29. família ramos.
A casa estava novamente repleta de movimento, com caixas sendo descarregadas e vozes ecoando pelos corredores. A família Ramos acabara de se mudar, trazendo uma nova energia para o lugar que parecia eternamente amaldiçoado. Max observava tudo em silêncio, andando pelos novos cômodos. Eventualmente, ela entrou no quarto de Gabriel Ramos, o filho único da família. O espaço já estava decorado com pôsteres de bandas e uma pequena coleção de CDs, algo que prendeu a atenção de Max.
Ela se sentou casualmente na cama, passando os dedos pelos CDs de música, um sorriso irônico se formando em seu rosto. Logo, Gabriel entrou no quarto, parando abruptamente ao vê-la ali. —— Quem é você? —— ele perguntou, sua voz carregada de surpresa e desconfiança.
Max olhou para ele de relance e, sem rodeios, brincou. —— Você tem um gosto horrível para música —— Ela segurou um dos CDs, balançando-o levemente no ar.
Gabriel franziu o cenho, claramente confuso. —— Isso é invasão de domicílio. Quem é você?
Max, ainda despreocupada, deu de ombros. —— Um fantasma. —— Ela o encarou, observando sua reação. Quando ele pareceu não acreditar, ela acrescentou com um toque de ironia. —— Você acredita em fantasmas?
Gabriel cruzou os braços, claramente cético. —— Não.
Max sorriu levemente, um pouco melancólica. —— Nem eu acreditava, até me tornar um.
Max estendeu a mão com um sorriso enigmático, se apresentando. —— Eu me chamo Maxine. Moro na casa ao lado com a mocreia velha. —— Ela não demonstrou emoção enquanto dizia isso, apenas observando Gabriel com curiosidade.
—— Você pode sair do meu quarto agora? —— ele pediu, cruzando os braços, sua postura defensiva voltando.
Max, inclinando a cabeça, não cedeu tão fácil. —— Você quer mesmo ficar sozinho? A casa é mal assombrada, sabia? —— Ela lançou o comentário de maneira casual, mas carregado de uma verdade que Gabriel ainda desconhecia.
Ele riu, claramente não levando a sério. —— Você é muito estranha.
Max apenas deu de ombros, seus olhos vagando pelo quarto até pararem no skate encostado na parede. Ela notou os desenhos feitos à mão na madeira e se aproximou, observando-os com mais atenção. —— Esses desenhos no seu skate... você é artista?
Gabriel olhou para o skate e depois para Max. —— Faço alguns rabiscos às vezes.
Max assentiu, interessada. —— Eu também sou artista. —— Ela fez uma pausa, medindo as palavras antes de continuar. —— Um dia... posso desenhar você?
A pergunta pareceu pegar Gabriel de surpresa. Ele hesitou por um momento, mas então concordou. —— É, pode ser.
Eles trocaram um olhar breve, algo ligeiramente diferente na atmosfera. Max sorriu, dessa vez mais suavemente, e então se afastou, voltando a vagar pelo quarto. —— Você vai gostar daqui.
Tate ficou parado na porta do quarto, observando a interação entre Max e Gabriel com um misto de raiva e desespero. O que ele via era um eco do que ele mais temia: a conexão de Max com outra pessoa, alguém que não carregava o peso de suas sombras e seus erros. Ele sempre soube que Max era especial, mas agora ela estava se abrindo para um novo capítulo, longe dele.
A raiva queimava dentro dele, mas também havia uma tristeza profunda. Ele sabia que não podia forçar Max a ficar com ele, e, de certa forma, isso era o que mais doía.
Tate apenas ficou ali, em silêncio, a angústia consumindo-o, enquanto o riso de Max e Gabriel ecoava em seus ouvidos, lembrando-o de tudo o que ele havia perdido.
(...)
Gabriel se revirava na cama, os pensamentos agitados e uma sensação de inquietação o mantinham acordado. Um barulho súbito o despertou totalmente, e Gabriel se sentou assustado na cama, o coração acelerado. Ao abrir os olhos, viu uma figura estranha. Tate estava sentado em uma cadeira, observando-o o garoto.
—— Quem é você? —— Gabriel perguntou, a voz preocupada e com medo.
Tate, no entanto, não respondeu de imediato. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos. —— Se eu pudesse sonhar —— murmurou, quase para si mesmo, —— Também sonharia com Max.
Gabriel franziu a testa, confuso. —— Você está falando da garota estranha da tarde, não é? —— A curiosidade superou seu medo por um momento, mas o rótulo que usou para Max fez a expressão de Tate mudar instantaneamente.
—— Não a chame de estranha —— disse Tate, a voz baixa e tensa, mas carregada de intensidade.
—— Desculpe —— Gabriel respondeu rapidamente, percebendo que havia tocado em um nervo sensível.
Tate relaxou um pouco, mas a irritação ainda dançava em seus olhos.
Gabriel olhou para Tate, confuso e intrigado. —— O que você quer? —— ele perguntou, tentando juntar as peças do que estava acontecendo.
—— Max era minha namorada —–— Tate respondeu, seu tom carregado de uma emoção que Gabriel não conseguia identificar.
Gabriel franziu a testa, surpreso. —— Ela não falou nada sobre ter um namorado —— comentou, tentando lembrar se ela havia mencionado algo enquanto conversavam. Mas Tate parecia distante, perdido em suas próprias lembranças.
—– Nós terminamos —— Tate disse, a voz baixa e pesada. —— Ela terminou comigo.
Gabriel se sentiu um pouco mais à vontade, tentando encontrar um terreno comum. —— Olha, eu não toquei nela ou algo assim —— ele afirmou, tentando deixar claro que não era uma ameaça. —— Só a conheci hoje.
