CAPÍTULO VINTE SETE
Olá meus amores, desculpem a demora.
Sobre meus livros que estou retirando, sim eles irão passar por uma revisão e lançados na Amazon, se Deus quiser. Sem datas ainda. Sobre esse, que está em andamento, ele ainda não está acabando, mas tenho avisado para que todas estejam cientes que será retirado assim que completo.
Sobre a Florzinha Jasmim, calma minha gente, ela vai aparecer no momento certo, ok?
Eu não esqueci dela não. Mas tudo a seu tempo.
Algumas pessoas tem me procurado com medo que nossa maluquinha do pedaço, mude totalmente. Izabel precisa aprender algumas coisas, que são primordiais até mesmo para ela, como pessoa, mas na essência ela vai continuar sendo a Izabel, aquela que tira o Tigrão do prumo hahahaha. Não se preocupem.
Sobre os costumes, são muitos diferentes. E muitas vezes é necessário que deixemos nossos pontos de vista de lado, alguns pré-conceitos formados que já temos, por ouvir e ver algumas coisas, e estarmos dispostos a aprender sobre o desconhecido. Quando temos alguns conceitos formados sobre algo, na verdade criamos barreiras, para realmente aprender e compreender algumas coisas. Desde que comecei a escrever sobre essa cultura, tenho aprendido muito, e uma das coisas que digo é vá atrás de informações, mas informações confiáveis.
Vamos adentrar um pouquinho mais dessa riquíssima cultura.
Boa leitura...
Ao contrário do que pensei, que acordaria agarradinha a ele, assim que meus olhos abriram notei que estava no quarto que eu estava usando. Em que momento ele me trouxe para cá?
Quando olho para o lado procurando meu celular para ver as horas, vejo um bilhete em cima dele. Sento na cama pegando o pedaço de papel e lendo o que está escrito.
Bom dia.
Só isso?
Bom, vindo dele já é alguma coisa, fechado do jeito que é, receber um bom dia em um bilhete, é algo fora do comum. Acabo sorrindo ao lembrar, das cenas de ontem do jantar. Me, senti tão bem entre eles, apesar de não compreender tudo, mas eu gostei da maneira calorosa com que fui recebida e muito bem tratada, nunca fui tratada assim em lugar nenhum. Será que me tratariam assim se soubessem que eu tenho cinco dedos na fuga da Jasmim?
Levanto indo em direção ao banheiro, e ao entrar vejo uma muda de roupas dobrada em cima da pia, com outro pedaço de papel.
— Outro bilhete. — pego o papel, desdobro e leio o que está escrito.
Não demore, estou te esperando.
E com um sorriso besta no rosto eu coloco o papel de lado e faço o que tenho que fazer. Quando estou saindo do quarto, já trocada e pronta para mais um dia de novidades, escuto vozes vindo do andar de baixo. E não tem como não reparar na maneira como as casas aqui são construídas.
Diferente das que estou acostumada, elas não tem janelas em direção a rua, todas são para dentro do interior da casa. Onde no centro tem um jardim que não notei ontem á noite quando chegamos, mas hoje com o sol adentrando parte dele, vejo como é lindo.
Estou parada na escada olhando esse pedaço da casa que é simplesmente de tirar o fôlego. É tudo tão simples, mas lindo. As cores das paredes lembram a cor das areias, em contraste com a madeira escura que estão em alguns pontos, deixa um ar rústico, o que contrasta com a delicadeza do jardim. Não escuto mais as vozes que estava ouvindo, mas ouço barulho de água corrente. E tudo isso deixa o ambiente tão calmo. Termino de descer as escadas e vou em direção ao barulho da água, e vejo uma pequena fonte, no meio do jardim.
— Que lindo. — falo ao olhar a quantidade de flores que tem ao redor, as cores são fortes e bem vivas.
— Aqui está você. — escuto a voz de Jamal atrás de mim. — Já estava indo ver se havia fugido. Vamos sair daqui a pouco.
— Agora você também deu pra me deixar sozinha com bilhetes espalhados? — viro e ao encará-lo vejo a maneira intensa que me observa. Seus olhos percorrem cada detalhe do meu rosto.
