03_ Anne, CALA A BOCA!
- Hmm... - Toquei meu queixo com o dedo indicador enquanto olhava para uma área pequena na minha livraria. Me aproximei da mesma e endireitei o quadro A noite estrelada que tinha ali. À umas semanas que eu venho achando esse cantinho meio sem graça. Ali havia apenas um quadro de Vincent Van Gogh e uma foto emoldurada da inauguração da livraria cujo estavam meus pais, algumas pessoas importantes da cidade e eu, bem pequena.
Bufei quando percebi que em mais um dia eu não tinha nenhuma ideia para aquele canto.
- E se... - Dei um passo para frente, mas parei quando ouvi o som da porta.
- Me desculpa! - Luke, que segurava seu diário pacote de papel, parecia ter esbarrado na garota mais misteriosa que frequentava a minha livraria.
Ela estava entrando e ele chegou todo apressado esbarrando nela, pelo menos foi o que pareceu.
A garota apenas curvou o corpo em cumprimento como alguns dos asiáticos costumam fazer e se dirigiu até a mesma mesa que ela se sentava todos os dias.
Balancei a cabeça rindo quando Luke olhou para mim e ele fez uma careta. Não demorou para que fechasse a porta e viesse até mim.
- Qual o nome dela? - Luke perguntou parando ao meu lado.
- Eu não sei. Ela nunca diz nada quando está aqui. Na verdade, acho que nunca nem ouvi sua voz. - Respondi enquanto ele olhava pra ela. - Por que? Ta interessado? - Abri um sorriso maroto e ele encarou.
- Não. - Ele respondeu. - Só por curiosidade. É que eu vejo ela aqui todo dia e é estranho o modo como ela não fala nada.
- Eu sei. Vai ver ela é tímida. - Dei de ombros e voltei a olhar para a parede a minha frente.
Uma das coisas que me fazia amar trabalhar numa livraria era o silêncio. Eu gostava de uma música, gostava de algo animado, mas também amava uma calmaria, principalmente para pensar. Silêncio era algo precioso pra mim.
- Ta fazendo o quê? - Luke perguntou sem rodeios me fazendo encara-lo.
Uma das coisas que tornava Luke tão irritante era o fato de ele saber dos meus pontos fracos e usá-los contra mim propositalmente. Ou seja, ele é aquela pessoa que se você disser que quer dormir cedo, ele aparece na sua casa com doces e filmes para maratonar até tarde.
O mesmo sorriu mostrando os dentes e eu baguncei seu cabelo.
Por mais que Luke fosse a pessoa mais irritante da minha vida, ele sempre esteve ali por mim. Quando perdi meus pais, quando tudo parecia que iria piorar, Luke estava ali para tentar me fazer rir. Eu era grata por ele, mesmo querendo soca-lo na maior parte do tempo.
- Eu ESTAVA tentando pensar em algo para mudar aquele canto. Está muito sem graça. - Voltei ao balcão e notei um grupo de garotas uniformizadas entrando.
- Hmm... - Luke olhou para o canto mais uma vez, mas logo veio até o balcão. O mesmo depositou o pacote de croissant em cima do mesmo e olhou para mim com seu sorriso.
- Está de bom humor? - Perguntei pegando o valor do croissant e o entregando.
- Eu sempre estou de bom humor. Por que eu estaria de mau humor num dia tão agradável com esse? - Ri do mesmo e ele se achegou mais para o canto por causa das meninas.
Foi fácil notar o quanto as garotas estavam tímidas por causa dele. As mesmas riam entre si enquanto cada uma olhava para ele de uma vez e logo comentavam algo.
- Cadê o Thor? - Luke perguntou.
- Ali. - Apontei para uns livros empilhados, livros que eu disse ontem que não deixaria acumular, mas olha só. - Eu, sinceramente, cansei de ficar tirando ele de cima das coisas.
- Deixa ele, não está atrapalhando ninguém. - Luke deu de ombros.
- O que me preocupa é se chegar alguém que tem alergia. - Eu estava conversando com Luke aguardando que as garotas terminassem de procurar algo em suas mochilas para saber o que elas precisavam.
- A pessoa que lute. Thor tem todo direito de se deitar onde ele quiser. Bem, eu vou indo porque o Steven fica todo perdido sem mim lá. - Luke correu até a porta. - Até de noite!
