Capítulo treze
Os atores representando Jeferson e Yasmin
E a colagem dos irmãos aqui
Yasmin narrando
17:00 horas da tarde (Domingo)
A tarde está chegando ao fim. Um dia vai embora, uma tarde está se acabando, uma noite chegando, mas a minha ressaca continua. A ressaca é algo que pelo visto não vai embora tão cedo.
Passei o dia todo com a boca seca, com tontura, a dor de cabeça voltou e está menos forte agora. O que mais me incomoda é o mau estar e as tonturas. Quero melhorar logo.
Lembro do jantar especial que vai ter hoje a noite. Por bons momentos pensei em não sair de casa e inventar algo para mãe. Eu estou cansada. Tô de ressaca.
Teve o baile de máscaras ontem, fui com Jade, conheci um tal de Jeferson, me arrependi de ter dançado com ele, me arrependi de ter o achado bonito.
Jeferson e Albert deveriam ser os irmãos gêmeos, porque eles dois se parecem muito. Eu cheguei em casa hoje de manhã, briguei feio com minha mãe, ela me chamou de mal criada.
Meu erro foi ter enviado errado a mensagem avisando que eu ia dormir na casa da Jade. Acabei enviando para outra pessoa e esse foi meu erro. Por isso tive que ouvir aquelas coisas.
Estou de castigo. Estou cansada fisicamente e mentalmente. Não estou com saco para jantar na casa de ninguém. E nem quero socializar hoje. Quero ficar na minha. Sozinha.
Mas eu lembro de Albert e Alex, lembro da vingança contra eles, e lembro do pó de mico. Convenci o David para me ajudar a colocar pó de mico nas roupas dos gêmeos e ele me ajudou.
Penso no mico que os gêmeos vão pagar nesse jantar e sorrio ao pensar nisso. Não posso desistir. Eu preciso ir para esse jantar e vou tentar ignorar o mau estar.
Não posso deixar a minha mãe perceber que eu estou de ressaca. Capaz dela me matar se souber que bebi. Ela quase me matou ao saber que beijei o Leonardo.
Anotem isso aí. Ela vai me matar se descobri que bebi.
Podem preparar meu enterro. Não posso dar nenhum passo em falso, porque se não morro e aí já sabem. Podem preparar tudo para meu enterro que será breve.
Me veio uma ideia na cabeça. O Albert que contou do beijo então ele quem merece sofrer mais que o Alex. Alex é calmo, mas também adora me provocar e quer mandar em mim. Albert manda Alex fazer besteira, aprontar.
Alex não faz nada sozinho. Ele sempre é mandado por Albert e assim os dois aprontam comigo. Acho Alex covarde as vezes. O outro é bem mais esperto.
Me levanto da cadeira, saio do quarto, vou ao quarto de Albert e abro a porta. O quarto dele está é arrumado. Fico surpresa com isso. Pego o pó de mico de dentro do bolso do meu short e coloco bem muito nas roupas dele.
— Quis provocar uma briga com a mãe, né? —digo rindo ao colocar o pó de mico — Adora confusão, né? Agora chegou meu momento de me divertir. Boa sorte queridinho.
— Vai colocar mais é? Olha você tá ferrada, Yasmin — uma voz diz me assustando, me viro rapidamente, deixo as mãos atrás de mim e logo guardo o pó de mico sem ele ver.
— Cara, você me assustou — digo e solto um suspiro ao ver David parado encostado no batente da porta.
— Não adianta esconder não. Eu vi o objeto do crime — diz com um tom sério e me observa — Você tá ferrada, Yasmin.
— Albert que vai se dar mal — eu levanto as mãos e sorrio. David arqueia uma sobrancelha ao ver o meu sorriso. Ele sabe o que isso significa. Meu típico sorriso maroto sempre tem um significado.
— Yasmin, Yasmin, isso vai trazer problema. Anota o que tô dizendo — balança a cabeça — Eu adoro aprontar. Só que aprontar com os queridinhos é pedir para morrer.
— Para de graça palhaço — bato de leve no braço dele e sorrio — E não vai acontecer nada. Albert só vai me pagar pelo que fez. Só isso. É crime?
— Ok, espero que não sobre para gente — ele sai do quarto e eu o acompanho pelo corredor — Olha precisamos conversar. Tipo, papo sério.
— Minha cabeça está doendo e eu estou tonta — digo, entro no meu quarto e sento na cama — Pronto. Agora podemos começar falando dessa conversa. O que é?
— Sabe esse jantar de hoje a noite, né? — eu digo que sim — Eu, você, os gêmeos e a mãe vamos para um lugar bem...inusitado. Quer dizer... não sei a palavra certa.
— A casa dessa amiga dela é bem diferente...tipo isso? — pergunto confusa sem entender o que é que ele quer dizer.
