Seis
"Estou desistindo de você. Estou perdoando tudo, você me libertou... Envie o meu amor a sua nova amada, trate-a melhor. Tenho que me libertar de todos os nossos fantasmas. Nós dois sabemos que não somos mais crianças. Se estiver pronto, se estiver pronto, se estiver pronto... Eu estou pronta." ♥♥♥ Send my Love- Adele (Cover Sofia Karlberg) ♥♥♥
Sarah
Todos nós já ouvimos aquela voz interior nos dizer para não fazer determinada coisa, não seguir por aquele ou esse caminho. A minha voz interior é bem sensata, na verdade ela é muito mais madura do que eu e na maior parte do tempo; escutá-la, me livra de muitos problemas. E de muita diversão também, isso é o que a Sam costuma me dizer com bastante frequência.
Na última semana eu calei totalmente a minha voz interior, eu a deixei adormecida dentro de mim e, desde então, tenho agido apenas por impulso... Isso é bom, embora eu esteja esperando que a qualquer momento algo de errado aconteça.
Tem que existir algo de errado com um cara super legal, inteligente, bonito e muito engraçado, que se mostra tão interessado em você, a ponto de fazer todas as coisas que o Adam fez até agora. E tem que existir algo de muito errado comigo também, por ter simplesmente gostado de tudo. Eu estou viciada em falar com ele todos os dias, em compartilharmos as coisas mais bobas do nosso cotidiano. Em trocarmos pequenos pedaços de nós mesmos, como se fossem as coisas mais incríveis do mundo. E às vezes são, porque o meu trabalho pode ser muito divertido e o Adam é um pouco louco.
Ele é um bom amigo; provavelmente o melhor que eu já tive e mesmo que às vezes a sua intensidade me faça dar um passo para trás, eu me sinto confortável ao seu lado... Ok, não ao seu lado exatamente, já que estivemos à maior parte do tempo cada um em sua casa, mas mesmo à distância; eu sinto que posso ser eu mesma com ele.
Sete dias não pode ser considerado uma grande quantidade de tempo, eu sei desse detalhe, a minha parte sensata sabe mais ainda. Eu disse a mim mesma que não deveria sentir todas as sensações que senti, apenas por encontrá-lo por alguns minutos e trocarmos alguns olhares; mas eu senti. Definitivamente senti muito mais do que deveria.
Ele me fez esquecer todo o drama que a volto do Nick e da futura senhora Campbell trouxe à minha existência. Eu não me torturei uma única vez sequer, pensando no nosso terrível e absolutamente inadiável encontro. Todos os meus minutos livres foram gastos pensando em um determinado tio, de uma das minhas alunas mais lindas.
Sobre essa pequena particularidade da nossa amizade, eu ainda não sei se isso pode me prejudicar de alguma forma. Mas estou quase certa de que não existe nenhuma política de não confraternização entre professoras substitutas e tios adoráveis. Na sexta-feira, Adam me convidou para sair outra vez. Confesso que eu esperei esse convite antes, em qualquer outro dia da semana e já estava convencida de que ele havia desistido desse encontro.
Eu pensei muito sobre isso e imaginei que esse convite, seria a chance que eu precisava, a desculpa que eu queria para fugir da festa do meu tio. Entretanto, eu fiz a grande besteira de contar a Sam sobre Adam e nem preciso dizer que foi dela a brilhante ideia de convidá-lo para a festa. Algo que eu não precisei fazer, já que ele se auto-convidou. Eu não estou 100% convicta de que essa foi a melhor ideia que eu tive, embora não possa deixar de admitir que por alguns minutos, imaginar a cara do Nick ao nos ver juntos; me deu uma certa sensação de vitória.
