2:Um novo Ano e uma Nova Esperança
Capítulo 2
Eloisa
Mais um fim de ano se aproximava, olhei ao meu redor e reparei na casa que eu morava, era enorme, tudo o que eu sempre sonhei! A casa tem cinco quartos, uma suíte e um enorme terreno com grandes árvores, que continham agora, as luzes de natal que ainda não havia retirado, assim, enfeitando o meu grande jardim.
Ouvi as gargalhadas de meus pais e meu irmão vindas da sala, e segui a passos lentos até eles. Observei o quanto estavam felizes, as marcas da idade eram nítidas nos rostos de meus pais, todas as marcas de tristezas se dissiparam, fico orgulhosa por ver minha família todas reunida na noite de natal, rindo e curtindo a presença uns dos outros. Isso foi o que eu sempre sonhei: dar uma vida melhor para todos eles.
Depois que saí da casa de Gean, percorri todo o trajeto chorando, cheguei em minha casa destroçada, sei que foi minha escolha e eu teria que suportar a dor que ela me trazia, a vontade de sair correndo e ir atrás dele e aceitar tudo o que ele tinha a me oferecer era grande, mas meu orgulho não me permitia. Minha mãe notou minha situação e eu acabei contando o que tinha acontecido, ela me deu um abraço muito forte e disse que me apoiava em qualquer decisão que eu tomasse, e se a minha decisão foi traçar meu próprio caminho sem a ajuda dele e sem ele, ela também me apoiaria, disse também que se orgulhava da mulher que tinha me tornado, chorei ainda mais em seus braços, até que ela me mandou ir deitar e tirar o dia de folga, mas eu me recusei, lavei meu rosto e fui trabalhar, eu precisava, para ter o que comer a noite, já que água nós tínhamos para uma semana.
Uma semana depois, estava andando pelas ruas de São Paulo e resolvi passar no correio para ver se tinha alguma coisa para mim, e me surpreendi com três cartas de editoras diferentes, corri para casa e ao chegar lá me apressei em lê-las, em uma delas, minha história havia sido negada, e nas outras duas, foram aceitas, então sorri, porque imaginei que não iria demorar muito para voltar correndo para ele. Assim pensei.
Vejo Luiz correndo pela casa junto com Lara, e uma dor no peito me atinge, esses poderiam ser meus filhos, mas não eram, Lara e Luiz são filhos de meu irmão. Meses antes de nascerem, conseguimos fazer o ultrassom e descobrimos que eram gêmeos. Hoje estão com cinco anos, até parece que foi ontem que vieram ao mundo, eles nasceram no mesmo ano em que publiquei meu primeiro livro e foi um sucesso, e graças a Deus, meus sobrinhos crescem em um lar descente e não lhes falta nada, pois eu faço questão de proporcionar o necessário a eles.
Assim que meu livro estourou e vendeu milhares de cópias e foi gravado um filme sobre o mesmo, recebi uma proposta para trabalhar em uma revista escrevendo, e o espaço que eu tinha para publicar, chamava-se "A verdade que não era mostrada".
Escrevia reportagens sobre a realidade do povo brasileiro, das pessoas que eram tidas como invisíveis; e não se engane pensando que isso acontecia apenas com catadores, existem muitas pessoas, que são julgadas pela sociedade e esquecidas pelos governantes de nosso país, que apenas se lembram dessas pessoas em época de eleição, depois, elas voltam a ser invisíveis.
Nestes cinco anos, estudei e ainda estou estudando, me especializando no ramo de jornalismo, tenho um grande caminho pela frente, mas sou feliz por ter o meu tão sonhado emprego fixo. Continuo escrevendo e publicando meus romances, ainda mais agora, com minha vida estabilizada. Uso o dinheiro dos livros, para a ONG que criei para ajudar famílias que vivem na mesma situação que eu vivia.
Meu irmão e sua esposa, Marcele, também têm estudado, e hoje também têm seus empregos. A meus pais, tenho garantido sua aposentadoria, eles merecem um pouco de descanso depois de tudo o que fizeram por mim, pessoa a qual eles depositaram toda sua confiança, acreditaram que eu conseguiria e não mediram esforços para me ajudar. Hoje, me orgulho das escolhas que fiz e não me arrependo, mesmo que isso tenha significado abrir mão do homem que sei que jamais irei esquecer, pois, vê-los todos reunidos aqui, sem resíduo daquela tristeza, enche o meu coração.
