Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 01

O entardecer não amenizava o calor que fazia em mais uma tarde de verão nas ruas da Corte. Jonas afrouxou o nó do lenço no pescoço, pestanejando porque o grosso tecido da casaca se agarrava em seu corpo como se fosse um carrapato em busca de sangue fresco. Daria sua fortuna para se atirar dentro do riacho da Fazenda Socorro, uma das muitas que herdara do pai, totalmente nu, sem olhos a lhe recriminarem devido a sua falta de modos e berço.

Nem a poderosa fortuna herdada do Barão de Vilar fora capaz de lhe trazer prestígio entre os pares do Império, que sempre o veriam como um mestiço, em cujas veias corria sangue africano. Mas esse pequeno detalhe não impedia certas damas de lhe procurarem na cama. Ah, as damas de bom berço! Sempre à espreita de uma oportunidade para seduzi-lo. E Jonas gostava daquele jogo de gato e rato, deixando que todas acreditassem que o seduziam.

Era um farrista, devia concordar com tal qualitativo pouco apropriado para um filho de barão, até mesmo para um com sangue africano. Houvera o tempo em que se empenhara em ser aceito pela sociedade, dedicando-se a ser bem mais do que um filho mestiço. Mas de nada lhe adiantara tanto empenho, verdade fosse dita, e entregou-se aos vícios mais mundanos como um ato de rebeldia.

Eusébio Barros Cabral era um homem de renome na Corte, dono de imensos cafezais e de um cérebro muito astuto para empreender. Era amigo desde tenra idade do Imperador e, por isso, fora agraciado com um título de fidalguia. Uma recompensa por lhe aconselhar nos assuntos do coração. O que era uma grande ironia do destino, pois contam as más línguas que perdeu seu grande amor quando fora enviada para Lisboa pelo pai para se casar com um nobre português. Nem mesmo Dom Pedro conseguira evitar a separação, e talvez aí estivesse o motivo para aceitar que um mestiço se tornasse Barão de Vilar: uma forma de compensar um amigo pela perda de seu grande amor.

Em contrapartida, Jonas nunca conseguiu entender a estranha relação de seus pais. Não tiveram mais do que um namorico de verão e desse rápido relacionamento ele nasceu. Foi reconhecido pelo barão assim que nasceu e sua mãe foi alforriada sob as bençãos do Imperador. Instalados em um palacete em uma chácara não muito distante do Centro, teve os melhores tutores e chegou a se formar no Colégio Imperial. Teria ido para Coimbra frequentar a Universidade, mas a mãe adoeceu e não quis deixá-la sozinha.

Perdeu os pais com seis meses de diferença e desde então tem vivido como um excêntrico rico, contando com os conselhos da Duquesa de Clemont, a quem o pai tinha por uma amiga querida. Somente uma mulher como Abigail Chantal poderia aceitar recebê-lo em sua casa como membro da família. Mas também pudera! Era uma dama de muita influência junto ao Imperador, a quem todos fofocavam ser a preferida na cama de um de seus ministros mais próximos. E o fato de ser a herdeira de um senhor de engenho e viúva de um duque francês a colocava praticamente em um pedestal. Ninguém se atrevia a menosprezar suas vontades, nem que essa vontade fosse aceitar receber em suas casas o filho bastardo de um barão que nunca se casou e que escandalizou a sociedade em reconhecer um mestiço como filho.

Às vezes Jonas acabava pensando sobre suas nada convencionais origens, por mais que não quisesse. Sentia-se mal por ter tido mais oportunidades do que a maioria dos mestiços. Dentre os escravizados e alforriados corriam boatos de que sua mãe havia dado o golpe do baú ao engravidar de um fidalgo e essa fofoca o fazia se sentir ainda mais deslocado. Não era aceito verdadeiramente entre os nobres e também não era tolerado entre os africanos.

Qual seria o seu lugar no mundo?

Tal pergunta o azucrinava muito. E, infelizmente, ainda o incomodaria por muito tempo. Abigail lhe dizia que o casamento com uma dama de bom berço o faria ter seu lugar no topo da pirâmide social. Mas não poderia ser qualquer mulher, teria que ser uma de família cujo sobrenome fosse secular e muito prestigiado na Corte. Jonas desconfiava de que tal mulher ainda não houvesse nascido. Afinal, quem seria a insensata de aceitar um mestiço como marido? Talvez como um rápido affair, mas nunca para ser esposa. Essa era uma constatação que já não o irritava e se regozijava em saber que ele lhes dava prazer, coisa que talvez um fidalgo não pudesse conseguir.

