Capítulo 14
- Vai com a titia meu amor. - Dou um beijo em Joshua.
Entrego ele a Karen, que é uma das responsáveis pela creche, e como meu filho ama ela, praticamente se joga sobre Karen.
- Como você está garotão? - Karen o abraça com força.
Joshua resmunga e abre um largo sorriso, e apesar de ficar com um leve ciúmes, sei que ele ama Karen porque ela o trata muito bem.
Apesar dela estar sorrindo e brincando com meu filho, Karen não está com o brilho e animação costumeira.
- Não que seja da minha conta, mas aconteceu alguma coisa Karen? - Pergunto preocupada.
Já estou atrasada para o serviço, mas que tipo de pessoa eu seria ao ver alguém triste em minha frente e não fazer nada? Normalmente Karen é risonha, e tão agitada que não para um segundo sequer, e eu até posso estar enganada, mas hoje ela está bem calada e desanimada.
Óbvio que ninguém é feliz o tempo todo, porém desde que a conheço essa é a primeira vez que a vejo dessa forma.
- Estou com alguns problemas pessoais. - Ela sorri fraco.
- Quer dividir comigo?
- Não. - Ela nega com a cabeça. - Não quero trazer mais ninguém para a bagunça que está minha vida.
- Eu melhor do que ninguém, entendo como é ter a vida virada de cabeça para baixo.
- Preciso ir olhar as crianças. - Ela muda de assunto.
- Ok, mas se precisar conversar pode contar comigo.
Karen me olha por um tempo, e eu posso ver a guerra interior que ela está tendo no momento, então não serei insistente e darei liberdade a ela, e se por acaso ela quiser conversar comigo fará isso.
- Preciso... Preciso ir agora.
- Tudo bem. - Sorrio abertamente.
Karen me dá as costas e entra na creche que meu filho nós braços, e por alguns segundos fico olhando para ela se afastar lentamente, e logo em seguida caminho até o elevador.
Minha vida já está complicada demais para querer saber dos problemas dos outros, mas o que posso fazer? Se tiver a mínima chance de eu ajudar de alguma forma, farei isso sem pensar duas vezes.
Lauren me salvou sem ao menos me conhecer, então talvez tenha chegado o momento deu retribuir a ajudar que recebi ajudando outra pessoa.
Eu sei muito bem como é viver um inferno e não ter ninguém para te tirar de lá, e eu ainda tive sorte porque fui salva por Lauren, mas existem muitas mulheres que passaram ou passam o que eu enfrentei, e não tem ninguém para ajudá-las.
O que é mais triste é saber que boa parte dessas mulheres são como eu. Fui tão manipulada ao longo do tempo, que quando eu era agredida, achava que a culpa era minha mesmo eu não tendo feito nada, e que eu merecia aquele sofrimento todo.
Olhando para a Becca do passado sinto raiva de mim mesmo por ter aceito tanta humilhação, porém o que eu poderia fazer? Charles fez uma lavagem cerebral em mim, e fez de mim uma pessoa vazia e sem vida, e isso só mudou quando eu descobri que estava grávida.
Você ouvir todos os dias que é imprestáveis, que não serve para absolutamente nada, que seus pais te abandonaram porque você é uma pessoa insignificante, e ouvir tantas outras coisas ruins, chega o momento em que acaba acreditando que aquilo é verdade, e foi isso que aconteceu comigo.
Eu não gosto nem de lembrar os tipos de merdas que ouvi do Charles, e tantas humilhações que tive que enfrentar, mas isso faz parte do meu passado, e por mais que eu queira esquecer de tudo, isso nunca vai acontecer.
O que posso fazer agora e tentar ser uma mulher mais forte a cada dia, e quando eu lembrar da garota manipulável que eu era, não irá ser tão doloroso, porque enfim eu consegui superar tudo.
Talvez doa menos conforme o tempo for passando, e eu tento acreditar nisso, pois não quero passar toda minha vida carregando uma ferida que nunca irá se cicatrizar por completo.
- Becca?
Me assusto quando alguém chama por mim, e quando me viro em direção a voz vejo Max me olhando.
- Você me assustou. - Levo a mão ao peito.
- O que foi? - Ele se aproxima de mim. - Você estava parada em frente a mesa, olhando para o nada há algum tempo.
