Um
O livro possui apenas capítulos para degustação!!!!
Adam
Eu não conheço uma única pessoa sequer, que foi obrigada a sair da sua cama em uma manhã de segunda- feira, quando não iria trabalhar e que ficou com um sorriso no rosto. Eu não sou essa pessoa. Você certamente não seria também. Gandhi talvez?
Estou de mau humor e não me culpo por isso, já que mudei todos os planos de um magnífico café da manhã, da minha padaria favorita; para o próximo fim de semana.
Reunião de pais, no jardim de infância, era isso o que me esperava quando abri os olhos essa manhã... E como eu sou o melhor irmão que alguém poderia ter: eis me aqui.
Um pouco atrasado devo confessar, mas o que importa é que eu troquei a minha cama e algo que é absolutamente sagrado para mim — comida — por uma corrida pelo estacionamento da escola da Chloe.
Eu quero ser um tio participativo, do tipo que é adorado por suas crianças. Eu sou muito apaixonado pela Chloe, pela sua doçura e fofura e agora estou totalmente encantado pelo Noah. Também quero ajudar a Mia e o Drew em tudo o que eles precisarem, principalmente agora, com um bebê recém nascido na família. E bem; devo repetir que eu sou o melhor irmão que alguém poderia ter?
É bom que o Drew me dê uma medalha, ou uma placa de melhor tio do mundo; da Galáxia seria mais justo. Talvez eu exija que ele coloque um quadro com a minha foto na sala, um bem grande, abaixo da frase: Esse é o cara. Porque eu sei que sou o cara. Amor próprio é a melhor coisa do mundo e eu tenho de sobra. Não é arrogância, é confiança. Eu sou legal, caso contrário, não estaria aqui.
Eu acho que para o meu azar, estacionei na pior vaga de todas, a que fica mais distante da porta de entrada. A sensação que tenho é de que estou andando em círculos há tempos e como se não bastasse o fato de ter saído atrasado de casa; estou mais atrasado por não achar essa maldita porta.
Estou a ponto de tirar o meu celular do bolso e ligar para a Mia, embora seja humilhante admitir à ela que eu não sou capaz de encontrar a entrada da escola. Ela certamente rirá de mim, muito, muito mesmo; antes de pensar em responder.
À essa hora, é como se não existisse uma única alma nesse lugar. São apenas oito e quinze da manhã, mas é como se todos tivessem sido abduzidos. Já posso imaginar que quando eu enfim encontrar a sala da Chloe, todas as cabeças se voltarão para mim. É como voltar no tempo e estar atrasado para a aula outra vez. O que sempre acontecia comigo em uma segunda de manhã.
Alguns minutos depois, eu finalmente descubro onde a entrada fica e sim, era do lado oposto onde o meu carro ficou. Respiro aliviado quando seguro a maçaneta para abri-la e tudo o que posso pensar é: espero que eles tenham deixado o ar condicionado ligado.
Eu não sei como os fatos a seguir acontecem exatamente, serei incapaz de narrá-los sem que meus olhos me enganem, porque é como se um meteoro me atingisse. Acho que perdi um pouco a minha capacidade mental, nenhum pensamento passa pela minha mente enquanto vejo a linda morena correr até mim.
Até a porta seria o mais correto, porque é bem mais sensato pensar que tudo o que ela realmente quer; é entrar na escola também. Mas eu não estou pensando agora, sendo assim, irei fantasiar durante esses quinze segundos, que ela caminha com a única intenção de me encontrar.
Ela é seguramente a mulher mais linda que eu já vi. Aliás, eu nem sei se já vi outras mulheres realmente, nesse instante eu sou incapaz de me lembrar disso. Mesmo com alguns metros nos separando, eu posso digitalizar cada detalhe dela. Seus lindos e brilhantes cabelos negros, que flutuam enquanto ela corre e insistentemente tocam o seu rosto; fazendo com que ela precise muitas vezes, tirá-los dos olhos. Que olhos...