Jonas olhou por entre as janelas de vidro do edifício que sediava o Banco Gusmão de Albuquerque, preparando-se para enfrentar o abafadiço clima de fim de tarde. Precisava passar em casa antes da tempestade alagar as ruas do Rio de Janeiro para se assear e estar apresentável para encontrar a Duquesa de Clemont.

Naquela tarde teve uma proveitosa conversa com Fernão, que andava mais sorridente do que o habitual, reflexo de seu casamento com a filha do Visconde de Cerveira. Tamanha euforia do banqueiro o convenceu a confiar suas reservas em sua instituição. Fernão Benício Gusmão de Albuquerque era um homem com mente voraz para o mercado de valores e a cada dia conquistava mais clientes para seu cada vez mais próspero banco.

E sempre era bom diversificar nos negócios, principalmente depois que havia alforriado todos os escravizados de suas fazendas e sido chamado de louco pelos amigos do pai. Os cafeeiros eram, em sua maioria, escravocratas, e Jonas temia que o marginalizassem ainda mais por ousar fazer diferente e querer tratamento digno para seu povo.

A rua estava agitada como em todo final de tarde. Donzelas com suas damas de companhia apressavam o passo para chegar em casa antes da Ave Maria ou virariam assunto dos mexericos no dia seguinte. Moças de família não poderiam perambular tão tarde ou seriam consideradas mulheres de má nota. Jonas sorriu para uma das garotas em questão, que corou quando seus olhos se encontraram.

Donzelas nunca foram as preferidas de Jonas, uma vez que temia se envolver em uma grande enrascada e acabar casado com quem não queria. Eram as casadas e as viúvas que lhe rendiam as mais ardentes horas de paixão e estava mais do que satisfeito com elas. Afinal, não precisava de mais problemas quando já lidava com tantos. Era óbvio que um dia teria que considerar a ideia de se casar com uma delas, mas esperava que ao menos não fosse uma frígida na cama.

Andou alguns metros e percebeu que às suas costas uma agitação incomum acontecia. Virou-se rapidamente e saiu em disparada para o meio da rua. Um landau puxado por duas parelhas de cavalos descontrolados estava prestes a atropelar uma dama, que gritou palavras incompreensíveis quando sentiu o corpo de Jonas se chocar com o seu, levando-os ao chão em um piscar de olhos.

— A senhorita está bem? – Ele se apressou em perguntar, temendo que ela houvesse se machucado seriamente. Talvez até quebrado algum osso. Seu corpo havia amortecido o impacto, ele sabia, mas a preocupação o deixava aflito naquele momento.

— Como ousa me agarrar de maneira pouco apropriada? – a garota perguntou em um timbre de voz que revelava irritação com o acontecido, deixando seu sotaque denunciá-la como mais uma das muitas forasteiras que chegavam ao país para sabe-se lá o que.

Jonas não conseguiu responder imediatamente e ela acabou o fuzilando com os olhos, os olhos mais claros que ele havia conhecido em toda a sua vida. Eram de um tom tão azulado que lhe lembravam violetas na primavera. Ela havia perdido o chapéu na confusão e os cabelos loiros haviam se desprendido do penteado e lhe contornavam as feições delicadas. Era um anjo de formosura, tal e qual as pinturas que seus tutores lhe descreviam nas aulas. E cheirava divinamente como um jardim de rosas. Violetas e rosas combinavam muito bem com a dama e o deixavam praticamente sem saber o que falar. Justo ele que era conhecido por ser um sedutor habilidoso.

— Salvei a senhorita, devo lembrá-la – disse Jonas, sem conseguir desgrudar os olhos da boca rosada, que se abria em dois arcos perfeitos.

— De que adianta me salvar de um atropelamento para depois me matar por esmagamento?! – reclamou e só assim Jonas se deu conta de que a estava esmagando contra a rua de pé de moleque.

— Perdoe-me, senhorita! – disse, já tratando de se levantar e lhe oferecer a mão. — A senhorita me assustou. – Recolheu o chapéu dela do chão para entregá-lo de volta. — Se eu não tivesse chegado a tempo, teria sido esmagada pelos cavalos. – Olhou para o condutor. — O senhor deveria ser mais cuidadoso ao conduzir cavalos em uma rua tão movimentada, cocheiro.

— Ele não tem culpa – disse a garota de olhos azuis, tocando no braço de Jonas. — Eu estava distraída e não os vi. Deveria ter sido mais atenta ao atravessar a rua.

