11. sobre liberdade.
Quando a tarde de Halloween chegou , as praças estavam cheias de crianças fantasiadas, rindo e correndo entre as casas decoradas com abóboras iluminadas e teias de aranha. O ar fresco da noite estava impregnado de uma mistura de folhas secas e doces, criando uma atmosfera mágica e um tanto nostálgica. Ben Harmon e Tate Langdon estavam entre a multidão, observando a cena ao redor.
Tate caminhou até uma mesa improvisada, onde dois cafés fumegantes aguardavam, e observou Ben, que estava absorto em seus pensamentos, olhando para uma garotinha de tranças e roupas escuras que se destacava entre os grupos, pedindo doces mais longe.
—— Ela parece um pouco com a Max, não é? —— Tate comentou, um sorriso brincando em seus lábios, tentando trazer um pouco de leveza à situação.
—— Eu não sei —— Ben respondeu, seu olhar pesado. — Não fui um pai presente para Max. Perdi momentos incríveis assim.
Um silêncio pesou entre os dois, enquanto Tate ponderava sobre o que dissera. Ele e Max nunca haviam discutido a falta de presença paterna que ambos experimentaram, mas era evidente que esse vazio os unia de alguma forma.
—— Uma garotinha forte, igual à mãe dela —— Ben continuou, a emoção transparecendo em sua voz. As lágrimas escapavam de seus olhos, como se cada palavra fosse um lembrete do que ele não pôde ser. —— Nunca precisou de mim para nada, e tenho certeza de que nunca vai precisar...
Tate assentiu, sua mente mergulhada em pensamentos sobre Max. O quanto ela era independente era, ao mesmo tempo, inspirador e assustador. O temor de que um dia ela pudesse decidir ir embora e deixá-lo para trás o consumia.
(...)
Enquanto isso, em outro canto da casa, Ethan e Maxine estavam trancados no quarto, perdendo a noção do tempo. Tentavam decidir uma fantasia de Halloween que pudesse agradar o garoto. Maxine, com o olhar determinado, saiu do quarto e caminhou até um cômodo onde estavam empilhadas caixas de fantasias antigas, o cheiro de poeira e papel envelhecido pairando no ar.
Quando voltou, notou que o cômodo estava vazio novamente, até que sentiu mãos segurando-a por trás, uma firmeza que a surpreendeu. Ao se virar, viu Ethan tirando a máscara de látex preta, sua expressão confusa, como se não lembrasse de ter colocado aquilo, mas também estranhamente acostumado.
—— Onde você achou isso? —— Max perguntou, colocando a caixa sobre a cama.
—— No seu guarda-roupa. Não sabia que era tão pervertida assim —— Ethan disse, sentando-se casualmente na cadeira.
—— Não é meu —— Max respondeu, perplexa. Não fazia ideia de como aquilo fora parar em seu armário.
—— É do seu namoradinho psicopata? —— Ethan brincou, um sorriso travesso no rosto.
—— Não fala isso.
—— O quê? Namorado ou psicopata? —— Ethan perguntou, franzindo a testa.
—— Ambos —— Max respondeu, uma sensação de desconforto a invadindo. —— Sério, tira essa coisa. É assustadora.
—— Você acha? Adoro ela. Já usei outras vezes —— Ethan disse, sua seriedade confusa, mas Max preferiu ignorar a insinuação.
(...)
Quando a noite chegou, Maxine se viu mais uma vez sozinha em casa. Ethan e Violet haviam saído para assistir a filmes de Halloween juntos, enquanto Vivian estava no hospital com Ben, preocupada com o que estava acontecendo com o bebê deles. A solidão se instalou em Maxine, que se olhou no espelho, confusa, questionando por que datas comemorativas sempre lhe causavam dor.
Um barulho interrompeu seus pensamentos. Ao se aproximar da janela, viu Tate do lado de fora, tentando chamar sua atenção, jogando pedrinhas no vidro.
—— Desce aqui!
Maxine não hesitou. Ela caminhou até o porão da casa, saiu pela porta de trás e encontrou Tate parado atrás da sua casa, seu rosto iluminado pela luz fraca da lua. O garoto sorriu genuinamente para ela, um sorriso que fazia seu coração acelerar.
Tate estendeu a mão para Maxine, e ela sorriu de volta, sentindo-se aquecida enquanto caminhavam pelas ruas iluminadas por abóboras e lanternas, cada passo ecoando na quietude da noite.
