Capítulo 16 - Barbara
Por pouco não passo direto pela garota loura em minha corrida até o percurso onde alguns sócios estão jogando golfe. Se fosse outro dia, eu teria a ignorado, mas sabendo que são os irmãos de Zander e seu pai que estão jogando eu acabo decidindo que parar não é a pior escolha.
— Finalmente nos conhecemos. Eu sou a Hilary. — Ela estende uma mão e não consigo deixar de reparar em suas unhas perfeitamente cuidadas. Ela é perfeita em toda parte.
O tipo de garota que os pais de Zander se orgulham em saber que está com o filho deles. Tento afastar esse pensamento assim que o tenho, mas acabo me perguntando o que eles fariam se soubessem sobre nós. Não sou exatamente a mulher que eles planejaram para Zander.
— Seu nome é Barbara? — Ela não parece muito preocupada em saber a resposta, mas concordo mesmo assim. — Eu li no crachá. De qualquer jeito, eu estou querendo falar com você já tem um tempo.
Acabo dando de ombros, sem saber como continuar. Não sei o que Hilary poderia ter para me contar, mas estou curiosa.
— Eu sei que você e o Zander estão tendo um caso... — Seus olhos passam por meu corpo e os lábios sobem nos cantos. Não consigo acreditar que ela esteja me analisando. — De qualquer jeito, eu acho que é meu papel vir te avisar para não criar muitas expectativas. Você deve saber que isso vai acabar logo.
— Como é? — Uma risada me escapa porque não sei de que outra forma eu poderia reagir.
— Você e o Zander são muito diferentes. E se ele não quis ficar comigo, que tenho praticamente a mesma vida dele, eu duvido que vá querer ficar com você. Eu só vim te dar esse aviso porque você parece ser uma garota inteligente. Sei que não vai tomar a decisão errada. Você não deve se prender à ele.
Meus punhos se fecham ao lado do corpo, mas consigo me manter calma. Sei que o que Hilary está dizendo é verdade e sou realista o suficiente para saber que minha relação com Zander não passa de um caso de verão, porém é diferente ouvir essas palavras vindas de outra pessoa. Ao invés de responder como eu gostaria, agradeço pelo aviso e sigo para o buraco número seis, onde estou sendo aguardada. Sinto meu rosto queimar de raiva à medida que coloco distância entre nós duas. Só consigo pensar no quanto eu gostaria que ela estivesse longe de estar certa, mas, infelizmente, não está.
Avisto Octavia no meio dos quatro homens e me sinto culpada por estar fugindo dela. Desde que ela me levou até Zander no começo da semana que venho evitando encontrá-la porque sei que bastará um olhar e Octavia saberá o que estou escondendo. Ela é boa assim em ler as pessoas e acho que é um dos motivos de Clarice a manter como sua assistente.
Minha amiga dá um sorriso a me ver, mas não se afasta do Sr. Morris. Acredito que ela esteja tratando de algum dos intermináveis problemas de administração do clube. Tecnicamente, Clarice é quem toma as decisões, porém volta e meia a opinião de seu marido é levada em conta por ele ser um dos melhores advogados do Estado.
— Você está aí, — um dos homens exclama. Ele é praticamente uma cópia do pai e o reconheço imediatamente como Trenton Morris, o filho mais velho. Ouvi algumas histórias sobre o quanto ele é insuportável, mas tenho dificuldade de acreditar por conhecer sua mãe e Zander.
— Desculpe pela demora, senhor. — Eu me forço a chamá-lo assim mesmo duvidando que ele vá notar.
— Não peça desculpa por seu erro... — Ele marcha em direção ao pequeno frigobar acoplado no carrinho de golfe e apanha uma garrafa de água. — Minha mãe precisa saber que os funcionários dela estão deixando os sócios esperando.
Seus olhos me encaram por tempo o suficiente para que eu note o quanto ele e Zander são diferentes. Eles podem ser irmãos, mas as semelhanças acabam na aparência. Trenton parece ser o tipo de pessoa que nunca está satisfeita com nada, e eu digo isso mal o conhecendo.
Olho por cima do ombro para Octavia e Patrick Morris. Felizmente os dois ainda estão conversando e não ouviram o que Trenton disse. Não quero pensar no que pode acontecer se ele estiver dizendo a verdade. Eu corro o risco de ser demitida por isso e não posso perder esse emprego de jeito nenhum.
