36_ Feliz natal.
Henry... Henry tinha uma das cartas em sua mochila. Carta que, possivelmente, seria deixada no meu balcão hoje, visto que ainda não havia encontrado nenhuma.
- Ruiva, seu gato fez uma bagunça imensa ali dent... - Henry parou de falar quando me viu segurando a carta. - Er... você achou. - Ele abaixou o olhar.
- Você vinha deixando as cartas com as doações para mim? - Perguntei segurando a carta e Henry olhou em meus olhos.
- É. - Ele assentiu lentamente. - Não era para você descobrir... - Ele deu um curto sorriso de canto.
- Por que? Digo... por que fez isso anonimamente?
- Você não aceitaria se eu desse em meu nome. - Henry coçou a cabeça. - Eu... eu disse que te ajudaria com o que eu pudesse. Esse dinheiro vem de uns quadros que eu tenho vendido.
- O que?? Henry, não. Eu não posso aceitar esse dinheiro. Isso é fruto do seu trabalho, não posso simplesmente aceitar e... - Henry me interrompeu.
- Anne? Se não fosse por você eu nem pintando estaria. - Ele deu uma risada. - Você quem tirou meu bloqueio criativo e é graças a você que vendi alguns quadros.
- Mas continua sendo fruto do SEU trabalho, Henry. Eu não posso aceitar.
- Ruiva? - Ele segurou meu rosto. - Você não tem escolha. Encare isso como uma doação generosa à sua livraria. Estou doando esse dinheiro para ajudar o local que me rendeu dias de estudos tranquilos e pesquisas. Se tem algo haver com a dona? Claro que não. - Ele falou de forma sarcástica. - Minhas doações não tem absolutamente nada haver com a bela ruiva dona do estabelecimento. - Ele sorriu para mim.
- Você não existe. - Dei um sorriso para ele. - Bem, vamos ver a bagunça que o Thor fez.
[...]
O dia se passou. O movimento foi quase zero e se eu vendi três livros naquele dia foi muito. Júlia ainda não havia voltado de seu treino e Henry já estava em sua faculdade.
Dei comida para Thor depois de fechar a livraria e encarei a rua enfeitada pela janela do meu quarto.
Eu me sentia mal. Me sentia incapaz e sozinha. Eu... Tudo que eu queria era que meus pais estivessem comigo. Eles eram tão sábios, com certeza saberiam bem o que fazer numa situação como essa.
Thor subiu na minha cama e se sentou ao meu lado.
- E se eu perder tudo isso, Thor? - Perguntei encarando a janela. - E se... e se eu perder a livraria dos meus pais? E se eu falhar nisso tudo? O que vou fazer?
Eu estava cansada de chorar. Não queria mais, já haviam se passado dias em que eu chorava imaginando como ou o que eu faria.
Vendo e ouvindo todo o clima natalino que estava lá fora, eu acabei fazendo algo que eu não costumava fazer: sair de casa. Sem pensar muito, pois se pensasse eu desistiria, eu me arrumei colocando uma roupa bem quente, pois lá fora estava bem frio, calcei meus sapatos, soltei meu cabelo e saí pelas ruas brancas de Deadwood.
Músicas natalinas soavam, pessoas passavam por mim rindo e se divertindo, lojas vendiam presentes e algumas pessoas fantasiadas distribuiam saquinhos com biscoitos e bengalas de açúcar.
Eu amava o natal. Desde criança para mim o natal era uma data tão especial que eu ficava o ano inteiro esperando que chegasse. Amava as decorações, amava as canções, amava as comidas, amava tudo que envolvesse. Me sentia frustrada por não ter conseguido fazer com que esse natal não fosse como os outros.
- Feliz natal! - Um homem que estava vestido de papai Noel me entregou um saquinho transparente que tinha quatro tipos de biscoitos de gengibre dentro e cinco bengalinhas de açúcar vermelha e branca.
