08. fortes.
Maxine finalmente havia se acomodado na estranheza confortável da casa, um espaço que, embora repleto de memórias perturbadoras, havia se tornado seu refúgio. Havia decidido dar um tempo das aulas na faculdade, um gesto impulsionado pela necessidade de encontrar equilíbrio e clareza em meio ao caos emocional que a cercava.
Ela não queria ficar na casa, especialmente com a possibilidade de que a corretora tivesse que revelar os quase assassinatos a potenciais novos moradores. A ideia de ser o foco de curiosidade mórbida a incomodava profundamente. Mas também não queria voltar à faculdade e ouvir as sussurros sobre a "casa dos assassinatos" que agora chamava de lar.
—— Isso é loucura —— Ethan comentou, segurando um cigarro entre os lábios. O fumo esvoaçava na brisa, criando um ar quase onírico ao seu redor.
—— Vivian vai vender a casa —— Max respondeu, olhando para o horizonte.
—— Você... vai embora? —— Ethan perguntou, a voz baixa, como se temesse a resposta. O laço que haviam construído nas semanas passadas era estranhamente precioso; a ideia de se separarem parecia quase insuportável. Ethan era o primeiro amigo verdadeiro que Max havia feito.
—— Não acho que vamos embora de Los Angeles, eu espero —— Max respondeu, a esperança na voz.
—— Torço que não, seria muito chato não ter minha amiga favorita na faculdade —— Ethan disse, voltando a fumar. A fumaça se dissipava lentamente, como seus medos.
—— Eu sou sua única amiga —— Max debateu, um sorriso involuntário aparecendo em seus lábios.
—— Outro ponto importante, voltar a ser solitário seria muito chato —— Ethan comentou, fazendo Max rir, o som claro e refrescante em meio à sombra daquela árvore.
Os dois estavam sentados na grama de um dos parques mais distantes, um local onde a agitação de Los Angeles parecia mais distante. Mesmo que Maxine detestasse o verão, sentar-se sob a sombra daquela árvore era como um calmante natural, a frescura da grama confortante sob suas pernas.
—— O que você vai fazer no Halloween? —— Ethan perguntou, mudando de assunto.
—— Não tinha pensado nisso —— Maxine respondeu, observando as lojas mais adiante começando a se enfeitar com abóboras e teias de aranha.
—— É meu feriado favorito, depois do Natal —— Ethan disse, um brilho nos olhos. —— Uma vez, fiquei tão chapado no Natal que tentei entrar na lareira de casa para procurar aquele velho.
Max riu, achando graça. Ethan era genuinamente um amigo incrível quando queria, e ela não queria ir embora agora e deixar amizades tão especiais para trás.
(...)
Ao voltar para casa, Maxine notou um imenso carro estacionado em frente, com várias pessoas a mais longe e um homem gesticulando como se estivesse conduzindo um tour pela cidade.
—— A joia da cidade! A casa dos assassinatos! —— o homem anunciou com entusiasmo, sua voz ecoando pelo ar.
Maxine franziu a testa ao entrar pelo portão, sentindo os olhares curiosos se voltarem para ela. Seu olhar encontrou Vivian, que estava do lado de fora, cortando flores amarelas com uma expressão determinada.
—— O que esse pessoal está fazendo aqui? —— Max perguntou, a confusão evidente em sua voz.
—— Não quero nem saber —— Vivian revirou os olhos, claramente irritada com a invasão de curiosos.
Maxine ignorou a multidão e caminhou em direção à casa, parando abruptamente ao ver Tate sentado em um muro baixo do jardim. Fazia um tempo desde que o havia visto, e encontrá-lo ali, quase como um espectro do passado, era estranhamente reconfortante e perturbador ao mesmo tempo.
—— Obrigado por ajudar —— Maxine disse, a gratidão transparecendo em seu tom.
—— Não queria que machucassem você —— Tate respondeu, sua voz baixa, mas carregada de sinceridade.
Ela se aproximou e se sentou ao lado dele no muro, observando Vivian como uma louca, tentando reconstruir o jardim, um último esforço para dar um ar de normalidade ao caos que a cercava.
—— Me desculpa, eu... —— Tate começou, a hesitação em sua voz.
—— Você se arrepende? —— Max perguntou, seu olhar fixo nos dele.
Tate hesitou, os olhos baixos, e Maxine percebeu que ele não se arrependia do que havia feito. Ele apenas estava angustiado por tê-la afastado. Com um gesto suave, ela tocou o braço de Tate, acariciando-o por cima da camisa xadrez azul escura.
