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Essa festa virou um enterro




Era uma semana atípica.

Lisa nunca havia dormido tantos dias na própria cama desde que passou a morar no Grande Palácio, quatro anos atrás. Nada de chegar tarde da noite, nada de passar dias fora e aparecer tropeçando nos pés. Lisa Manoban precisava se manter longe dos holofotes — o que se mostrava uma decisão bastante difícil — e com isso, incluía não entrar em nenhuma rede social.

Foi orientada a esperar a poeira abaixar antes de se posicionar sobre o namoro.

Levou o vasilhame cheio de pipoca a mesa de cabeceira, zapeando os canais a fim de encontrar um filme desinteressante o suficiente para não fazê-la pensar. Viu seu rosto em alguns canais, venda de semi joias, reprise de novela mexicana, até que, num impulso desligou o aparelho.

O silêncio a fez perceber que o desconforto que antes não sabia nomear se chamava solidão. Lisa se sentia vazia mais vezes do que gostava de lembrar, por isso era vantajoso estar sempre rodeada de pessoas aleatórias dançando em uma batida qualquer, por isso era bom beber, porque quando não sentia mais as próprias pernas e a visão começava a ficar embaralhada, o vazio também sumia.

Ali era só ela, o quarto levemente arrumado e um balde de pipoca.

O estrondo que se seguiu a assustou e, logo depois, Ten foi visto na porta do quarto.

— Qual o problema em bater na porta como uma pessoa normal?

— Assim não teria graça. — Ele deu de ombros.

Ten não encarou a irmã ao entrar no cômodo. Os olhos focados na tela do celular mostrava que ele não tinha medo de escorregar num prato de comida pelo chão ou tropeçar em um puff qualquer, desviou de todos os obstáculos com maestria até escancarar as cortinas, trazendo luz ao quarto.

Lisa gritou, como uma vampira exposta ao sol ao tentar fugir do raio de iluminação que cegou seus olhos.

— Que porra! Ten, o que deu em você!? Eu não...

— "O anúncio improvável do namoro lésbico de Lisa Manoban com o chefe de campanha, Jennie Kim, trouxe uma onda de solidariedade em toda a Ásia" — ele dizia com uma voz robótica, como se anunciasse os destaques do Jornal Nacional. — "Incitados pela coragem da vice-filha, vários artistas LGBTs saíram do armário essa semana, o mais recente foi o caso de dois atores chineses e uma idol do grupo sul-coreano Red Velvet".

Lisa sorriu pequeno, bisbilhotando as notícias pelo ombro do irmão.


"@jenlisadate: namore alguém que olhe para você como Lisa olha para a Jennie. Elas estão tão apaixonadas!"

"@twicelove em resposta a @jenlisadate: Precisamos de mais interações..."

"@CNNews: Veja como o vice-namoro impacta a economia em vésperas de eleição"

"@_Capricho: Como Jennie Kim conquistou a garota mais cobiçada do país?"


Os únicos comentários negativos encontrados foram de garotos desapontados por Lisa estar namorando, como se tivessem qualquer chance com ela.

— A hashtag #jenlisa não sai da timeline tem mais de uma semana e as pessoas estão mais preocupadas com a invasão da privacidade de vocês, do que pelo fato de ser um namoro lésbico.

— Não é um namoro lésbico... é um namoro entre duas garotas.

— Carlinhos Maia fazendo escola, ein? — Ten a encarou em choque. — E por acaso vocês são alienígenas? É um namoro falso lésbico.

Mostrou a língua para o irmão, voltando a se sentar na cama.

— Não me olhe assim, Lisa.

— Assim, como? — murmurou, com um bico nos lábios.

— Como se eu estivesse errado! Se você disser isso em rede nacional a chances das pessoas te chamarem de homofóbica são bem grandes. É melhor se reiterar no dicionário LGBT, aprender novas gírias como "auge", "a louca", "amada", usar camisas com "Deus fez o homem e a mulher e eu pego os dois" essas coisas... se quiser te empresto algumas.

Lisa franziu as sobrancelhas, confusa. Era como se o irmão estivesse falando grego, mas não teve tempo de perguntar o significado daquilo tudo pois a conversa foi interrompida assim que percebeu a mulher parada no batente da porta — ela até poderia estar ouvindo a conversa, se não transparecesse um semblante tão desinteressado.

Ela vestia um terninho preto e elegante, e a substituição da camisa de botões por uma gola rolê entregava um ar chique. Um pequeno ponto de comunicação brilhava no ouvido esquerdo e Jisoo passou as mãos pelos cabelos vermelho escuro, macios e reluzentes, antes de entrar no quarto.

