- Bate o sino pequenino, sino de Belém... - Acordei ao som da bela voz da Júlia cantarolando pelo meu quarto. - Bom dia! - Ela sorriu mostrando os dentes. - Levanta que temos muitas decorações para fazer.

- Que horas são? - Passei a mão em meu rosto. E olhei para a minha cama vendo que Thor não estava ali.

- 5h49. - Ela respondeu calmamente. De primeira eu apenas assenti, mas depois que prestei atenção no que ela disse, arregalei meus olhos e abri a cortina na minha janela.

- Júlia?? Ainda nem amanheceu! - Olhei para ela.

- Eu sei. Coisa esquisita. Tinha me esquecido que aqui amanhace sete da manhã. Aonde moro amanhace quatro e pouca da manhã. - Ela deu de ombros pegando umas peças de roupa.

- Ta, mas porque me acordou essa hora? - Coluquei meus pés no chão e estiquei meus braços.

- Porque temos muitas coisas para fazer. - Ela sorriu animada.

- Temos?

- Sim, Anne. Precisamos desembalar os enfeites de Natal, decorar a livraria, tanto por dentro quanto por fora, e... fazer uma corridinha. - Ela virou de costas para mim.

- Han? Desculpa, pensei ter ouvido você dizer " corridinha ". - Fiz uma careta curvando a cabeça pro lado e ela jogou no meu colo uma calça leggin preta, um top de academia, também preto, e um moletom branco. - Você está bem, Júlia? Bateu a cabeça em alguma pedra vindo pros Estados Unidos? Ou sua memória se esqueceu que eu sou uma pessoa COMPLETAMENTE sedentária que anda meio metro e já quer cama?

- Por isso mesmo, Anne! - Júlia se sentou ao meu lado. - Eu preciso correr todo dia pra treinar, você podia ir comigo. Vai ser cansativo no começo, mas vai ser bom pra sua saúde. Além de que você vai sair mais de casa.

- Ai Júlia... eu não sei não. À que horas vou abrir a livraria?

- Às oito, como todos os dias. Nós descemos agora, decoramos tudo até as sete, corremos por uns minutos para não ficar pesado, e voltamos. Aí você toma um banho e abre a livraria. - Ela sorriu ainda demonstrando sua empolgação. - Por favooor, Anne? Não vai se arrepender, juro.

- Eu não tenho outra opção, não é mesmo? - Encarei a mesma sorrindo e ela sorriu conhecida. - Ok! Mas se e eu ficar dolorida, você vai me ajudar na livraria.

- Sim senhora, senhora. - Ela se levantou. - Agora levanta! - Julia puxou meu braço me fazendo ficar de pé. - Temos muuuita coisa para fazer.

Ri da mesma enquanto ela saía do meu quarto e peguei meu celular. Antes de sair do meu quarto respondi à alguns pedidos de encomenda que recebi pelo Instagram e notei um novo seguidor no meu instagram pessoal.

Eu não tinha muitos seguidores por não ter muitas fotos. Na verdade, meu perfil não tinha foto alguma, apenas a do perfil. Eu não ligava para o Instagram, não era algo que eu priorizasse. Mas... naquele dia eu tomei uma atitude diferente.

Henry havia me enviado a foto que tirou de mim na noite anterior e, pela primeira vez, eu senti vontade de compartilhar algo. E assim fiz. Compartilhei aquela foto no meu perfil e fui ver quem era o novo seguidor.

- Kim Jojo? - Perguntei estranhando. Aquele nome não era nem um pouco familiar para mim. Acabei abrindo o perfil para ver quem era. - Ah! - Sorri quando reconheci. - É a garota misteriosa. Então Kim Jojo é seu nome. Interessante.

- Anne??? - Júlia entrou no quarto segurando seu celular e apontou a tela para mim. - Que foto linda é essa??? Fez ensaio fotográfico e nem me chamou???

- O que? Não. - Ri balançando a cabeça e peguei a caixa de biscoitos natalinos que eu havia deixado na mesa de cabeceira da minha cama. - Foi... o Henry. - Respondi saindo do quarto e guardando os biscoitos na geladeira.