Não me julguem, eu sei que poderia ter tido essa vida com ele ao meu lado, mas não era isso que eu queria. "Ter essa vida por namorar um homem rico"... não queria esse título. Nunca tive medo do trabalho e sempre fui honesta, eu não iria me vender daquela forma. Ele me fez escolher entre continuar sozinha ou continuar sem ele ao me contar a verdade, pois ele me conhecia e sabia que eu nunca escolheria ficar com ele se soubesse de tudo, por isso a demora em me dizer o que fizera, e quando ele decidiu me levar à sua mansão, me mostrou as facilidades que teria se escolhesse ficar com ele, e eu escolhi seguir sozinha.
Por mais que o amasse, jamais me perdoaria se usasse esse sentimento para subir na vida.
Agora, aqui vendo minha vida diferente, minha família reunida, mesa farta e as crianças seguras e felizes, me sinto incompleta, mesmo não me sentindo culpada pelas minhas escolhas.
Não consigo me sentir completa, e essa falta que sinto não é de comida, água ou vestimentas, essa falta é causada por um vazio que corrói meu peito desde aquela noite, e que jamais será preenchido novamente.
Aí você me pergunta: Eloisa, como você sabe que não tem mais chances? Eu te respondo: Porque um ano depois que meu livro foi lançado e milhares de portas começaram a se abrir para mim, eu estava pronta para procurá-lo e dizer o que tinha conseguido e que agora eu me sentia digna de estar ao seu lado, mas eu não precisei ir até ele, eu o reencontrei no centro da cidade, era fim de ano, assim como hoje, e eu estava comprando uma árvore para o meu primeiro Natal em família na nova casa, eu o vi passar de mãos dadas com uma mulher, eles sorriam, e ela estava grávida.
Minha primeira reação foi me esconder na primeira loja que pude, e comecei a conversar com um homem que me reconheceu pelos meus livros, e pediu para tirarmos uma foto, além de um autógrafo, quando saí da loja não o vi mais. Ele estava feliz, e cada vez mais lindo!
Não queria que me visse e constatasse que eu ainda o amava.
Aquele foi o dia em que deixei de ter esperanças de tê-lo novamente em minha vida, eu não podia culpá-lo, a escolha havia sido minha, e foi idiotice achar que ele me esperaria por um ano. Lógico que não, ele é homem! Agora tinha apenas que pagar pelas consequências do que fiz e seguir em frente.
E agora, mais quatro anos se passaram, e eu estou aqui, com tudo o que sempre sonhei e melhor ainda, frutos de meus esforços.
— Filha, vem comer. — minha mãe me chama e me tira do meu momento nostálgico.
— Estou indo, mãe. — digo, acompanhando todos à mesa.
Nós jantamos a maravilhosa comida de minha mãe, que fez questão de prepará-la. Ela disse que não fazia mais nada na vida e que fazer a refeição da família dela, era o mínimo que poderia fazer, e dispensou o restaurante que eu quis contratar. Todos os anos era assim, ela grudava naquele fogão e ninguém a tirava de lá. Depois do jantar, comemos seus maravilhosos doces, com direito a uma torta de morango, para acabar com minha barriguinha chapada e com certeza, começar o ano com uns dez quilos a mais.
Fomos para sala e nos reunimos em torno da árvore de Natal, trocamos presentes, rimos, contamos histórias, relembramos algumas coisas da época em que morávamos em um pequeno barraco, e no fim, estávamos nos abraçando e agradecendo a Deus por manter nossa família unida, mesmo agora, com tanto dinheiro e cada um com sua vida nos trilhos. Estávamos sempre reunidos e desfrutando da companhia uns dos outros, o que me fazia não me arrepender de minhas escolhas.
Curti muito meus sobrinhos, já que essa semana seria a última do ano e eu iria passar a próxima em auto mar, faria um cruzeiro pelas Ilhas do Caribe, eu precisava disso, precisava sair, conhecer novas pessoas, quem sabe um novo amor, tudo que eu queria era um Ano Novo e um Novo Recomeço.
Já era tarde quando todos foram para suas casas e eu fiquei sozinha. Minha cunhada havia me ajudado com a organização da bagunça antes de sair, então não tinha muito que fazer. Fui para meu quarto, tomei um banho, coloquei uma camisola branca de seda, e fui em direção à varanda do meu quarto. Escorei-me na porta de vidro e fiquei olhando a lua, que hoje estava linda e cheia, pude sentir a brisa da noite tocar minha pele, me fazendo arrepiar, lembranças tomaram conta de minha mente; imagens de minha primeira vez a dominaram, e as lágrimas caíram enquanto eu encarava a lua, era como se ela soubesse de todos os meus segredos e nesse momento, ela assistia meu pranto em silêncio.
Fechei meus olhos com força, tentando controlar as lágrimas e desejei de todo meu coração, que as palavras que ele havia me dito naquela noite, fossem verdade, as que ele dizia para que eu fechasse os olhos e clamasse por ele e ele estaria lá por mim... Tinha sido tudo mentira, ele não estava lá para mim, ele estava com outra e ela iria lhe dar a família que eu rejeitei. Estava na hora de seguir em frente e esse cruzeiro era para isso. Forcei-me a dormir tomando um calmante, há dias que só assim conseguia pegar no sono.
A semana passou voando, e enfim chegaram as tão esperadas férias e, daqui para frente, um novo rumo a minha vida estava decidido.
— Tchau, Elo! Espero que se divirta. — meu irmão me abraçou, se despedindo. Abraço meus pais e meus sobrinhos, e então viro de costas e vou em direção ao grande navio à frente, a cada passo que dou, sinto uma nova esperança crescer dentro de mim. Seriam sete dias em auto mar, hoje é o último dia do ano, eu acompanharia a virada daqui, e eu estava ansiosa por esse novo ano, eu sentia que minha vida iria mudar, sentia que iria encontrar alguém, neste navio; precisava encontrar alguém, eu ansiava por isso... tinha que ao menos tentar esquecê-lo, mesmo que soubesse que era impossível.
Abordo, coloco minhas malas em meus aposentos e vou até a popa, ficando em um lugar onde poderia ver minha família e acenar em despedida, enquanto o navio se distanciava. Pronto! Estava feito, agora era só esperar pelo o que a vida tinha a me oferecer para esse novo ano.
(...)
Estava no meu quarto, terminando de me arrumar, faltava vinte minutos para meia noite. Passei um batom vermelho, da mesma cor do vestido que usava, meus cabelos estavam presos em um coque bem feito e sofisticado, fui até a varanda do meu quarto e encarei o mar, era tão bom sentir esse ar, livre de poluição, como se a natureza mandasse vibrações boas; quando o vento, a brisa da noite e o cheiro do mar se uniam no mesmo lugar, encarei o céu e lá estava a lua, agora minguante, mas mesmo assim, me passava sua cumplicidade quando olhava para ela. Fechei meus olhos e mentalmente desejei que a vida me desse mais uma chance, uma chance de ser completamente feliz.
Saí do meu quarto e em passos lentos segui até o salão de festa, onde todos já estavam reunidos e se preparando para, em poucos minutos, começarem a contagem regressiva, segui até o bar, e pedi para o garçom um martíni, em poucos minutos, o moço de olhos azuis e cabelos loiros me entrega a bebida. Começo a andar pela multidão tentando me enturmar, e começo a conversar com algumas pessoas, acabei reconhecendo algumas que conheci durante estes cinco anos — no meu ambiente de trabalho se conhece muitas pessoas, e fiquei surpresa ao ver que alguns até trabalham comigo.
Todos se aglomeraram na parte de cima do navio para poder fazer a contagem ver os fogos de artifícios, nesse momento, eu me afastei de todos os meus colegas e fui para um canto onde poderia assistir sozinha a este espetáculo.
Faltava muito pouco para começarmos a gritar os últimos segundo daquele ano, e a esperança de ter um ano diferente, crescia mais e mais em mim. Encarava o céu a espera do grande espetáculo, que quase não notei que estava com um sorriso sonhador em meus lábios. Senti minha pele arrepiar, meu coração palpitar e minhas pernas ficarem bambas. Não precisava olhar para o lado para saber que ele estava alí em algum lugar, eu podia sentir sua presença, podia sentir seu olhar sobre mim, e eu nem o estava vendo, apenas sentia. Meu coração perdeu uma batida quando senti sua presença bem ao meu lado. — Respira Eloisa. Respira!
— Oi! — Ouvi aquela voz que eu tanto amava, e que me fazia suspirar cada vez que a escutava quando namorávamos. Agora, meus suspiros, era da saudade que tinha, e ouvi-lo novamente só reacendeu tudo o que eu sentia. — Aí, Senhor! Como seguir em frente assim?
Ainda não acreditando que ele estava alí, fixei meu olhar no seu, e quando fiz isso, notei que seus olhos brilhavam, mas não conseguia decifrar o motivo.
— Oi! — Respondi.
—Você está linda! — Se aproxima mais de mim e eu estremeço.