— Eu estava à caminho daqui quando outro sócio me parou. — Sinto a raiva subir por meu rosto ao pensar no que Hilary disse. Não consigo acreditar que estou ouvindo a reclamação de um sócio por causa dela.
— Já disse que não quero saber das suas desculpas. — Ele me dá as costas e me alivio ao perceber que Trenton perdeu o interesse em nossa conversa. Espero que ele se esqueça da reclamação.
Viro para os outros dois homens. Um deles tem os mesmos olhos azuis do resto da família e eu não consigo deixar de admirar o quanto é diferente dos outros. Pelo modo como seus ombros estão projetados e ele fala com o outro homem cheio de confiança eu posso praticamente sentir a força de sua presença. Em comparação com Joel, Trenton é praticamente invisível, mas nenhum dos dois chega a ter o carisma e a presença do irmão mais novo.
— Desculpe atrapalhar, — assim que me aproximo, os dois param sua conversa. — Posso oferecer algo para vocês beberem?
— Eu aceito uma água. — O louro diz e assim que retorno com sua bebida ele agradece e se afasta, me deixando com Joel.
Ele vira para mim, mas seus olhos estão presos nos do louro que acabou de nos deixar. Não sei quem é o quarto homem, mas ele veste as mesmas roupas esportivas e se comporta como os Morris, então eu assumo que é alguém próximo à eles.
— Eu aceito uma cerveja. Você por acaso tem alguma nesse carrinho? — Ele pergunta após um tempo. Sua voz é um pouco mais grave que a de Zander e eu acabo rindo ao notar. Joel me devolve o sorriso, provavelmente entendendo minha reação da maneira errada.
— Eu tenho algumas.
Sinto Joel me seguir até o carro e quando paramos ele volta a encarar o homem com quem estava conversando. Rapidamente lhe entrego a bebida e corro para me sentar ao volante, porém meu plano de fugir não dá certo quando Joel se senta ao meu lado.
— Quantos anos você tem? — Ele pergunta abruptamente, me deixando confusa.
— Dezoito.
— O Oliver estava certo... Você tem mesmo a idade da sobrinha dele. Eu não acreditei nisso... — Ele ri sozinho. — Ah, desculpa, você não deve estar entendendo nada.
— Não.
— É que você me lembra duma pessoa, — Joel balança a cabeça, pensativo. — Eu pensei que vocês dois pudessem se conhecer, mas você é bem mais nova que ele, então deixa para lá.
Joel se levanta e começa a se distanciar. Por alguns segundos eu só fico parada, muito confusa para entender o que ele está falando, mas finalmente consigo processar suas palavras e parte de mim fica curiosa em saber com quem Joel estava me comparando.
— Você está falando do Zander? — A pergunta me escapa antes que eu impeça.
Joel para onde está e vira lentamente. Seu sorriso está ainda maior quando ele se inclina para dentro do carro, sem se sentar.
— Eu sabia que o meu irmão não ia deixar você passar. — Ele diminui a voz para que mais ninguém escute. Eu gostaria de lhe dizer que estamos longe o bastante para ele continuar falando normalmente, mas não faço isso. — Ele não está namorando a Hilary, não é?
Ao invés de responder, volto a encarar os homens afastados de nós. Os três são homens sérios, posso notar de longe que não estão acostumados a ficar muito tempo ao ar livre. Provavelmente passarão mais de metade de suas vidas em seus escritórios e devem trabalhar por diversão. Joel, mesmo com o sorriso fácil e a postura relaxada, também faz parte do mundo deles. E posso ver Zander assim daqui a alguns anos. Sei que ele nega que fará parte disso, mas sua capacidade é a mesma, se não maior, do que a desses homens. Ele é inteligente e esforçado o bastante para se dar bem no que quiser, basta que ele perceba. Nós dois não estamos destinados a ficarmos juntos. Ele vai seguir em frente, e eu também. Não vou me surpreender em nada quando ficar sabendo que ele se tornou um homem tão importante quanto seu pai. Mas a questão é: será que tem espaço para mim no mundo deles?
Volto a encarar Joel e sei que seria fácil confessar tudo para ele. Posso identificar alguns dos traços que eu tanto adoro em Zander. Consigo ver que ele é tão tranquilo quanto o irmão, mas há uma fagulha maliciosa no olhar de Joel que não vejo em Zander. Eles não são a mesma pessoa. É provável que Joel esteja mais interessado na resposta para contar ao resto da família do que com o bem estar do irmão mais novo.
— Eles estão juntos. — Minha mentira acaba soando bem convincente pelo fato de que minha voz sai estrangulada.