Porém foi tão efêmero quanto um pôr de sol, pois eu jamais usaria o Adam dessa forma. Eu sei melhor do que ninguém, qual a sensação de se sentir usada por alguém e é horrível. Estou encarando a noite de hoje, como a possibilidade de passar um tempo divertido com um amigo, como a chance de nos conhecermos melhor e estou torcendo com todas as forças para que Nick tenha uma grande dor de barriga e não esteja na festa.
Hoje pela primeira vez em anos, eu não acordei e fiquei olhando para o teto do meu quarto, deixando a melancolia tomar conta de mim... Eu acordei e me lembrei que hoje será o dia em que eu encontrarei Adam pessoalmente e isso me fez sorrir, me fez sorrir muito. Mas é apenas a ansiedade normal de uma amiga, que vai rever um amigo querido.
E não foi nada demais também, eu ter passado horas escolhendo uma roupa ou me maquiando. Não existe absolutamente nada de anormal nisso, as mulheres de uma forma geral passam muito tempo se arrumando, especialmente em um sábado à noite. Não tem particularmente nada a ver com o fato de que eu quero parecer bonita para ele, porque eu não quero... Não, não... De jeito algum.
São oito horas quando Adam estaciona em frente à minha casa. Eu sei disso porque a minha rua é muito tranquila e o barulho do seu carro seria perceptivo para qualquer um e não porque eu estava esperando ao lado da janela. Não posso vê-lo através do vidro escuro do carro, mas parece que ele está hesitante em sair. Será que ele mudou de ideia?
Eu não quero que ele tenha mudado e enquanto espero; aperto o tecido da cortina entre os dedos, desejando que ele saia logo e acabe com a minha tortura. Isso demora muito mais do que eu poderia aguentar, dez minutos talvez, mas ele finalmente sai e caminha até a minha porta.
Antes que ele bata, eu corro até meu quarto e calço os meus sapatos. Um par de scarpins vermelhos de doze centímetros; que me deixam linda e quase magra, mas que acabam com as minhas panturrilhas. Soa um pouco masoquista e realmente é, mas fazemos sacrifícios pela beleza.
Ajeito o meu vestido tubinho preto e vermelho e passo as mãos pelo meu cabelo liso, graças aos quarenta minutos em que fiquei o escovando. Na verdade, o meu cabelo é sem dúvida a parte mais temperamental de mim; mesmo se comparado ao meu peso, que muda constantemente. Meu cabelo ganha com vantagem. Ele sempre está perfeito e alinhado, quando vou ficar em casa, mas é só eu colocar os pés fora, para que ele fique rebelde. Com a minha bolsa em mãos, eu espero na porta do meu quarto até que Adam bata na porta... Puxa a vida, ele está definitivamente muito mais indeciso do que eu hoje. E onde foi parar toda aquela certeza que ele dizia ter?
Ele bate duas vezes e eu me apresso em atender antes que ele se vire e vá embora. É tão natural e sincero o sorriso que nasce em meus lábios cada vez que eu o vejo, mesmo que eu quisesse não me mostrar interessada, seria absolutamente impossível.
Ele está muito bonito, com jeans escuros, uma camiseta branca simples e uma jaqueta preta, que combina perfeitamente com os seus olhos. Olhos esses, que estão muito fixos em mim, me deixando quase tímida, quase com vergonha. Será que eu me arrumei demais? Será que eu exagerei na maquiagem? Devo estar um pouco diferente do que ele se lembrava e espero que esse diferencial seja algo bom.
— Oi Adam. — eu o cumprimento quebrando o silêncio entre nós, passando a mão na frente do seu rosto para chamar a sua atenção.
— Oi Sarah. — ele devolve rindo, balançando a cabeça em seguida.
Se eu fosse uma expert em relacionamentos, diria que o primeiro encontro é o mais estranho de todos. Ficamos na dúvida sobre o que dizer, sobre como agir. Não sei se eu deveria abraçá-lo como costumo fazer com meus irmãos e primos. Ou devo beijar o seu rosto, como faço com a Sam. Bom; ele é o meu amigo e não amiga, então um abraço será mais seguro sem dúvida.