A forma como passa a língua entre os lábios, deixando-os úmidos, me causam uma tremedeira interna, ao imaginar essa língua em mim. Ele olha para os lados e se aproxima do meu pescoço, quando penso que vai me beijar, escuto sua voz baixa em meu ouvido, e fecho meus olhos ao sentir o calor do seu hálito em minha pele.
— Veja pelo lado bom, em nenhum deles eu me despedia de você.
— Vai ficar jogando isso na minha cara a todo momento? — pergunto enquanto se afasta sorrindo.
— Não. Somente quando achar necessário. — ele disfarça ao ver alguém passando em um dos corredores.
— Isso não é legal. — reclamo e o máximo que ele faz e piscar.
— Não, não é. Venha, vamos comer amanhã temos que retornar a Dubai e tenho muito, o que te mostrar ainda. — seguimos até a sala em que jantamos ontem.
Encontramos todos na sala e me sento ao seu lado, tomando cuidado para não mostrar a sola do meu pé para ninguém. Cumprimento eles com bom dia, em árabe. Coisas básicas, como bom dia, boa noite, obrigada já consegui aprender, e fica mais fácil de socializar na empresa, agora a escrita ainda é algo impossível para mim, além de ser difícil, eles escrevem da direita para a esquerda e sempre que tentei não deu certo. Acreditem.
O café da manhã deles e regado a fartura de comida, e na variedade delas, bom acho que todas as refeições deles na verdade são fartas. Me, servi com pão sírio, que eu já tinha o costume de comer, junto com ovos mexidos. Ovos mexidos são ovos mexidos em qualquer lugar do mundo. Tive que me esforçar um pouquinho já que não tenho o habito de comer muito no horário da manhã. Mas não queria em momento algum ofender a hospitalidade deles.
Voltei ao quarto para escovar meus dentes, e pegar minha bolsa com celular. Segundo Jamal não irei precisar do celular, mas eu quero tirar muitas fotos. Quando saímos ele comentava sobre lugares que íamos passando. Depois de um tempo circulando e vendo lugares e pessoas, algumas coisas que me deixaram curiosa.
— Porque as mulheres andam sempre atrás dos homens? — ele olha para onde estou olhando.
— Esse é um costume que vem dos antepassados, quando não se tinha estrada ou ruas, tudo era somente entre estreitos caminhos. Os homens tinham o habito de andar na frente, porque se precisasse ele sempre tinha alguma arma em mãos.
— E para que ele precisaria de uma arma? — ele ri quando olho assustada em sua direção.
— Aqui costuma ter muitas, serpentes entre outros bichos Izabel. — ele fala tranquilamente. — No caso eles viam na frente abrindo o caminho e se precisasse matar qualquer bicho. E suas mulheres os seguiam logo atrás.
— Mas agora tem ruas, porque continuam? — ele dá de ombros.
— Nossos costumes e tradições são milenares, Izabel. Isso não é uma regra, somente continuam seguindo. — circulamos mais um pouco e reparo nas casas que de certa forma seguem um padrão, entre cores e estilos. Cores variando sempre entre areia, um rosa claro e alguns tons de azul.
— Oh! — o que vejo me faz sorrir e Jamal olhar para onde estou olhando.
— Não é o que você está pensando. — ele diz quando passamos por dois homens de mãos dadas enquanto caminham e conversam na rua.
— E como sabe que pensei em algo. — tento disfarçar, mas falho miseravelmente ao rir. Claro que pensei em algo quando vi dois homens de mãos dadas na rua.
— Esse é um costume muito comum, homens andarem de mãos dadas, isso é um sinal de amizade entre eles, não quer dizer que sejam homossexuais entendeu? — reviro meus olhos.
— Nunca te vi de mãos dadas com Zayed ou outro homem. — imagino a cena na minha cabeça. — Graças a Deus. — agora é sua vez de rir ao escutar meu comentário. Acabo rindo junto. — Ta, aí estou gostando muito do nosso passeio. — falo e ele me olha. — Nunca te vi sorrir tanto em tão pouco tempo. — ele não responde nada somente sorri e continua dirigindo.