— Barbara, eu preciso de uma carona para a sede. Já está voltando?
Não vi Octavia se aproximar, mas me sinto grata por ela nos interromper. Se Joel continuasse com essas perguntas eu não tenho certeza se teria muito mais força para continuar fingindo. Lanço um sorriso para Joel e parto com o carro rapidamente, sentindo o olhar curioso de Octavia em mim. Ela vira a cabeça para trás, analisando os homens que deixamos para trás.
— O que aconteceu lá? Pensei que o Joel estava sendo legal com você, mas então percebi que você ficou branca como se tivesse visto um fantasma e fui correndo te salvar. Sabe querida, se você não queria falar com o Joel era só ser sincera, ele é um cara legal.
— Não foi nada disso, — sinto meu rosto corar imediatamente. Joel não estava flertando comigo nem nada, mas me pergunto se era isso o que ele faria se Octavia não tivesse aparecido. — Ele me perguntou se eu conheço o Zander.
— Ah, eu pensei que ele pudesse ter se interessado por você, — Octavia solta um suspiro. — De qualquer jeito, podemos nos arrumar juntas para a festa hoje? Eu preciso mesmo conversar com você, Barbara.
— O que aconteceu? Combinei de encontrar minhas amigas antes de ir para a casa dos Morris.
— Será que posso ir com vocês? Eu não tenho carona. — Octavia revira os olhos e lhe lanço um olhar complacente. Seu carro quebrou na semana passada e está na oficina enquanto não encontramos a peça necessária para troca.
— Não vejo problemas. — Dou de ombros e a felicidade de minha amiga é instantânea. — Octavia, o que você precisa me contar?
— Não é nada sério... Hey, essas amigas são Valentina e Abigail? — Faço que sim e noto o sorriso de Octavia vacilar. — Ah, ela está mesmo noiva?
— Sim...
— E você conhece o cara?
— Não. Eles começaram a namorar no último mês do colégio, mas eu não saí muito com a Abby na época porque estava estudando.
Octavia respira fundo ao meu lado, como se estivesse sentindo dor. Seu rosto não está mais relaxado e um vinco profundo marca sua testa.
— Por que você quer saber disso? Você conhece o Andrew?
— Sim. Ele tem a minha idade, você sabe disso, não? — Ela me vê concordar com a cabeça e continua: — Eu o encontrei em um bar outro dia e ele contou a novidade. Ele parecia animado.
— Imagino que ele esteja... A Abby não ia aceitar uma proposta dessas se não tivesse certeza de que ele gosta dela. — Ou ao menos foi o que eu vim me dizendo nos últimos dias. Ainda não sei se ela fez a melhor escolha, porém não encontrei nenhuma forma de mostrar o erro que está cometendo.
— E ela gosta dele?
— Muito.
— Era o que eu precisava saber. — O sorriso que Octavia me dá é forçado, mas sei que ela deve estar tão preocupada com a escolha do amigo quanto eu estou com a de Abby.
Pelo menos não sou a única receosa com o que isso pode trazer.
— Está animada para hoje à noite? Você não me contou como foi a conversa com Zander.
— Ele é bem legal.
— Vocês dois ficariam tão bem juntos. Que pena que ele está namorando... Mas não acho que seja tão sério. Eu tive uma ideia! — Ela bate palmas, me fazendo rir. — Vou te deixar tão incrível que ele não vai conseguir resistir ao seu charme.
Eu acabo rindo com a proposta de Octavia. Sinto meus dedos coçando e eu queria muito poder contar para ela que eu e Zander já estamos juntos, que não há nenhum necessidade para ela me ajudar a conquistá-lo, mas ao invés disso acabo concordando silenciosamente. A conversa com Hilary volta à minha mente e, pela primeira vez, não estou tão ansiosa para que a noite chegue.
***
Ao fim do meu turno, encontro Octavia diante de meu carro. Percebo ela hesitar durante alguns segundos antes de me seguir para dentro do veículo. Há algo acontecendo com Octavia, sei disso porque ela tem agido de modo diferente nos últimos dias. Ela tem estado mais distante e desligada que o normal.
— O que está acontecendo? — Finalmente encontro a coragem para perguntar depois de dirigir por algum tempo em silêncio.
— Nada, — ela vira no banco ao meu lado e com minha visão periférica vejo-a cruzar os braços. — Tudo bem, você não acredita em mim, não é? Eu podia te perguntar a mesma coisa, mas não vou fazer isso.
