Capítulo 28
"Ele olhou para ela como todas as garotas querem ser olhadas."
F. Scott Fitzgerald.
Pov Harry
Há três anos, a mulher que amo saiu da minha vida sem sequer me dar uma explicação.
Passamos semanas ensaiando, dia e noite, para aquele torneio. Cada passo, cada melodia, cada respiração estivesse perfeitamente sincronizada. Mas, no dia da apresentação, ela me deixou sozinho.
Mesmo depois de receber aquela carta fria e impessoal, ainda fui ao estádio. Uma parte de mim tinha esperança. Achei que ela talvez só estivesse arrependida pelo que aconteceu entre nós. Mas foi apenas na terceira chamada que a realidade me atingiu, ela não viria.
O desespero me consumiu. Mil cenários aterrorizantes passavam pela minha cabeça. Por que ela abandonaria seu maior sonho — ganhar aquele concurso e juntar dinheiro para recomeçar a vida?
Corri até a casa dela, com o coração acelerado, buscando respostas. Gail estava lá, me esperando, com um olhar que dizia mais do que palavras. Ele contou que ela havia ido embora da cidade algumas horas atrás.
Fui para a rodoviária, mas já era tarde. O ônibus tinha partido. Sem pensar, comprei uma passagem de avião para Boston, o único lugar onde imaginei que ela pudesse estar. Passei quase uma semana vagando por ruas e lugares desconhecidos, minha mente dividida entre a esperança e o medo. E, então, finalmente a encontrei.
Lá estava ela, sentada em um restaurante elegante... com outro homem. Ele ria enquanto tocava suavemente a mão dela, e ela parecia confortável, como se todo o nosso passado fosse apenas uma sombra distante. Naquele momento, tudo ficou claro, Emma estava certa. Cassie iria embora com outro.
Voltei para Londres carregando o peso de uma desilusão que parecia insuportável. Prometi a mim mesmo que nunca mais a procuraria.
Mas agora, ela está na minha frente.
O tempo parece parar quando nossas mãos se tocam, como se os anos de separação não tivessem existido. O mundo ao redor se dissolve, e, por um instante, somos só nós dois.
Cassie Morgan, a única mulher que amei na vida, está diante de mim. Enquanto devolvo o livro à prateleira, analiso cada detalhe dela. Seus cabelos, agora longos e bem cuidados, brilham sob a luz da livraria. As roupas, antes camisetas de bandas rasgadas, foram substituídas por peças de marca que refletem elegância e sucesso. Ela não é mais a garota que Maya pulou nos braços no parque há anos. Agora, Cassie é uma mulher refinada, ao menos na aparência.
— Harry... — sua voz suave interrompe meus pensamentos, carregada com uma mistura de hesitação e um sorriso contido.
Eu deveria sair. Não tenho nada para dizer a ela. Depois do que fez, não merece ser ouvida. Sem uma palavra, me viro e saio da livraria.
Mas a raiva pulsa dentro de mim como uma tempestade. Quem ela pensa que é para aparecer assim, como se nada tivesse acontecido?
Eu fiz tudo por ela. Entreguei meu coração, confiei nela. Ela dizia que me amava, e, ainda assim, me deixou. Abandonou nossos sonhos. Deixou-me sozinho.
Vou direto para a academia de dança da Emma. Preciso desabafar antes que a raiva me consuma.
— Ela voltou — começo a falar assim que entro. — Você acredita que teve a audácia de falar comigo, como se nada tivesse acontecido?
O marido de Emma, sentado no escritório, levanta-se discretamente. — Vou tomar um café e deixar vocês conversarem. — Ele nos deixa a sós.
— Quem voltou? — pergunta Emma, visivelmente confusa.
— Cassie — digo, quase cuspindo o nome. — A encontrei na livraria. Ela acha que pode aparecer do nada, como se eu fosse esquecer tudo.
— O que aconteceu?
— Nada. Esbarrei nela e fui embora. Não quero falar com ela. Quero distância.
Emma me observa em silêncio por alguns segundos. — Então por que está tão abalado? — Sua voz é calma, mas incisiva.
— Eu não estou abalado. Não pensava mais nela até hoje — minto, mas a expressão dela diz que não acreditou.
— Não minta para mim, Harry. Você nunca a esqueceu. Eu me lembro de como você a procurou desesperadamente, por semanas.
Fecho os olhos, tentando afastar as lembranças. — Eu a encontrei, Emma. Ela estava com outro homem. Em um restaurante chique. Cassie sabia que não tínhamos chance de ganhar o concurso, então foi embora com ele.
— Não fale assim — ela retruca, indignada. — Você não sabe o que aconteceu. Talvez devesse conversar com ela, descobrir a verdade.
— Não quero conversar com ela, prima. Ela nos usou. Ensaiamos por meses e, quando não precisou mais, nos descartou. Deixou só um bilhete. Não teve sequer a decência de se despedir.
A raiva cresce dentro de mim como um incêndio descontrolado. Dou um soco na mesa dela.
Emma, sem se abalar, sugere: — A sala de boxe está ao lado. Que tal? — Aceito o convite, descontando minha frustração nos equipamentos até sentir os músculos queimarem. Depois de alguns minutos, Emma pergunta — Está mais calmo ou ainda quer matar alguém?
Reviro os olhos. — Vou para casa. Preciso de um banho e de uma noite fora. Beber, dançar, talvez ficar com alguém.
— Ficar com outras não vai preencher o vazio — ela diz.
— Não quero preencher. Quero lembrar dela. Assim não cometo o mesmo erro de me apaixonar novamente.
Emma suspira, mas seu tom é gentil. — Amar é bom, Harry. Ser amado é ainda melhor. Só precisa encontrar a pessoa certa.