Ele já havia me explicado que demonstrações públicas como dar risada alta, e beijos entre o casal não é visto com bons olhos. Eles são muito conservadores, e assuntos pessoais, familiares, é restrito somente a família, ou até mesmo somente as pessoas que interessam. A privacidade deles, é algo levado muito a sério, ele me explicou que por esse motivo as casas são construídas com portas e janelas para o jardim interno, dando privacidade a família.
Nosso passeio foi longo e demorado. Estivemos em uma mesquita onde ele me explicou que as mulheres ficam separadas dos maridos, onde eles ficam lá na frente junto com o xeque da mesquita, e as mulheres mais atrás com as crianças, num lugar reservados a elas. Todos tiram os sapatos, já que estão sujos, e entrar com eles é um insulto gravíssimo. Toda ela é forrada com um tapete bem felpudo e delicioso de pisar.
Não preciso dizer que não passamos da entrada.
— Poderia ter entrado. — falo quando voltamos a caminhar na rua em direção ao carro.
— Não quero correr esse risco. — ele me olha de esgueira. — Deixar você sozinha dentro de uma mesquita, pode ser um caminho sem volta.
— Seu besta. — continuamos a caminhar. — Onde estamos indo agora?
— No mercado de camelos. Depois a um restaurante que conheço, então iremos até o Oasis.
— Oasis, tipo aqueles dos filmes? Onde tem uma pequena lagoa, com duas palmeiras. Um verdadeiro paraíso no meio do deserto.
— Não muito, mas é mais ou menos isso. — me respondeu franzindo a testa.
— O que vamos fazer num mercado de camelos?
— Negociar. — ele responde com um sorriso genuíno na face.
E isso á é o suficiente para eu querer ir até esse lugar.
Não demorou muito e logo estávamos andando em lugar com um contraste gritante em relação a grande cidade que estávamos até o momento. O lugar é enorme, aberto ao calor escaldante do deserto, entendo a necessidade de se usar essas roupas eu já estaria torrada se não estivesse usando. Os animais alguns presos em suas baias outros estão sendo puxados para andarem, existem também ovelhas e cabras.
— Um detalhe muito importante que você tem que estar atenta quando se trata de árabes, e principalmente quando for fazer negócio, espere que ele indique como será o cumprimento. É bem comum homens se beijarem no rosto, o que indica uma, certa amizade entre eles, apertos de mãos também são comuns, mas se tratando do sexo oposto. — ele me olha sério. — Sempre espere ele indicar como será. Um árabe nunca trata diretamente com uma mulher se ela estiver acompanhada, se ele fizer isso é considerado desrespeito e até ofensivo.
— Certo. Anotado.
— Mas recusar um aperto de mão quando lhe oferecido é um pecado. — o encaro tentando compreender tudo o que ele explica. Nesse momento dois homens falam alto próximo de onde estamos passando.
— Inshala bruca! — um deles fala se afastando e o outro indo atrás, mas o homem continua dizendo
"bruca... bruca"
— O que aconteceu? — pergunto curiosa.
— O negocio não deu muito certo entre eles. — paramos um de frente para o outro. — Inshala bruca quer dizer "se Deus quiser amanhã"
— Então eles vão fechar negócio amanhã?
— Pode ser que sim, mas ao certo ninguém sabe. Pode ser amanhã, daqui três dias ou uma semana. Tudo na vontade de Deus como foi dito. Não adianta insistir, hoje no caso não terá negócio. Uma palavra dita nunca é voltada atrás.
— Nossa.
Paramos perto de um lugar onde tem alguns camelos e cabras. Enquanto Jamal conversa com um dos homens eu aproveito e passo a mão em um dos camelos. Ao pensar que nãos sei se poderia ter feito isso sem a permissão do dono, eu olho para Jamal que indica com a cabeça que posso continuar a fazer isso.
O bicho é dócil até, aproveito e pego um pouco de mato seco nas mãos, o que não demora a ser tirado de minhas mãos pelo animal, que está com fome.
— Não te ensinaram que é feio mastigar de boca aberta? — falo rindo enquanto faço carinho nele.
Reparo que existem muitos turistas andando pelo local. Alguns tirando fotos, outros fazendo o mesmo que eu, admirando os animais. Jamal se aproxima de mim junto com o senhor que me olha e oferece a mão. Eu o comprimento como já fui instruída.
