Capítulo 30
"Os segredos são como facas: podem nos proteger ou nos ferir, dependendo de como os manejamos."
— Sara Shepard
Pov Cassie
Pego Ariel nos braços e saímos rapidamente para casa. Meu coração está acelerado, e minhas mãos tremem enquanto fecho a porta do carro. Coloco Ariel na sua cadeirinha com cuidado, e ela olha para mim com curiosidade, mas sem questionar. Eu respiro fundo e dirijo até a casa do Gail.
Entro em casa e vou direto falar com ele.
— Gail, preciso ir embora — minha voz sai urgente, quase um sussurro.
Do outro lado, ele parece alarmado.
— O que aconteceu?
— Harry viu a Elli.
Gail solta um longo suspiro. Ele fica em silêncio por alguns segundos antes de responder.
— Cassie, você não pode fugir para sempre. Muito menos esconder isso. Ele tem que saber.
— Não posso correr o risco de eles tirarem minha filha de mim! — Minhas mãos estão suadas, e a tensão no meu corpo é quase insuportável.
— Eles não podem fazer isso.
— Sim, podem. Errei muito em esconder do Harry que ele é pai da Ariel. Mas eu sabia que, se eu falasse, eles iriam tirá-la de mim! — Minha voz falha, e sinto as lágrimas ameaçarem cair. — A mãe dele deixou bem claro que não era para eu me aproximar do filho dela, ou ela faria eu voltar para a cadeia.
Gail parece perplexo.
— Ela não tinha motivos para isso, Cassie. Você não fez nada de errado.
Eu rio sem humor, passando as mãos pelos cabelos enquanto ando pela sala.
— Mas em quem iriam acreditar? Numa mulher rica, bem-sucedida que perdeu o filho, ou numa ex-presidiária que não tinha nada na vida?
Gail demora um instante para responder, mas quando o faz, sua voz está carregada de tristeza.
— Você tem razão. Eu sinto muito, querida.
Quando Gail se aproxima, caio em seus braços. Lágrimas que guardei por tanto tempo começam a cair descontroladamente.
— Eu tive que ser forte por muito tempo, Gail. Pela minha filha. Mas não aguento mais... Não aguento viver assim, me escondendo de tudo, com medo o tempo todo.
Ele me abraça com força, murmurando palavras de consolo enquanto acaricia meus cabelos. Feito ao lado da minha bebê e adormeci, depois de chorar por horas.
No dia seguinte, acordo com um abraço apertado de Ariel.
— Bom dia, mamãe! — Sua vozinha animada é como um raio de luz entrando na minha vida.
— Bom dia, meu amor — retribuo o abraço, segurando-a com mais força do que o normal.
— Mamãe, tá me sufocando! — ela reclama, tentando se soltar, mas eu a aperto ainda mais e começo a rir.
Olho para ela e sinto o coração inchar de amor. Nunca pensei que poderia amar alguém assim. Ela é tudo para mim.
Depois que Ariel vai brincar no quintal com Gail, fico sentada no sofá, perdida em pensamentos. Lembro-me de como descobri que estava grávida, logo depois de chegar a Boston. Tudo parecia tão sombrio naquela época...
Eu havia ido para Boston atrás do meu pai, cheia de esperança de que ele pudesse me ajudar. Mas ele me rejeitou da forma mais cruel possível, dizendo que não queria uma assassina perto de sua família. Suas palavras ecoam na minha mente até hoje.
Sem forças para continuar, entrei em uma farmácia e comprei comprimidos. Fui a um barzinho, tomei vários drinks e os engoli. Mas, no fim, meu corpo não aguentou. Vomitei tudo e acabei desmaiando no banheiro. Quando acordei, estava em um hospital, e um médico me disse que eu estava grávida. E foi onde decidir continuar, não por mim, mas por ela, pela minha filha.
Ariel salvou a minha vida.
Vejo Gail se aproximar, segurando ela pela mão.
— É bom ver minhas meninas em casa. Já decidi, não deixo mais irem embora — ele diz com um sorriso caloroso.
— Vovó ficou biruta, mamãe! — Ariel responde com sua risadinha contagiante.
Não consigo evitar uma gargalhada. Aproximo-me de Gail e beijo seu rosto.
— Prometo vir mais vezes, Gail. Mas, por enquanto, aproveite sua netinha, porque tenho muito trabalho para fazer.
