- Ah, ok ok. Eu vou separar todos os que eu tenho aqui e entrego na biblioteca da universidade às onze. - Falei ao telefone enquanto contava quanto dos livros didáticos que eles haviam pedido eu tinha. - Sim, eu entendi.... ok, nada!

  Sorri já retirando os livros da estante e os colocando sobre uma das mesas.

Por mais que eu tivesse clientes fixos, nada superava uma encomenda de alguma organização estudantil.

Ergui meu braço olhando em meu relógio de pulso e notei ser nove e meia da manhã.

- Ok, eu termino minha apostila 01, empacoto tudo, fecho a livraria para o horário de almoço e entrego na Universidade. - Falei para mim mesma e toquei a pilha de livros. Deviam ter uns vinte. Com certeza, eu ficarei com dor nas costas depois de carrega-los.

Deixei os mesmos empilhados em quatro pilhas em cima da mesa e voltei para de trás do balcão. Naquele momento haviam apenas cinco pessoas além de mim na livraria. A garota misteriosa, um rapaz que as vezes vinha aqui para estudar e três meninas que pareciam estar fazendo algum trabalho.

Me sentei em meu banco amarelinho atrás do balcão e abri minha apostila na página em que eu havia parado.

- Ok... - Peguei um lápis e comecei a ler.

[...]

- jal meoggessseubnido... - Apertei os olhos tentando me lembrar o que significava e notei que a garota olhou pra mim quando me ouviu falar. Talvez seja por ela ter reconhecido o idioma, ou por eu ter falado tudo errado. A pronúncia era tão difícil... - Acho que é " vou comer bem ". - Voltei a olhar para a folha e sorri vendo que tinha acertado.

Estava prestes a ler a próxima linha, que era a penúltima, quando a garota se aproximou de mim segurando o livro A última música. Eu ficava impressionada em como ela lia rápido, pois praticamente comprava um livro por dia depois de estudar.

- Ah... - Fechei minha apostila e ela me entregou o livro para que eu pudesse ver o preço.

- jal meoggessseubnida. - Ela falou com sua voz calma e paciente. - Disse jal meoggessseubnido com O.

- Ar... - Abri a apostila de novo e vi que realmente era com A. - jal meoggessseubnida? - Repeti olhando pra ela e ela sorriu assentindo. - Obrigada! Você é coreana?

- ... sim. - Ela ainda parecia meio " lenta " nas palavras. Mas sua pronúncia não era ruim. Pelo menos era BEM melhor que o meu coreano.

- Isso é tão legal. Eu estou aprendendo coreano. Bem... TENTANDO aprender. Mas minha pronúncia ainda é horrível. - Peguei o dinheiro que ela me entregou e logo peguei seu troco.

- Não. - Ela falou chamando minha atenção. - Pronúncia muito boa.

Sério, eu tive vontade de aperta-la de tão fofa que ela era.

- Sério? - Lhe entreguei o troco.

- Sim. Coreano difícil para americanos. Fala muito bem pra iniciante. - Ela falou tudo devagar e eu sorri.

- Obrigada! Você também tem uma pronúncia muito boa.

A garota se curvou com um sorriso, pegou o livro e saiu da livraria.

Eu acabei olhando no meu relógio de pulso e notei que já eram dez e quarenta.

- Ai preciso ir. - Sai de trás do balcão e por sorte não haviam clientes naquele momento.

Dei água pro Thor, já que o mesmo estava sem, peguei os livros que já estavam dentro de duas bolsas de papel grande, vesti um casaco, fechei a livraria e saí em direção a Universidade.

Cinco minutos andando e eu já tinha colocado as bolsas no chão. Minhas costas doíam, o que me fez toca-las e me inclinar para trás fazendo uma careta.

Eu tinha 19 anos, mas minha coluna tinha uns 62.

- Quer ajuda? - Ouvi uma voz masculina e olhei pro lado. Henry estava ali.

- Ar... oi. - Henry pegou as duas bolsas. - Não precisa levar as duas, eu...

- Nossa, isso ta pesado. - Ele riu. - Deixa que eu levo. Já fez um longo percurso. - Ele olhou na direção da livraria. Sim, eu tinha andado tão pouco que ainda dava para ver a livraria.

Ri de mim mesma e logo nós dois começamos a caminhar.

- Eu preciso entrega-los na biblioteca da faculdade. - Comentei o fazendo olhar pra mim.

- Ótimo. Eu estou indo pra lá mesmo. Tenho uma aula cansativa hoje. - Henry fez uma careta.

- Gosta de estudar?

- Gosto do que eu gosto. - Olhei pra ele fazendo uma careta e ele riu. - É que tem umas matérias que quase me fazem cair no sono. - Ri. - Mas tem umas que curto muito.

- Entendo. Eu amava estudar, quando era humanas. Mas exatas? Detesto matemática. - Fiz uma careta.

- Sério? - Henry riu. - Eu até que gosto. Ta, não é algo que eu AMO. Mas é suportável.

Henry me acompanhou até a faculdade. Lá ele entregou os livros na biblioteca pra mim e foi correndo para a aula que ele estava atrasado.

Até que foi engraçado vê-lo correndo pelo Campos. Ele quase caiu umas duas vezes por causa da neve.

Eu acertei tudo com uma moça que estava na biblioteca, recebi o dinheiro e logo saí de lá.

Acabei aproveitando para passar no mercado. Estavam faltando algumas coisas lá em casa e eu ficaria sem coragem de sair de casa de novo para ir no mercado, então aproveitei para ir naquele momento.

Comprei umas coisas básicas como comida e uns produtos de limpeza.

Logo depois voltei em direção a minha livraria. Estava caminhando olhando pro chão enquanto tentava me lembrar das palavras em coreano que eu tinha aprendido quando olhei na direção da livraria e vi uma garota parada.

De primeira eu pensei ser alguma cliente esperando abrir ou algo do tipo, mas quando me aproximei e vi que a mesma tinha uma mala, logo reconheci.

- Júlia??? - Ela rapidamente olhou pra mim.

- Ai Anne até que enfim! Eu to congelando esperando você. Eu sou carioca, to acostumada com esse clima de pinguim não. - Ela resmungou abraçando os próprios braços e eu a encarei.

- Júlia, o que você ta fazendo aqui??

- Eu vim passar um tempo aqui! - Ela sorriu balançando as mãos.

- O que?? - Comecei a rir.

- Ai só abre que eu te explico. Vou pegar uma pneumonia. - Ela murmurou.

Depois de destrancar a livraria, Júlia entrou puxando sua mala e logo fechou a porta.

- Credo. - Encarei a mesma e logo sorriu. - Ai que saudade que eu estava! - Júlia me puxou de repente me dando um abraço. - Seu cabelo creceu.

- Me explica vai. - Ri e ela se sentou numa das cadeiras.

- Vai ter um torneio na cidade vizinha daqui umas semanas. Aí decidi vir um pouco antes e passar uns dias com você! - Ela sorriu animada.

- Sério? O que vai ser de mim?

- Palhaça! - Júlia se levantou e começou a olhar o local. - Isso aqui não mudou nada. Ei! Como vão os crushs?

- Então... - Comecei a rir.

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Continua...