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CAPÍTULO 27

      Quando deu 17:00 horas terminei o meu expediente. Dominic havia falado que não viria para a empresa e que se eu não quisesse comparecer na empresa, poderia faltar. Os seguranças estavam na cola feito minha própria sombra! Não havia trégua, estavam atentos ao movimento igual a uma águia. Poderia não ter ido trabalhar e escolher ficar em casa, mas não faço o tipo que desperdiça o tempo ficando em casa sem fazer nada. Fui trabalhar e descobrir o quanto é tedioso não ter meu deus grego para colorir meu dia. Dominic ficou indisponível durante o dia e não explicou o motivo do seu sumiço. 

Estranhei essa ação tão incomum. Não fazia parte da sua rotina ao qual costumo sempre acompanhar. 

Ao chegar em casa me joguei no sofá pensativa e tentei digerir tudo o que havia acontecido nesse final de semana. Dominic tinha sido um excelente namorado, sempre respeitável e não forçou a barra em nenhum momento. Fizemos uma programação simples de casal, jantar, pipoca e filmes.Também aproveitamos o deck para olhar as estrelas e jogar conversa fora. 

Alicia chegou em casa pisando duro, a baixinha estava irritada, e quando me viu no sofá se aproximou. 

— O que foi? — perguntei, ela sentou-se de lado e me encarou. 

— Como assim o que foi? — soltou zangada, não comigo mas com a situação que a inquietava. — Um louco quase me atropelou! 

— Você está bem? — perguntei preocupada e a inspecionando. 

— Eu sim, ele já não sei. 

— Como assim? 

— O playboyzinho anda de moto e não sabe respeitar a vez de um pedestre?! Eu estava no meu direito de travessia. Ainda teve a ousadia de argumentar contra. — falou indignada e irritada — A sorte é que pelo menos ele sabia frear... Mas que ele levou uns belos tapas, aaaaaah ele levou. Ainda veio se desculpar na maior cara lavada que pode existir — cruzou os braços e encostou a costa no sofá.

— Fico aliviada em saber que nada grave aconteceu. — expressei meu alívio. 

Ela soltou uma respiração profunda e após um curto prazo de tempo, disse:

— É, eu também fico. — disse já calma. 

— Eu vinha pensando, que tal nós sairmos para beber e ter uma noite exclusiva de meninas? — seus olhos me espreitavam esperando uma resposta. — Ah, Kris... Por favor. — suplicou. 

— Eu sinto muito mas estou muito cansada. — fui sincera. 

— Eu vou chamar a mel, faz tempo que não a vemos. Eu tenho saudades de sair com vocês. — falou toda dengosa .

Semicerrei os olhos e a mirei. 

— Você quer oportunidade para faltar à faculdade. — acusei sem dó. 

— Mentira! — se defendeu — Eu só não estou afim de ir. — falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. 

Segurei nos seus ombros e a balancei fracamente, ao falar: 

— Garota, estamos falando do seu futuro! Não falta muito para terminar, Ali. 

— Eu sei, Kris. — riu despreocupada. — Vamos Kris, vai ser legal! 

— Tenho escolha? —indaguei. 

Ela balançou a cabeça negativamente com um amplo sorriso nos lábios. 

— Ok.. ok... — cedi por fim. 

*

    Depois do banho escolhi vestir uma saia jeans de cintura alta, curta que chegava até as coxas e uma blusa cigana com babados nas mangas e botas cano longo de salto baixo. Pedi para Alicia fazer uma trança lateral embutida em mim e depois fiz uma maquiagem simples, com direito a um delineador gatinho e finalizei com um batom carmim. 

— O bar do Matteo vai estar lotado hoje. A Mel mandou mensagem no grupo falando que o Matteo contratou uma banda para cantar as músicas da banda Nirvana. — Escutei cada palavra de Alicia enquanto me perfumava. 

Alicia vestia um vestido canelado preto que chegava no meio das suas coxas, e como complemento usava uma jaqueta jeans clara, e coturno curto de salto alto. Os cabelos curtos estavam cacheados pelo babyliss e a maquiagem estava dark o que combinou com o batom vinho que usava. 

— Vamos, o táxi não vai demorar a chegar. — Coloquei o dinheiro e o celular no bolso da saia e saí do quarto atrás de Alicia que cantarolava uma música que não consegui identificar. 

No caminho para o barzinho troquei algumas mensagens com a minha mãe, e quando falei que estava saindo com as meninas minha mãe ficou feliz. Refletir um pouco sobre a reviravolta que havia dado a minha vida, as circunstâncias tenebrosas e a minha força interior que vibrava a cada dia enfrentado. 

Eu estava seguindo a minha vida e tentava literalmente não olhar para os momentos que relataram, não queria lembrar, e estava focando no meu presente. 

A minha vida estava indo em um embalo suave, trabalho, mimos do meu namorado — que são sua atenção, carinho, cuidado, proteção e seu amor — Dominic fazia o impossível para me ver bem e seguia à risca cada recomendação médica. Achei que a pizza seria uma exceção, mas ao ver que se tratava de duas opções vegetarianas quase o fritei com a minha frustração estampada na minha cara. 

Apesar desse detalhe, tive minha sobremesa depois da pizza, resultando na minha alegria ao ver a pequena torta de chocolate com morangos, ameixas e cereja como cobertura. O homem sabia como conduzir um jantar sem quebrar a minha dieta passada pela nutricionista.

Os dias estavam passando e eu estava deixando que a sombra da nuvem negra ficasse para trás. Não inquietava o meu coração quando tudo que queria era poder ficar em paz. 

Do lado de fora do bar já era possível ver o movimento tanto pelas motos Kawasaki que estavam enfileiradas na frente quanto pelas pessoas dentro do bar. Engoli em seco, a última vez que vim aqui foi para terminar com o Matteo, o dono do bar.

Nos conhecemos no meu terceiro período da faculdade e com as minhas vindas aqui acabamos criando uma amizade, e com o tempo comecei a estimar a sua presença, ele é um galanteador nato. Eu achei que podia quebrar a barreira que havia se levantado mas infelizmente não passou de uma ilusão. Ele foi o único que saiu machucado na história. Percebi que da forma que o meu interior se encontrava acabaria criando mais ciclos, simplesmente por não estar pronta para um novo relacionamento. 

— Kristal... — Alicia chamou baixinho —Vamos, eu não quero congelar as minhas pernas aqui fora... — Alicia puxou o meu braço levemente, mas eu permaneci parada. 

— Ali, você sabe que o Matteo já foi meu namorado, não é? — perguntei na tentativa de lembrá-la mas meus olhos não saiam do bar. 

—E daí? Ele foi, não é mais. Vida que segue. — falou como se a minha pergunta fosse banal.

Ela não estava entendendo a minha cautela. 

— Eu machuquei os sentimentos dele. Não sei se é uma boa ideia. 

— Kris... Já faz muito tempo. Você não estava pronta naquela época para prosseguir com o relacionamento. Você mudou muito, talvez ele nem vai reconhecê-la. — Tentou me confortar — Hoje, você é uma mulher formada e centrada e o Matteo também não é um homem rancoroso. 

Assenti diante das suas palavras.

 Na época o próprio Matteo sugeriu sermos amigos novamente, mas percebi que a intenção dele era tentar me reconquistar mais uma vez e por esse motivo me afastei de vez dele. 
Adentrei no bar e avistei a Melanie jogando bilhar com motoqueiros, a mesma quando nos viu acenou. Ok, admito que achei aleatório vê-la com uma dupla de motoqueiros. 

— Achei que tinham desistido. — falou e nos abraçou. 

— Isso quase aconteceu, bem na porta do bar. — Alicia falou brincalhona. 

Revirei os olhos. 

Olhei cada parte do bar, as mudanças eram visíveis. Tinha mais espaços e mais mesas de bilhar como mesas para beber em meio a amigos. O balcão de bebidas estava mais comprido e havia atendentes femininas que trabalhavam no local. 