Eu não sei se são verdes ou castanhos, pois eles mudam de cor à medida que o sol se reflete neles, mas são lindos e cheios de vida. Ela não é alta, mesmo estando longe, posso dizer que ela encostaria em meu ombro, com os seus saltos.
Ela tem um corpo bonito, curvilíneo e embora eu não queira ser esse tipo de cara; ainda sou um cara e esse detalhe não passaria despercebido para mim. Mas mesmo que soe clichê, brega, antiquado e um pouco mentiroso, depois do comentário sobre o seu corpo... O que me encanta mesmo é o seu rosto, é como se existisse uma leveza em seu olhar, uma doçura infinita, ela transmite paz e isso vai soar muito assustador, principalmente para mim; mas acabei de me apaixonar.
Sim, me apaixonei perdidamente em quinze segundos. Se bem que em minha mente, diante da minha fascinação, eu poderia dizer que foram os segundos mais longos da minha vida. O que equivaleria a muitos minutos na Terra do Amor À Primeira Vista.
— Você está entrando? — ela pergunta ofegante, apontando para a porta.
A minha mão ainda está na maçaneta, o meu corpo bloqueia a passagem e agora a minha linda mulher está muito perto de mim, falando comigo. A sua voz é suave, com muita gentileza e educação embutida nela. Eu olho para ela, em seus olhos, ora verdes, ora castanhos. Estou totalmente entregue à beleza desse olhar e não faço a mínima ideia de onde a minha própria voz foi parar.
— Olá... Você está entrando na escola? — ela insiste, com um sorriso gentil — Pode me deixar passar, por favor? Estou com um pouco de pressa.
Eu devo parecer um completo imbecil, mais do que jamais pareci em toda a minha vida; mesmo quando eu fazia as coisas mais estúpidas na faculdade. Balanço a cabeça, buscando freneticamente a minha sanidade perdida e solto a maçaneta em um impulso; como se o metal queimasse a palma da minha mão.
Eu deveria abrir a porta para ela, deveria ser um cavalheiro como a minha mãe me ensinou. Deveria ser educado e causar as melhores primeiras impressões à meu favor. Porém tudo o que eu consigo é me envergonhar um pouco mais, quando ainda permaneço em seu caminho; estagnado na porta como um poste.
— Precisa de alguma ajuda? Está perdido? — ela insiste, passando por mim, depois de praticamente me empurrar para o lado — Sim?
— Não. — é tudo o que sou capaz de dizer, já que o seu perfume ficou no ar e me deixou um pouco mais tonto.
— Ok, tenha um bom dia. — ela se despede, correndo pelo longo corredor vazio.
Seus passos ecoam alto pelo assoalho e se assemelham as batidas do meu próprio coração. O que eu precisava fazer mesmo? Por que eu estou aqui? Passo as mãos pelo cabelo diversas vezes, antes de me sentir razoavelmente normal novamente.
Chloe... Reunião de pais... Jardim de infância. As palavras flutuam aleatoriamente em meu cérebro, para enfim formarem uma frase coerente.
Reunião de pais da Chloe, no Jardim de Infância. Estou vinte minutos atrasado agora e muito mais deslocado que há cinco minutos.
Empurro a grande porta de metal com imensas camadas de vidro e dou graças a todos os anjos e santos, quando o ar frio me recebe. Hoje o dia está excepcionalmente quente e a tendência é que esquente ainda mais ao longo das horas.
Eu daria tudo por uma garrafa de água, ou a chance de passar em um banheiro e molhar o rosto; antes de ir me encontrar com a professora. Mas esse lugar é imenso e o fato de ter me perdido no estacionamento, deixa claro que eu não encontrarei o banheiro com facilidade. Deixo isso de lado, então caminho pelo mesmo corredor que a minha linda mulher caminhou e olho com atenção cada porta, à procura da sala da Senhorita Martinez. Não foi tão difícil descobrir que fica no final do corredor, à esquerda.
Minha mão se levanta para bater na porta e anunciar a minha estrada; mas para no ar. Pelo pequeno vidro, eu posso ver as dezenas de mulheres que estão lá de dentro. Apenas mães e, eu achando que fosse uma reunião de pais. Mas já deveria saber que eu seria o único homem, desde que o meu próprio irmão deu um jeitinho de fugir dessa responsabilidade.