—— Já é um começo —— Maxine respondeu, um sorriso tímido brotando em seu rosto.
Tate sorriu de volta, entregando um cigarro que segurava entre os dedos e acendendo-o para ela. Enquanto fumava em silêncio, uma onda de emoções a envolveu; seu coração pulsava forte, e ela se sentia à beira de algo novo e, ao mesmo tempo, aterrador.
—— Você ainda precisa de alguém para desenhar? —— Tate perguntou, a expectativa em sua voz.
Maxine concordou em silêncio, sorrindo novamente, sentindo o coração acelerar como nunca antes. Estava com medo de que aquilo fosse amor, de que estivesse se apaixonando mais uma vez.
(...)
Quando a tarde se transformava em crepúsculo, Maxine avistou Ben Harmon deitado na grama atrás da casa, parecendo completamente confuso. Desceu para o andar de baixo, seguindo em direção ao pai, que estava deitado ao lado de uma pá, como se tivesse perdido o controle da realidade.
—— Sei que a casa não é agradável, mas deitar na grama não parece uma ideia boa também —— Max comentou, observando Ben acordar assustado.
—— Como eu cheguei aqui? —— Ben perguntou, a confusão evidente em seu olhar.
—— Está bebendo? —— Max perguntou, percebendo a desorientação dele.
Ben negou com a cabeça, levantando-se e se apoiando na pá, tentando encontrar o equilíbrio, como se cada movimento fosse uma batalha.
—— Já que estamos aqui, eu queria avisar que tranquei a faculdade —— Max revelou, dando de ombros, um gesto que disfarçava a intensidade da sua decisão.
—— Bem, deve ser por conta dos últimos acontecimentos, não é? —— Ben questionou, a preocupação pairando em seu tom.
Maxine apenas concordou, a inquietação tomando conta dela.
—— Você pode voltar quando se sentir melhor, não tem problema —— Ben disse, encolhendo os ombros, mas a incerteza em sua expressão não escapou aos olhos dela.
Max apenas concordou, observando o pai se afastar, adentrando a casa novamente, parecendo cada vez mais perdido, como se a casa estivesse sugando sua sanidade. Ele era o primeiro a sucumbir ao peso da história daquele lugar.
—— Max! Vamos! —— Violet gritou mais longe, quase perto do carro. Havia decidido ir com Vivian procurar outro lar.
Enquanto caminhavam, passaram por vários apartamentos na Califórnia, todos tão deprimentes quanto a casa, que, em comparação, parecia um castelo incompreendido.
—— Ainda bem que nós mudamos para a Califórnia, já que podemos ir para qualquer lugar —— Vivian comentou, tentando encontrar um lado positivo na situação.
—— Eu não achei tão ruim...
—— Eu cheguei agora nessa família, mas já percebi que vocês arrastam tudo para debaixo do tapete —— Max comentou, sua voz firme.
—— A amante, o segundo casamento, o aborto —— Violet citou, o tom de indignação crescendo.
—— Acho que vocês não entenderam ainda, queridas, o que aconteceu naquela casa foi um pesadelo —— Vivian explicou, sua voz tingida de frustração.
—— Esse apartamento é um pesadelo! —— Max rebateu, o desespero crescendo.
—— Eu gosto da casa! Foi onde nós nos viramos! ——Violet defendeu, sua lealdade à casa refletindo seu desejo de encontrar um lar.
—— A casa é perturbadora, mas essa família consegue ser bem pior! —— Max disse, a frustração à flor da pele. —— Acredite, a casa é o menor dos problemas que temos.
—— Você diz que fomos as vítimas, mas foi lá que sobrevivemos —— Violet continuou, desafiando Max com seu olhar.
—— É ótimo que vejam assim, mas eu estou grávida e não posso ficar lá —— Vivian explicou, a vulnerabilidade em sua voz ecoando na mente de Max.
—— Se seguirem com o plano da venda, eu vou embora — Max declarou, a determinação tomando conta dela. —— Não vou fazer parte do problema familiar que esta casa representa, até que a gente tenha que ficar se mudando sempre que um problema aparece.
Com isso, Max sentiu a força de sua decisão se solidificar, e andou até a porta do apartamento, saindo rapidamente.
—— Eu vou junto, e vocês sabem que consigo uma forma de nunca mais ser achada —— Violet completou, seguindo-a para fora do apartamento, um ar de desafio em seus passos.
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