Lisa sempre teve a impressão que Kim Jisoo havia acabado de sair de um filme sobre espionagem, onde pulava no teto de bondes em movimento para salvar a pessoa amada enquanto caem de paraquedas.

— Bom dia, senhores. — A voz dela soou baixa e melodiosa. Os gêmeos que lutem para conseguir ouvir o tom sempre calmo e premeditado da vice-assessora. — Precisamos fazer uma rápida reunião. — Fechou as cortinas novamente, acendendo a luz no processo.

Era difícil dizer com precisão qual era o trabalho de Jisoo. Ela era comandante das forças táticas e responsável pela segurança do vice-presidente, parecia uma sombra e era possível vê-la aos fundos nos comícios, passeatas e atividades ao ar livre. Participava também das reuniões importantes, onde as portas estavam sempre trancadas.

— Sosoo!

— É Jisoo.

Ten riu da cara de Lisa.

— Me acha engraçada, senhor?

— O quê? Não, não! — Ele cruzou as pernas, inflando as bochechas. — Se quiser pode sentar aqui, tem espaço. — Apontou para cama onde estava sentado com Lisa.

Jisoo ao menos ponderou, fez uma careta encarando o lençol cheio de restos de salgadinhos e pipoca e preferiu continuar em pé.

— Estou aqui para falar sobre os preparativos do casório.

— Ah... — Lisa suspirou, chateada. — Você veio para isso?

— Para que mais eu viria? — O rosto dela era analítico, como se a vice-filha fosse um espécime raro de idiota.

— Você podia contar uma das suas histórias pra gente, de quando era espiã na Coreia do Norte — Ten sugeriu. — Quantas pessoas você já matou?

— Armário me contou o dia que você matou um cara em Veneza só usando a força da beleza. — Lisa tinha as mãozinhas fechadas para conter o ânimo, sem sucesso, já que parecia uma abestalhada sorrindo. — E caiu de paraquedas do avião segundos antes dele acertar As Torres Gêmeas!

— Você nunca me contou essa! — Ten tapou a boca, extasiado. — Tem boatos que quando o homem pisou na lua pela primeira vez já tinha uma foto da Jisoo lá...

Jisoo sentou-se, cruzou as pernas, esperando pacientemente.

— Tudo isso é mentira.

Os gêmeos fizeram biquinho, os olhos cheios d'água. Pareciam duas crianças desapontadas após descobrirem que papai noel não existia.

— Mas se fosse verdade você diria? Ou está dizendo que é mentira porque nós não podemos saber que é verdade então tá fazendo a gente acreditar que é mentira? — Se inclinou para chegar à beirada da cama. — É uma mentira verdade? Ou verdade mentira?

— É um: cale a boca os dois pois eu tenho assuntos mais importantes para tratar, então é melhor cooperarem antes que eu cometa um duplo homicídio contra os filhos da nação e tenha que me refugiar num terreiro de macumba no estado do Ceará como o Michael Jackson fez.

— MEU DEUS, O MICHAEL JACKSON NÃO MORREU?

— Eu sabia, Ten! Eu sabia! — Lisa agarrou os ombros do irmão, sacolejando-o.

— CALEM A BOCA! — Os dois congelaram em suas posições, encarando de soslaio a assessora do pai molhar os lábios com a língua e descruzar as pernas, calmamente. — Fico feliz que não precise usar a força física. Onde estávamos?

Ten fez uma pinça com o indicador e o polegar, fingindo costurar a própria boca, porém, Lisa levantou o dedo, como uma aluna prodígio.

— Estávamos na parte do casamento.

— Esclarecedor, mas foi uma pergunta retórica. — Jisoo ao menos levantou os olhos, folheando as páginas apressadamente. Seus dedos eram angulosos e mortais.

— É estranho querer que ela me estrangule? — Lisa cochichou para a irmão.

— Será que ela aceitaria...?

— Não realizo fetiches sexuais, senhores. — A assessora respondeu, ainda centrada nos papéis.

Lisa não sabia onde enfiar a cara.

— Aqui está tudo que precisa saber sobre a senhorita Jennie Kim. — Ela lhe entregou uma pasta pesada. — Leia e decore tudo. Vocês vão participar de programas de televisão, rádio, entrevista com a Marília Gabriela, comercial de margarina, absolutamente tudo, entendeu?

— ... entrevista com a Marília Gabriela?

Jisoo ignorou a pergunta e estendeu uma foto de Jennie, aparentemente numa padaria, os cabelos desgrenhados e os olhos inchados. Lisa coçou o queixo, intrigada. Será que Jennie sabia que estava sendo observada por uma ex espiã do serviço secreto enquanto ia comprar o café da manhã?