— Do que você está falando? — Sinto que é a minha vez de ficar tensa.
— Isso mesmo, Barbara. Eu passei a te conhecer muito bem no último mês e eu sei que tem alguma coisa acontecendo entre você e o Zander. Toda vez que eu falo dele você fica apreensiva, como está fazendo agora. E a conversa que você e o Joel tiveram hoje cedo só confirmou minhas suspeitas. O que está rolando entre vocês dois?
— Nada, — respondo rápido demais e Octavia suspira. — Eu queria que minha resposta fosse diferente, mas não é.
Meu coração afunda no peito e tento manter a respiração estável, mas a verdade é que tenho pensado nisso desde cedo. Hilary poderia estar usando as palavras para me atingir, porém ela não deixou de estar certa. Acho que eu estava ignorando o fato de que o que eu tenho com Zander está fadado a acabar logo, por mais intenso que seja. Nunca planejei ficar aqui e mesmo depois de conhecê-lo, ainda não mudei de ideia. Posso dizer que ele também pensa assim, ou já teria revelado há muito tempo que nós dois estamos juntos. Dói dizer isso, mas nós temos apenas um pequeno caso de verão para viver. E eles sempre chegam ao fim junto com a estação.
— Eu tenho certeza de que essa festa vai ser a melhor de todas. — Octavia volta a falar animadamente, alheia à mim. — Shane sempre ri de mim porque eu falo isso todos os anos, mas eu estou sentindo que desta vez a festa vai ser inesquecível.
Ela passa toda a curta viagem até a cada de Valentina falando sobre os acontecimentos das festas passadas. Quando chegamos vejo o carro de Abby já estacionado e a irmã de Val sentada na varanda do primeiro andar. Liza ergue o rosto, e ao percebe que sou eu, volta a ler sua revista. Ela é tão diferente de Val, tanto fisicamente quanto na personalidade. Eu sempre pensei que irmãos fossem parecidos por receberem a mesma criação, mas Liza e Valentina são a prova de que isso não é verdade. Talvez meu irmão não tenha nada a ver comigo e seja mais parecido com as outras crianças que moram no parque.
— Barbara, eu acho que é melhor eu não entrar. — Octavia me puxa pelo braço e volto à realidade. Ela está de novo com aquele olhar nervoso. — Eu não sei se suas amigas vão gostar de me ter por perto, afinal vocês três combinaram de se arrumarem juntas e eu vou atrapalhar tudo.
— Esse é o seu único problema? — Não sei o que eu queria ouvir, mas fico um pouco decepcionada quando ela concorda em afirmativo. — Elas não vão se incomodar por você ter vindo. Se você é minha amiga, também é amiga delas.
Octavia afunda as mãos no cabelo, desfazendo seu coque, e encara a varanda da casa por longos segundos. É engraçado pensar que ela está com medo de enfrentar duas garotas de dezoito anos.
— E se elas não gostarem de mim?
— Deixa de bobeira. Vem logo. — Rindo, subo os degraus da varanda e aceno para Liza antes de tocar a campainha. — Vocês vão se dar bem, não se preocupa.
Tenho a impressão de ouvir Octavia murmurar, mas o som é abafado pelo barulho da porta se abrindo. Valentina e Abby me abraçam ao mesmo tempo, cada uma fazendo sua própria apresentação para Octavia e me empurrando para a sala de estar simultaneamente. Antes de entrar eu me asseguro de que O. está bem com tudo e ao notar o pequeno sorriso em seus lábios eu relaxo.
— Esse vai ser o final perfeito para o nosso verão! — Val dá alguns giros pela sala com braço abertos e se joga no sofá.
Só pode haver uma explicação para sua alegria: Valentin. Nunca pensei que fosse ver os dois tão apaixonados quanto agora.
— Vocês não estão ansiosas para começarem as aulas? — Ela continua em seu estado sonhador enquanto sinto meu corpo cada vez mais rígido.
Eu não contei sobre a faculdade para elas, e Octavia não sabe. Não estive mentindo nem nada, simplesmente não encontrei o momento certo para explicar que meus pedidos de bolsa de estudo foram negados e eu não tenho como pedir um empréstimo ou arcar com as despesas. Imagino que essa notícia acabaria com a felicidade das duas, e o que eu menos queria nesse verão era fazer com que elas se sentissem na obrigação de me ajudar. Nós três estivemos tão ansiosas para terminar a escola e entrar na faculdade que eu quis compartilhar um pouco da animação delas antes de deixar a realidade me atingir.