Enquanto andavam, Maxine parou em frente à faculdade fechada, observando a escuridão do imenso prédio branco que se erguia contra o céu noturno.
—— Você estuda aqui? —— Tate perguntou, olhando para o edifício.
—— Sim, estudava... —— Max respondeu, seu coração apertando ao lembrar-se dos sonhos que poderia deixar para trás.
—— Como assim? Você vai parar? Por quê? —— Tate perguntou, seus olhos brilhando com preocupação.
—— O dinheiro que a minha mãe deixou, eu acho melhor reservar para algo mais necessário no futuro —— Max explicou, sua voz embargada pela incerteza.
Tate suspirou, seu olhar fixo nos olhos claros e melancólicos de Max. Ele adorava como seus sentimentos estavam sempre à vista, expostos em sua expressão, e mais ainda como parecia ser o único a notá-los.
Ele se aproximou, segurando o rosto dela delicadamente, tão perto que poderia ter beijado sua bochecha. Acariciou suas bochechas, que pareciam tão macias, desejando devorá-las nas fantasias sombrias que frequentemente o atormentavam.
—— Você ainda vai ser minha pintora favorita —— Tate sussurrou, suas palavras quase um segredo.
Maxine se ergueu levemente, seus pés mal tocando o chão, observando os lábios de Tate tão próximos, mas ao mesmo tempo distantes, como se um abismo os separasse.
—— Quero levar você a um lugar —— Tate disse, afastando-se um pouco. Ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos, e juntos continuaram a andar.
Após algum tempo, chegaram a uma praia isolada, distante das ruas movimentadas. A areia estava fria sob os pés, e o ar quente do outono envolvia-os, criando um contraste curioso.
Maxine caminhou em silêncio pela areia, sentando-se no chão, enquanto Tate a seguia, sentando-se ao seu lado. O som suave das ondas quebrando na costa preenchia o ar, e o céu estrelado parecia oferecer um manto de proteção.
—— Achei que arte fosse o seu sonho —— Tate disse, olhando para o mar, que refletia as estrelas.
—— Eu tenho muitos sonhos —— Max respondeu. —— O maior deles é a liberdade.
—— Liberdade? —— Tate repetiu, um brilho de curiosidade em seus olhos.
—— Olha, a Vivian e o Ben não vão durar muito tempo. Uma hora, ela vai surtar e pedir o divórcio —— Max explicou, sua voz carregada de realidade. —— E quando isso acontecer, eu não quero ficar com o Ben, então o dinheiro será mais útil.
—— Pra você ir embora? —— Tate perguntou, sua voz suave.
Maxine sentiu seu olhar sobre ela, percebendo que, na verdade, não havia liberdade nos olhos dele. Era como se soubesse que ele estava preso em sua própria mente, lutando contra demônios que o atormentavam diariamente.
—— Você pode vir comigo —— Max murmurou, a ideia fluindo como uma esperança tímida.
Tate sentiu tudo ao seu redor parar. Se existisse um segundo inferno, era aquele momento, saber que mesmo desejando aquilo mais do que queria respirar, não poderia.
Max percebeu a mudança na expressão de Tate. Ele virou o rosto para o mar novamente, abraçando os próprios joelhos em silêncio, e a esperança que florescera dentro dela começou a murchar.
—— Nossa, desculpa, eu não sei por que disse isso —— Max se apressou em se desculpar. —— Foi idiota. Tipo, por que você iria?
Eles se conheciam há tanto tempo, e ela estava convidando o garoto para fugir. Ela parecia mais louca do que ele naquele momento. —— Eu iria, sem dúvidas eu fugiria com você —— Tate respondeu, sua sinceridade a pegou de surpresa.
Uma faísca acendeu dentro de Max, seu coração disparando, a imaginação criando cenários em que ambos simplesmente desapareciam, partindo para um novo começo.
—— Não acha estranho? —— Max perguntou, sua voz quase um sussurro.
—— Não, eu gosto de você —— Tate respondeu, a sinceridade em seus olhos. —— Se eu pudesse, iria para qualquer lugar que você fosse.
Tate parecia falar sério. Em tantos anos, Maxine nunca tinha se sentido assim, saber que alguém faria algo tão grande por ela. Ela jamais imaginara que alguém estaria disposto a ir a qualquer lugar por causa dela.
Maxine amava a liberdade, mas percebia que não significava nada se Tate não estivesse ao seu lado para aproveitá-la juntos.
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