— Obrigada! — Agradeço, mas logo olho para os lados.
— O que foi? Procurando o marido? — senti mágoa em sua voz.
— Não tenho esposo. Estava procurando sua esposa e seu filho. — Ele me olhou confuso.
— Não tenho esposa também, mas, eu te vi com um cara há anos atrás, pensei que tinha se casado com ele. — Isso me deixou surpresa.
— DEZ! — Começaram a contagem.
— NOVE!
— Quando? — Isso estava muito estranho.
— No mesmo ano que você publicou seu primeiro livro, era fim de ano e eu estava com minha prima Luana, ela estava grávida e eu a estava ajudando com as compras de fim de ano. Foi quando te vi entrar em uma loja e um homem estava do seu lado conversando com você e batendo fotos, vocês pareciam felizes, então imaginei que poderia ser marido ou namorado, percebi alí que era passado para você, então resolvi não incomodar. — Ele diz e sinto as lágrimas rolarem por minha face.
— OITO!
— Era um fã, eu entrei na loja para me esconder de você, pois pensei que a mulher grávida ao seu lado fosse sua esposa. — Confesso e ele arregala os olhos.
— SETE!
— Então não se casou? — Ele pergunta incrédulo e eu apenas confirmo com a cabeça que não.
— SEIS!
— E você? — Pergunto temerosa.
— CINCO!
— Não! Eu sempre estive esperando por você, mesmo achando que estava casada. Veio com quem? — Pergunta e se aproxima com cautela.
— QUATRO!
— Sozinha e você? — sinto suas mãos acariciando meus cabelos e meu coração sorri. Como senti falta desse toque.
— Eu senti seus pensamentos há uma semana, enquanto eu apreciava a companhia da lua cheia em minha casa, e logo senti a necessidade de vir nesse cruzeiro e mesmo sem entender muito, eu vim, pois achei que talvez estivesse em perigo e precisasse de mim. Achei que estava ficando louco, mas agora vejo que não, era você me chamando, não era? — Sorrio com suas palavras.
— TRÊS!
— Sim... fui eu, mas eu chamo por você todos estes anos, porque só agora? — ele sorri.
— Porque dessa vez a lua cansou de ouvir nossos lamentos e resolveu contar seus segredos. — Meu sorriso se expande.
— DOIS!
— Eu sempre fui seu, Elo, e acompanhei todo seu crescimento, e vibrei a cada conquista sua de longe, agora estou aqui, porque ouvi seu chamado e preciso e anseio ser feliz, e só com você eu serei. Basta que me diga para ficar e eu jamais permitirei que você saia de minha vida novamente.
— Essa é minha esperança para este ano, a de ser feliz por completo, e eu sei que minha felicidade só será completa ao seu lado.
— UM!
Juntos, olhamos para o céu assim que os fogos de artifício explodem, fazendo todos sonharem através de tantas cores, enchendo os corações de esperança de um ano novo repleto de conquistas e felicidades, mas eu só conseguia encarar os lindos olhos verdes que estavam a minha frente, me admirando como se fosse a coisa mais importante do mundo.
Ele estava mais lindo do que antes. Gean estava mais encorpado, com mais músculos, o que o tornou mais atraente ainda. Nossos olhares tinham uma conversa silenciosa, não precisávamos dizer nada, e sem nenhuma palavra mais dita, nossas bocas se atraíram, nossos lábios se saboreavam, matando essa saudade absurda, e esse contato fez com que uma explosão de sensações tomasse conta de nossos corpos, e quando menos esperávamos, estávamos em seu quarto, precisávamos urgentemente um do outro, a necessidade era gritante e, ao sentir seu amor através de suas carícias e beijos, senti que aqueles cinco anos, longe um do outro, não foram nada diante do tamanho do nosso amor que estava mais vivo do que nunca. E naquela hora, enquanto me perdia em seu corpo, eu tive a certeza que minhas escolhas haviam sido as melhores para nós dois, pois esse tempo longe só nos trouxe a certeza de nossos sentimentos, e o quanto eles eram fortes o suficiente para resistir ao tempo, e agora, estávamos prontos para ter uma vida juntos.
— Eu te amo, Elo! Sempre te amei. — sussurra ao meu ouvido assim que nossos corpos se unem em um só.
— Eu também te amo. — Acabamos nossa noite nos amando, mas sabíamos que isso não era um final e sim o começo de uma longahistória
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E aí amores como foi a virada de ano de vocês?Espero que boa. Amanhã sai o epílogo. Bju minhas lindas.
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