— Matando a saudade, princesa? — me assusto com a voz de Matteo e automaticamente fecho os meus olhos. — Que bom vê-la por esse lado esquecido da cidade. — debochou mostrando que não havia mudado, era a sua forma particular de dizer “oi”. 

Seu sorriso amigável pintou seus lábios demonstrando que não havia ressentimentos da sua parte.

— Para seu palhaço. Não mudou nada, hein! — acabei rindo e relaxando.

Confesso que não esperava que o Matteo viesse falar comigo. 

— Qual é morena? Achou mesmo que eu iria guardar algum ressentimento de você? —falou enquanto distribuía  as bebidas para os rapazes. — Bom... no começo sim, mas já te perdoei. — Riu.

— Seria justo. — respondo. 

— Esquece, não vale a pena lembrar ou lamentar. As coisas são como tem que ser. — piscou o olho e se retirou.
 
Matteo desde o início do relacionamento mostrou o quanto o seu sentimento por mim era forte, já eu não conseguia corresponder da mesma maneira e quase toda vez que ele tentava programar algo para nós dois, eu inventava que tinha trabalho da faculdade para fazer. 

— Por que você está com esse olhar predador? — Alicia indagou fitando Melanie. 

— Analisando minha caça. — Melanie falou e sorriu. — Está vendo aquela última mesa no final, bem no canto? — encaramos a mesa e meu J-e-s-u-s, eu estava tendo uma miragem. 

Um grupo de rapazes jogava e riam de algo que eles comentavam, até que um de cabelos lisos e compridos que chegava no ombro, olhou para o nosso lado e sorriu. 

— Realmente, um espetáculo da natureza. Mas hoje quero apenas me divertir. — Alicia falou. — Mas o que aquele filho da mãe está fazendo aqui? — disse irritada. 

— Quem?— em uníssono eu e Melanie perguntamos. 

— O idiota que quase me atropelou hoje. — bufou irritada. — As vezes eu odeio as coincidências do destino. 

— Cadê ele? — perguntei. 

— O que chegou acompanhado da garota de cabelos vermelhos. — era o Ian. 

Sorrir nervosamente diante da situação, Ian é tão prudente no volante que imaginar ele sendo irresponsável é de se espantar. Observei novamente o grupo que era composto por homens incrivelmente lindos, e a mulher não ficava para trás. Uma beldade divina que se destacava de forma singular. 

Ian possuía cabelos castanhos escuros e um rosto triangular. 

— Ah, ele é Bonito. — falei depois de analisar. 

— Ele não é Bonito. Nem chega aos pés do meu Chris Evans. — Alicia falou fuzilado Ian. 

— Você não devia fazer essa comparação. — Melanie respondeu. — Bob, é a minha vez! 

Enquanto Melanie jogava com os seus amigos, eu arrastei Alicia até o balcão de bebidas a fim de tirar Ian do seu campo de visão. 

— O que as princesas vão querer? — Matteo falou. 

— Se a bebida for grátis quero um copo de chope. — Matteo riu com a audácia da Alicia. 

— Loira, tu vai me falir. Sempre começa com um copo, depois você começa a contar os tristes dramas da sua vida e no final acabo não cobrando a bebida. — Eu estava embasbacada com o que ouvir. 

— Ah, você não me dá trabalho. Então vai ouvir o quanto o meu trabalho na biblioteca dos estudantes é triste e desanimador. — fez uma expressão triste — A vida não tem brilho lá... falta bebidas. 

— Loira, você é inacreditável. Me manipulando para ter bebidas grátis, e no fim só queria um emprego? — disse aos risos. 

— Eu sei, e você não acreditou quando eu disse em um dos meus tristes dramas que sou persuasiva. 

—  É, devia ter dado atenção a essa parte. Você terá emprego até terminar a sua faculdade. De acordo?— Alicia sorriu satisfeita. 

— Mas a bebida hoje é grátis, né? 

— Alicia! – a repreendi. 

— É loira. Pra você e para suas amigas. — Me olhou divertido. 

 — obaaa...! — comemorou batendo palmas. 