Ele me surpreende, tocando levemente a minha mão direita. Seus dedos são suaves e quentes, sua palma se encaixa perfeitamente na minha. A minha mão muito menor que a sua, é óbvio. Não é esquisito, não é desconfortável.
É como tocar a mão do garoto que gostamos no colégio pela primeira vez, eu até poderia rir desse pensamento; mas Adam me surpreende mais ainda ao me puxar para um abraço apertado. Seus braços circulam o meu corpo, tocando o meu cabelo rapidamente, antes que eu me afaste. Posso jurar que o seu perfume ficou em meu vestido e que irei senti-lo em mim a noite toda.
— Podemos ir? — ele me pergunta sorrindo, ainda segurando a minha mão.
— Podemos sim. — eu digo soltando a sua mão — Deixe-me apenas pegar o meu celular e as chaves.
Eu corro pela sala, a procura das minhas chaves. Não sei por que eu não as deixo simplesmente na porta, ou no porta-chaves que a minha mãe me deu. Eu as encontro ao lado da TV, meu celular sobre a mesa da cozinha. Sorrio para o Adam ainda parado à minha porta, enquanto guardo o celular na minha pequena bolsa de mão e caminho até ele.
Ele se afasta e me dá espaço para fechar a porta sem que eu precise pedir. Adam caminha em linha reta até o seu carro, mas eu faço um pequeno desvio, indo em direção a minha garagem ao lado esquerdo da minha casa.
— Você quer dirigir? — ele pergunta, quando me vê destrancar a porta da garagem.
— Não. — respondo rindo, quando ele vem me ajudar — Vou pegar o presente do meu tio que ficou no meu porta-malas.
— Uau, o seu carro é legal. — ele diz com admiração, passando a mão por toda a lataria do meu Maverick — Você vai me deixar dirigi-lo algum dia?
— Vejamos. — eu inclino a cabeça, fingindo pensar — Talvez, se você for bonzinho para mim.
— Eu serei, serei muito bom para você, Sarah. — ele diz, ficando sério de repente.
— Você pode me ajudar com isso? — eu peço, dirigindo os meus olhos para o imenso quadro em meu porta-malas, para disfarçar o calor que suas palavras trouxeram ao meu rosto — Será que caberá no seu carro?
— Claro. — ele puxa o quadro sozinho e o leva até onde o seu carro está estacionado — Posso perguntar o que é isso?
Eu deslizo o papel de seda que cobre o quadro, para o lado; revelando a linda pintura Vintage de um Maserati anos 70. A imagem é muito vivida, quase real o bastante para parecer que o carro vai sair do quadro a qualquer momento.
— O meu tio ama carros antigos, na verdade todos os homens da minha família o fazem. — eu conto, colocando o papel em seu lugar outra vez — Minha família possui uma oficina de restauração, especializada apenas em carros vintagens.
— Verdade? — ele pergunta, colocando gentilmente o quadro em seu carro — Isso parece muito legal.
— É bem legal. — eu digo com orgulho — Eu ganhei o meu Maverick do meu irmão, quando fiz 18 anos e ele passou uns 7 meses o restaurando. Ele é muito bom no que faz.
— Como aqueles programas de TV? — ele caminha até a porta do passageiro enquanto fala e abre a porta para mim — Eu sempre assisto, embora não seja tão aficionado por carros assim.
— Sim, como os programas de TV . — eu confirmo, me acomodando no banco e esperando que ele faça o mesmo, para continuar a falar — Assim como o futebol é uma religião para algumas pessoas; automóveis são sagrados para os Rodrigues e Martinez. Prepare-se para ouvir muito sobre esse assunto hoje.
— Eu mal posso esperar. — ele sorri ao ligar o carro.