— Quero que ande de mãos dadas com ela, quero que saiba o que ela faz assim que acorda pela manhã, desenho favorito, linhagem de pelo menos três gerações, manias, defeitos, qualidades, se coloca Nescau antes ou depois do leite, se chorou quando 2NE1 debandou...

— Se ela não chorasse seria um psicopata... — sussurrou.

— Quero que pareçam cúmplices desse namoro há anos, então ria das piadas dela, tenha uma parte do corpo dela preferida... sem ser órgãos genitais, por favor, ainda estamos num país conservador. — Jisoo arregalou os olhos em advertência. — Quero que a olhe como se o sol nascesse em cima da buceta dela, quero que pareçam tão próximas como se tivessem dividido o mesmo ventre, tá me entendendo, Lisa?

— Ei! Eu que dividi o ventre com a Lisa! — Ten apontou pra si mesmo.

— Exato, conheça Jennie como conhece o seu irmão.

— Que bizarro... — balançou a cabeça.

— O que disse?

— ... que fantástico!

— Pois bem, o resultado das eleições está nas suas mãos e da senhorita Kim. — Jisoo respirou fundo, ajeitando o smoke. — O que eu particularmente acho bastante problemático, aliás. Então vê se não estraga tudo.

Lisa sentiu um fio de suor descer pelas costas e chegar na barra dos shorts. Aquela última frase a perseguia e, quanto mais pensava sobre ela, mas as chances de fazer o contrário.


(...)


De: [email protected]

Para: [email protected]

"Creio que já acabou de ler a pasta com as informações sobre sua noiva, em anexo mandei toda a programação para a próxima semana.

A senhorita Kim também está ciente.

PS: troque o nome desse email."

[Anexo]

Segunda-feira: 3º Jantar Beneficente da Associação LGBTQI+;

Terceira-feira: gravação do programa do Luciano Hulk. (Não faça piadas com o nariz dele);

Quarta-feira: Almoço (terá uma equipe de paparazzis esperando vocês do lado de fora);

Quinta-feira: Passarão um dia em uma praia paradisíaca (postar pelo menos 5 fotos e 7 tweets);

Sexta-feira: Comitiva para as eleições presidenciais em Pattaya (Já decorou o jingle da campanha?);


Lisa deixou o celular cair na própria cara de propósito. Na esperança de causar uma concussão craniana, deixando-a desacordada por uma semana ininterrupta. Porém, o iphone bateu no seu nariz e rolou para fora da cama, caindo no chão.

O quarto foi arrumado sem sua autorização, provavelmente a mando do pai. Estava fula por isso, mas com preguiça demais para descontar a raiva em qualquer outra coisa, além do mais, o que diria? Uma séries de tweets do quanto não gostava que arrumassem seu quarto? Não era possível fazer isso sem ser taxada como uma adolescente mimada.

A primeira colocação estava errada, a segunda não.

E era nessas horas que sentia falta de ter um amigo de verdade. Shawn Mendes ainda curtia o começo de namoro, Kylie e Kendall Jenner não atendia suas ligações desde o anúncio polêmico, e mais da metade da sua lista de contatos eram assim, famosos que chamaria para uma festa mas nunca para reclamar sobre assuntos banais.

Levantou-se, emburrada, poderia contar com Ten se ele não tivesse saindo mais cedo para se arrumar para o jantar. Se arrastaria até o quarto do irmão para chorar como um bebê, afirmando convicta que era porque o quarto foi arrumado sem sua permissão, quando na verdade só estava com medo da palavra que começava com "casa" e terminava com "mento".

Era um tanto — lê-se muito — patético que sua única amiga fosse seu irmão. Era como receber um elogio da própria mãe, não vale.

Dois toques educados e polidos soaram, vindos da porta. Então pegou o celular no chão e fechou o robe ao atender, sabendo que não era ninguém íntimo, pois se fosse, a porta já teria sido aberta a chutes. Deu de cara com uma das arrumadeiras.

— A equipe de maquiagem e os estilistas chegaram, esperam a senhorita na sala oval.

Respirou fundo, resignada.

Lisa não precisava de muito para ficar bonita, e não queria se gabar ao pensar sobre isso, mas era um fato. Lavar os cabelos, passar um batom vermelho vinho e colocar qualquer vestido preto a fazia ser capaz de frequentar um tapete vermelho. Era um dom natural que tudo passasse a ser estiloso assim que começasse a usar.

A noite se iluminou pelas máquinas fotográficas. A limusine diminuiu a velocidade, enquanto o salão de festas enchia os olhos de Lisa dentro do carro.

O Grande Salão era uma imponente construção que reside na propriedade do vice presidente, por muitos anos funcionou como um teatro mas recentemente era usado para sediar festas das mais diversas.