Enquanto a bebida não chegava, decidi olhar o movimento. A banda estava tocando, o que tornava o ambiente agitado, garotas e homens dançavam e jogavam. Mas quando eu olhei para a entrada, um grupo de pessoas adentraram o bar e eu pude reconhecer entre eles, Dominic e Kenzie. 

O grupo se dirigiu para a mesa que eu e as meninas tínhamos observado quando chegamos. Dominic tinha as mãos nos bolsos da jaqueta escura de couro, vestia uma calça preta e usava uma bandana vermelha na cabeça. 
Me virei novamente para Alicia que balançava o corpo no ritmo da música. 

— Dominic está aqui.— falei tendo a sua atenção. 

— Aqui? Aqui? — perguntou em descrença. 

— Na mesma mesa em que o cara que quase te atropelou está. 

— Aqui está a suas bebidas.— Matteo se aproximou e com a ajuda de outra garota depositou as três bebidas no balcão. 

— Obrigado. — agradeci. 

— Porque não vai lá dizer um oi. — perguntou. — É seu namorado. 

Olhei para o grupo e analisei o clima da mesa. Havia uma afinidade sincera entre eles, apesar de serem tão diferentes um do outro era possível notar — se olhar atentamente — que eles agiam como uma família. 

— Não preciso ir. Vai acontecer o que tem de acontecer. 

Ela deu de ombros e disse:

— Vamos aguardar. 

Peguei a minha bebida e a da Melanie e comecei a andar, mas paro assim que vejo Alicia soltar um palavrão. Quando olhei vi que ela tinha tombado com o Ian. Aos pouquinhos vou me afastando ao ver que a mesma estava concentrada em batizá-lo em linguagens que desconheço. 

— Cadê a Alicia? — entreguei a bebida de Melanie e bebi um pouco da minha. 

— Você acredita que ela esbarrou com o cara que quase atropelou ela? Agora ela está xingando ele por que a bebida dela foi parar no chão.— rimos.  

— E você deixou ela sozinha? 
Fiz uma cara de culpada e voltei a tomar a minha bebida. 

— A baixinha é capaz de bater em quem tentar separar ela. — falei. 

— Meu Deus kristal, vocês duas realmente se completam. 

Eu rir sabendo que ela estava certa. 
Depositei a minha bebida na mesa ao lado e fui atrás da minha Barbie. Alicia estava no balcão e a cara de irritada era plausível, a forma que encarava a banda como se tivesse transferido a sua raiva para algum membro da banda me fez rir. 

— Ei, Barbie. Vamos voltar pra mesa. Eu quero jogar uma partida com você.— a chamei. 

— Agora estou com zero interesse em sair daqui. Aquele idiota trombou em mim e fez eu perder a minha bebida. Ele deve ter algum problema de coordenação motora, porque não é possível que não saiba olhar por onde anda. 

— Ali, esquece ele. Aceita a outra bebida que está ao seu lado, e vamos jogar. — falei terna. 

Eu tentava acalmar a situação.  

— Não vamos perder a noite por causa de um acontecimento insignificante, ok? — Alicia deu por vencida, respirou fundo e andamos em direção a mesa em que estávamos. 

— Quem vai agora?— Bob o motoqueiro barbudo perguntou. 
— Eu vou! — falei. — E a loira também. 

A banda começou a tocar smells like teen spirit. Eu olhei para o grupo de Dominic que estava entretido e observei kenzie que agora possuía seus cabelos loiros curtos no pescoço. Naquele evento eu senti que havia algo oculto entre ambos, o modo como ela se expressou deixou claro. Mas olhando agora a maneira que ela o olhava com amor, me fez pensar em uma coisa: Dominic não era quem dizia ser.

Ao chegar nessa conclusão senti meu corpo se arrepiar com a probabilidade dele estar mentindo para mim, dele não estar sendo verdadeiro. 

Havia duas coisas que abominava: mentiras e traição!

— Kris, é a sua vez. — escuto a voz de Alicia e volto a dar atenção a minhas amigas. 

Alicia não sabia mas eu era uma expert no bilhar.

2529 palavras...

Segue capítulo abaixo...

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