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42_ Entrevista?

- Nooooosssa... que sorriso é esse? - Júlia chamou minha atenção com seu deboche.

- Han? - Voltei a mim e a encarei.

- Esse sorriso. - Ela apontou para mim. - Nunca te vi falando assim do Luke.

- Como não? Eu sempre deixei claro o quanto ele foi e é especial para mim. - Dei de ombros voltando a olhar para a televisão.

- É, mas esse sorriso foi diferente. - Júlia deu seu sorriso convencido.

- Você não está me ajudando a esquecer esse assunto. - Ri dela cruzando meus braços.

- Ué, você que voltou ao assunto com esse papo de quem disse que me ama. - Ela debochou de novo e eu acabei pegando uma das almofadas que estavam ao meu lado e bati no rosto dela. - Ai sua galinha! - Júlia me empurrou para o lado e eu soltei uma gargalhada.

Eu ia falar algo sobre o fato de ter recebido um eu te amo, mas o cheiro de queimado tirou minha atenção.

- Ô Júlia... - Ela me olhou. - Você sabe que quando se coloca algo no fogo, nós precisamos vigiar, certo? - Júlia me encarou confusa a princípio, mas rapidamente sua expressão confusa deu lugar ao desespero. Ela pulou do sofá num impulso e correu na direção da cozinha.

- MEU DEUS! - Júlia gritou da cozinha e eu fui atrás dela. - Er... Anne? Você gosta de pipoca sabor carvão?

Naquela noite nós duas gargalhamos como crianças.

[...]

- Jingle bell, jingle bell, jingle bell rock... - Acordei ao som de Júlia com músicas natalinas. - ACORDA, ANNE! É VÉSPERA DE NATAL! - Ela sorria de orelha a orelha enquanto usava um gorro natalino.

- Júlia, é véspera, não é o Natal. - Ri passando as mãos no rosto.

- Lá no Brasil nós aproveitamos mais o dia 24 do que o dia 25. É no dia 24 que tem as comidas, que todos se arrumam para ficar no sofá da sala, que o tio faz a piada do pavê ou pra comer. - Seus olhos brilhavam enquanto ela falava. - Dia 25 é só ressaca.

- Sério? - Me sentei sobre a cama colocando as pernas para baixo.

- É, mas isso não importa. Levanta que temos um dia natalino pela frente. Hoje não tenho treino, então vou te ajudar aqui. - Ela abriu a porta do quarto. - Vem comer, Thor! - Júlia chamou e Thor pulou por cima do meu colo e correu na direção dela.

Muitas coisas ruins haviam acontecido e meus sentimentos estavam confusos e atrapalhados, mas isso não diminuía o quanto eu amava o natal.

Segui minha rotina normalmente naquela manhã e logo desci para abrir a livraria. Planejei fazer o mesmo que fiz ontem. Júlia me ajudou com os kits e as músicas natalinas como Santa tell me eram tocadas no ambiente.

Luke não havia vindo ainda, mas eu entendia já que naquele dia ele e o Steven costumavam ficar a manhã toda fazendo confeitos de natal.

- AH! - Júlia deu um grito de repente enquanto encarava uma das estantes.

- Que foi??

- EU AMO ESSE LIV... - Ela começou a falar puxando um dos livros da estante. - Ah não, pensei que era outro. - Júlia deu de ombros.

- Por que você grita do nada? - Ri terminado de passar um pano húmido em cima do balcão.

- Eu não reprimo minhas emoções e reações. - Ela sorriu convencida e eu voltei a olhar para o balcão. - AH! - Ela gritou de novo me fazendo dar um curto pulo para trás.

- O que foi agora??

- É o James Copner! - Júlia falou com a voz falhada e apontou para a porta.

- Quem? - Olhei na direção da porta e vi um homem de cabelos escuros acompanhado por mais dois homens e uma mulher de cabelos amarrados num coque.

- Como " Quem " ? - Ela me encarou. - É um dos melhores jornalistas daqui de Deadwood! Ele fez a reportagem sobre o Lago Lake e o Cassino Cadillac! - Continuei a encarando sem ter a menor ideia de quem ela estava falando. - Ele é o melhor jornalista da sua cidade, garota! Ele só faz matérias incríveis e sempre que ele visita algum lugar, praticamente a cidade inteira passa a ir nesse lugar! E ele está na sua porta!!

Meus olhos se arregalaram com sua declaração e eu observei enquanto o homem entrava junto dos homens que eram fotógrafos e a mulher que parecia anotar algo.

- Bom dia! - Ele deu um sorriso simpático e eu sai de trás do balcão para cumprimenta-lo.

- Bom dia! - Lhe retribui o sorriso.

- Meu nome é James Copner. Trabalho para o jornal impresso da cidade e hoje vim fazer uma matéria sobre uma de nossas mais belas pérolas em Deadwood: sua livraria. - Ele falou calmamente e eu senti meu peito se encher de alegria. - Oh, olá! Você também trabalha aqui? - Ele se virou para  Júlia e eu a olhei com uma expressão desacreditada.

- Oi! Não, eu só sou amiga dela. Eu nem ao menos moro em Deadwood. - Júlia respondeu. - Só ajudo.

- Ah sim. Desculpe-me por ter vindo de surpresa, mas eu precisava vir fazer essa matéria quanto antes. - O homem começou a analisar o lugar e eu e Júlia nos encaramos com grandes sorrisos. - Bem, podemos começar?

Aquela havia sido a primeira vez que eu participei de uma entrevista. Foi algo tão... especial. Eu pensei que ficaria nervosa, mas enquanto o repórter fazia perguntas sobre minha livraria, eu me senti completamente a-vontade de falar. Eu amava falar sobre meus pais e como amor deles criou aquele lugar. Foi realmente especial.

A mulher anotava tudo que eu falava, os fotógrafos fotografavam o local e as pessoas que passavam eram atraídas para dentro.

Notei que algumas das garotas que haviam vindo no dia anterior voltaram empolgadas com os brindes.

- Isso é tudo. - O homem sorriu ao finalizar as perguntas. - Muito obrigado pela atenção senhorita Wilson. Verá sua entrevista e a reportagem no jornal local.

- Eu que agradeço. - Me levantei junto deles e observei contente quantas pessoas estavam ali dentro. Algumas até formavam uma fila na frente do balcão para comprar com Júlia. - Er... perdoe minha curiosidade. - Chamei a atenção do reporter novamente. - Mas por que vieram fazer essa reportagem da minha livraria?

- Oh, perdoe-me senhorita, eu pensei que soubesse da pesquisa universitária. - Ele entregou algo para a mulher e me olhou com atenção.

- Que pesquisa?

- Houve uma pesquisa nas universidades de Deadwood em que os alunos precisavam fazer uma redação; um pequeno texto dissertativo sobre algum lugar em Deadwood que possuísse uma história que merecesse ser contada. A melhor seria selecionada e a empressa faria uma reportagem para o jornal local nesse lugar. A redação escolhida falava da sua livraria. - Ele respondeu.

- Oh... eu não sabia. Mas muito obrigada de toda forma. - Sorri para eles e os acompanhei até a porta.

Depois que eles saíram, eu observei as pessoas enchendo minha livraria e senti uma alegria imensa dentro de mim. Eu estava conseguindo manter aquele lugar.

Mas... quem dissertou sobre minha livraria em sua redação?

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Continua...

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