Eu passo o endereço do meu tio para ele e fico em silêncio, apenas o observando dirigir. Ele me olha algumas vezes ao longo do trajeto e sorri, mas não diz nada e eu não sei o que dizer. Acho melhor deixar as coisas fluírem de forma natural, já que sou péssima em flertar.
—Acho que seremos os últimos a chegar. — eu falo, quando ele passa pela rua estreita, abarrotada de carros dos dois lados — Talvez você consiga estacionar no final da rua.
Eu aponto enquanto falo, mostrando a ele a casa dos meus tios e a dos meus avós paternos que fica ao lado. De repente eu desejo ter pensado em chegar mais cedo, eu já posso imaginar no quanto a nossa entrada será triunfal e chamará a atenção de todos. O pensamento me causa um calafrio e um nó no estômago, já que eu gosto de passar despercebida a maior parte do tempo.
Adam finalmente encontra um lugar para estacionar, um pouco mais longe do que eu imaginei, mas terá que servir por agora. Ele sai, correndo para abrir a porta para mim e eu me seguro para não sair sozinha, antes que ele faça isso. Fecho a porta com cautela e espero ele acionar o alarme, antes de caminharmos juntos.
Ele me surpreende segurando a minha mão e eu fatalmente o surpreendo ainda mais, quando não o repudio e aperto a sua mão entre a minha. Trocamos um sorriso e damos alguns passos somente, quando eu me lembro do presente de aniversários. Rimos juntos da minha cabeça de vento, voltamos para buscá-lo e Adam gentilmente o leva para mim. As duas mãos ocupadas, o impossibilitando de segurar a minha mão agora... Por que eu escolhi um presente tão grande?
— Esse bairro é legal. — ele diz, enquanto andamos por entre os carros estacionados no meu fio — E quantos carros incríveis. Me sinto em uma feira de automóveis.
— Eu te disse. — dou risada, parando ao lado do carro do meu irmão e fazendo uma pose engraçada sobre ele — Esse é o Impala do meu irmão, o amor da sua vida. Ele nunca me deixou dirigi-lo, mas eu o fiz uma vez, enquanto ele desmaiou bêbado no sofá da sala.
—Você contou a ele? — Adam pergunta, colocando o quadro no chão e se apoiando nele; enquanto espera a minha resposta.
— Não contei, ele teria me batido.
— Ele teria? — ele pergunta um pouco em choque.
— Não teria, estou brincando. — digo tocando o seu braço, antes que ele pense que os homens da minha família são violentos — Isso iria ferir o seu orgulho e eu achei melhor guardar esse segredo.
— Alguém mais sabe sobre isso?
— Ninguém, nem mesmo a Sam, porque ela tem a língua grande demais.
— Então será o nosso segredo à partir de agora. — ele diz, piscando para mim.
— Será. — eu confirmo, piscando também.
Não sei por que, mas eu tenho vontade de ficar olhando para ele a noite toda, poderíamos apenas ficar aqui fora, conversando sob a luz da lua. Já que agora eu me sinto um pouco covarde, ouvindo a música e as vozes que vem de dentro.
Será que o Nick está aqui? Será que ele realmente veio e trouxe a noiva a tiracolo? Eu poderia ter pergunto a Sam sobre isso, mas tentando fugir de todas as perguntas que ela me faria em seguida; achei melhor não fazê-lo. Olho rapidamente para todos os carros ao redor, como se eu pudesse detectar o carro de Nick entre eles. Eu nem sei que tipo de carro ele tem agora.
Adam estala os dedos, me tirando do torpor que eu me afundei nos últimos segundos.
— Eu viajei um pouco agora. — me desculpo, rindo de forma nervosa, começando a andar com ele logo atrás de mim.
Eu não dou dois passos sequer antes de bater em alguém. Geralmente eu não sou nenhum pouco desastrada, mas eu não estava prestando atenção e acabo me desequilibrando em meus saltos para completar. Eu teria caído se a pessoa em quem eu bati, não tivesse me segurado. Passo os meus olhos pela camisa preta de linho, colocando as mãos sobre o peito masculino, com a intenção de me afastar para agradecer.
Por alguns segundos, eu tenho a sensação de que possa ser o meu irmão ou um dos meus primos, mas quando levanto os meus olhos da camisa e os dirijo em direção ao rosto da pessoa; tenho um choque. É o Nick... É lógico que seria ele, já que o destino gosta de criar essas situações o tempo todo.
O meu destino principalmente, porque ele é muito masoquista. Eu me afasto em um impulso, chocada e surpresa, batendo as costas no peito de Adam agora. A sua mão livre, vem automaticamente ao redor da minha cintura e eu a cubro com a minha mão, quase sem perceber.
— Oi. — eu digo quase em um sussurro, olhando para aqueles olhos castanhos que eu tanto amei.
— Oi Sarah. — ele devolve com um meio sorriso, seus olhos indo de mim para o Adam e depois para as nossas mãos juntas, em uma velocidade quase assustadora — Há quanto tempo.
Ele diz isso de forma tão casual, como se fôssemos dois conhecidos que não se viram mais por culpa da rotina e da vida. Mas somos ex-namorados, cujo térmico aconteceu através de um e-mail informal e muito frio. Eu sei que nada disso importa agora e definitivamente não quero parecer rancorosa ou magoada diante dele.
— Sim, muito tempo. — eu digo por fim, sorrindo da forma mais normal que posso — Tudo bem?
— Ótimo, estou muito bem.
Ele parece muito bem como sempre, não posso dizer que esses quase dois anos trouxeram grandes mudanças a sua boa aparência. Talvez o cabelo castanho liso esteja um pouco mais comprido do que ele costumava usar e acho que ele está um pouco mais forte também. Nada de barriga flácida de cerveja ou sobrepeso de pizza. Ele é um idiota, mas um idiota bonito; eu não posso negar.
— Você está... — ele me olha de cima a baixo, certamente procurando a melhor definição, antes de completar com um enorme sorriso — Linda, muito linda.
Ah, essas covinhas; eu as adorava tanto. Gostava de fazê-lo rir, apenas para ver as suas covinhas.
— Obrigada. — digo, apertando um pouco mais a mão do Adam.
— Não vai me apresentar ao seu amigo? — Nick me pergunta, com evidente curiosidade no olhar e um menear de cabeça em direção ao Adam.
— Claro, esse é o Adam. — e me virando sorridente para o Adam, eu completo — Adam, esse é o Nicholas.
Ele odeia que o chamem assim, por isso fiz questão de fazê-lo. Adam estende a mão primeiro, mas sem soltar a minha cintura. Nick a aperta rapidamente, se afastando em seguida para voltar a me olhar.
— Vocês estão juntos? — ele pergunta, me deixando sem resposta.
— Estamos. Definitivamente estamos. — Adam responde por mim. Eu olho para ele, com as sobrancelhas levantadas e mordo os lábios para não sorrir. Eu poderia contradizê-lo, mas isso não é uma mentira, desde que viemos a festa juntos.
— Eu vou me casar, você já deve saber. — Nick diz, ficando sério diante da minha interação com o Adam.
Ele disse isso como se esperasse que a informação me magoasse e estranhamente, parece que ele sentiria alguma satisfação se isso acontecesse.
— A Sam comentou por alto. — eu conto, dando de ombros. Com vontade de mostrar a língua para provar que eu não me importo — Parabéns.
— Obrigado. — ele agradece, passando as mãos pelo cabelo — Foi bom te ver, Sarah.
— Você também, Nicholas. — eu enfatizo o seu nome e não me viro, quando ele passa por nós.
Espero que ele esteja indo embora. O nosso encontro foi melhor do que eu esperava e devo grande parte disso à companhia de Adam. Nenhuma batida estranha no coração, graças a Deus por isso. Mas eu irei apreciar muito mais a noite, se ele não estiver aqui.
