A Arte Da Dor
"Como é que algo que deixa as pessoas felizes também é fonte de desastre?"
Kate
Observei a tela em branco diante de mim, os pincéis descansando inertes na minha mão. Minha mente estava tumultuada de lembranças dolorosas e traumas do passado que me assombravam constantemente, forçando-me a confrontar meus demônios mais profundos através da arte. Desde pequena, a pintura era meu refúgio, um meio de expressão e cura.
Cresci em um lar marcado pela ausência e cicatrizes de um passado turbulento. A solidão era minha única companheira, e a arte se tornou minha válvula de escape. Cada tela que criava era uma extensão de mim mesma, um reflexo da minha jornada interior. Meus quadros eram uma mescla de cores vibrantes e sombras profundas, capturando a dualidade da minha existência. Poucos sabiam da dor que residia por trás de cada pincelada.
Meu ateliê era meu santuário, onde podia me conectar com minha própria vulnerabilidade e transformar minhas experiências mais sombrias em algo belo. Ali, encontrava paz na tempestade de sentimentos que me consumia e dava voz às emoções que há tanto tempo haviam sido silenciadas.
Enquanto mergulhava na criação de uma nova obra, fui interrompida pelo som de notificação do laptop em cima da mesa. Surpresa, aproximei-me e vi a tela iluminada com uma mensagem inesperada. Era uma proposta de contratação para expor minhas obras em uma prestigiada galeria de arte na cidade.
— Eu não acredito! — Disse em voz alta, com o coração disparando de empolgação. A galeria era renomada e a oportunidade significava um grande reconhecimento para minha carreira. Com as mãos tremendo de emoção, respondi à mensagem, concordando imediatamente com os termos.
A galeria pediu que eu enviasse uma seleção de minhas melhores obras para avaliação. Passei a tarde selecionando minhas pinturas favoritas, aquelas que representavam verdadeiramente minha visão artística e paixão pela arte. Enquanto embalava cuidadosamente cada obra, minha mente estava repleta de pensamentos e expectativas. Não conseguia conter a ansiedade e a alegria que sentia por essa oportunidade tão especial.
Quando finalizei o processo de envio, sentei-me por um momento, sentindo a magnitude do momento. Sabia que essa era uma oportunidade que poderia mudar minha carreira para sempre. Com um sorriso no rosto e o coração cheio de gratidão, encarei o horizonte brilhante que se abria diante de mim.
— Eu consegui! Eu consegui! — Gritei com os olhos cheios de lágrimas de felicidade.
No dia seguinte, preparei-me para a reunião com o dono da galeria. Peguei minha bolsa, verifiquei se estava tudo em ordem e saí do meu ateliê, pronta para esse próximo passo em minha jornada artística. Optei pelo mesmo vestido midi de linho azul-marinho, com um corte elegante que delineava minha silhueta de forma graciosa. O decote em V e as mangas três quartos adicionavam um toque de sofisticação, enquanto a saia levemente rodada conferia um ar de leveza. Combinei o vestido com um cinto de couro marrom, que destacava minha cintura, e um par de sapatos de salto baixo na cor nude, confortáveis e elegantes. Completei o look com brincos delicados de pérola e um colar simples de prata, que trazia um ponto de luz discreto ao conjunto. Peguei minha bolsa de couro caramelo, assegurando-me de que tudo estava em ordem.
Desci as escadas rapidamente, sentindo o aroma de café fresco que preenchia a cozinha. Meus pais estavam lá, mas eu evitei qualquer contato visual.
— Bom dia. — disse, de forma rápida e mecânica, enquanto pegava uma maçã da fruteira. Não queria iniciar uma conversa que pudesse trazer à tona ressentimentos antigos.
— Vai sair sem tomar café da manhã? — perguntou minha mãe, com um tom de surpresa e desaprovação.
— Sim, estou atrasada. — respondi, tentando manter a calma e não prolongar a conversa. Peguei minha bolsa de couro caramelo e me certifiquei de que tudo estava em ordem antes de me dirigir à porta.
— Boa sorte, filha. — disse meu pai, numa tentativa de gentileza que parecia forçada.