— Isso é impossível. O amor não é para todos.
— Não diga isso. O amor é para quem se permite. E você, no fundo, ainda ama Cassie. É por isso que está tão ferido.
As palavras dela ecoam na minha mente. Mas o que posso fazer? Cassie escolheu partir. E, por mais que ainda haja algo entre nós, não consigo perdoá-la. Não dessa vez.
Pov Cassie
Ariel e eu caminhamos pelo parque. A grama verde e o som das crianças brincando ao redor trazem uma calma que eu não sentia há muito tempo. Ariel está animada, pulando e girando como se o mundo inteiro fosse um palco para sua felicidade.
— Mamãe, olha! Vou rodopiar igual a uma bailarina! — diz, girando desajeitada, mas com um sorriso que aquece meu coração.
— Está ficando muito boa, meu amor! — respondo, rindo enquanto a observo.
Encontro um banco sombreado por uma árvore e me sento, deixando-a correr livremente pela grama. Este momento de leveza é tudo o que eu precisava. Depois dos últimos dias, a energia de Ariel é um lembrete claro do que realmente importa.
Perdida nos meus pensamentos, sinto algo peludo bater contra minhas pernas. Antes que eu possa reagir, um cachorro salta em mim, pousando as patas sobre minha roupa e tentando lamber meu rosto com entusiasmo.
— Ei, calma! — digo, rindo da surpresa.
— Maya! — uma voz masculina chama à distância.
Meu riso congela. Essa voz. Inconfundível, mesmo depois de tanto tempo. Ergo o olhar, e meu coração dispara. É ele. Harry.
Ele está ali, correndo em minha direção para pegar o cachorro, mas quando nossos olhares se cruzam, ele para bruscamente. O mundo ao nosso redor parece desaparecer. Aquele olhar intenso, tão familiar, me prende no lugar.
— Cassie... — diz ele, a voz carregada de surpresa e algo mais que não consigo decifrar.
— Harry... — respondo, sentindo meu coração pulsar tão forte que temo que ele escute.
Antes que qualquer palavra saia de mim, Ariel corre em nossa direção, atraída pela energia de Maya.
— Um cachorro! Mamãe, olha o cachorro! — ela grita, agachando-se para acariciar Maya, que balança o rabo freneticamente, feliz com a atenção.
A palavra "mamãe" ecoa como um trovão. Harry desvia o olhar de mim para Ariel, e vejo em seus olhos a confusão e a avalanche de perguntas que surgem em sua mente.
— Mamãe? — ele repete, a voz quase inaudível.
Ariel olha para ele com curiosidade infantil, sorrindo, antes de voltar sua atenção à cachorrinha.
— Oi! Eu sou Ariel. Ela é sua cachorrinha? — pergunta, tentando fazer Maya sentar com uma carícia firme.
Harry demora a responder. Ele parece incapaz de desviar os olhos de Ariel.
Flashbacks invadem minha mente, levando-me à noite que mudou tudo.
"Vamos ter muitas princesas e príncipes quando nos casarmos", ele disse, com um sorriso sonhador. "E nossa primeira menininha vai se chamar Ariel. Ela será ruivinha como você, a mais perfeita de todas."
"Ariel. Eu amo esse nome."
"Eu sei."
De volta ao presente, a voz de Harry interrompe a lembrança.
— Sim, ela é minha cachorrinha. — Ele finalmente responde, com uma suavidade que mal consegue conter a emoção.
— Ela é muito fofa! Posso brincar com ela, mamãe? — Ariel pede, já alheia à tensão entre nós.
— Claro, meu amor — respondo, forçando um sorriso enquanto tento manter a calma.
Harry não tira os olhos de mim, sua expressão cheia de emoções conflitantes.
— Ela... ela é... — Ele não termina a frase, mas sei exatamente o que ele quer perguntar.
Ariel continua brincando com Maya, indiferente à tempestade que se forma entre nós. Harry dá um passo para trás, passando as mãos pelos cabelos, visivelmente abalado.
— Mamãe, posso levar a Maya para passear? — Ariel pergunta, inocente, com os olhos brilhando.
— Maya precisa ficar com o dono dela, querida — respondo suavemente, lançando um olhar breve a Harry.
— Você pode vir também, moço! — Ariel sugere, sorrindo para ele, sem saber que está jogando uma bomba entre nós dois.
Harry respira fundo e se ajoelha para falar com Ariel. Seu sorriso é pequeno, mas cheio de algo que parece partir meu coração.
— Quem sabe outro dia, princesa? Hoje Maya precisa descansar.
Ariel sorri, satisfeita, e volta a brincar com Maya. Harry se levanta, ainda me encarando.
— Cassie... — ele começa, mas o interrompo.
— Não aqui, Harry. Não agora.
Ele assente, mas é claro que há um milhão de palavras presas em sua garganta. Ele segura a guia de Maya, e Ariel acena para a cachorrinha, que late alegremente enquanto se afasta com Harry.
No instante em que ele desaparece de vista, o peso de tudo desaba sobre mim. Ariel ainda brinca, alheia à avalanche de emoções que sua presença desencadeou.
Imagine se ele souber. Se Harry descobrir que ela é sua filha, nunca me perdoará. E talvez... talvez ele a tire de mim.
— Mamãe, posso ter um cachorro como a Maya? — Ariel pergunta, puxando minha mão e me tirando do torpor.
Forço um sorriso, tentando esconder a angústia.
— Quem sabe um dia, meu amor.
Enquanto voltamos para casa, uma pergunta martela em minha mente, como vou lidar com isso agora? Harry sabe sobre Ariel, e não há como fugir disso.
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