Engoliu em seco, as borboletas dançavam na barriga, e mesmo que esse sentimento a acompanhasse sempre, ainda sim, não se acostumou a lidar com ele tão bem quanto deveria.

A limusine passou pelos fotógrafos sem que eles notassem Lisa, já que o tapete vermelho brilhava com diversas celebridades, e com isso, foi possível passar sem maiores problemas. A porta só foi aberta abruptamente nos fundos do salão. O rosto complacente e bonitão de Jisoo apareceu por segundos antes de puxá-la para fora.

— É bom te ver também, Soo! — saudou, seguindo-a apressada.

— É Jisoo.

— Tanto faz.

A assessora a encarou por sobre os ombros, lançando um olhar mortal que fez suas espinhas congelarem.

A sala de espera se encontrava abarrotada de pessoas seguindo de lá para cá. Lisa era como uma criança perdida da mãe no supermercado, encolhida e com os olhos inquietos, no entanto, assim que a viu, um sorriso se desprendeu de seus lábios. Foi automático caminhar ao encontro dela, o único ponto conhecido no meio de todas aquelas pessoas, e não era como se fosse somente isso. A estagiária parecia uma atriz de cinema pronta para pegar a estatueta do Oscar.

— Ei... tá tudo bem? — ela balançou os dedos na frente dos olhos de Lisa, tirando-a do transe.

Piscou algumas vezes, voltando com o sorriso debochado no rosto, pois nunca daria o braço a torcer ao demonstrar ter ficado feliz e levemente em pane ao vê-la.

— Jennie... para uma vice-chefe de campanha você me parece bem pomposa... — Tocou a manga do vestido vermelho como se o desprezasse. Tudo em Jennie fez Lisa repensar que a estagiária-brega poderia muito bem ter sido um delírio da sua cabeça. Jennie agora estava na mesma altura de Lisa graças ao salto, era impossível não encarar os olhos felinos num delineado perfeito e a boca mais cheinha pelo gloss. — Essa é a bandeira da Coreia do Sul? — Segurou o pequeno broche perto do peito dela.

— Você tá me zoando, né? É a bandeira LGBT, Lisa! — Deu um peteleco na testa da outra.

— Como eu poderia saber?

— Para uma vice-filha você me parece bem burra. — Jennie tinha um sorriso no rosto, satisfeita ao devolver a pequena provocação de mais cedo.

As duas se viraram e um assessor qualquer tocou o ombro de Lisa, chamando-as com um aceno de mão.

Mal se aproximaram da porta e o barulho dos flashes eram audíveis. As borboletas de antes se tornaram gaivotas e pareciam comer o estômago de Lisa a cada passo, mas tentou sorrir para Jennie, ainda meio sem jeito em cumprir a primeira ordem que Jisoo mandou: juntar suas mãos suadas nas dela.

A Kim estranhamente parecia mais relaxada e tomou iniciativa. O sentimento de entrar numa enrascada com uma amiga acalentava o coração delas, como condenadas prontas para a cadeira elétrica.

Foi interrompida por uma garota com um paninho ligeiro, secando o suor da sua testa e batendo pancake em seguida. Agarrou mais forte a mão de Jennie.

— Conversar ajuda a dissipar o estresse, sabia?

— Eu sei muito bem lidar com isso. — Ela arqueou as sobrancelhas.

— Então, o que estamos esperando?

Foi aí que percebeu que era seus pés que não se mexiam, estancados no chão como se criasse raízes. O que sobrou foi lançar um sorriso amarelo para Jennie, aceitando o pequeno incentivo dela ao acariciar a palma da sua mão com o dedão.

Se lembrou de plastificar um sorriso no rosto ao entrar no tapete vermelho acompanhada da sua mais nova namorada.

Quando as fotos dessas premiações chegavam a internet muitas pessoas acreditavam que o espaço onde os famosos estão é enorme, porém é muito pelo contrário. Era literalmente uma faixa vermelha que precisava ser compartilhada com diversas outras pessoas, e a única coisa que as separava do mar de urubus — nome carinhoso que deu aos fotógrafos — era uma fita amarela, que acabava a noite arrebentada graças ao afobamento para conseguir o clique perfeito.

Elas eram o casal que todos esperavam para ver. Lisa ao menos precisava abrir uma página na internet para constatar que eram o assunto mais falado do momento.

Jisoo apareceu minutos depois para tirá-las do tapete vermelho, mandando-as se sentar numa das mesas exclusivas, perto do grande palco montado no meio do salão.

Lisa correu como um criança, desembestada e feliz e rezando para não torcer o pé no salto, ao ver a irmão em uma das mesas. Ele se levantou e a abraçou forte, parecia que não se viam há anos.

— Olá, cunhadinha. — Ele deu um beijo na bochecha de Jennie, sorrindo ladino para as duas.