Parei por um segundo, sentindo um nó na garganta, mas não me virei. — Obrigada. — murmurei, antes de sair rapidamente pela porta.
Ao fechar a porta atrás de mim, respirei fundo e tentei afastar os pensamentos negativos. Hoje era um dia importante, e eu precisava estar focada. Deixaria os problemas familiares para depois.
Ao chegar à galeria, fui recebida por um homem elegante e carismático, cuja presença preenchia o ambiente de confiança e sofisticação. Era Tiago Stone, conhecido por descobrir talentos promissores e transformar seus trabalhos em obras de arte valorizadas em todo o mundo.
— De todas as coisas que passaram na minha cabeça antes de entrar por aquela porta, essa definitivamente não foi uma delas — disse, completamente surpresa. — Tiago, o homem do café, é o lendário Tiago Stone — falei sorrindo.
— Bem, eu tento manter minha identidade secreta — Tiago riu. — Não é todo dia que alguém me reconhece sem a capa e o chapéu de super-herói.
Tiago cumprimentou-me com um sorriso caloroso e olhos curiosos, ansioso para ver as obras que eu havia preparado com tanto cuidado e dedicação.
— Vamos começar? — ele sugeriu, gesticulando em direção às telas cobertas atrás de mim.
— Claro! — respondi com entusiasmo. — Mas, aviso desde já, se você derrubar café em qualquer uma dessas, vou precisar de um novo mentor.
Enquanto revelava cada obra, Tiago ficava cada vez mais impressionado com a habilidade e a profundidade emocional presentes em cada pincelada. Ele reconheceu de imediato o potencial único e a maneira como minha arte poderia cativar e emocionar os espectadores.
— Eu sabia que você tinha um potencial incrível, mas não esperava tanto — disse Tiago com sinceridade. — Para quem é apenas mais uma amante da arte...
— No final, todo mundo acaba por ser artista, e poucas pessoas aceitam ser amantes da arte — respondi, convencida.
— E, convenhamos, ser um amante da arte é muito mais barato do que comprar telas e pincéis — Tiago piscou, brincalhão.
— Ah, então você diz isso para todos os artistas? — provoquei.
— Só para aqueles que me surpreendem ao ponto de quase derrubar meu café — Tiago piscou, brincalhão.
Enquanto conversávamos, notei que Tiago também tinha um excelente senso de moda. Ele vestia um blazer cinza-escuro, uma camisa branca impecavelmente passada e calças de alfaiataria pretas. Seus sapatos de couro preto estavam impecavelmente polidos, e ele usava um relógio de pulso clássico que completava o look sofisticado.
— E devo dizer, você tem um senso de moda impressionante — comentei, apontando para seu blazer. — Não é todo dia que alguém combina sofisticação com uma pitada de casualidade tão bem.
— Obrigado! — respondeu Tiago, com um sorriso modesto. — Eu gosto de pensar que a moda é uma forma de arte, e tento me expressar através dela também. Mas devo admitir, seu vestido é magnífico. Combina perfeitamente com o seu estilo.
— Ah, este velho vestido? — brinquei, balançando a saia levemente. — Ele tem seus dias de glória. Mas obrigada, é bom saber que fiz a escolha certa.
Ao final da reunião, Tiago estendeu a mão para mim em um gesto de parceria e confiança.
— Bem, acho que podemos começar essa parceria com um brinde — Tiago sugeriu.
— Ótimo! Mas, por favor, sem derrubar o café desta vez — respondi, rindo.
Tiago riu e assentiu. — Combinado. Vamos transformar o mundo da arte, um café de cada vez.
Com um sorriso de satisfação e gratidão, sabia que havia encontrado não apenas um mentor, mas também um amigo e um aliado em minha jornada artística. Juntos, embarcamos em uma nova fase repleta de oportunidades, desafios e realizações, prontos para conquistar o mundo da arte com talento e paixão.
— Desafio você, Kate Carter — disse Tiago, com um brilho travesso nos olhos.
— Desafio? — perguntei, franzindo a testa. — Isso não envolve correr maratonas, né? Porque eu já estou cansada só de pensar.
— Não, nada de maratonas. — Ele riu. — Você vai se apresentar na nossa exposição que vai acontecer daqui a dois dias.
— Dois dias? — Olhei para ele como se ele tivesse acabado de sugerir que eu escalasse o Everest de chinelos. — Você quer que eu faça uma apresentação em dois dias?
— Exatamente! — Ele sorriu ainda mais. — É o tempo perfeito para você entrar em pânico, se acalmar e brilhar no palco.
— Ah, claro, porque entrar em pânico é a parte mais importante da preparação artística, né?
— Exatamente! — Ele replicou, piscando um olho. — E lembre-se, Kate, só os grandes artistas conseguem transformar o pânico em arte.
Eu suspirei, sabendo que ele estava certo, mas também ciente de que as próximas 48 horas seriam uma montanha-russa de emoções. No entanto, com Tiago ao meu lado, eu sabia que conseguiria transformar cada desafio em uma oportunidade de crescer. E, quem sabe, até encontrar um pouco de humor no meio do caos.
— Então começamos agora e você vai me ajudar — falei, olhando diretamente para ele.
Estávamos em meio à agitação da galeria, organizando os últimos detalhes para a próxima exposição. Com pincéis, telas e obras de arte espalhadas por todo o lugar, tínhamos um longo dia de trabalho pela frente. Pendurei cuidadosamente uma série de pinturas abstratas na parede, enquanto Tiago ajustava a iluminação para ressaltar as cores e texturas das obras.
— Tiago, você acha que esta pintura está reta? — perguntei, inclinando a cabeça e tentando alinhar a moldura.
— Se você estiver tentando seguir o conceito de "abstrato", está perfeita — respondeu ele com um sorriso.
— Ah, ótimo, porque eu estava mesmo pensando em inventar um novo movimento artístico: o "desalinhamento calculado".
— Vai ser um sucesso! — Ele riu, ajustando mais uma lâmpada. — E lembre-se, se alguém perguntar, foi intencional.
Enquanto trabalhávamos, eu não pude deixar de notar o quanto estávamos em sintonia. Cada piada e cada comentário irônico ajudavam a aliviar a tensão, tornando o trabalho mais leve e divertido.
— Tiago, e se eu esquecer tudo na hora da apresentação? — perguntei, meio brincando, meio preocupada.
— Então você improvisa. — Ele deu de ombros. — E se isso falhar, você pode sempre fingir um desmaio dramático. Funciona toda vez.
— Ah, claro, porque nada diz "artista talentosa" como um desmaio no meio de uma exposição.
— Exatamente! — Ele piscou. — Vai ser o ponto alto da noite.
Depois de alguns minutos de um silêncio confortável, onde apenas o som suave das pinceladas e o ocasional farfalhar das telas preenchiam o espaço, decidi quebrar a quietude.
— Está ficando incrível, não é? — perguntei, observando as pinturas ganhando vida diante de meus olhos.
Tiago assentiu, admirando a visão da galeria tomando forma. — Sim, as obras realmente se complementam. Acho que os visitantes vão adorar.
— Como você está pensando em chamar essa exposição? — perguntou ele, focado em seu trabalho.
— Como assim? Eu escolho o nome? — parei de pendurar os quadros, surpresa.
— Sim, você escolhe — disse Tiago, olhando para mim.
— Eu não sei, não pensei em nada — falei sem reação.
— Você quer comer? — perguntou Tiago de repente.
— O que isso tem a ver com comida? — sorri, confusa.
— Minha mãe sempre diz: "primero comemo' entonce 'ló dema' " — respondeu ele, rindo.
— Primeiro comemos e depois o resto — falamos simultaneamente.
— Você fala espanhol? — perguntou Tiago, enquanto se dirigia ao seu escritório.
— Sim, minha mãe é espanhola. Eu cresci falando espanhol em casa — respondi, seguindo Tiago em direção ao escritório.
— Que legal! Nunca soube disso sobre você. Isso explica seu sotaque — disse Tiago com um sorriso. — E sobre o nome da exposição, podemos pensar juntos em algo relacionado ao conceito das obras e como elas se conectam.