Eu não me importo nem um pouco em ser o único homem aqui, a única coisa que me incomoda e me paralisa, é que a professora parada diante da classe e falando com as dezenas de mães atentas; é a minha linda mulher.
Eu me afasto rapidamente da porta, pensando em uma maneira de escapar dessa situação, mas sem que a Mia e o Drew saibam que eu fiz isso. Eu nunca poderia dizer que hoje seria o dia em que eu perderia a voz, a minha capacidade de fazer amizades, a minha eloquência e bom humor característico.
Justo hoje, justo agora em que eu conheci o amor da minha vida... Simplesmente me sinto um garoto de treze anos, com aparelho e espinhas, sem a menor habilidade social. Viro-me rapidamente, disposto a caminhar até o carro e mentir para a minha família sobre o que realmente aconteceu. Disposto a inventar alguma desculpa boba, mas aparentemente eu não fui tão sutil ou discreto assim. A porta se abre e a professora, a senhorita Martinez, a minha linda mulher — que para a minha sorte ou azar, são a mesma pessoa — está me olhando com curiosidade.
— Olá... Você é o pai do garoto novo, o Javier? — ela pergunta, inclinando o rosto ao esperar a minha resposta.
— Não. — eu respondo simplesmente, como fiz há minutos.
— Ainda acho que você está perdido. — ela diz, rindo em seguida — A secretaria fica do outro lado, três corredores à direita.
— Sou o tio da Chloe. — consigo finalmente dizer, antes que ela feche a porta novamente — Adam, sou o Adam.
— Ah. — ela murmura, como se algo por fim fizesse sentido — O tio Adam, a Chloe fala muito de você. Só coisas incríveis, preciso enfatizar.
— Obrigado.
— Entre, escolha um lugar e se sente. — ela diz, abrindo um pouco mais a porta e gesticulando para a sala — Como você sabe eu também me atrasei e ainda nem comecei a reunião.
Só pode ser uma brincadeira. Escolha um lugar? Um homem de 1 metro e 80, sentando em uma frágil cadeira feita para crianças de 4 anos? Simplesmente não, obrigado mesmo assim... Eu caminho até o fundo da sala, fingindo manter a atenção em meu celular e ignoro os olhares em minha direção.
Eu me sinto como uma peça de quebra cabeça que veio no pacote errado, totalmente fora do contexto da sala. Mesmo assim, procuro agir com naturalidade, me encosto à lousa ao fundo da sala e cruzo os braços, depois de ter guardado o meu celular no bolso.
Durante vinte minutos ou mais, eu ouço a minha professora falar sobre as crianças. Sim, em meu coração ela já é minha, ela apenas não sabe disso; ainda. Irei informá-la, assim que recuperar a minha coragem e encontrar cada palavra perfeita, que a fará se apaixonar por mim também.
Existe muito amor na forma como ela fala de cada aluno, fica evidente que cada criança significa muito para ela. Eu me encanto um pouco mais a cada minuto e preciso admitir que não presto muita atenção ao que está sendo dito, apenas em quem diz.
Eu me sinto literalmente dentro de uma comédia romântica, quase posso jurar que os cabelos da minha professora flutuam enquanto ela fala e uma luz intensa a segue cada vez que caminha pela sala. Eu sei que estou em sérios problemas, mas não posso evitar. Eu sempre imaginei que quando conhecesse alguém realmente especial seria exatamente assim. Como se eu mal pudesse respirar... Como alguém pode fazer isso com você, roubar todo o seu ar apenas ocupando o mesmo espaço?
A sensação que tenho é de finalmente encontrei o que procurava, mesmo que até há meia hora, eu não soubesse que estava procurando algo. Eu não sou conhecido pela minha sensatez, essa parte ficou com o meu irmão. Sou muito mais emocional, assim como a minha mãe, sendo assim eu posso dar ouvidos ao meu coração e tudo o que ele me diz agora é: Eu vou me casar com essa mulher.
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