— É uma honra ver você por aqui — ela respondeu irônica.

A conversa que se iniciou entre os três era interrompida de segundo a segundo, pois sempre aparecia alguém querendo parabenizar o casal ou cumprimentar Ten.

Quando um garçom pairou sobre eles com uma bandeja cheia de taças de champanhe Jennie pegou três, distribuindo entre eles.

— Não me diga que vai ficar nos fundos, de novo? — Lisa fez um bico nos lábios.

— Você sabe que eu gosto de ficar nos bastidores, lá também vai ser um camarote para o discurso do Jennie. — Ten bebeu o conteúdo da taça rápido.

Lisa encarou a Kim de cima a baixo. Ela tinha um sorriso apreensivo nos lábios ao se inclinar para sussurrar no seu ouvido:

— É surpresa, você não pode saber antes da hora.

— Jennie, não é mais surpresa, você acabou de falar.

— Mas você não sabe sobre o que se trata o discurso! — ela bufou, tomando um gole do champanhe.

— Vou deixar as pombinhas aqui e preparar meu celular para conseguir um meme da reação da Lisa. — Ele piscou para Jennie, se despedindo.

Lisa se sentou emburrada, sentindo toda a aura de mistério entre a estagiária e o irmão. Levou a língua até o céu da boca, cruzando os braços ao mesmo tempo que o salão caiu numa penumbra aconchegante, as luzes no centro do palco foram potencializadas.

— Então quer dizer que agora vocês são amiguinhos?

— Ten é uma versão sua que deu certo. — Jennie esfregou as palmas, ansiosa. — Além do mais foi tudo ideia da Jisoo, porque não reclama com ela?

Rolou os olhos, é óbvio que não ousaria reclamar nada com Jisoo, gostava de ter sua cabeça grudada no pescoço.

Abriu a boca para pontuar essa questão quando Jennie encarou o palco, sorrindo. Semicerrou os olhos, até entender que o sorriso não era para si, engoliu o que diria e a observou se levantar para ir ao palco.

 Jennie faria o discurso de abertura do evento.

De repente, Lisa suava igual folião no carnaval, estava mais nervosa que a própria palestrante, o que não deveria acontecer, mas era impossível controlar seus anseios. O que Jennie diria? Qual era a grande revelação que prometia atualizar todos os memes de Ten?

— Boa noite, queria agradecer a todos presentes nesse jantar. — Uma salva de palmas eclodiu pelo salão, desencadeando um sorriso sincero em Jennie. Lisa estava claramente chocada e um tanto quanto orgulhosa de vê-la lá em cima, tão cheia de confiança como se dominasse o palco com maestria. E era realmente o caso, Jennie parecia brilhar, todos se calaram para continuar ouvindo-a. — E se estamos aqui, conversando sobre o direito das pessoas de ser quem elas são, de amar quem elas quiserem e não ter que se esconder nas sombras, é uma prova que progredimos quanto civilização. Ainda há reclusas, claro, o preconceito não permite que muitos de nós saiam de mãos dadas pelas ruas, mas ainda sim, lutar pelos nossos direitos está na constituição, o respeito que queremos é o que nós é assegurado, não há privilégio nisso.

Lisa engoliu o seco, completamente hipnotizada. O ar educado de Jennie deu lugar a um agressivo, mas nada que afugentasse aquelas pessoas e sim, as incitasse. Era como se Jennie pudesse fazer uma revolução apenas continuando a dizer aquilo com toda a convicção que saia de seus lábios.

— Como vocês sabem, Lisa e eu tivemos muitas ressalvas em nos mostrar confiantes depois do escândalo, que de nada tem de escândalo... — Os pares de olhos saíram da palestrante para Lisa, que não encarou nenhum deles. — E estamos aqui, financiando esse grande ato para que mais pessoas como nós se sintam confiantes também, em não se esconderem mais, mostrando suas verdadeiras faces. — Ela deu um pausa e encarou Lisa, sorridente.

Algo como um meteoro acertou o coração de Lisa, como se fosse arrebatada de uma só vez. Seu coração se tornou apertado e um sorriso bobo se desprendeu de seus lábios, pois ouvindo tudo que ouviu, era difícil se lembrar que era apenas encenação, que de nada passava de um namoro falso, que Lisa não era "pessoas como eles" pois nunca precisou se esconder antes, nunca amou alguém do mesmo sexo, mas ali, ela se sentiu pertencente. Era como se partilhasse o sentimento que Jennie descrevia, como se tivessem lutado guerras juntas.

Uma salva de palmas interrompeu seus pensamentos, o discurso ainda não havia acabado e as pessoas estavam estupefatas, com brilho nos olhos, câmeras fotográficas e gritos eufóricos.