- Desculpe. - Sorrio fraco. - Estava tão pensativa que nem percebi que já havia chegada até minha mesa.
- Está tudo bem? - Max parece preocupado.
- Está sim. - O tranquilizo.
- Se precisar de algo me avise.
- Sim senhor. - Aceno com a cabeça.
Max sorri como sempre faz quando o chamo de senhor, e então volta para seu escritório em passos largos.
Fico o olhando por um tempo, e agora que o vi sinto meu coração mais aquecido, e então me lembro o quanto amo esse homem.
Antes de me julgarem e achar que sou uma amiga falsa e que desejo o marido da Lauren, isso não é verdade. Eu realmente amo Max, mas não é um amor entre um homem e uma mulher, e sim amor de irmãos.
O amo da mesma forma que amo Lauren, e tenho esse sentimento não só porque ambos me ajudaram muito e ainda me ajudam, e sim porque eu tenho uma família graças aos dois.
Serei eternamente grata aos meus amigos por tudo que fizeram por mim, e espero que no futuro eu tinha a chance de compensar toda ajuda que me deram até agora.
Eu sei que tudo que fazem por mim não é visando receber algo em troca, e sim porque ambos tem coração de ouro, e são pessoas bondosas e amáveis.
- Becca não é?
Olho para trás 3 vejo Heitor, e automaticamente meu coração se acelera.
- Sim, sou a Becca. - Respondo.
- Bom dia Becca.
- Bom dia senhor. - Retribuo o cumprimento.
- Apenas Heitor, por favor.
- Tudo bem. - Sorrio fraco.
Rapidamente olho em volta, porque uma parte de mim desejava que Rick estivesse com Heitor, mas ele está sozinho.
- Irei dizer ao Max que você chegou.
Heitor acena com a cabeça, e mais do que depressa me afasto dele, e caminho até o escritório.
Assim que me aproximo, bato na porta duas vezes, e a abro quando Max manda entrar.
- O Heitor chegou. - Falo.
- Pode mandá-lo entrar. - Max volta sua atenção aos papéis sobre sua mesa.
- Sim senhor.
Saio do escritório em passos largos, e quando meu olhar cruza com o do Heitor, vejo que tem alguém atrás dele, e esse alguém se chama Rick.
- Pode entrar Heitor. - Forço um sorriso.
- Obrigado Becca. - Ele também sorri.
Heitor entra no escritório e fecha a porta, enquanto eu e Rick ficamos nos olhando a uma certa distância.
- Como tem passado Becca? - Rick questiona.
- Muito bem e você?
- Ótimo. - Rick sorri fraco.
- Fico feliz.
A última vez que vi Rick foi há mais de um mês, quando ele apareceu no apartamento com as mãos sujas de sangue.
Senti sua falta todos os dias, porque em tão pouco tempo, eu já havia me acostumado com sua presença e seus cuidados, porém eu sei que fiz a escolha certa ao mandá-lo embora.
Eu não seria capaz de ver Rick chegando sujo de sangue em casa, e ficar me perguntando se era dele ou não, ou pior, se ele iria voltar para casa.
Rick fez suas escolhas eu eu fiz as minhas, e apesar de sentir sua falta, não me arrependo da distância que coloquei entre nós dois.
Todos os dias eu me perguntava se ele estava bem, o que Rick estava fazendo, se ele havia desistido da ideia de matar Charles, e apesar das minhas inúmeras perguntas, eu mantive distância.
Eu chorei muito quando ele foi embora, e como sempre Lauren estava lá para me consolar e me apoiar, e eu sou muita grata a minha amiga, por sempre estar me ajudando a juntar meus cacos.
- Por favor sente-se. - Aponto para uma das poltronas. - Irei preparar um café.
Mais do que depressa saio de perto do Rick, e então entro na cozinha, e só então relaxo um pouco. Suspiro algo e limpo minhas mãos suadas na saia, e me encosto no balcão pois sinto todo meu corpo trêmulo.
- Respira Becca.
Coloco a mão no peito, e sinto meu coração tão acelerado, que parece que vai soltar do peito a qualquer momento.
Dou um tapinha em meu rosto para reagir, e então caminho até a cafeteira para preparar o café, e me assusto com alguém me abraçando por trás.
- Você não faz ideia do quanto senti sua falta Becca. - Rick me aperta com força.
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