Capítulo 2
Um pouquinho mais?
Bora ler?📚
Lucca
Entrei, novamente, no carro e abandonei a maluca petulante e mal-educada em frente à delegacia. Se não fosse por eu estar com tantos problemas, teria dito a ela todas as verdades que merecia ouvir e a colocaria em seu devido lugar. Quem ela pensava que era? Aliás, com quem ela pensava que estava falando? Com algumas das suas crianças? Pior, com algum dos seus namoradinhos?
— Inferno! — explodi, socando o painel, irritado.
— Algum problema? — Archie perguntou, depois de assistir à minha explosão. — Esqueceu alguma coisa?
— Sim — respondi, furioso —, de dar uma boa lição naquela garota insolente e sem noção.
— Lição de que tipo? — Olhando-me de soslaio, lançou-me um sorriso cínico. — Eu também gostaria de dar a ela algumas lições, tipo, a melhor forma de usar aquela bunda maravilhosa. Só de imaginar, eu já fico duro. Reparou?
— Não, não raparei, seu idiota — rosnei irritado. — Eu estava, o tempo todo, tentando fazê-la se calar. Não me diga que ficou interessado naquela garota seca?
— Cara, você está cego ou louco? — ele continuou rindo. — Quando a vi sair da escola, pensei que o motivo da tardança tivesse sido suas curvas enlouquecedoras.
— Pensou errado — rebati, ainda com mais raiva. — Demorei porque ela tem alguns parafusos a menos. Completamente doida. Assim que Pietro se recuperar, vou abrir seus olhos sobre essa escola. Não é possível que mantenham professores, com claros sinais de transtornos mentais, cuidando de crianças.
— Como eu disse... — Ele ia mesmo continuar discutindo comigo sobre as maluquices da garota? — Ela me pareceu bem...
Ele não pôde continuar, pois uma buzina, aguda como agulhas de gelo, perfuraram nossos tímpanos, e fez com que meus piores temores se tornassem realidade.
— Mamiiii — começou. — Mamiiiiii, aiiii, mamipapiiiii, aiiii, queo a mia mamipapiiiii — prosseguiu e, a cada grito, o tom subia mais e mais.
— E agora? — Encarou-me Archie, tão aterrorizado quanto eu — O que faremos?
— Pare o carro — exigi, apressado, tentando colocar um tom calmo e profissional em minha voz — Não se preocupe, eu sei como acalmá-la.
Assim que ele parou o veículo no acostamento e eu desci, rapidamente, a soltei da cadeirinha e tentei fazer o mesmo que eu tinha visto a garota fazer. No entanto, quanto mais eu cantava, sacudia, dava palmadinhas nas costinhas, mais ela gritava, esperneava, berrava, chegando ao ponto de Archie, mesmo aterrorizado, implorar para tomar meu lugar, coisa que cedi com gosto, pois meu estoque de ideias já havia se esgotado.
— Tente o suco. — Entreguei a ele uma das caixinhas que eu tinha colocado dentro da mochila infantil. — A garota disse que isso ajudava.
— Maldição! — Archie praguejou, quando ela deu um tapa na caixinha, fazendo-a voar longe — Por que você só se refere a ela como "a garota"? Chame-a pelo nome e, por falar nisso, pergunte a ela como se resolve isso.
— Primeiro, eu não sei o nome dela — respondi, voltando a procurar algo interessante entre a variedade de petiscos — Em segundo lugar, eu não tenho seu número.
— Porra, homem! — ele conseguiu berrar, ainda mais alto que a menina, mas ela não ia deixar barato e, um segundo depois, seus berros chegaram ao ponto do indescritível. E eu imaginei que, se houvesse, copos, janelas e qualquer tipo de vidro ou cristal ao seu alcance, com certeza, estariam estilhaçados. — Você deveria ter pedido, agora, não temos noção do que fazer para que se cale.
— Ligue para Gisela. — Tentei tomá-la de volta dos seus braços, mas ela se sacudiu, histérica, e quase foi ao chão. — Rápido, ela deverá saber o que fazer.
Archie apenas apontou o bolso, pois não iria conseguir fazer o que eu havia pedido. Desisti, tomei o meu aparelho e fiz a ligação. Tive que tentar várias vezes, até desistir e ligar para o telefone fixo, pois ela não atendia.
— Alô? — fui atendido por uma voz masculina, grossa e sonolenta. — Quem fala?