Jennie riu, meneando a cabeça tentando apaziguá-los, como se dissesse "o melhor vem agora" mas, precisou-se de minutos até que conseguisse continuar.

— Bom, já que vocês querem apressar as coisas, esse discurso também é um pedido formal, direcionado a minha garota, Lisa Manoban, vice-filha da nação... — Todos voltaram a gritar novamente e Lisa arregalou os olhos, procurando por Jisoo ou Ten no meio da multidão, mas não encontrou nada a não ser o semblante dos convidados. — Você aceita se casar comigo?

Então era isso que ela não podia saber antes da hora? Para que a reação soasse a mais verdadeira possível? Se fosse isso, que esperta Jisoo era! Porque deu muito certo. Lisa estava congelada, não ousava mover nem o dedo mindinho. Algo dentro da sua cabeça, uma consciência que até então estava adormecida, tentava alertá-la para não surtar, era de mentirinha, Jennie só era uma ótima atriz.

— Eu... — respirou fundo e sorriu em meio ao suor. O salão estava silencioso, todos esperando a resposta. — Aceito.

Algo cruzou o salão e milhares de estilhaços eclodiram.

Um grito preencheu os ouvidos dos convidados e outro soou:

— Alguém foi baleado!

O estopim para o caos se iniciou depois disso.

Lisa se levantou, subindo na cadeira e pairando seu olhar em Jennie, no palanque. Ela também tentava achá-la no meio da confusão que se seguia, de empurra-empurra e gritos incessantes.

— Ela tá ali! — Jennie apontou para Lisa e se recusou a sair do palco até que a levassem para lá também.

Desceu da cadeira, levando um encontrão que a fez recuar alguns passos. Era difícil conseguir se mover, todos corriam para a saída e em contrapartida seguia até o palco, na contramão de todas aquelas pessoas.

O Grande Salão era composto por vidro do teto ao chão, o primeiro estilhaço estourou a parede norte, muito longe de onde estava, mas o segundo acertou em cheio a ala sul.

Um barulho quase estourou seus tímpanos e, inevitavelmente, foi com os olhos até a origem do som, vendo toda a parede da ala sul ruir em pedaços.

Parecia um cenário de guerra ou um apocalipse, estava no meio da ação, ouvindo tiros e gritos. Se abaixou como os outros, tapando o rosto dos estilhaços que voaram em todas as direções, mas só se acalmou ao sentir um corpo grande rodear o seu, levantou os olhos, dando de cara com Armário em cima de si, quase como um manto humano.

— Criança! Vamos, agora! — ele gritou, a voz soou forte e o obedeceu sem pestanejar.

Lisa tinha perdido a voz, mas maneou a cabeça num "sim" apressado. Armário era um tanque de guerra abrindo espaço no meio da multidão, sendo assim, agarrou o terno dele como se sua vida dependesse disso, e realmente dependia.

Pensou em agradecer o pai quando tivesse a oportunidade, pois nunca levava a sério o uso de guarda costas. Armário era mais um tio do que um segurança já que nunca passou por uma situação como essa. Lisa sempre pensava que, a coisa mais perigosa que poderia acontecer na sua vida era misturar vodka e maconha e não saber o próprio nome, agora, tiroteio? Era muito distópico.

— O que é isso? — Achou que não seria respondida, mas Armário a encarou por segundos antes de decidir contar.

— Uma tentativa de assassinato. — Ele empurrava sem dó as pessoas que insistiam em trombar nos dois, mas a maioria, alarmada, ao ver a arma nas mãos do guarda costas fugiram apressadamente. Lisa sentia sua respiração dificultosa, passou as mãos pelo rosto, encarando a palma suja de sangue com um pânico na garganta.

Seus pés recuaram e passou novamente os dedos pelo rosto, tirando um pequeno, mas afiado, caco de vidro da bochecha direita. Ao menos sentiu quando isso aconteceu, mas o sangue escorria como se tivesse recebido um tiro, achou que fosse suor, no entanto, seu pescoço já estava coberto pelo líquido escarlate.

Os dois conseguiram subir para o palco, na verdade, Armário subiu primeiro e puxou Lisa como se fosse um bebê, levando-a para dentro do camarim. A cabeça da Manoban começava a doer e tantas coisas passavam pela sua mente, que nenhuma se tornava um pensamento concreto.

As luzes dos bastidores foram apagadas, mas o guarda-costas a guiava como se soubesse de có a planta daquele salão, o que não duvidava que fosse o caso. Quando ele abriu uma porta e jogou Lisa dentro de uma saleta, sussurrou apressado.

— Fique aqui e não faça nenhum barulho.

— Espera, Armá... — A porta se fechou num baque, correu até ela, batendo na madeira. — Cadê Jennie e Ten?

— Eu tô aqui.

Se virou para receber o abraço apertado de Jennie. O silêncio desceu de repente, enquanto sentia o cheiro de cereja do cabelo dela e a respiração descompassada, quentinha no seu pescoço. Seu coração batia rápido contra o dela, mas não pôde devolver o abraço, ao menos conseguiu absorver tudo que aconteceu nos últimos minutos.

Jennie se afastou constrangida, o escuro não possibilitava que visse claramente o rosto dela, mas sabia que era um misto de vergonha e alívio.

— Desculpe, eu... eu quis ficar lá e te esperar, mas os seguranças me puxaram e... me trouxeram pra cá... você tá sangrando? Se machucou? — Ela não conteve o impulso de retornar e tocar o rosto de Lisa, que a afastou gentilmente.

— Você viu o meu irmão? — Só percebeu que chorava quando sentiu a lágrima arder o machucado na bochecha. Jennie ao menos se mexia. — Jennie! Viu meu irmão!?

— Não! Não o vi. — A voz dela diminuiu ao falar em seguida: — Mas ele com certeza está seguro, como ficou nos bastidores pode ter sido a primeira pessoa que tiraram daqui...

— Pode ter sido? — bufou, se virando para voltar a porta, agarrou a fechadura, forçando a abertura, mas nada aconteceu a não ser o barulho das trancas se batendo. — ME TIREM DAQUI! — Socou a madeira. — Cadê o meu irmão? — perguntou novamente, dessa vez, as lágrimas já jorravam.

Só por imaginar algo acontecendo a Ten seu peito doía, como se alguém apertasse até não sobrar nada. Sentiu as mãos de Jennie nas suas costas e se movimentou para tirá-las, remexendo-se sem parar, mas ela a agarrou mais forte, sem recuar um segundo.

— Lisa, me escuta, para com isso! — ditou, raivosa. — Ele está bem! Gritar e se enfurecer não vai ajudar em nada — acrescentou, percebendo que havia soado rude da primeira vez.

Lisa soluçava, uma bagunça de lágrimas e sangue e dores pelo corpo, se virou, encostando na porta e descendo, devagar, para se sentar no chão.

Tinha a teoria que todo mundo perdia um pouquinho de dignidade quando chorava na frente de alguém, por isso só conseguia mostrar-se desolada assim na frente do irmão, mas ele era a causa de todo aquele choro e Jennie era a segunda pessoa no mundo que não a julgaria por estar preocupada, com medo e sem entender o que aconteceu lá fora.

Encostou a cabeça no ombro dela, sentada ao lado, e nada mais precisou ser dito. Jennie deixou que chorasse a vontade.

Ao passo que as lágrimas foram se esgotando e só tenha sobrado um fungar estressado e os dedos de Jennie, num carinho ritmado pelos seus cabelos, pode respirar fundo. A gritaria do lado de fora cessou e só sobrou as duas dentro daquela sala pequena e escura.

Lisa não sabia como agradecer, mas sorriu em troca, aquele foi um "obrigado" do fundo de sua alma.

— Agora vai me dizer como se machucou? — Jennie parecia aflita.

— Não sei bem, acho que quando uma das paredes de vidro caiu um estilhaço me acertou, mas Armário deve estar bem mais machucado já que ele entrou na minha frente.

Jennie maneou a cabeça, dando o assunto por vencido.

— Você conseguiu ver o que aconteceu, lá de cima? — Lisa perguntou.

— Não, foi tudo muito rápido. Mas não vamos falar sobre isso, fale sobre coisas boas.

Lisa tombou a cabeça, respirando fundo novamente. Todos os seus pensamentos eram voltados ao irmão e o que havia sobrado não era de gosto de ambas. Pela primeira vez percebeu que ela e Jennie nunca conversaram sobre nada que não fosse o falso casamento ou as reminiscências do falso casamento e se arrependeu de não ter lido a ficha dela mais cedo, agora pelo menos teria algo para ocupar o silêncio entre as duas.

— Você realmente se formou em publicidade? — Um toque de ironia preenchia a voz de Jennie. — Estava escrito na sua ficha.

— E é óbvio que você leu tudo.

— Não quis contrariar Jisoo, ela não parece ser o tipo de pessoa que pede duas vezes.

As duas riram e Lisa segurou o impulso de tomar a mão de Jennie com a sua para ver se conseguia pegar um pouco da tranquilidade dela ou somente aquecer seus dedos gelados. Qualquer desculpa para não parecer tão carente. No fim, balançou a cabeça em negação, se contentando apenas com o ótimo descanso de cabeça.

— Eu precisava de um diploma, porque seria uma vergonha a vice-filha não fazer nada além de ir a festas.