— Mesmo assim... – Tentou falar Jonas.

— Deixe-o ir, por favor! – ela pediu com a voz suave e os pelos do corpo de Jonas se arrepiaram pelo contato e pela voz melodiosa que incendiaram seu juízo. — Sabe-se lá o que vai acontecer com o pobre homem se eu prestar uma queixa – disse ela ao se aproximar para que ninguém os ouvisse. — Ele é um escravizado e tenho ouvido coisas terríveis do que fazem com eles quando cometem algum erro.

Jonas soltou um suspiro e fez sinal para que o velho homem se retirasse. A garota estava certa, e quanto mais ele ficasse ali, mais rápido os falatórios se espalhariam. O pobre preto seria punido sem misericórdia.

— Jonas Barros Cabral, Barão de Vilar, ao seu dispor. – Curvou-se em uma reverência para se apresentar à dama.

— Oh! – Ela levou a mãozinha enluvada à boca, espantada com o cavalheiro à sua frente. — O senhor é um nobre... Não sabia que homens de sua cor poderiam ter um título tão importante neste país.

Jonas arqueou uma sobrancelha, achando-a atraente, sem dar muita importância para aquele comentário impertinente.

— Não é comum que mestiços se tornem barões em um país escravocrata como o Brasil, mas toda regra sempre comporta uma exceção – ele respondeu, cada vez mais intrigado com a bela dama de olhos azuis que lhe sorria com sinceridade.

Poderia se afogar naqueles olhos com grande facilidade.

— Formidável! – exclamou ela, espontaneamente. Estendeu a mão como retribuição ao cumprimento. — Miss Eudora Rudson. – Sorriu, abrindo covinhas irresistíveis nos cantos da boca.

— Inglesa? – ele perguntou ao pegar sua mão para levar aos lábios.

— Escocesa – corrigiu ela, deixando transparecer de propósito o sotaque característico de seu país. — Mas minha mãe era inglesa, então fui criada entre Londres e Edimburgo.

— E o que uma dama como a senhorita faz em meu país?

— Meu pai é um botânico e o acompanho em uma missão de estudo – explicou de maneira atenciosa. — Não nos separamos desde que mamãe morreu. Temos apenas um ao outro e não suportaria ficar meses, quiçá anos, sem papai.

Ali estava uma mulher estrangeira que não se intimidava com sua cor de pele, pensou Jonas se sentindo muito empolgado com sua nova amiga.

Eudora colocou o chapéu na cabeça, empurrando os fios soltos para dentro. Depois, alisou as mangas e a saia para tirar a poeira que havia grudado no tecido rendado, sempre sob o olhar atento do barão.

— Fico aliviado que não tenha se machucado. – Jonas queria ter certeza de que ela estava bem, sem qualquer machucado.

— Amanhã posso me levantar com algumas marcas roxas, mas o que importa é que poderei me levantar e que não estou morta – disse ela, resignada. — Muito obrigada, milorde! – Jonas riu com o "milorde", deixando-a sem jeito. — Ainda não estou acostumada com os pronomes de tratamento de seu país, senhor barão – esclareceu.

— Chame-me apenas por Jonas – pediu ele, mas ela deixou de sorrir com aquela sugestão pouco apropriada para um homem que acabava de conhecer, sem sequer ter sido apresentada formalmente.

— Não é apropriado, milorde! Mais uma vez, agradeço a gentileza. – Curvou-se em uma reverência que o deixou de queixo caído, não pelo cumprimento em si, mas porque seus gestos graciosos o fizeram desejar puxá-la para seus braços e perder-se em seu inconfundível perfume de rosas. — Passar bem, senhor barão! – despediu-se educadamente, partindo sem esperar por uma resposta da parte de seu salvador.

Olhar para uma dama solteira daquele jeito não era apropriado e Jonas sabia que jamais poderia tê-la como amante. Era uma donzela, inferno! Uma donzela que merecia um cavalheiro de verdade e não um homem rústico como ele, que jamais conseguiria compensar seu nascimento com trajes elegantes ou pronúncia imaculada. Sempre seria um mestiço, cuja sorte lhe brindara com uma herança que o fazia um dos homens mais ricos do país, mas totalmente destituído de prestígio.

— Foi um prazer ajudar! – Sorriu em resposta, acompanhando-a se distanciar com os olhos, fazendo votos de poder reencontrá-la. 

***

Leia completo na Amazon e Kindle Unlimited: https://www.amazon.com.br/dp/B08J2H3YG8


Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro