O Baile
Mudei minha vida de uma hora para outra, perdi meus pais num acidente de carro e fiquei sem lugar para morar de repente. Meus pais tinham tantas dívidas que os credores ficaram com a casa na qual morávamos, os dois carros que tínhamos e eu fiquei sem nada. Se não fosse meu tio Conrado aparecer para me ajudar, não sei o que teria acontecido comigo. Terminei a faculdade alguns meses atrás e meu estágio foi encerrado. Agora estou sozinha, sem trabalho e sem casa.
Deixei o interior de São Paulo para morar na capital, a casa do meu tio era duas vezes maior do que a minha e ficava num bairro bom da cidade. Ao entrar na sala de estar, notei os móveis bem cuidados, os quadros elegantes na parede. Minha tia Ester e suas filhas se levantaram assim que notaram a minha presença, elas usavam roupas elegantes com pulseiras e anéis nos dedos. Nem parecia que estavam dentro de casa. A Ester usava uma calça social preta e uma blusa de seda branca, seus cabelos estavam bem escovados e caiam em ondas até seus ombros, sua maquiagem era perfeita e ela estava pronta para entrar em qualquer lugar que desejasse. Minhas primas não estavam diferentes da mãe. A Laura era a mais velha e usava quase a mesma coisa que a mãe, só mudou as cores. Escolheu a calça branca e uma blusinha nude, mas tinha a mesma elegância da Ester. A minha outra prima era a mais bonita da família e com certeza puxou os cabelos loiros do pai, assim como eu. Brenda estava linda e deslumbrante, usando um vestido soltinho no corpo verde escuro.
— Olá querida! Finalmente você chegou. Estávamos ansiosas para conhecer a sobrinha do Conrado — disse minha tia toda simpática.
— Agradeço por me receber na sua casa — falei envergonhada.
— É um prazer ter você aqui e não se preocupe com nada. Você é da família — respondeu com um sorriso de orelha a orelha. Porém, bastou um dia para eu descobrir a cobra cascavel que ela era. A casa era enorme e tinha um quarto de hóspedes vazio no andar de cima. No entanto ela se recusou a oferece-lo pra mim. Tive que ficar no quartinho da empregada ao lado da cozinha, meu tio tentou argumentar com ela que eu era uma convidada na casa deles. Mas não adiantou a megera não voltou atrás e percebi tarde demais que meu tio era totalmente dominado pela sua mulher.
Passei meu primeiro mês trabalhando de empregada na casa dela, tive que lavar banheiros, lavar roupas, lavar louças e tantas outros serviços domésticos que comecei a ter calos nas mãos. Eu sabia que poderia me negar e sair dali, mas no momento eu não tinha dinheiro e nem para onde ir. Por isso tive que fazer a vontade dela e das suas filhas egoístas. As meninas eram a cópia exata da mãe, acho até que mais agressivas em determinadas ocasiões.
No final do dia eu já estava exausta e tudo que eu queria era deitar na minha cama minúscula e dormir. Não reclamei do tratamento abusivo da minha tia e continuei sendo sua empregada por quase três meses até que meu tio apareceu uma tarde em casa e me pegou esfregando o banheiro.
— O que você está fazendo aí? — perguntou assustado.
— Estou lavando o banheiro — respondi tirando minha luva de limpeza. Eu deveria estar com uma aparência péssima porque ele não conseguia parar de olhar pra mim consternado.
— Você não precisa lavar nosso banheiro, temos uma empregada na casa — explicou passando as mãos inquietas nos cabelos loiros com a raiz toda branca.
— Quem é a sua empregada? Desde que cheguei nessa casa nunca apareceu ninguém para me ajudar com a limpeza — questionei.
— Você está limpando a minha casa desde que chegou aqui? — perguntou curioso, arqueando as sobrancelhas.
— Sim — respondi me aproximando dele.
— Venha aqui, a partir de agora nada de fazer os trabalhos domésticos. Estou aqui para te levar na empresa em que trabalho, eles estão precisando de uma copeira e pagam muito bem — explicou meu tio abrindo um meio sorriso.
— Tem certeza que posso fazer esse serviço? — perguntei cautelosa.
— Claro que tenho, você se formou em marketing alguns meses atrás e precisa trabalhar numa empresa para desenvolver suas habilidades, mesmo que seja apenas servindo cafezinho. Mais tarde você ganha experiencia e vai ter um emprego melhor.
— Obrigada, nem sei como te agradecer — falei abraçando ele com força.
— Não precisa me esmagar para agradecer, na verdade acho que vai ser a melhor coisa para você.
Ele tinha toda razão quando disse isso, passei a trabalhar numa das maiores empresas do Brasil. A sede ocupava um prédio inteiro, porém, minha função era simples eu tinha que servir cafezinho para os executivos da empresa, exceto o presidente. Ninguém entrava na sala dele sem ser convidado e sua secretária Leila vinha pegar o café dele pessoalmente todas as manhãs. Era forte, sem açúcar e com dois tabletes de chocolate amargo. Ela nunca se atrasava e todas as manhãs no mesmo horário lá estava ela, enquanto eu preparava o café conversávamos sobre nossas séries favoritas, homens e dieta. Lógico que a Leila não precisava se preocupar com isso, morena alta, com um corpo espetacular, fazia os homens virarem os pescoços admirados. A garota era dois anos mais velha do que eu e já morava sozinha, eu morria de inveja da sua independência. Aos poucos nos tornamos amigas e eu estava cada vez mais feliz.
Logo depois que comecei a trabalhar, minha tia teve que recontratar a antiga empregada da família. Dessa forma eu não precisava mais limpar a casa, só me concentrar em fazer meu trabalho direito, isso incluía uma quantidade absurda de horas extras na esperança de voltar pra casa somente quando elas estiverem dormindo e ainda economizar para morar sozinha.
Algumas noites eu sai com a Leila e o namorado dela, os dois eram perfeitos juntos e eu estava ali só pra atrapalhar, por isso passei a recusar os seus convites e dei desculpas esfarrapadas na maioria das vezes. Eu tinha certeza que ela não acreditava nem por um segundo que eu iria sair com as minhas primas. A Leila não fazia ideia de que eu era ignorada por elas, mas sabia que minhas primas eram chatas e mimadas tudo que eu mais odiava numa pessoa.
Naquela noite específica eu estava sozinha em casa quando recebi uma mensagem.
Leila: Estou com um problema, por favor venha até o meu apartamento.
Eu: É urgente mesmo? Estou sozinha em casa e não quero sair daqui.
Leila: Tire sua bunda da poltrona e venha rápido até aqui, é urgente e não aceito desculpas.
Eu: Tudo bem eu já estou indo
Depois de mandar a última mensagem eu pulei da cama. Estava começando a anoitecer, o céu estava cheio de estrelas e parecia a noite perfeita para ficar sozinha em casa. Meu tio e a família dele tinham viajado o final de semana para Campos do Jordão e eu fiquei sozinha pela primeira vez depois de meses me escondendo no meu quarto para não me sentar a mesa com elas, às vezes chegava bem tarde para não conversar com nenhum deles.
Coloquei um jeans e uma blusinha, peguei minha bolsa e sai em direção a casa da minha amiga, para a minha sorte assim que cheguei no ponto o ônibus já estava parado me esperando. Levou apenas quinze minutos para que eu tocasse a campainha do apartamento da Leila.
— Você demorou — afirmou ela assim que abriu a porta pra mim.
— Esqueceu que eu não tenho carro — rebati jogando minha bolsa no sofá.
— Tudo bem, acho que ainda teremos tempo até a festa — explicou olhando no seu relógio no pulso.
— Que festa? — perguntei curiosa, observando minha amiga que já estava de pijama e com o cabelo preso num coque bem feito.
— Hoje é a grande festa de final de ano da Gutierrez e associados — explicou como se eu não soubesse que hoje a noite seria a festa mais exclusiva que São Paulo já viu, os convidados foram escolhidos a dedo e não se falavam em outra coisa no trabalho o dia todo. Principalmente porque somente alguns funcionários receberam os convites. Eu não estava decepcionada por que não recebi o meu, tinha plena consciência de que a garota que servia o café, não era lembrada nessas horas. Por isso fiquei chocada quando a Leila explicou o real motivo de ser convidada até a casa dela.
— Quero que você aceite esse presente — disse me entregando um envelope preto. Abri devagar sem fazer ideia o que tinha lá dentro. Assim que peguei o cartão dourado e exclusivo nas mãos fiquei em choque.
— O que significa isso? — rebati novamente, furiosa dessa vez. Por ter sido enganada e ainda não saber o que fazer a respeito disso.
— Eu ganhei um convite para a festa, mas não tenho nenhum interesse em sair de casa hoje. Tive uma semana cansativa e tudo que mais quero é pegar um bom livro, sentar numa poltrona no meu quarto e ler como se minha vida dependesse disso.
— Vamos lá conta outra história você nem gosta de ler — afirmei desconfiada.
— Quem disse que não gosto de ler? — perguntou irritada.
— Qual foi o último livro que leu? — questionei.
— Deixe-me pensar, espera aí que vou lembrar — explicou tentando ganhar tempo.
— Pare de enrolar e diga logo a verdade — pedi sem tirar os olhos dela.
— Tudo bem, você venceu eu não quero ir porque meu namorado vai dormir no meu apartamento hoje — explicou toda vermelha. Afinal não sei por que ela estava mentindo pra mim.
— E por que pensou que eu aceitaria ir numa festa exclusiva dessas — argumentei colocando as mãos na cintura.
— Você precisa sair e essa é uma boa oportunidade pra isso — disse decidida.
— Não quero sair e não vou. Além disso não tenho roupa para um lugar tão elegante assim — expliquei pela última vez, acho que com esse argumento ela não teria como me pedir pra comparecer na festa nua.
— Você não precisa estar tão elegante assim, é um baile de máscaras — explicou ainda tentando me influenciar a aceitar o seu convite.
— Então, não tenho máscaras — disse com ironia. Mas falei a verdade e mais cedo ou mais tarde ela tinha que perceber isso.
— Eu também não tenho máscaras — falou pensativa. E essa afirmação me deixou mais animada, cheguei a pegar minha bolsa para voltar para casa.
— Hein, onde você pensa que vai? — questionou minha amiga antes que eu saísse correndo do apartamento dela.
— Não temos roupa, nem máscara, impossível ir à festa sem isso — expliquei me virando para a minha amiga.
— Eu tenho um vestido que nunca usei e ficaria perfeito em você. Quanto a máscara podemos fazer uma pintura, esqueceu que eu fazia desenhos nos rostos das crianças antes de ser secretária.
— Pelo que me lembro isso faz quase dois anos — reclamei sem acreditar que vou ter que ir numa festa cheia de pessoas esnobes e com o nariz empinado.
Esse é o primeiro capítulo e ai o que acharam?Ansiosa pra saber... espero conseguir colocar o próximo capítulo amanhã.
OBS: O Conto ficou completo até 05/08, mas agora deixei apenas um capítulo para degustação, pois coloquei o livro na Amazon o link está no meu perfil, esse conto faz parte de uma série com mais 4 contos, todos serão postados aqui primeiro, portanto se querem ler antes de todos fiquem atentas e siga o meu perfil.
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