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15_ Qualé?

- O que acha de usarmos gorros? - Júlia perguntou enquanto eu tentava ler a introdução da apostila de coreano.

- Não.

- E se colocarmos um papai noel de plástico enorme ali naquele canto? - Ela apontou para o canto do quadro.

- Não.

- Que tal uma lareira falsa? Ou pintar as paredes todas de vermelho? - Ela olhou para mim com um sorriso e eu a encarei. - Ta, exagerei.

- Você ta muito empolgada. - Ri da mesma. - Então, Júlia... - A encarei novamente logo após fechar a apostila.

- Que foi? Ta me olhando assim por que? Não fiz nada. Juro. Na verdade, fui bem tentada a comer aqueles biscoitos natalinos que estavam no seu quarto hoje cedo, mas não comi porque sei que o bonitão te deu.

- O que? - Ri. - Pode comer, Júlia. Eu deveria ter oferecido à você e ao Luke ontem, mas me esqueci. Mas não é disso que eu queria falar.

- É sobre eu quase ter quebrado seu abajur? Ou porque dei ração de mais pro Thor ontem? - Júlia fez uma careta. - Já sei! Você descobriu que eu e Luke acabamos com o achocolatado ontem, né? Desculpa, Anne, prometo ir no mercado hoje comprar mais.

- Júlia? - Ela parou de falar. - Não é nada disso.

- Ah... - Ela riu. - Então, o que é?

- Quero saber quando vai começar a me ensinar português. Você disse que é muito complicado, então temos que começar logo. - Insisti.

- Ok ok! Vou começar te ensinando umas palavras básicas do dia a dia, ta bom?

- Ta bom. - Sorri empolgada.

- Bem... no Brasil a gente se cumprimenta com " Qualé? " . - Júlia falou fazendo uma arminha com a mão para baixo.

- Qua... qualé? - Tentei imita-la e percebi que ela estava apenas me zuando quando começou a trabalhar alto. Para minha sorte não havia ninguém na livraria naquele momento. - Júlia, eu vou te bater.

- Desculpa, Anne. - Ela falou entre risos. - Ta, isso não é meio que errado... É mais uma gíria sabe? - Ela riu de novo. - Ok, desculpa! Lá nós falamos " Olá! " - Ela acenou com a mão.

- Olá! - A imitei.

- Olha, muito bom. Amanhã te ensino outra palavra. - Ela se afastou do balcão.

- O que?? - Arregalei meus olhos e ela começou a rir de novo. - Júlia, volta aqui.

- E ai?? - Luke entrou na livraria naquele momento com um grande sorriso.

Eu e Júlia paramos para olha-lo, mas logo voltamos a fazer o que estávamos fazendo antes.

- Você vai me ensinar isso direito. - A segui.

- Acho mais fácil você aprender a voar. - Ela ironizou.

- Acho que vou me tornar super herói e o meu poder principal vai ser invisibilidade. - Luke comentou nos fazendo olhar para ele de novo.

Eu e Júlia nos encaramos e acabamos rindo novamente.

- Oi Luke. - Ambas falamos juntas.

- E então? O que estão fazendo?

- Discutindo. - Respondi.

- Brigando. - Júlia falou em seguida.

- Ata. - Luke deu de ombros como sendo algo comumente feito por nós duas e puxou uma cadeira para se sentar.

- E você? O que faz aqui? - Júlia perguntou.

- Vim chamar vocês duas para almoçar. Mas eu espero a briga acabar. - Ele sorriu nos observando.

Balancei a cabeça rindo e fui até meu balcão pegar o casaco.

- O Steven vai te cobrir na cafeteria? - Júlia perguntou colocando o cachecol.

- Vai. - Luke se levantou. - Ah... - Luke puxou algo do bolso de seu casaco e me estendeu. - Toma.

- Que isso? - Perguntei abrindo o pequeno pacote vermelho.

- Acho que é chocolate. - Ele respondeu abrindo a porta da livraria. - Uma moça passou vendendo e eu comprei pra você.

- Ok, me sentindo excluída. - Júlia saiu da livraria na minha frente.

- Só tinha um. - Luke falou rindo. - Comprei pra Anne pra me desculpar por tê-la jogado no chão hoje. E por ter acabado com seu achocolatado ontem. - Ele sorriu mostrando os dentes.