— Você vai comprar um camelo?
— Não, mas iremos levar alguma coisa. Uma cabra talvez. — ele dá de ombros. — Os camelos, são caros e os negócios começam entorno dos 55 mil dólares onde um camelo de corrida puro sangue pode chegar a muito mais. — olho para ele de boca aberta.
— Começam? Porque podem ser mais caros que isso? — ele me olha como se eu estivesse perguntado algo sem cabimento.
— Tudo vai depender do seu poder de negociação. — ele pisca. — Como disse antes, paciência na cultura árabe é considerada uma virtude. Vendedores não gostam de abordar logo de cara assuntos relativos à venda, por isso é necessário conversarmos sobre outros assuntos. Eles gostam de criar uma certa intimidade, um vinculo com seu comprador, amizade e respeito são valores que pesam muito antes de se fechar qualquer negócio. Aqui você não pode ter pressa, o tempo costuma passar de maneira diferente quando se refere a negócios.
Eles voltam a conversar e Jamal vai olhar uma das cabras que o senhor está mostrando. Ele faz sinal para que eu me aproxime, e eu vou. Eles parecem discutir, o que me assusta de certo modo, gesticulam falam alto, e quando menos espero eles apertam as mãos e o senhor sai falando algo com o outro rapaz que também estava próximo a eles.
— O que aconteceu?
— Compramos uma cabra.
— Pensei que estivessem discutindo.
— E estávamos. — ele me olha. — Existe um provérbio árabe que diz: se não se negociar de forma rentável, não se negociará durante muito tempo. Ou seja, um árabe vai sempre tentar ganhar o máximo que ele puder nunca negociação, e ele espera que você faça o mesmo.
— Mas se ele espera que você faça o mesmo, como ele espera ganhar com isso?
— A negociação tem que ser justa, e para isso ambos tem que estar satisfeitos com o negócio. — ele dá de ombros. — Durante a barganha é normal falar alto, tentar desprestigiar o que está sendo negociando, não pode ficar com vergonha, sempre negocie o preço.
Não saímos de lá com a cabra, Jamal pagou a um homem para entregar na casa de sua tia. Quando chegamos ao restaurante, eu tratei de ir ao banheiro me refrescar e tirar a areia do rosto. Quando voltei já tinha algumas coisas postas à mesa. Tivemos uma refeição tranquila e envolta em assuntos sobre a região. Ele contou algumas coisas de quando ainda morava aqui, mas logo na adolescência mudou para Dubai com os pais.
— Esse bolinho é simplesmente maravilhoso. — pego mais um pedaço de bolo que é regado com mel e chá de rosas. — Do que ele é feito mesmo? — ele já me falou, mas eu esqueci.
— De sêmola ou semolina, é a mesma coisa.
— Não sei o que é, mas é bom.
— É proveniente de uma espécie de trigo diferente.
Quando mordo um pedaço do bolo eu sinto que um pouco do mel escorre pelo canto da minha boca. O olhar atento dele não deixa escapar o momento em que uso a ponta da minha língua para lamber, ou tentar ao menos impedir que o mel escorra mais.
Uso um guardanapo para limpar o restante.
— Tem certeza que vai continuar com essa ideia de abstinência sexual? — ele não responde em palavras, somente concorda com a cabeça. Não acredito. Paro de pensar, porque sei que isso não vai ajudar. — Ok! — me levanto depois de terminar de comer. — Então vamos ao tal Oasis.
Tudo aqui nessa cidade é longe, e é sempre notório que estamos no deserto. Diferente de Dubai que você facilmente esquece desse detalhe.
— Nossa! — foi a única coisa que saiu da minha boca ao olhar a grande área cercada por inúmeras palmeiras.
— Bonito?
— É lindo. — começamos a andar por caminhos de pedras, formando corredores de um grande jardim. Mas palmeiras são as únicas coisas que vejo.
— Isso é bem diferente do que eu tinha em mente. — falo rindo do meu pensamento sobre Oasis.