- Feliz natal. - Sorri para o homem e não demorei a reconhece-lo. Era o pai do Henry. Ele e mais umas sete ou oito pessoas estavam fantasiadas e entregando aqueles saquinos para quem passava.
- Oh, eu conheço você. - O homem curvou a cabeça para olhar melhor o meu rosto. - Anne, certo?
- Sim, senhor. - Respondi. - O senhor é o pai do Henry. - O sorriso do homem diminuiu um pouco mas ele logo abriu um sorriso forçado.
- Sim. - Ele assentiu. - Está tudo bem, Anne? Meu filho tem lhe respeitado?
- Sim, não se preocupe com o Henry. Ele é uma ótima pessoa e me trata melhor do que ninguém. - Assenti com um sorriso sem mostrar os dentes.
- Fico feliz. Dê um... dê um feliz natal a ele por mim, sim?
- Claro. - Curvei a cabeça.
- Foi um prazer, Anne. - Ele ajeitou o gorro na cabeça e voltou a distribuir os saquinhos.
Sai de perto dele voltando a andar e me perguntei se ele era rude apenas com o Henry ou se estava sendo falso. Ele foi totalmente simpático e estava entregando guloseimas de natal para as pessoas de graça. Não parecia nada com a visão que eu havia criado em minha cabeça de acordo com as descrições de Henry.
Resolvi deixar isso para lá. Eu não o conhecia, não podia julga-lo. Ele pode ter se arrependido, ele pode ser alguém bom, ou pode ser aquilo que a Meredith falou sobre ele sempre fingir uma vida perfeita e feliz para o público por ser rico.
Mas de qualquer forma, aquilo não era da minha conta.
Continuei andando pela cidade até me sentar num dos bancos da pracinha brilhante e enfeitada. Observei as pessoas que passavam tentando ignorar o sentimento angustiante que pairava dentro do meu peito.
Estava observando o local quando vi dois rostos conhecidos. Luke e Meredith passavam do outro lado da pracinha. Ela segurava seu braço e ria enquanto ele apenas olhava em volta.
Eles ficam bem juntos. Foi o que pensei enquanto os vi passando.
Ambos se sentaram num banco que estava virado para mim, mas não me viram. Meredith continuava puxando assunto e dava uma risada as vezes, Luke mal falava, mas as vezes sorria para a garota.
Apertei a ponta do saquinos em minhas mãos tentando entender o motivo de Luke ter se afastado tanto de mim. Seria por causa dela?
Me vi com ciúmes quando ela aproximou-se do rosto dele para lhe dar um beijo. Não um ciúme na qual eu queria impedir aquilo, mas um ciúme estranho que me consumia a cada segundo que ela chegava mais perto e ele não fazia nada.
Contudo, Luke resolveu fazer alguma coisa. E ao contrário do que eu ou Meredith esperávamos, Luke se afastou da garota, disse algo e voltou a olhar para a frente, só que dessa vez ele acabou me vendo. Notei pelos seu olhar de surpresa.
Meredith puxou o rosto de Luke para ela, disse algo e depois que ouviu a resposta dele ela se levantou e saiu de lá a passos rápidos e pesados.
Luke voltou a me encarar com seu olhar distante e tristonho e eu tive vontade de correr para seus braços. Os braços de Luke sempre foram os donos dos melhores abraços para mim, e... era tudo o que eu precisava naquele momento.
Nós dois nos encaramos por mais uns segundos enquanto a única coisa que eu ouvia eram meus batimentos cardíacos rápidos e altos.
Algo nos conectava, eu sentia, e eu também sabia que Luke sentia isso.
Meu celular começou a tocar chamando minha atenção e eu senti minha angústia aumentar quando vi que quem me ligava era o Locador do imóvel.
Suspirei pegando meu celular e atendi.
Anne- Alô?
Locador- Boa noite, Anne.
Anne- Boa noite, senhor.
Locador- Eu sinto muito mesmo, Anne, mas eu já adiei demais. Eu preciso que pague o aluguel, ou terei que tomar medidas que não são do meu querer.
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Continua...
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