- Talvez eu passe a trancar minha geladeira quando vocês dois estiverem sozinhos na minha casa. - Falei os fazendo rir.

Nós tres fomos até um dos restaurantes de Deadwood e nos sentamos numa mesa na frente da janela.

- Arg... Só queria um arroz, um feijão e um bife bem acebolado. - Júlia suspirou olhando para o cardápio em sua mão.

- Parece gorduroso. - Luke falou num tom de deboche.

- Calado. - Júlia ergueu a mão na frente do rosto dele.

Nós três escolhemos o que queríamos comer, fizemos nossos pedidos e permanecemos aguardando.

- Vou no banheiro. - Júlia se levantou da mesa e se afastou de nós.

- Como você está? - Luke perguntou olhando em meus olhos. Ele não precisava dizer nada mais, eu conseguia entender perfeitamente seu olhar.

Luke, mais do que ninguém, sabia que o natal era uma das épocas que eu mais sentia a falta dos meus pais.

- Eu estou... - Olhei pro alto. - Eu estou bem.

- Mesmo?

- Sim. - Olhei para ele. - Eu estou bem. Estou sentindo falta dos meus pais, é claro... mas eu estou bem. O natal continua sendo minha época favorita. E... é como se eles estivessem aqui comigo.

- É bom te ver assim. - Ele sorriu. - Mas acho que não é só o natal que está te deixando tão alegre não.

- O que está querendo dizer, Luke? - Cruzei meus braços o encarando.

- Você sabe bem, estrelinha. - Ele sorriu maroto e eu senti uma nostalgia.

- Faz muito tempo que você não me chama assim. - Comentei olhando para ele. Luke costumava me chamar de estrelinha quando éramos crianças por causa da estrela que eu havia feito apara árvore.

Ele havia a achado horrorosa, até porque ela era, mas mesmo assim me fez acreditar que era bonita e brilhante como meus olhos.

Uma ofensa disfarçada? Talvez.

- É, mas não muda de assunto. Ta escrito na sua testa que está arrastando asinha pelo Sr Lin. - Luke sorriu convencido.

- O que?? Da onde tirou esse absurdo? - Me fiz de doida e ele riu.

- Ah, é porque você... olha! É o Henry! - Luke apontou de repente para a janela e eu olhei. Porém, não tinha ninguém ali. - Ah... que animação para ver o cara em. - Ele sorriu maroto e eu lhe dei um tapa no braço.

- Sem graça. - Murmurei.

- Você ta apaixonada, né? - Olhei para ele. Luke sempre sabia de todos os meus segredos e eu dos dele. Não escondiamos nada um do outro. Ele era, literalmente, um irmão que a vida me deu.

- Eu não sei. Talvez. - Respondi. - Eu... eu me sinto bem com ele. Ele me passa uma confiança incrível e eu quero estar com ele. Isso é estar apaixonada?

- Eu não sei não. - Luke encostou as costas na cadeira. - Mas eu vou ficar bem de olho nesse Henry. Não quero que ninguém te machuque.

- Eu sei que vai. - Sorri pra ele. Ele fazia o papel de irmão por completo.

[...]

- Ai... Só queria um doce. - Júlia resmungou enquanto caminhávamos pelo Centro da cidade. Ainda tínhamos uns minutos do horário de almoço.

- O que é aquela muvuca toda ali? - Perguntei confusa quando notei uma certa aglomeração na frente de uma loja.

- Ah, é uma loja que inaugurou hoje. - Luke respondeu.

- Sério? Vamos lá ver! - Júlia puxou nossos braços até a tal loja.

Quando chegamos na mesma, não demoramos a identificar o que era. Era uma loja de produtos eletrônicos, como celulares, tablets, computadores e todo tipo de inovação tecnológica.

Haviam muitos adolescentes, jovens, adultos e todo tipo de pessoa empolgados com a nova loja.

Ali também pude notar professores e diretores de escolas que eu conhecia ( por causa do trabalho da livraria ) e alguns representantes de universidades.

- Ai, isso não é incrível? - Júlia também estava empolgada.

- Não ligo muito pra isso. - Luke respondeu.

Eu não disse nada... apenas senti que aquilo não seria muito bom para mim.

●●●
Continua...

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