— Existem pontos privilegiados no deserto que contam com aqüíferos subterrâneos, que proporcionam vida e verdor aos seus arredores. Al Ain é conhecida como "O Manancial" ou "Cidade Jardim" esse é o que se destaca, chama-se Oasis de Al Ain. Essa é a quarta maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, e a segunda do Emirado de Abu Dhabi.
— E mudou muito desde que você saiu daqui? — pergunto enquanto caminhamos.
— Sim em tamanho, mas nos costumes ela ainda se mantém bem nas origens em comparação a Dubai e Abu Dhabi.
— E você foi feliz aqui?
— Sim. E continuo sendo feliz, Izabel. Não é o lugar que nos traz felicidade e sim o que temos dentro de nós. — fico calada por um tempo enquanto caminhamos, pensando no que ele disse.
Procuro dentro de mim momentos em que fui feliz. Na minha juventude nem me dou o trabalho de procurar porque não fui, poderia claro existir pequenos momentos, mas eles sumiram junto quando me predispus a esquecer tudo e qualquer coisa relacionada a minha família. Tirando a M é claro.
— Porque ficou calada?
— Você está me fazendo pensar. — falo sendo sincera.
— Isso é algo bom. — concordo e acabamos rindo juntos. — O que você entendeu do mercado de camelos?
— Eu entendi que camelo vale mais que ouro, e que nunca vou ter um. — agora minha risada é mais natural, sem o peso dos pensamentos sobre minha vida passada.
— O principal é que dinheiro é necessário. mas não é tudo, existem algumas coisas que valem mais que ele. E seja numa negociação, ou na vida a confiança entre duas pessoas ela é fundamental.
— Isso é muito importante para você. — ele concorda.
— É minha base. Eu preciso confiar em quem está a minha volta, quem trabalha comigo, com todas as pessoas que me envolvo, ou que envolve pessoas ligadas a mim e meu trabalho. — ele para se apoiando no muro baixo que separa as palmeiras. — Devemos ter metas, e fazer o que for preciso para que elas se cumpram. Quando desejamos algo, e não conseguimos, nos dá aquela sensação de impotência, e isso não é bom.
— Não mesmo.
— Eu preciso confiar em você de olhos fechados, Izabel. Para poder desempenhar meu trabalho da melhor maneira, sua intempestividade e imprudência me tira o chão. Não sei como agir. E isso pode ser crucial para mim, ou para as pessoas em que confiam em mim.
— Me, desculpa. Nunca imaginei que lhe causasse isso. — abaixo a cabeça me sentindo envergonhada e pela primeira vez na vida sinto o peso de todas as minhas ações.
— Não quero que se desculpe, só quero que enxergue o que você faz comigo e comece a pesar suas ações daqui para frente. — ele segura meu queixo me fazendo o encarar. — Você não imagina o que senti quando li sua carta. Eu não me reconheci, sem saber o que fazer. — fecho meus olhos ao sentir como eles ficam marejados quando sinto a dor de sua confissão. — Momentos como esse você parece um anjo. Tão linda. — ele limpa uma das lágrimas que escapam de um dos meus olhos. — Mas tem momentos em que quero te bater Izabel.
— Você jamais faria isso.
— Porque você tem essa certeza?
— Porque te conheço e confio em você. — falo arrancando dele um sorriso.
— Entende porque a confiança é um pilar para mim? Eu preciso confiar em você da mesma maneira que você confia em mim. — olho para os lados não vendo ninguém, aproveito para me aproximar dele, e ficando nas pontas dos pés eu beijo seus lábios.
— Pode deixar, você vai ter orgulho de mim.
Nem dei dois passos para o lado, e tenho minha mão puxada. Acabo batendo em seu peito com o movimento inesperado. Suas mãos me seguram com aquela firmeza que conheço. Sua boca toma posse da minha, em um beijo duro, quase punitivo eu diria. Mas ele logo se afasta, me deixando atordoada. Então escuto risadas baixas e olho para o lado vendo duas mulheres passando. Jamal não olha somente me indica o caminho a seguir e logo elas somem.
— Nossa! Isso foi... — procuro respirar fundo enquanto olho para ele que passa a mão na barba, mas não me olha. — Muito bom. — acabo rindo. — Cadê todo aquele autocontrole?
Ele me ignora totalmente, mas consigo ver um quase sorriso em seu rosto.
