Eu corri para o aeroporto, para os lugares que pensei que você poderia ir para se refugiar. Eu... — respiro fundo, buscando coragem para admitir minha falha. — Eu deveria ter percebido que você precisava de mim aqui, ao seu lado, mais do que em qualquer outro lugar.

Kate olha para mim, o rosto molhado pelas lágrimas, mas seus olhos mostram uma centelha de entendimento.

— Eu realmente achei que você fosse o único que jamais me deixaria — ela sussurra.

E naquele momento, eu sei o que tenho que fazer.

— Eu estou aqui agora, Kate, e eu não vou a lugar nenhum. Vamos passar por isso juntos, passo a passo. O que quer que venha, vamos enfrentar lado a lado.

Nós nos sentamos, envoltos na quietude do quarto de hotel, com os ecos da minha promessa a preencher o espaço entre nós. Em meio ao caos que tinha virado a vida de Kate, naquelas palavras simples, ela encontrou um fio de esperança de que talvez, apenas talvez, ainda houvesse algo em seu mundo que não estava acabando.

Lanço a Kate um olhar dividido, a urgência da chamada da empresa claramente pesando sobre mim, mas a importância de estarmos juntos neste momento crítico também evidente.

— Kate, eu preciso atender isso — digo, pegando suas mãos. — É algo que não pode esperar, mas eu prometo que volto o mais rápido possível.

Kate assente, apertando minhas mãos de volta.

— Eu entendo. Vá, eu estarei bem.

Com uma promessa de ligar logo que terminar, saio apressado. Kate se pergunta sobre o que a inspeção de segurança teria revelado, mas escolhe esperar por mim. Ela decide usar esse tempo inesperado sozinha para se recompor e pensar nos próximos passos após o incêndio devastador.

Kate

Senti o celular vibrar e o visor mostrava o nome da minha mãe. Respirei fundo antes de atender, sabendo que poderia ser um desafio.

— Olá, mãe — atendi com cautela, mas não estava preparado para a enxurrada de críticas que se seguiu. Suas palavras foram como espinhos, cada frase uma acusação de minhas falhas, dizendo quanto eu estava "na desgraça". Ela disse que eu estava perdido, que meu estúdio de arte era um erro, que minha arte jamais me levaria a algum lugar.

Desliguei o telefone e fechei os olhos, deixando o peso daqueles julgamentos me esmagar por um momento.

Peguei o celular novamente, hesitei por um momento mas então disquei o número da minha irmã. Bianca atendeu após alguns toques.

— Oi, Kate, que surpresa! Tudo bem? — Bianca soou genuinamente alegre ao ouvir minha voz, mas havia uma ponta de preocupação em seu tom.

— Não, Bi, não está tudo bem — comecei, minha voz vacilando um pouquinho com a emoção. — O meu ateliê... houve um incêndio, e papai e mamãe me expulsaram de casa.

Bianca imediatamente se tornou mais atenta.

— O quê? Meu Deus, Kate, você está bem? Onde você está agora?

— Estou num hotel, segura. A mãe ligou, e você sabe como ela é...

— Ah, a mãe — suspirou Bianca, compreensiva. — Não deixa ela te colocar para baixo, Kate. Esta é apenas uma fase ruim, você vai ver, vai passar.

Senti uma pontada de gratidão.

— Obrigada, Bi. Só precisava ouvir sua voz. Farei o que for preciso para descobrir o que aconteceu e reconstruir o meu trabalho.

— Sempre que precisar, eu estou aqui. E quando resolver isso, vamos comemorar. Te amo! — disse Bianca antes de nos despedirmos.

— Kate? Eu sei que você vai recusar, mas, você não precisa de dinheiro? Eu faço uma transferência para você! E pode ser um empréstimo quando você estiver bem de novo, você me reembolsa, tá bom maninha? — perguntou Bianca.

— Eu realmente não quero incomodar, eu tenho minhas economias...

— Você acha que vai ser suficiente para você? Você tá morando num hotel! Você quer vir para Nova York? — insistiu Bianca.

— Se importa de me transferir apenas o dinheiro? Eu vou procurar uma casa e depois um emprego estável e vou me reerguer como uma Fênix — ambas rimos.

— Desculpa não poder ajudar mais — Bia, que antes gargalhava comigo, agora chorava.

— Está tudo bem, mana, eu vou dar um jeito, não se preocupe comigo! Eu te amo muito — afirmei.

— Também te amo. Agora eu preciso ir, maninha, até depois — disse Bianca e encerrou a ligação.

Com o apoio emocional e financeiro de Bianca, eu me sentia um pouco mais fortalecida para encarar o novo capítulo da minha vida. Após desligar o telefone, respirei fundo, permitindo-me um breve momento para absorver a conversa que acabara de ter. Bianca sempre fora meu porto seguro, e mesmo a distância não era capaz de diminuir o laço que nos unia.

Confiante e determinada, comecei a pesquisar por imóveis na região, procurando um lugar que pudesse chamar de lar, um novo espaço para dar vida à minha arte e reconstruir o que fora perdido. Sabia que não seria fácil, mas a crença de Bianca em mim e o amor que compartilhávamos davam-me força.

Uma notificação do banco surgiu: Bianca Carter Steven enviou 5.000 dólares. Eu apenas disse para mim mesma: eu te amo, mana.

Com a promessa de me reerguer como uma fênix, planejava cuidadosamente os próximos passos. Encontrar uma casa era a prioridade, depois procurar por oportunidades de emprego. A ideia de voltar ao trabalho em algo que amava, por mais desafiador que parecesse, me enchia de esperança. Logo, estaria novamente em meu elemento, criando e compartilhando minha visão com o mundo, redefinindo meu caminho após o inesperado desastre.

E assim, com uma palavra de amor da irmã e a resiliência pulsando em minhas veias, estava pronta para enfrentar o que viesse a seguir. Meu espírito inquebrantável prometia um novo amanhecer de possibilidades e crescimento.

Depois de dias enfrentando a burocracia e o desânimo que acompanham uma investigação lenta e, até então, infrutífera, escolhi focar minhas energias em uma busca mais construtiva e imediatamente recompensadora: a procura de um novo lar. A hipótese de alguém ter incendiado meu estúdio intencionalmente esfriava na minha mente, substituída pela necessidade prática de avançar.

Caminhando pela cidade, ponderava sobre as determinações de tamanho, luminosidade e aconchego para meu novo espaço, aquele que abrigaria meus sonhos e ressurgidos projetos. Tinha algumas expectativas ao me dirigir ao endereço do apartamento disponível, imaginando as potencialidades do espaço, nas paredes que poderiam ser adornadas com minhas futuras criações.

Ao chegar, fui recebida pelo agente imobiliário, um homem de sorriso fácil que segurava em mãos a chave do que poderia ser meu recomeço. Subimos até o segundo andar, e ao abrir a porta, o agente me convidou a entrar.

O apartamento era modesto, mas com janelas que permitiam a entrada abundante de luz natural, essencial para minha arte. Os pisos de madeira rangiam levemente sob meus passos, o que trazia uma sensação de lar. Havia espaço suficiente para um estúdio improvisado no canto da sala de estar, onde já visualizava meu cavalete e tintas. Um imediato sentimento de pertencimento me invadiu, como se o universo, por uma vez, estivesse se alinhando a meu favor.

Enquanto observava os detalhes do apartamento, as possibilidades dançavam na minha cabeça. "Aqui", pensava, "poderei curar as feridas do incêndio e renascer através da minha arte". Era um começo modesto, mas o potencial era inegável.

Feita a escolha, apertei a mão do agente firmemente em agradecimento. Ali, entre paredes vazias e ecoantes, não via um fim, mas um novo capítulo cheio de esperança e criação. Deixando as sombras do incêndio para trás, sentia uma nova energia a preencher o espaço, o começo da reconstrução do meu mundo.

Antes de discar, respirei fundo, sentindo a mistura de ansiedade e entusiasmo que a perspectiva de um novo começo me trazia. Pressionei o número de Bianca e esperei, ouvindo o toque que parecia se esticar no tempo.

— Bi, é a Kate — comecei, tão logo a ligação foi atendida. — Acho que encontrei o lugar. É pequeno, mas cheio de luz e... tem uma energia boa, sabe? — Hesitei um segundo, buscando as palavras certas para descrever o sentimento de esperança que me preenchia ao me imaginar naquele novo espaço, reconstruindo minha vida.

A conversa fluiu, e senti uma pontada de gratidão por ter Bianca ao meu lado, uma constante fonte de encorajamento. Ao desligar, estava reenergizada com o suporte da irmã e pronta para dar os próximos passos rumo à renovação da minha vida pessoal e profissional.

Segurei o telefone com um sorriso crescente, minha ansiedade dando lugar ao alívio enquanto Tiago esperava do outro lado da linha.

— Eu encontrei o apartamento perfeito — disse, super animada.

— Isso é ótimo, Kate! — Tiago respondeu, animado. — Me conta mais sobre o apartamento. O que o tornou o lugar perfeito para você?

Caminhei pela sala, meu olhar passando pelas caixas de mudança que já começavam a se acumular.

— Ele tem uma luz natural incrível, o que você sabe que é essencial para a minha pintura. E há um pequeno canto que será perfeito como estúdio.

— Isso soa fantástico. E quanto a vizinhança? É tranquila como você queria?

— Sim, e parece ser uma comunidade acolhedora. Já tem até uma pequena livraria que eu mal posso esperar para explorar — disse, a alegria em minha voz era palpável.

Tiago riu do outro lado.

— Você e suas livrarias. Então, quando é a mudança? Precisará de uma mão extra?

A oferta de Tiago aqueceu meu coração.

— Eu adoraria sua ajuda, obrigada, Tiago. A mudança é neste fim de semana.

— Considere isso um encontro marcado. Vamos fazer dessa mudança uma operação suave. E Kate — Tiago disse, a seriedade tingindo seu tom habitualmente despreocupado — estou realmente feliz por você. Depois de tudo que aconteceu, você merece um novo começo.

As palavras de Tiago foram um bálsamo para as preocupações remanescentes em minha mente.

— Obrigada, Tiago. Significa muito ter o seu apoio.

— Sempre, Kate — ele assegurou antes de nos despedirmos. — Falo com você em breve.

Desliguei o telefone, meus pensamentos já flutuando para o futuro que me aguardava, agora parecendo um pouco mais brilhante.

Tiago

Sentado diante do meu pai, a seriedade no ar era quase palpável. O escritório, habitualmente um reduto de ordem e calma, parecia agora exigir das minhas palavras uma precisão quase cirúrgica. Cada detalhe no ambiente, desde os livros meticulosamente organizados nas prateleiras até a madeira polida da mesa, parecia conspirar para amplificar o peso do momento.

— Pai, há algo importante que preciso discutir com você, sobre a Kate — comecei, observando como ele depositava a caneta sobre a mesa e me olhava com atenção. Seu olhar era de quem prepara uma tela em branco para a crítica de uma obra de arte desconhecida.

Ele acenou com a cabeça, um silêncio que me deu espaço para continuar.

— Ela finalmente encontrou um lugar para morar. Um apartamento com luz natural perfeita para a pintura dela. Um novo começo.

Um músculo tencionou na mandíbula do meu pai — em outras ocasiões, o prelúdio de argumentos contrários às minhas decisões —, mas ele permaneceu calmo.

— E o que isso significa para você, Tiago? — Sua pergunta não foi um desafio, mas uma investigação genuína.

— Significa — eu disse, escolhendo cada palavra cuidadosamente — que estou planejando ajudá-la com a mudança neste fim de semana. Ela é minha amiga, e depois do incidente no estúdio, ela merece todo o apoio que puder ter.

Ele franziu o cenho ligeiramente, como se ponderasse a melhor maneira de formular sua próxima frase.

— Tiago, você sempre foi altruísta, isso é nobre. Contudo, precisa garantir que isso não irá se interpor aos seus próprios compromissos.

— Pai, eu sei que às vezes pareço um super-herói sem capa, mas prometo que estou cuidando dos meus compromissos também.

Ele riu, um som raro e quase musical que cortou a tensão como uma faca afiada.

— Bem, talvez você precise de uma capa, afinal. Mas, falando sério, assegure-se de que está ajudando-a a encontrar o equilíbrio próprio dela, não criando uma dependência de sua ajuda.

— Eu sei, pai — eu disse. — Acredito na capacidade dela de se reerguer. Estou apenas... dando um empurrãozinho na direção certa. Como um bom vento a favor, nada muito dramático.

Meu pai assentiu, um gesto que desenhou o término da nossa conversa, mas não somente isso: era também a concessão silenciosa de sua benção.

Enquanto me levantava para sair, ele acrescentou com um sorriso meio de lado:

— E Tiago, não esqueça de levar umas caixas de pizza na mudança. Nada une mais as pessoas do que discutir sobre qual sabor é o melhor.

Saí do escritório com um sorriso, sentindo-me reenergizado e ciente do meu papel no renascimento iminente da vida de Kate. A linha delicada que eu escolhia caminhar, entre apoio e independência, parecia agora um pouco mais clara e, com um toque de humor, muito mais leve de percorrer.

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