Gail me lança um olhar compreensivo enquanto Ariel já corre para brincar novamente.
— Até mais tarde, meu amor. Divirta-se! — digo para ela com um sorriso, pronta para enfrentar mais um dia, mas agora com a determinação de proteger minha filha e a mim mesma.
O sol mal tinha surgido quando entrei no carro. O dia seria longo, e a lista de compromissos não dava espaço para pausas. Enquanto dirigia para o primeiro cliente, revisei mentalmente os pontos principais da apresentação. Era uma negociação importante, e cada detalhe contava.
O trânsito, como sempre, parecia um reflexo da minha mente, confuso e apressado. Assim que estacionei em frente ao prédio comercial, respirei fundo e me preparei.
A sala de reuniões tinha aquela típica frieza corporativa, mas os dois homens à minha frente não pareciam tão impenetráveis quanto o ambiente.
— Então, Cassie, o que nos garante que sua proposta vai atender nossas demandas no prazo? — perguntou o mais velho, inclinando-se na cadeira.
Sorri, segura.
— Meu histórico, senhor Grant. E a transparência que minha equipe mantém em todas as etapas do projeto. Estamos prontos para personalizar cada detalhe conforme necessário.
A conversa fluiu melhor do que eu esperava, e, ao final, saí com um aperto de mãos firme e uma promessa de encaminhar o contrato até o final da semana.
O segundo cliente era mais informal. Um restaurante de alta gastronomia em expansão. O chef, um homem carismático de sorriso fácil, me recebeu com um café delicioso e um bloco de anotações cheio de ideias.
— Queremos algo que seja prático, mas que tenha a nossa cara, sabe? — disse ele, gesticulando enquanto explicava o conceito do novo menu interativo.
— Entendi. Vamos focar na funcionalidade sem perder a essência visual. Vou enviar os primeiros esboços em dois dias.
— Perfeito, senhorita Morgan. Sabia que você era a pessoa certa!
Conversa encerrada, outro cliente satisfeito.
A manhã passou voando, e os compromissos da tarde seguiram no mesmo ritmo. Por volta das três, parei para almoçar rapidamente antes de me dirigir ao último encontro do dia, uma academia de dança. Eu não conhecia ainda, era nova na cidade, acabou de ser inaugurada e os donos estão procurando uma agencia para cuidar do marketing.
O local exalava elegância. Grandes janelas deixavam a luz natural entrar, iluminando o espaço impecavelmente organizado. As paredes estavam decoradas com fotos de apresentações e prêmios antigos.
De longe vejo uma mulher elegante vindo ao meu encontro. Emma veio me receber pessoalmente e quase não acreditei quando a vi. Ela parecia calma, mas com um semblante surpresa igual o meu.
— Cassie, o que faz aqui — disse, com um sorriso cordial.
— Eu estou a trabalho, vim apresentar uma proposta para para empresa.
— Que coincidência, esse é a minha nova academia. — engulo seco o que ela diz, não que eu não queira trabalhar com ela, mas prefiro manter distancia de todos que tenham algum vinculo ao Harry.
Ela me guiou até sua sala, onde a conversa seria mais reservada.
— Estamos planejando um evento especial no final do ano — começou ela. — Algo que celebre o talento das nossas alunas e também angariar fundos para doações para instituições de caridade. Quero que você nos ajude com a divulgação e o planejamento visual.
— Isso soa incrível. Tem algo em mente?
Emma puxou um caderno e me mostrou um rascunho. Era simples, mas com potencial.
— Pensei em algo clássico, mas com um toque moderno. Quero destacar nossas raízes, mas atrair novos olhares.
Enquanto ela falava, minha mente já trabalhava nos detalhes, o design dos convites, a paleta de cores para os materiais promocionais, até a iluminação do palco.
— Vamos transformar isso em algo inesquecível, Emma. Deixe comigo.
Ao final, ela me levou para assistir a uma aula rápida no estúdio principal. As alunas, concentradas e graciosas, enchiam o espaço com uma energia quase mágica.
Saí da academia com o som do piano ecoando nos meus ouvidos e uma sensação de missão cumprida. Mesmo depois de um dia exaustivo, a paixão de Emma por seu trabalho era contagiante. E isso, mais do que qualquer negócio, me inspirava a fazer o meu melhor.