— Não, não, não — responde bem rápido e fica em silêncio por um tempo. David olha para os lados e parece procurar algo — Cadê os álbuns de fotografia?
— Que álbuns? — fico confusa de novo e penso um pouco — Ah sim. Os álbuns, né? Claro. Estão dentro dessa última gaveta aí do guarda roupa.
— Ótimo. Fica melhor assim — ele sorri, se abaixa, puxa com força a gaveta, mas acaba a deixando cair com tudo no chão — Ops acho que quebrei maninha.
— Acha não. Tem certeza — reviro os olhos impaciente, me levanto e puxo ele pelo braço o fazendo sair de perto — Quebrou a bendita da gaveta. E agora? Onde vou guardar esses álbuns velhos?
— Álbuns velhos e que tem várias lembranças — chama a atenção de volta para ele — Olha isso aqui — pega um álbum grosso, da cor de um verde claro, sem imagem na frente e o abre — Lembra dessas fotos?
David me mostra uma foto de três crianças. A primeira criança era eu, a segunda criança era ele e a terceira um garotinho branco de olhos azuis. Espera, espera, espera lembro dessa foto.
Quando era adolescente gostava de ver as fotos antigas de quando eu era criança. Sempre me deparava com fotos de David e eu juntos e tinha um garoto perto da gente.
Nunca soube quem era esse garotinho. Não faço ideia. Só que sempre que olhava as fotos, eu me esquecia do mundo todo, esquecia do que estava ao meu redor. Não via mais nada. Só as fotos.
Ainda sentia algo bom dentro de mim. Nostalgia e muitas saudades da infância. Sabe o pior? Eu sentia um carinho por esse tal garotinho de olhos azuis.
Na adolescência eu tinha uns pensamentos. Eram como lembranças. Eu criança brincando com David e via outro garotinho do nosso lado.
O garotinho das fotos. Como flashes de memórias. E eu não via ele direito.
— Você me perguntava quem era ele. Lembra? — David chama a minha atenção de novo e o olho devagar ainda pensativa.
— Eu sempre quis saber quem era essa criança com a gente —lembro que eu tinha essa dúvida na minha adolescência — E o senhor nunca me contou quem era. Te perguntava e sempre me deixava no vácuo. Você ficava todo estranho e mudava de assunto.
— Esse garotinho é Jeferson, filho de Verônica e Luciano — o David enfim fala o nome do menino das fotos — E eu te deixava no vácuo, porque não queria te lembrar do passado. Eu, a senhorita e Jeferson éramos amigos na infância. E sabe essa foto? Foi tirada para que nós vissemos quando fôssemos jovens. Você na frente, porque era a mais nova e eu com Jeferson logo atrás. Para a gente ver nossa diferença de tamanho.
— Mas quem ele era de verdade? Porque você não queria me deixar triste? — sento na cama de novo por estar tendo nostalgia por ter visto as fotos e estou sentindo algo bom que não sei explicar. Ver as fotos do garotinho de olhos azuis sempre me deixa animada e muito confusa.
— Nós três éramos amigos e nós formávamos o trio inseparável. A gente era meio antissocial — ele ri ao contar e senta do meu lado — Jeferson era muito tímido. Ele não sabia fazer amigos e você chegou para o ajudar. Se conheceram e eu logo fiz amizade com ele também. Eu e você vivíamos aprontando e ele era calado, quieto, na dele. E quer saber um segredo? Vocês eram inseparáveis. A mãe dele era apaixonada pela união dos dois pombinhos. Ok, eu gostava dele e apoiava o namoro de vocês, mas Verônica apoiava muito mais. Ah e os pombinhos também se casaram de mentira.
— Que casar o que? Pelo que você falou... a gente era criança e nem sabíamos namorar — cruzo meus braços e ainda estou pensativa com a história — E eu não lembro nada desse Jeferson. Nem gosto desse nome — fico emburrada ao recordar do Jeferson do baile.
— É o nome do nosso amigo de infância. O que posso fazer? — ele levanta as mãos se desculpando — Nossa mãe sempre pegou muito no seu pé e você as vezes ficava sozinha com ele e me excluía. Aí eu entendia. A mãe tinha feito algo e você queria contar para ele. Eu os deixava. Ficavam conversando por horas se deixasse e ele a deixava desabafar. Ele te consolava. Só que você acha que ninguém a entende e acabava se irritando com o pobre coitado.
— As vezes você queria espaço, ficar sozinha, chorar e ele acabava não entendendo. Ele queria ser o seu guardião ou algo do tipo. E aí te pressionava para contar qual o motivo da raiva ou da tristeza. Aí te deixava irritada. E foram muitos os anos de amizade entre nós três. Ninguém nos separava.
— Sinto que vem a parte ruim, né? — o olho interessada na história e tento lembrar dessa amizade e do garotinho. Não consigo lembrar. Que chato — Algo aconteceu para gente se separar.