- Até! Espera... o que tem de noite? - Perguntei, mas ele já havia saído e fechado a porta.
Ri do mesmo e as garotas se achegaram mais para a minha frente.
- Posso ajuda-las? - Perguntei e uma delas me mostrou uma lista em um papel azulado. Eu estava olhando os livros presentes nela, mas o som da porta chamou minha atenção de novo.
Eu estava preparada para abaixar o olhar de novo, quando meus olhos paralisaram na pessoa que estava entrando.
O homem, que havia acabado de tirar o gorro de sua cabeça, era o mesmo que veio aqui ontem. Era o Henry Lin.
Seus olhos claros passearam por minha livraria acompanhados de um pequeno sorriso em seu canto de boca.
- Moça? - Uma das meninas me chamou me fazendo voltar a mim.
- Sim? - Olhei para ela de novo.
- Você tem esses livros? - A mesma menina perguntou e eu peguei a lista que ela me estendeu.
- Te-tenho sim. - Respondi saindo de trás do balcão.
Meus olhos, sem o meu consentimento, focaram em Henry de novo enquanto o mesmo guardava suas luvas em sua mochila e se sentava numa das mesas.
Ignorei-o e comecei a procurar pelos livros que as garotas precisavam.
Depois de encontra-los, e entregá-los às mesmas, eu voltei para o balcão e me senti uma boba quando me vi admirando o rapaz de olhos tão intrigantes.
Eu achava incrível o modo como seu rosto parecia simétrico. Seus cabelos combinavam com seu tom de pele e o sorriso que ele dava as vezes vinha acompanhado de tímidas covinhas.
Acabei apoiando meu rosto em minha mão sobre o balcão, contudo, Henry olhou para mim naquele momento. Seus lábios se curvaram num sorriso ladino e eu arregalei meus olhos.
Eu me senti completamente envergonhada por ele ter me visto daquela forma, LITERALMENTE admirando o mesmo, então tomei a primeira atitude que meu cérebro formulou:
Me abaixei rapidamente e me escondi atrás do balcão. Ok, talvez eu tenha caído com essa manobra. O que fez eu me sentir mais idiota ainda.
Me sentei no chão me sentindo a pessoa mais burra do mundo e vi uma sombra sobre mim. Olhei para cima e ali estava Henry olhando pra mim.
- Ta tudo bem? - Henry perguntou parecendo meio confuso, mas ao mesmo tempo querendo rir da situação.
- Sim! - Respondi de forma rápida. - Eu só... perdi o meu brinco. - Falei a primeira coisa que me veio a mente e fiz uma careta olhando pro chão.
- Mas está com os dois. - Ele respondeu e eu toquei minhas orelhas. Era óbvio que eles estavam ali, eu estava mentindo.
- Ar... eu perdi outro. - Eu realmente quis me dar um tapa e gritar comigo mesma: Anne, CALA A BOCA!
- Ah, quer ajuda? - Henry começou a olhar o chão e eu me levantei. Obviamente ele se assustou, já que eu me levantei de repente.
- Não! - Respondi de forma rápida. - Digo... eu procuro depois, não preciso dele agora. Afinal, só tenho duas orelhas né. - Henry assentiu parecendo estar confuso enquanto eu desejava uma fita adesiva para tampar a minha enorme boca que só falava merda. - Quer dizer... precisa de alguma coisa? - Juntei minhas em cima do balcão.
- Não, não. Eu estou terminando uma pesquisa no meu computador, mas qualquer coisa eu te procuro. Pode ser? - Ele apontou para seu notebook branco em cima da mesa.
- Claro. - Respondi e fechei minha boca antes que falasse mais alguma besteira.
Henry sorriu e voltou a sua mesa. Virei as costas e fui para dentro onde ficavam mais alguns livros, e umas coisas caso eu precisasse, para não ter que subir lá em cima, como água, café e essas coisas.
Me escorei na parede e passei as mãos no meu rosto.
Eu realmente não sabia explicar o bugue que deu no meu cérebro quando os olhos de Henry focaram em mim. Parecia até que a melhor amiga da Thalia estava ali do meu lado ( vulgo Sra Vergonha ).
Bufei jogando meu cabelo pra trás e olhei para a frente da livraria. O som da porta se abrindo me fez lembrar que eu precisava voltar pra lá.
- Que Jesus me ajude. - E assim voltei pra lá.
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Continua...
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