— Paris Hilton faz isso e ninguém julga.

— Urh, aquela garota é insuportável... Jennie, você que é cheia de regras e toda certinha, odiaria ela. Pode apostar.

— E como sabe que eu sou toda cheia de regras e certinha?

Lisa riu, esticando as pernas quando sentiu um formigamento pelo tempo que permaneceu na mesma posição.

— Eu posso não ter lido nada da sua ficha, mas sou observadora. — Deu de ombros. — Ninguém que faz Direito e Constituição Civil, catalogou 78 garotos por tipo sanguíneo e sabe todos os artigos da constituição não é nada mais que certinha e cheia de regras. Você gosta do Capitão América, que é um personagem chato, todo cheio de moral, o que é uma pena já que todos sabemos que o Homem de Ferro é o melhor vingador que existe.

— Isso na sua cabeça...

— Shiuu. — Tapou a boca dela com a mão. — Ainda não acabei, Jennie. Lucas gosta de Harry Potter, mas pelo jeito que você franziu o nariz quando ele deixou Ten ficar com o boneco, e nós duas sabemos o que significa esse seu franzir de nariz, percebi que você não gosta de Harry Potter, temos isso em comum. Você gosta de Percy Jackson, acertei?

— E você chegou a essa conclusão como?

— Não é tão complicado. — Levantou uma sobrancelha, desdenhosa. — Só existem dois tipos de pessoas no mundo, se você não se encaixa num pólo deve se encaixar no outro.

— Minha saga do Heróis do Olimpo estava perto do boneco.

— É... foi por isso, admito. — Jennie a empurrou com o ombro, rindo, devolveu o empurrão, um pouco mais forte. — O que você leu sobre mim, vice-dama?

— Tudo — ela respondeu, simplista. — Seu girlgroup favorito é 2NE1, tem até uma foto com a Park Bom. Estudou o ensino médio nos Estados Unidos e discursou na ONU em 2012 sobre "O abuso do exército japonês as mulheres no fim da segunda guerra mundial". Foi presa na fila do show da Adele porque mijou em um segurança, tem uma ordem de restrição movida pela Ariana Grande e não pode se aproximar um metro dela, foi vip três anos consecutivos no camarote da Anitta no Rock in Rio... também estava na festa com o G-dragon naquele escândalo da maconha. Vive trocando farpas com o Jungkook do BTS pelo twitter, o que faz metade das armys te odiarem e a outra metade te shippar com ele.

Arqueou as sobrancelhas, surpresa.

— Agora entendo porque me acham fútil.

—... Sua melhor amiga é a princesa herdeira Park Chaeyoung...

— Não é mais.

— Quê?

— Chaeyoung. Não somos mais amigas.

Jennie arfou, como se engolisse uma pergunta. Lisa esperou o tempo necessário para que ela pulasse para a próxima. Aquele era outro assunto que não queria falar no momento.

— Teve algo que me surpreendeu — ela recomeçou. — Você vai na parada gay todo ano.

Lisa voltou a roçar o braço no dela a procura de calor. Agradeceu por estarem no escuro, pois era mais fácil falar desse modo. Se fechasse os olhos poderia só prestar atenção na voz de Jennie, como se estivessem conversando por telefone.

— O motivo é o Ten, ele se assumiu quando tínhamos 15 anos. Ir à parada gay com ele é o meu jeito de dizer que sempre vou apoiá-lo. Mas até teve... teve um tempo que achei que fosse bi também. — Sentiu o corpo de Jennie endurecer, como se estivesse congelada naquela posição. Lisa se desesperou, agarrando o braço dela. — Calma! Te juro que foi só uma ideia maluca! Eu fui beijada por uma garota, mas... é uma história complicada, só posso dizer que aprendi com o meu erro, não se deve criar expectativas maiores do que você pode suprir, certo? E é fácil confundir... essas coisas.

Respirou fundo, soltando Jennie.

Ela tinha as sobrancelhas juntas e os lábios frisados, como se usasse todas as forças para pensar e Lisa, rapidamente, se sentiu ansiosa, esperando uma sentença ou algo do tipo. Lentamente, o rosto de Jennie foi se suavizando e as batidas do coração da Manoban também.

— Eu preciso te contar uma coisa. Prometa que não vai ficar com raiva de mim — ela disse num sopro.

A porta atrás delas se abriu.

Lisa se apressou em sair da frente e precisou empurrar Jennie para que ela fizesse também, já que as duas bloquearam a passagem.

O rosto de Jisoo apareceu, estava ofegante, o suor descendo pelo rosto bonito e a arma ainda pendurada no coldre, o cano ganhou destaque pelo olhar de Lisa.

— Já podem sair.

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