— Eu penso sempre nela, Sarah. — ele fala, depois de ter dado apenas alguns passos.
Eu me viro, olhando para a sua tatuagem de borboleta colorida, brilhando no seu antebraço esquerdo. Eu tenho uma igual, um pouco menor, na lateral do meu umbigo.
— Eu também. — eu sussurro, acenando em entendimento.
Ele some rapidamente na escuridão, me fazendo pensar que de uma forma muito estranha; esse foi o nosso fim. Eu me sinto estranha, nem triste, nem alegre. Um sentimento sem definição certa, mas eu diria que se assemelha ao alívio, mesmo que não seja exatamente isso.
— Quem é ele? — Adam me pergunta, me girando de encontro ao seu rosto.
— Meu ex-namorado. — eu digo com sinceridade — Fazia um tempo que não nos víamos.
— Foi um pouco estranho, vocês dois... — ele faz uma careta, me fazendo sorrir levemente — Quer dizer, você ainda sente alguma coisa por ele?
— Não. — digo de forma enfática, com medo que ele pense que estou mentindo — Nós temos uma história, um passado com alguma dor e foi estranho encontrá-lo; mas é só isso o que ele é: o meu passado.
— Isso é bom, desde que você não viva no seu passado. — ele diz, afastando o cabelo que caiu na minha testa.
— Eu vivi por muito tempo. — admito com um suspiro — Mas não existe mais nada para mim lá e o presente pela primeira vez, me parece muito mais convidativo.
Ele sorri tão lindamente, estamos tão próximos, os seus braços não me abandonaram nenhuma vez e ser tocada por ele é algo que me agrada. Tanto que eu tenho vontade de colocar os braços ao redor do seu pescoço e beijá-lo. Ele provavelmente teve o mesmo pensamento, pois olha para a minha boca e aproxima o rosto do meu.
Eu suspiro, sentindo meu coração se acelerar, mas de uma forma muito boa. A antecipação de um beijo, que há muito eu não sentia, que há muito eu não desejava. Eu fecho os olhos, esperando os seus lábios tocarem os meus, mas tudo o que acontece é a queda do quadro do meu tio. O maior e mais assustador barulho de todos quando se está à espera de um beijo, com os olhos fechados.
Eu abro os olhos não contendo uma risada, Adam logo se junta a mim e rimos por alguns minutos, as nossas risadas se misturando ao som da música que vem de dentro da casa.
— Será que quebrou? — eu pergunto, me afastando relutantemente para me ajoelhar diante do quadro.
— Acho que não. — Adam diz, ficando na mesma posição que eu e retirando o papel de seda em busca de algum dano — Não, está perfeito.
Ficamos em pé outra vez e ele me puxa de encontro ao seu peito, me abraçando com ternura. Eu exalo o seu perfume, fechando os olhos enquanto ele beija o meu cabelo.
— Melhor nós entrarmos, antes que alguém venha ver o que foi esse barulho horrível. — eu digo me afastando, mas segurando a sua mão.
— Sim, é melhor mesmo. — ele concorda, tentando equilibrar o imenso quadro em um braço só.
Dou risada, soltando a sua mão para que ele possa segurá-lo da forma certa. Eu definitivamente preciso escolher presentes mais discretos à partir de hoje. Faço um gesto para Adam passar na minha frente, apontando a entrada da casa.
Eu ainda estou sorrindo, quando me viro uma última vez para a rua e vejo o Nick encostando em um dos carros na calçada em frente. A luz da rua é fraca, mas eu posso vê-lo perfeitamente. Levanto a mão em um gesto de despedida, porém não espero o bastante para saber se ele retribui. Eu corro atrás do Adam, sentindo que finalmente me libertei do meu passado... Eu estou pronta; finalmente eu estou pronta para seguir um novo caminho.
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