Depois de voltarmos ao carro seguimos por um caminho diferente, e saímos em um monte que a trilha era íngreme, e por diversas vezes fechei meus olhos ao olhar para baixo.
— Chegamos. — ele disse saindo do carro. Quando sai quase fui carregada pela força do vento. Jamal foi até uma pedra um pouco mais a frente e sentou-se. Fiz o mesmo, sentando ao seu lado.
— A vista é linda. Na verdade tudo aqui é muito bonito, diferente do que já tinha visto.
— Eu costumava vir aqui para pensar enquanto meu pai e meu tio fechavam seus negócios. — ele olha para o horizonte contemplando tudo. — Não sei porque mas sempre gostei de ficar sozinho.
— Eu sempre quis ficar sozinha, mas isso era algo impossível na minha casa. — falo. — Nunca tive meu quarto, era sempre dividindo tudo com todos, ninguém respeitava o que era meu, acho que isso foi me cansando e quando sai de casa eu nunca morei com ninguém. — sorrio com a lembrança amarga. — Ayla foi a única pessoa que morou comigo depois que sai de casa.
— Você saiu de casa com quantos anos?
— Dezesseis. — não olho para ele quando respondo.
— Muito nova, pra enfrentar uma vida. O que te fez sair? — acabo rindo de sua pergunta.
— Na verdade não tive outra opção, minha mãe que me colocou para fora de casa, depois do que eu fiz. — eu sinto aquele nó na garganta sempre que toco ou lembro desse assunto.
— E o que você fez? — sua voz está baixa.
— Tentei matá-la, segundo o que falaram. — agora ele me olha.
— Como assim, segundo o que falaram, você não lembra? — nego com a cabeça.
— Eu não lembro de tudo, tenho alguns fleches, mas quando eu fico fora de mim é como se eu ficasse cega e não lembro do que realmente fiz. Lembro do início da discussão e depois me recordo de estar com uma faca suja de sangue nas mãos, ela gritando pedindo socorro, minha irmã que era pequenininha de dois anos chorava falando para que eu parasse, de fazer mal a mamãe. — choro ao lembrar. — Eu joguei a faca longe e sai correndo para meu quarto, lavei minhas mãos e quando sai pensando em me desculpar entender o que tinha acontecido ela me expulsou de casa, dizendo que havia chamado a policia, que acabaria com a minha vida. A única coisa que fiz foi enfiar na minha mochila da escola algumas coisas e sai pra nunca mais voltar. — seus braços me envolvem. E percebo o quanto estou tremendo.
— Eu sinto muito por isso. — me viro e encosto minha cabeça em seu peito, o abraçando também.
— Foi isso que Mustafá descobriu, o processo daquela época.
— Mas como tudo isso acabou? — dou de ombros.
— Não sei, eu havia dado dinheiro para o Vasco um tempo atrás para resolver, mas nunca me importei na verdade. Hoje eu acho que ele nunca fez nada além de também me chantagear com isso só pra arrancar dinheiro de mim.
— Então ele também sabia? — concordo com a cabeça.
— Vasco era amigo do meu irmão, frequentava a nossa casa. Via como eu era tratada, o que eu passava. Confesso que nunca gostei dele, pela maneira como me olhava. Mas depois de um tempo nas ruas ele foi quem me ajudou a conseguir trabalho, ele me levou a uma boate e pelo fato de ser menor de idade, não tive muitas opções. Mas pelo menos tinha um teto para dormir e nunca mais passei fome.
Jamal fica em silêncio, e isso faz com que eu me afaste um pouco para ver seu rosto.
— O que você ouviu mudou alguma coisa? — pergunto sentindo receio pelo seu olhar frio e distante. Mas ele nega me, colocando novamente no meio de seus braços, e me apertando de maneira como se não quisesse me soltar. E eu não queria que me soltasse.
— Você está muito quieto, depois de ouvir tudo que falei. Não muda comigo por favor.
— Nunca. Não por isso. Você tem minha palavra.
Calma que logo vem mais...
Izabel está começando a se abrir, isso é muito bom.
Tigrão está pensativo... O que acham que deve estar passando por sua cabeça ao ouvir o relado da Izabel?
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