Tate se inclinou para frente, a irritação ressurgindo em seus olhos. —— Você não entende —— ele respondeu com intensidade. —— Ela não é apenas mais uma garota. Para mim, ela significa tudo.
Gabriel tentou entender, mas a ferocidade nas palavras de Tate o deixava intrigado. —— Eu não quero causar problemas entre vocês, mas eu só a conheci agora.
—— Ela é muito mais do que você imagina —— Tate insistiu, sua expressão transformando-se em uma mistura de dor e possessividade. —– Eu só quero que ela seja feliz.
Gabriel ouviu os gritos de sua mãe ecoando pela casa, seu coração disparou em pânico. Ele se levantou rapidamente, tentando correr até a porta do quarto, mas antes que conseguisse alcançar a maçaneta, Tate o empurrou de volta com força, derrubando-o no chão. O impacto foi brutal, e Gabriel sentiu uma dor aguda percorrer seu corpo enquanto tentava se levantar, ofegante.
Tate se aproximou, com os olhos ardendo de raiva. ——!Eu avisei —— ele disse em um tom baixo, mas ameaçador. —— Eu faria qualquer coisa por ela. Se isso significa tirar você do caminho, então assim será.
Gabriel se arrastou para trás, assustado e confuso. —— Eu não fiz nada! —— ele gritou, tentando entender o que estava acontecendo. —— Eu nem conheço vocês direito!
—— Isso não importa —— Tate respondeu friamente, ajoelhando-se sobre Gabriel, sua expressão agora fria e calculista. —— Você está aqui, você entrou na vida dela, e isso é o suficiente. Eu não vou perder Max de novo.
Gabriel olhou para a porta, ouvindo os gritos de sua mãe ficando cada vez mais distantes. —— Deixem minha mãe em paz —— ele implorou, sentindo o desespero crescer. —— Eu... eu nem vou falar com ela de novo. Só deixa minha família em paz.
Max entrou no quarto com passos silenciosos, Tate estava sobre Gabriel, segurando uma pequena faca, a lâmina refletindo a luz fraca do ambiente. O garoto estava assustado, imobilizado no chão, com os olhos arregalados de puro pavor.
—— Tate, o que você está fazendo? —— Max perguntou com a voz firme, mas trêmula, ao mesmo tempo. Sua presença trouxe uma tensão ainda maior ao ambiente.
Tate não tirou os olhos de Gabriel, mas respondeu de forma contida, quase carinhosa, enquanto ainda segurava a faca contra o pescoço dele. —— Estou fazendo isso por você, Max. Eu... não posso deixar ele ficar no seu caminho.
—— Não —— Max interrompeu, mais perto agora, estendendo a mão para Tate.
As palavras de Max fizeram Tate tremer por um momento, seu olhar oscilando entre a raiva e o medo. —— Eu só... eu só queria que você ficasse comigo. Que nós tivéssemos uma chance de ser felizes.
—— Eu sei —— Max respondeu suavemente. —— Se você realmente me ama, vai deixar Gabriel ir. Vai me deixar ir.
Tate respirou fundo, os dedos ainda segurando firmemente a faca. Ele parecia lutar internamente, o conflito entre o que ele queria e o que sabia ser certo se manifestando em sua expressão. Finalmente, seus ombros caíram, e ele soltou a faca no chão, afastando-se lentamente de Gabriel.
Max suspirou aliviada, caminhando até Gabriel e ajudando-o a se levantar. —— Vá para sua mãe —— ela disse a ele, com um olhar de ordem. —— Agora!
Gabriel saiu correndo do quarto sem olhar para trás, enquanto Max permaneceu ali, olhando para Tate com tristeza.
—— Tate... —— Max murmurou suavemente, sua voz quase um sussurro. —— Eu sinto sua falta. —— Essas palavras o pegaram de surpresa. O aperto em seus punhos relaxou, e ele a olhou com uma mistura de surpresa e esperança.
—— O quê? —— Tate balbuciou, sua expressão suavizando um pouco, mas ainda com medo de acreditar.
Max respirou fundo, escolhendo as palavras com cuidado. —— Eu te mandei embora, mas... nunca te disse adeus de verdade. Talvez porque, no fundo, eu nunca quis que você fosse embora. Eu só queria que você parasse de machucar as pessoas.
Tate deu um passo para frente, mais próximo dela, sua respiração acelerada. —— Eu faria qualquer coisa por você, Max. Qualquer coisa. —— Seus olhos procuravam os dela com uma intensidade avassaladora.
Tate, com medo de perdê-la de novo, foi até ela com cuidado, quase hesitante. Ele segurou o rosto de Max com as duas mãos, e seu olhar era cheio de preocupação, como se não tivesse certeza se deveria acreditar no que estava acontecendo. Então, sem resistir mais, ele se inclinou e a beijou, com urgência, mas também com uma profunda tristeza.
Max correspondeu, seus lábios encontrando os dele, seu coração estava pesado, se ao menos houvesse um. Ela sabia que precisava acabar com tudo isso, mas naquele momento, o beijo era uma forma de evitar mais caos, de manter Tate contido, pelo menos por enquanto.
Assim que o beijo terminou, Max se afastou ligeiramente, seus olhos encontrando os de Tate pela última vez.
—— Adeus, Tate.
Antes que ele pudesse reagir, Max desapareceu, sumindo da sua visão como uma sombra.
Tate ficou parado no meio do quarto, sua mão ainda estendida no ar, como se tentasse agarrar algo que já não estava ali. Ele olhou ao redor, perdido, sua mente girando em confusão e dor. A ausência de Max o atingiu como um golpe no estômago, e seu rosto se contraiu, lutando para segurar as lágrimas. Mas não conseguiu.
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