— Ginnard, chefe da Gisela — respondi, ainda mais irritado do que já estava. Eu tinha me afastado para tentar conversar, porém, os gritos ainda me alcançavam, altos e ensurdecedores. — Preciso falar com Gisela, passe para ela, é urgente.
— A essa hora? — reclamou.
— Se não fosse urgente, não seria a essa hora — rosnei. — Coloque ela na linha ou avise-a que amanhã estará na rua, seu idiota.
— Como ousa... — ele começou, mas não pôde prosseguir, sua voz desapareceu e, em seguida, Gisela apareceu na linha.
— Senhor Ginnard? — o bocal foi coberto, mas logo ela voltou — Peço desculpas, pode me dizer o que aconteceu?
— Temos um problema. — Eu não tinha tempo a perder, discutindo a má educação dos homens com quem ela dormia. — Estou com minha sobrinha e ela não para de chorar. Chorar não, berrar. O que se faz nesses casos?
— Coitadinha — sua voz soou toda fofa —, ela deve estar sentindo falta da mãe.
— Gisela!? — berrei, impaciente. — Isso eu já sei, o que eu preciso saber é como fazer para que se cale.
— Não sei o que dizer, senhor — senti a total desolação na sua voz. — Eu não tenho filhos, mas imagino que tenha um brinquedo ou algum petisco que ela goste.
— Já tentamos tudo isso — respondi, nervoso. Archie tinha se aproximado e o que parecia impossível, tinha acontecido, os gritos estavam ainda mais altos do que antes. — Alguma nova ideia?
— Ela está assustada — disse, com pesar. — Tente cantar, ninar, essas são minhas únicas ideias neste momento.
Sem sua ajuda, desliguei e tentei ligar para minha mãe, ela era mulher, tinha que saber como acalmar crianças assustadas e nervosas, porém, sua única resposta foi que ela tinha experiência com babás e, não, com bebês. Bem, aquilo não era novidade, como socialite, ela não tinha tempo para cuidar dos filhos, sua única ocupação era repartir ordens e fazer que se cumprissem. Nesse caso, eu era muito parecido com ela, eu também sabia dar ordens e fazer com que fossem cumpridas. Mas como fazer isso com uma criança?
— Temos que voltar — eu disse a Archie, quando vi que não podíamos continuar ali, parados no meio do nada, com uma criança aos berros. — Vamos ver se conseguimos encontrar a garota.
— Como? Se não sabemos sequer seu nome. — Mesmo duvidando se conseguiríamos, Archie se apressou em me entregar a garotinha birrenta e correr para o volante.
— Vamos até à polícia — respondi, enquanto era estapeado, chutado, arranhado. — Eu não ouvi, mas, com certeza, eles sabem, já que tomaram nota de tudo.
Enquanto ele manobrava para voltar, os gritos de mamiiii, papiiiii tinham se elevado a decibéis que eu acreditava não existir em nenhuma medição. E, logo depois, ela agregou um novo nome, ecaaa.
— Eca? — perguntou Archie, duvidando da sua audição. — É isso mesmo? Ela está com nojo de nós?
— Não sei, não me pergunte — respondi, quase enlouquecido. — Eu já não estou conseguindo pensar, meu cérebro está em pane.
— Nunca ouvi uma criança berrar tanto — ele falou, tomando o caminho de volta para a cidade
— Vá mais rápido — implorei quando vi que, dentro do veículo fechado, o eco fazia o som se multiplicar por mil, dando a impressão de que estávamos entre centenas de crianças berrando ao mesmo tempo. — Ou acabaremos ficando loucos.
— Parece que você já está ficando — ele respondeu e, para meu desespero, continuou dirigindo dentro do limite de velocidade. — Porque não está percebendo que, se formos parados, até conseguirmos explicar que não a estamos raptando, já estaremos todos no hospício.
Mesmo a contragosto, eu tive que aceitar, pois ele tinha razão. Com o volume dos berros a níveis estratosféricos e sem outra opção que impedisse que ficássemos surdos, abri a janela e, dessa forma, como se estivéssemos com uma sirene ligada, percorremos as ruas da cidade, de volta à delegacia, na esperança de que eles tivessem o nome, telefone ou qualquer coisa que pudesse nos ajudar a encontrar a garota que, por mais maluca que fosse, era a única, naquele momento, capaz de desligá-la.
❤️
Gente, eu to com pena do Lucca.
Só que não.
hahahah.
E vocês?
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