— Cassie... — ela me chama antes de me perder de vista — eu soube que você tem uma bebê, adoraria conhecer, vá jantar lá em casa hoje, estou morrendo de saudades. — ela me ver relutante — não aceito um não, como resposta. — assinto, acho que não tenho muita escolha, mas vai ficar tudo bem, é só um jantar.
Termino tudo que tenho para fazer e vou buscar minha filha para irmos para casa da Emma. Assim que chegamos somos recebidas pela pequena Alice, que hoje já não é tão pequena assim. Ela é um pouco maior que a Ariel, tem lindos cabelos castanhos e ela tá usando uma tiara rosa brilhante. Seus olhos verdes logo encontram Ariel e ela abre um sorriso lindo.
— Oi, a mamãe ta na cozinha, pode entrar — ela da passagem e assim que entro sinto uma nostalgia, lembranças de todos os momentos que passei, sinto um aperto no coração lembrando de um dos momentos mais felizes da minha vida.
— Olá, sejam bem vindas - Emma nos recebe e vai direto em direção a Ariel, ela fica alternando o olhar entre minha filha e eu — tem uma sala de jogos enorme no final do corredor, não quer ir brincar com a Ali? — Emma diz a Ariel e como ela não nega uma brincadeira vai correndo - quantos anos ela tem?
— Três aninhos — respondo enquanto caminhamos para cozinha.
— Quantos meses exatamente? - fico sem entender sua pergunta.
— E isso importa?
— A sorte é que ela é ruiva e acaba apagando um pouco a semelhança com Harry.
— Sim... — respondo sem pensar e só então percebo a burrada que fiz. — Eu tenho que ir embora, tenho uma reunião em pouco tempo — levanto, mas é a Emma, e você não consegue fugir dela.
— Cassie, você não fez isso — eu não acredito que cometi o erro de ter voltado.
— Do que você tá falando? — fico apavorada.
— Ela pode ser ruiva, mas é a cópia identidade do meu primo. Eu não sou burra. A Ariel é filha do Harry.
O olhar de Emma é afiado, determinado, como se estivesse juntando as peças de um quebra-cabeça que, até agora, eu havia escondido de todos — e de mim mesma. Meu coração dispara, e o pânico cresce no fundo do meu peito. Não posso deixar isso sair do controle. Não agora.
— Emma... — começo, tentando soar firme, mas minha voz treme. — Você não sabe do que está falando.
— Não sei? — ela cruza os braços, os olhos verdes cravados nos meus. — Cassie, você sumiu há três anos, e agora aparece do nada, com uma filha que, curiosamente, tem os mesmos traços do Harry? Não sou cega, nem estúpida.
Suspiro, sentindo meu corpo fraquejar. Ariel está logo ali, brincando inocentemente, sem ideia do turbilhão que se passa. Não posso deixar que essa conversa chegue até ela.
— Olha, isso não é da sua conta. — Minha voz sai mais cortante do que eu pretendia. — Eu tomei as decisões que achei necessárias para proteger minha filha, e não devo explicações a ninguém.
Emma solta um riso incrédulo, sacudindo a cabeça.
— Não me venha com essa, Cassie. É o Harry, ele merece saber.
Sinto um nó na garganta, mas mantenho a postura.
— Foi o melhor para todo mundo — digo, mesmo sabendo o quanto isso soa vazio.
— E você decidiu isso sozinha? — Emma retruca, a voz carregada de incredulidade. — Cassie, ele merecia saber. Merecia escolher. Você privou os dois de algo que poderia ser lindo.
— Chega, Emma! — digo, tentando encerrar a conversa. — Não é tão simples assim. Você não entende. Ela dá um passo em minha direção, mais calma, mas seus olhos ainda estão firmes.
— Não, Cassie. Eu não entendo, porque você nunca me explicou.
Antes que eu possa responder, Ariel volta correndo pela sala, segurando um brinquedo. Ela sorri, alheia ao peso que paira no ar.
— Não conta pra ele, por favor.
— Eu não vou, você vai — Ela sabe meu maior segredo, e agora o tempo parece correr contra mim. Saio da sala com Ariel, tentando não pensar no que virá a seguir. Mas uma coisa é certa, o segredo que mantive por tanto tempo está prestes a ser revelado, e eu não sei se estou pronta para enfrentar as consequências.
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