- Ta falando sério? O... o Henry tirou essa foto? - Ela perguntou de olhos arregalados e eu assenti fechando a geladeira. - O cara é bonito, inteligente, educado e ainda é fotógrafo?? Troca comigo?

- Trocar o que? - Gargalhei.

- Seu namorado pelo meu. - Ela sorriu mostrando os dentes.

- Que namorado, Júlia? Eu não namoro e nem você.

- Você tem o Henry e eu o Antônio. - Ela sorriu convencida.

- Quem é Antônio?

- Meu namorado imaginário. - Júlia deu de ombros me fazendo rir mais.

- Chega de papo, vou escovar meus dentes. Como você mesma disse, temos muitas coisas para fazer. - Fui na direção do banheiro.

- Espera. - Júlia me seguiu. - Como foi o encontro com o Henry? Eu me esqueci de perguntar ontem.

- Não estou surpresa. - Ironizei e ela me deu um tapa de leve no braço.

- Palhaça. - Júlia riu. - Mas, então? Como foi?

- Ah... - Dei um sorriso bobo apoiando minhas mãos sobre a pia. - Foi uma noite  mágica, Júlia. - Me virei e apoiei as costas na pia. - O Henry é compreensívo, gentil, me deixou confortável para agir como eu mesma e me fez rir tanto.

- Awwnn... minha amiga tá apaixonada!

- Você acha? - Olhei para ela abraçando meus próprios braços.

- É claro! Olha pra você! Você sorri feito boba quando fala nele. Até seus olhos brilham mais. - Júlia assentiu com um sorriso largo.

- É que... fazia tempo que eu não me sentia tão bem com um pessoa. Tirando você e o Luke, mas vocês eu já conheço a anos. Eu conheço o Henry faz pouco tempo, mas nem parece. Ele também ama artes e tem uma visão tão diferente de inspiração. - Suspirei e olhei para Júlia. - Eu to ferrada, né?

- Ferrada por que? Se realmente está apaixonada, pelo menos é por um cara legal que gosta das mesmas coisas que você. E ainda é bonito para caramba. Ferrada você estaria se estivesse apaixonada por algum Tyler ou Mac. - Ri assim que a ouvi.

- É que... eu tenho medo. Tenho medo de me machucar. Tenho medo de ter criado tantas expectativas lendo romances e agora não ser como esperei. E se... e se o Henry não for o cara certo? E se...

- Anne? Relaxa. Você ainda não tem certeza do que sente e ele não propôs nada. O que significa que você não está sobre pressão e tem muito tempo para conhecê-lo. Não entre em pânico. Conheça o Henry melhor e certeza que seu coração dirá se ele é a pessoa certa.

- Nossa... que profundo. - Encarei a mesma e ela sorriu convencida.

- Eu sei. - Ambas rimos de seu deboche. -  Mas é sério. Eu acho que isso pode ser algo muito bom para você. Por mais que você goste do seu cantinho solitário... ter alguém especial do seu lado pode tornar tudo melhor.

- Acho que você ta certa. - Sorri para ela e me senti grata por te-la como minha amiga. Era maluca? Era. Mas sabia dar conselhos.

[...]

- Eu estou colocando o daqui de fora, Júlia! - Gritei para ela que estava lá dentro pendurando uns enfeites.

- Vê se coloca direito, em! - Ela falou num tom de bronca e eu balancei a cabeça rindo.

Estava pendurando o pisca-pisca dourado na parte de fora quando cheguei numa parte mais alta. Coisa que dificultou um pouco a minha vida, já que eu não era tão alta.

- Droga. - Resmunguei me colocando nas pontas dos pés para tentar alcançar. Comecei a sorrir quando vi que estava alcançando, contudo, a super inteligente aqui se esqueceu que estava pisando em neve, e gelo é EXTREMAMENTE escorregadio.

Não deu outra. Meus pés escorregaram no gelo e eu fui com tudo para trás.

Porém, naquele exato momento, alguém apareceu e segurou minhas costas me impedindo de cair. Eu demorei a reconhecer quem era pelo medo que eu estava, mas reconheci quando vi seus olhos.

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Continua...