— Boa ideia. Vamos combinar enquanto comemos? — sugeri.
— Perfeito! Podemos ir ao meu restaurante favorito ali perto. Tem uma ótima vista da cidade — respondeu Tiago animado.
E assim, fomos almoçar juntos para pensar no nome ideal para a exposição que unia nossas obras de arte de forma harmoniosa e impactante.
Desfrutamos de uma refeição deliciosa, compartilhando ideias e inspirações enquanto apreciávamos a vista panorâmica da cidade. Entre uma garfada e outra, nossas conversas fluíam com facilidade, e a criatividade parecia se intensificar.
— E se chamássemos de "Cores do Caos"? — sugeri, em meio a uma risada.
— Humm, interessante, mas acho que "caos" pode assustar algumas pessoas. — Tiago piscou. — Que tal "Sinfonia das Cores"?
— Sinfonia? Estamos em uma galeria de arte, não em um concerto de música clássica, maestro! — brinquei, fazendo uma reverência exagerada.
Após várias sugestões e algumas risadas, finalmente chegamos a um consenso. Tiago levantou-se com um sorriso no rosto e disse: — Acho que encontramos o nome perfeito: "Solitude em Cores". O que acha, Kate?
Olhei para ele com um brilho nos olhos e concordei entusiasticamente: — Adorei! "Solitude em Cores" captura exatamente o que queremos transmitir com essa exposição. É um nome forte e impactante.
Satisfeitos com nossa escolha, voltamos para a galeria para finalizar os preparativos da exposição. Juntos, sabíamos que "Solitude em Cores" seria um sucesso e encantaria os visitantes com a bela fusão de diferentes estilos de arte.
Enquanto continuávamos nosso trabalho, discutimos os detalhes finais da exposição: os horários de abertura, a divulgação nas redes sociais e as atividades especiais planejadas para os visitantes. Ambos estávamos animados com a oportunidade de mostrar as obras dos talentosos artistas locais e internacionais.
Depois de horas de trabalho árduo e dedicação, a galeria finalmente estava pronta para receber os amantes da arte. Demos um passo para trás, olhando para o espaço com orgulho.
— Estamos prontos — disse, sorrindo para Tiago. — Não vejo a hora de ver a reação das pessoas.
Tiago concordou, sentindo um misto de nervosismo e empolgação. — Vai ser um sucesso, tenho certeza. O trabalho duro valeu a pena.
— Então até amanhã, e mais uma vez obrigado por tudo — disse, arrumando meus materiais e me preparando para sair.
— Uma carona? — perguntou Tiago, ajudando-me a levantar.
— Seria ótimo, obrigada, Tiago. Não vejo a hora de finalmente ver tudo dando certo amanhã — respondi, enquanto os dois saíamos juntos da sala, ansiosos pelo evento que havíamos planejado com tanto cuidado.
No caminho para o carro, tivemos uma conversa animada, compartilhando expectativas e planos para o evento do dia seguinte. Tiago dirigia com atenção, enquanto eu olhava pela janela, imaginando como seria ver tudo pronto e funcionando perfeitamente.
— Sabe, Kate, se a exposição for um sucesso, quem sabe não celebramos com um jantar? — Tiago sugeriu, com um tom ligeiramente malicioso.
— Ah, já está pensando na comemoração? — brinquei, piscando para ele. — Mas só se for em um restaurante com uma vista ainda melhor do que esse aqui.
Ao chegarmos ao destino, agradeci mais uma vez a carona e despedi-me de Tiago com um sorriso. Enquanto entrava em casa, sentia uma mistura de emoções, mas a confiança no trabalho feito e a certeza de que tudo sairia conforme planejado me mantinham otimista.
Naquela noite, revisei mentalmente os últimos preparativos e me deitei para descansar, sabendo que o dia seguinte seria intenso, mas repleto de conquistas. Um sorriso de expectativa se formou em meu rosto antes de adormecer, ansiosa pelo sucesso que estava por vir. E, talvez, por aquele jantar prometido.
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