— Apesar de eu não estar vivendo meu grande sonho, estou bem feliz por estar entrando nessa nova etapa, — Abby dá de ombros e se senta em uma das poltronas do lado oposto de Val. Ela empurra os óculos pra cima e me encara. — E você, Babs, está animada para começar os estudos?
— Mas ela não vai pra a faculdade agora. — Octavia interrompe visivelmente confusa.
Os três pares de olhos viram em minha direção ao mesmo tempo e de repente fico muito interessada nas manchas de lama em meus tênis. Posso sentir meu rosto queimar e me preparo para o que está por vir.
— O que você quer dizer com isso? Barbara, do que ela está falando? — Valentina levanta em um pulo e se aproxima. — Tem alguma coisa errada?
— Bem... — Meus braços parecem pesar uma tonelada quando tento me mover. — Aconteceram algumas coisas e eu acho que não vou poder sair de casa agora.
— Por causa da gravidez da sua mãe? Olha você não tem que se responsabilizar por isso. Até seus pais já disseram. — As sobrancelhas de Val se curvam tanto que quase tocam seu cabelo.
— Não é por isso... — Minha voz falha e lanço um olhar de súplica para Octavia, imaginando se ela é capaz contar o resto. Não posso ficar realmente chateada por ela ter falado, afinal era de se esperar que minhas amigas mais próximas soubessem o que acontece em minha vida.
— O que aconteceu? — Abby vem em minha direção com os braços envolta da própria cintura. Sempre achei engraçado ela se abraçar em busca de conforto quando está preocupada, mas hoje não vejo humor algum.
— Eu não tenho como pagar. — Dou de ombros e uma risada áspera sobe por minha garganta. Se eu me recuso a chorar, pelo menos posso rir com a ironia de minha situação. Enquanto eu faria de tudo para poder pagar meus estudos, estou saindo com um cara que está fazendo de tudo para nãoestudar.
— Mas e a bolsa de estudos? — Val pergunta sem compreender de fato o que acabei de dizer. — Você conseguiu a bolsa. Você e a Abby vão para a mesma faculdade e depois que a gente se formar, vamos morar juntas. Como a gente planejou.
Mesmo que eu estivesse saindo da cidade junto com elas, duvido que nosso plano fosse se realizar. Quando fizemos esse pacto Valentina não tinha um namorado e Abby não estava noiva. O máximo que poderia acontecer agora é sermos vizinhas, isso seeu tivesse como bancar minha moradia fora daqui.
— Meu pedido foi negado. Eu não tenho mais opções, mas está tudo bem. Consegui um bom emprego no clube e é o suficiente por enquanto. — Forço um sorriso e Octavia balança a cabeça como se dissesse que não estou convencendo ninguém.
— Ah, querida, você já pensou em uma faculdade comunitária? — Abby hesita antes de esticar o braço em minha direção. Por ser mais baixa que eu, ela precisa inclinar um pouco o queixo para poder me encarar. — Eu sei que não era sua ideia, mas acho que é a melhor opção agora. Você pode fazer algumas matérias e juntar dinheiro por um tempo e depois pedir transferências para alguma faculdade com um bom curso de medicina.
— Eu não pensei sobre isso. De qualquer jeito, agora já está tarde. As aulas começam em menos de duas semanas.
— Não é tarde. — Octavia sorri satisfeita consigo mesma. — Eu tenho um amigo que me deve um favor. E por acaso o pai dele está na diretoria da faculdade comunitária daqui. Eu posso ligar e em poucos minutos ele vai arrumar uma entrevista para você.
— Isso é ótimo. Liga logo! — Val comemora enquanto Octavia digita apressadamente em seu celular e se afasta de nós. — E você, Barbara, tem que se arrumar para conquistar um cara.
— Eu acho que ela já o conquistou. — Minhas amigas soltam algumas risadas enquanto me puxam pelas escadas para o quarto de Val.
Engulo em seco, ouvindo novamente o discurso de Hilary em minha cabeça. Sei que suas palavras não teriam me atingido se eu já não estivesse pensando o mesmo, mas o problema é que ela não foi a única sugerir que sou um passatempo para Zander. Meus pais concordariam com ela se pudessem, e eu acho que eles não estão sozinhos. Desconfio que até mesmo Valentina tenha essa ideia sobre Zander. O maior problema é: será que eu quero continuar sendo apenas uma diversão para ele?
Copyright © 2015 N N AMAND
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