— Eu não te julguei naquele tempo e nem vou te julgar agora—levanta o dedo mindinho e envolvo o meu com o seu — Prometo, prometo, prometo. Promessa de mindinho. Eu nunca vou te julgar. Nunca. Só vou fazer isso se for realmente preciso e se eu ver que tem necessidade.
— Quem acabou com a amizade do trio foi você — revela depois da promessa de mindinho e eu fico surpresa — E eu não te julguei no passado. Você fez novos amigos sabe? Eu tinha 9 anos e você tinha 8 quando começou a se afastar dele. Acho que quis se afastar por conta dele não ter respeitado seu espaço, ele ter te pressionado a contar algum problema ou algo do tipo. Não sei direito.
— Você fez novos amigos e assim deixou o pobre coitado de lado. Ele vinha falar contigo, era ignorado, ele tentava brincar com a gente, e era ignorado, sempre deixava ele sozinho e corria para longe. Assim foram se afastando e ele parou de ir atrás da gente. Ele se afastou um tempo depois. Tentei voltar a falar com ele e foi em vão. Jeff ficou muito mal, se isolou no mundinho dele, ficou sozinho novamente, se isolou de tudo e de todos. Cada um foi para um lado. Foi bem difícil na época.
— Eu lembro de quase tudo e isso é porque tenho a memória boa — diz sério sem expressar diversão na voz. David está triste — Eu sou mais velho que você um ano e eu achei que você iria lembrar bem dele quando tivesse jovem, mas me enganei. Esqueceu do pobre coitado. Acho que a sua mente acabou bloqueando as lembranças, porque foi algo marcante e foram momentos difíceis. Você afastada, com novos amigos, ele isolado no seu mundinho. Os dois passaram por momentos de mudança. Nossa amizade era importante e não foi simples coisa de criança. Foi algo marcante. E por isso nos afetou quando nos afastamos.
Não sei o que dizer. Estou confusa ainda e me sinto culpada. Era uma amizade tão linda e eu fui a culpada por acabar tudo. Nem me surpreendo muito.
Acho que fui a culpada por ter sido a última a nascer, tive culpa por meus pais terem se separado, e agora outra culpa em cima de mim. Fui egoísta e não pensei no mal que faria se me afastasse do meu amigo.
Seria bobagem minha se eu me culpasse por isso agora? Afinal é passado. Seria bobagem?
— Outra culpa para anotar na minha lista — sussurro triste por lembrar nos meus pais.
— Ei, para. Não quero te deixar triste. Eu vim aqui contar e foi para seu bem — meu irmão me abraça e eu fecho meus olhos enquanto o abraço. Amo abraçar meu irmão. Me sinto protegida — Nossa mãe é amiga da mãe do Jeferson — eu o solto rápido ao ouvir — Elas viviam juntas na nossa infância e foi assim que a gente conheceu o Jeferson.
— E o jantar a noite vai ser na casa dela — meu irmão morde o lábio mostrando estar incomodado por estar contando — Verônica fez o convite para mãe. Elas querem nos ver juntos. Elas querem aproximar nossas familias e relembrar como era nos velhos tempos.
— Cara, muita viagem delas terem esperança de voltarmos a amizade de infância —tento soar engraçada e não consigo dizer muita coisa — Sinceramente? Eu não sei nem o que falar. Essa história toda, o fim do trio inseperável, o jantar. Tipo, eu e você nunca mais vimos esse menino.
— Jeferson está um jovem agora. Deve ter mudado muito e talvez tenha feito amigos novos — ele me abraça de lado me reconfortando ao perceber a confusão em meus olhos — Elas não vão nos obrigar a nada. Relaxa. Vai ser só um jantar. A mãe me contou sobre e aí eu vim logo te explicar, né? Porque você precisava saber. Ela me pediu para te contar.
O puxo para mais um abraço apertado e ele entende o quanto estou mal e me sentindo culpada. Eu me preocupei com o garotinho agora? Me preocupei sim.
Na minha infância não pensei nos sentimentos dele e o descartei de imediato. Nem lembro dele, mas sinto um carinho especial ao ver as benditas fotos. Esse menino mexe comigo de um jeito que nem sei explicar.
David sai do meu quarto depois de pedir pela milésima vez que eu pare de me culpar. É ele ficou bem preocupado comigo e não quer me ver triste.
A hora atrás eu só pensava em vingança. Pensava nas reações de Albert e Alex quando vestissem as roupas. Só que agora não penso mais nisso. Esse jantar não vai ser um simples momento.
Verônica e Marlene querem é reunir as famílias. Reunir todos os jovens. É isso que querem. Então significa somente uma coisa e digo com todas as letras:
Vai ser tudo muito estranho.
Podem anotar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro