Capítulo 03
Eu estava em um local escuro e silencioso, com mãos frias ao redor do meu pescoço. Uma figura sombria me fitava, com olhos gelados. Eu tentava gritar, mas minha voz era abafada. Meu corpo se debatia, procurando escapar. A sensação de sufocamento era agonizante. Acordei ofegante, coração acelerado, suor frio. O quarto estava silencioso. O relógio marcava 7h45. A escuridão do quarto parecia se fechar sobre mim. Levantei-me, procurando me distrair do pesadelo que tive. O sonho parecia real demais. Seria uma memória reprimida ou apenas um pesadelo? Fui até ás janelas, o sol começava a entrar pelas cortinas, iluminando o quarto. O lugar era grande e bonito, e agora que eu sabia que não estava em um hospital, eu iria atras de respostas, começando em saber que dia era hoje. Saí do quarto, determinada a descobrir alguma coisa sobre esse lugar. O corredor amplo se estendia diante de mim, com portas fechadas e quadros elegantes. A mansão parecia silenciosa, exceto pelo som de meus passos no tapete macio. Encontrei uma escadaria grandiosa e desci ao andar inferior. No foyer, um lustre de cristal brilhava, iluminando o salão elegante. Uma empregada, vestida com uniforme preto e branco, surgiu.
___Bom dia, senhorita. Posso ajudar? perguntou ela.
Foi um desafio encontrar as palavras certas, ainda sentia um resquício de medo de que percebessem que eu não era a verdadeira Astoria, a tirana que eles conheciam. Mas, apesar da apreensão, eu não permiti que o medo me dominasse completamente. Uma parte de mim estava determinada a manter a fachada, a fingir que era a Astoria que eles esperavam, enquanto outra parte estava ansiosa para descobrir a verdade sobre essa vida que eu havia assumido.
___Sim, por favor. Qual é o dia de hoje?. pedi.
Ela continuou com uma expressão de perplexidade no rosto, como se estivesse completamente perdida em relação à minha presença. A incerteza era palpável, e eu podia sentir a tensão no ar enquanto ela tentava decidir como agir perto de mim.
___Sábado, 17 de março de 2025. ela disse
Suspiro,Isso era um tempo muito grande pra mim, o acidente aconteceu em dezembro do ano passado, se era 2025, então eu não tinha viajado pro passado ou algo do tipo como suspeitava, esse negocio de senhorita já estava me deixando desconfiada e irritada. Olhei ao redor, procurando algo familiar.
___Onde eu estou exatamente? perguntei à empregada.
Ela não parecia mais esconder sua expressão de perplexidade, e eu podia ver a pena em seus olhos, uma mistura de tristeza e confusão. Eu sentia pena dela também, por ter que passar por essa situação, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Ironicamente, eu havia me tornado a garotinha que havia perdido a memória, mesmo que isso não fosse verdade. Minha memória estava perfeita, mas eles não sabiam disso. Minha pena também estava em sentir que minha vida havia se resumido em perguntas e respostas que eu nunca tinha, uma busca constante por respostas que pareciam estar sempre fora do meu alcance.
___Você está na Mansão do Senhor Hunter, senhorita __disse ela, como se estivesse anunciando um fato óbvio.
Eu sabia que estava em uma mansão, o lugar era enorme e luxuoso, mas não era isso que eu queria saber. Eu estava em completa desconexão.
___Que é? Perguntei.
___ Em Newport, Rhode Island america.
respondeu a empregada, com uma expressão confusa.
___Newport, Rhode Island? repeti, minha voz trêmula de surpresa.
___Sim, senhorita. Newport, Rhode Island
Minha mente girava, tentando processar a informação. Como isso era possível? Eu nunca havia viajado nem para a cidade grande que ficava perto de onde eu morava. A ideia de estar em um lugar desconhecido me deixava com uma sensação de desorientação e medo.
____ Mas que lugar é esse afinal?__ sussurrei, minha voz quase inaudível. Olhei para a empregada, procurando respostas, mas seu rosto estava comzero informações.__ Você sabe me dizer se eu tinha algum celular antes do acidente?
perguntei, tentando encontrar alguma pista sobre minha vida anterior. A empregada olhou ao redor nervosamente, como se estivesse procurando por outra pessoa para me auxiliar.
___Não sei, senhorita, respondeu ela finalmente, sua voz baixa e hesitante.
Olhei ao redor, para a enorme mansão que me cercava, e senti uma sensação de desorientação e frustração. Mais uma informação inútil, mais uma porta fechada. Eu estava começando a me sentir como uma prisioneira em minha própria vida, sem chave para sair.
___ Certo... Obrigada, hã,como você se chama?
___Sou Suzy__ respondeu ela, com um sorriso gentil. __Se precisar de algo, estou aqui para ajudar. ela disse, mesmo eu sabendo que ela nao queria mais passar por isso
___Obrigada, Suzy , disse eu, com um sorriso leve. Suzy assentiu, mas seu rosto traiu surpresa. Era como se ela estivesse esperando uma reação diferente, mais condizente com a personalidade da "verdadeira" Astoria. Eu notei que ela parecia nova no trabalho, e que alguém devia tê-la orientado sobre como lidar comigo. Portanto, meu agradecimento deve ter sido uma surpresa para ela.
Suzy saiu da sala, me deixando sozinha por um momento. Mas logo Marta entrou, com uma expressão de preocupação estampada no rosto. Seu olhar me examinou, como se estivesse procurando por algum sinal de mudança em mim.
___Bom dia, senhorita , disse Marta, com um semblante cansado.__ Você acordou cedo hoje.
___Bom dia marta__ respondi, desviando o olhar para a porta da frente, que parecia uma saída tentadora. Mas Marta se aproximou, interrompendo meu devaneio.
___Venha, senhorita, o café da manhã já está posto na mesa. Você precisa se alimenta__, disse ela, com uma preocupação genuína em sua voz.
Embora percebesse que comia muito ali, eu não iria reclamar. Pelo contrário, eu estava determinada a aproveitar ao máximo a hospitalidade. No entanto, uma sensação de desconfiança ainda pairava no meu organismo, me impedindo de relaxar completamente. A ideia de que aquela mansão pudesse ser uma prisão de luxo, projetada para me manter fraca e dependente, me fez estremecer. Mas, tentando afastar esses pensamentos sombrios, segui Marta até a sala de jantar, onde uma refeição farta e apetitosa aguardava. O aroma de café recém-torrado e pão fresco saiu da mesa, estimulando meu estômago, que roncou em resposta, deixando-me um pouco envergonhada. Sem me preocupar com a etiqueta, me sentei à mesa e me preparei para devorar os pães dourados e crocantes que pareciam uma tentação irresistível. Meu estômago rugia de antecipação, e eu mal podia esperar para dar uma mordida naquela deliciosa refeição
___Você dormiu bem? perguntou Marta, me servindo café.
___Sim, obrigada. respondi.
Marta continuava a me analisar, procurando algum sinal de anormalidade em mim. Para sua preocupação, tudo parecia estar errado. Ela não entendia como eu conseguia eu tinha mudado tanto , considerando que ela parecia saber exatamente como cuidar da jovem por muito tempo. Olhei para ela, notando que seus olhos estavam cansados e seu rosto pálido, como se ela não tivesse dormido nada.
___Você se sente bem, Marta? perguntei, ainda comendo. __Parece cansada__. Marta se assustou com minha pergunta, seu olhar se desviando para mim com uma expressão de surpresa. No entanto, logo se recuperou, recompondo sua expressão.
___Não se preocupe comigo, senhorita , disse ela, com um sorriso forçado.__Só não dormi muito, é tudo. Sua resposta foi rápida e automática, mas eu notei uma sombra de preocupação em seus olhos, que me fez questionar se havia algo mais por trás de sua fadiga.
Me senti culpada ao olhar para Marta, provavelmente ela estava assim por minha causa, tendo passado a noite toda cuidando de mim. A ideia de que eu estava sendo uma carga para ela me pesava na consciência.
___Desculpa, Marta , disse eu, desistindo de comer o pãozinho que estava na minha mão._ Acabei te causando dor de cabeça. Marta sorriu e negou com a cabeça, tentando me tranquilizar.
__Não precisa se preocupar, senhorita, disse ela.__Eu estou aqui para cuidar de você
Eu sabia que era verdade, mas não parecia certo. Eu me sentia uma impostora, fingindo ser alguém que não era, e Marta parecia gentil e dedicada, o que me fazia sentir ainda mais culpada por estar incomodando uma pessoa desconhecida. A sensação de culpa me pesava no coração, e eu não sabia como lidar com ela.
___Ontem à noite, você estava muito cansada, disse Marta, mudando de assunto.__Hoje parece melhor. Eu agradeci silenciosamente, sentindo um alívio por não ter que discutir mais sobre o assunto
Peguei uma torrada e comecei a comer, me sentindo mais confortável com Marta
___Eu acho que estou me acostumando , disse eu, voltando a comer. Marta parecia feliz com minha resposta, então não disse mais nada.
Enquanto comia, não pude deixar de pensar em como essa mesa farta era um contraste com minha vida anterior. Na minha outra vida, era difícil encontrar uma mesa com tanta comida. Aqui, eles estavam me tratando bem, pelo menos por enquanto. Mas tudo ainda era estranho e desconhecido. Eu ainda precisava saber quem era Astória, e o que eu estava fazendo ali. A curiosidade me consumia, e eu sabia que precisava encontrar respostas logo.
___ Marta__comecei, decidida a obter respostas.__ Queria saber por que o pai da Astória... digo, o meu pai, esse Senhor Hunter, não apareceu até agora.
Marta pausou, segurando a xícara de café.
___O Senhor Hunter chegará esta tarde__disse ela finalmente, sua voz neutra. __Ele falará pessoalmente com a senhorita__Marta fez uma pausa, como se escolhendo as palavras certas.__Seu trabalho o impede de ter muito tempo livre, mas ele a procurará assim que possível.
Eu observei Marta, tentando ler entre as linhas. Havia algo em sua expressão que me fazia sentir que havia mais por trás da história do que ela estava me contando. Mas eu não pude pressioná-la mais, pois ela já havia dito o que precisava dizer. Agora, eu só podia esperar pelo encontro com o Senhor Hunter e ver o que ele tinha a me dizer.
Parecia que o Senhor Hunter e a outra parte da família não se davam bem, e eu não podia deixar de me perguntar por quê. Eu entendia que ele fosse distante, mas e a outra família? Qual era o motivo por trás dessa tensão? Eu estava tentando seguir um caminho direto para me infiltrar na família e precisava saber a relação entre eles e como isso iria me ajudar.
___Se não tiver problema, Marta, gostaria de saber como é a relação entre o Senhor Hunter e a outra parte da família__ perguntei, curiosa para entender melhor a dinâmica familiar
Marta colocou a xícara sobre a mesa, olhando-me seriamente.
___Sua família e a dele têm uma longa história, senhorita__ disse ela, sua voz baixa e cautelosa. Isso parecia muito complexo, e eu só podia supor que era algo relacionado à mãe de Astória e ao Senhor Hunter.
___Como?, perguntei, minha curiosidade aumentando. Marta hesitou, como se não soubesse se devia continuar.
___Senhorita, talvez eu não seja a pessoa certa para lhe contar sobre isso__disse, sua voz cheia de hesitação. __É uma história muito pessoal e delicada. Talvez seja melhor que o Senhor Hunter lhe conte sobre isso pessoalmente.__ Eu senti uma pontada de frustração, mas entendi que Marta estava apenas tentando proteger a privacidade da família, mas eu estava determinada a descobrir qualquer coisa. Se fosse possível, eu iria tirar migalhas de informação, até que estivesse satisfeita.
Engoli em seco, sentindo uma mistura de emoções estranhas. Uma parte de mim não queria se encontrar com o pai de Astória ainda, não estava preparada para lidar com as consequências de nossa reunião. Mas outra parte de mim estava curiosa, queria saber quem era Victor Hunter.
Marta parecia perceber minha hesitação e me ofereceu um sorriso de apoio. __Não se preocupe, senhorita, disse ela. __O Senhor Hunter é um homem... complicado. Mas ele é seu pai, e você tem o direito de saber a verdade sobre ele__Eu assenti, sentindo uma nova determinação. Eu estava pronta para enfrentar o que viesse a seguir. Marta continuou
___A família Fiorelli também gostaria de conversar com você. disse Marta, sua voz neutra__Elas estão ansiosas para se reencontrarem depois dos acontecimentos.__Eu senti um nó no estômago ao ouvir essas palavras. Peguei uma respiração profunda, tentando me preparar para o que estava por vir. Eu sabia bem por que a família Fiorelli queria me encontrar. Eles estavam empenhados em querer me afastar do homem que se dizia meu pai, Victor Hunter. Mas só eu sabia como reagir depois que tivesse um encontro com um dos dois. Eu precisava manter a calma e não deixar que minhas emoções me dominassem.
___ Eles parecem ser intensos , disse eu, tentando soar casual. __Não sei se vou conseguir falar com todo mundo, até porque nem conheço eles pensei
Marta assentiu, sua expressão compreensiva. ___Sim, eles podem ser um pouco... exigentes. Mas você é forte, senhorita. Você vai lidar com eles muito bem. Eu sorri, agradecida por sua confiança em mim. Mas, no fundo, eu estava nervosa. Muito nervosa.
Nesse momento, um homem alto e imponente entrou na sala, exalando uma confiança que era quase palpável. Seu cabelo castanho curto e a barba por fazer lhe davam um ar de rebeldia que era difícil de ignorar. As tatuagens que cobriam seus braços pareciam contar uma história própria, cada uma delas um capítulo de uma vida vivida intensamente. Os vários piercings que cobriam seu nariz, boca e tempora complementavam seu estilo despojado e ousado, como se ele estivesse desafiando as convenções sociais.
Com uma camiseta preta justa e jeans desgastados, ele parecia mais um músico de rock do que um membro da família ou até mesmo um empregado. Seu olhar travesso encontrou o meu antes de anunciar sua presença, e eu senti um arrepio ao notar a intensidade de seu olhar. Seus olhos eram de uma cor verde musgo que nunca tinha visto em um ser humano, e pareciam ver além da superfície.
Havia algo nele que me fazia sentir desconfortável, como se ele estivesse desafiando meus limites e me fazendo questionar minhas próprias crenças. Ao mesmo tempo, eu não podia deixar de me sentir atraída por sua energia e confiança. Quem era esse homem, e o que ele queria?
___Victor Hunter está aqui para vê-la, Fiorelli__ anunciou Sawyer, sua voz firme e confiante. Ele me olhou de cima a baixo, e meu rosto esquentou ao sentir seu olhar intenso. Eu desviei o olhar do dele, sentindo-me desconfortável com a sua presença.
Marta franziu a testa, surpresa com a entrada despercebida dele. __Sawyer, qual é o significado disso? perguntou ela, sua voz repleta de desaprovação. __Você sabe como deve se apresentar! Sawyer sorriu, indiferente, e deu de ombros.
___Desculpe, Marta, disse ele, sua voz sem qualquer remorso. __Não tive tempo de me arrumar. Marta suspirou, sacudindo a cabeça em desaprovação.
__Venha, senhorita Astória__ disse ela, sua voz mais suave agora. __Vamos até o senhor Hunter. Eu assenti, me sentindo um pouco nervosa ao pensar em enfrentar Victor Hunter. Sawyer me ofereceu um sorriso irônico antes de se virar e sair da sala,me deixando sozinha com Marta.
Segui Marta, com o tal Sawyer à frente . O coração batia forte no peito, e eu sentia uma mistura de nervosismo e ansiedade. Marta notou meu estado e colocou uma mão reconfortante em meu ombro.
___Está tudo bem, senhorita, disse ela, tentando me tranquilizar. Mas eu sabia que não estava tudo bem. Eu estava prestes a enfrentar um homem que não era meu pai, mas sim o pai de Astória. Eu sempre sonhei em encontrar meu pai, em saber que ele era um homem rico e poderoso que me faria uma herdeira. Mas isso era apenas uma ilusão, uma fantasia que eu mantinha para desfarçar a monotonia da minha vida sem sonhos. E agora, eu estava aqui, prestes a enfrentar a realidade. Eu estava usando uma camisola que parecia ter saído de um filme de Tim Burton, e me sentia como uma personagem de um conto de fadas sombrio. A ironia da situação não me escapava. Eu havia morrido para chegar aqui, para viver uma vida que não era minha. E agora, eu estava prestes a enfrentar o homem que era o centro de tudo isso. Victor Hunter. O pai de Astória. O meu... não-pai.
Sawyer empurrou a porta de uma enorme biblioteca, revelando um espaço luxuoso que me deixou sem fôlego. As estantes de madeira escura se estendiam até o teto, repletas de livros antigos que pareciam guardar segredos do passado. Eu senti um misto de emoções ao entrar na sala, como se estivesse cruzando uma fronteira entre o passado e o presente eu amava bibliotecas.
Victor Hunter, o homem que se dizia meu pai, estava sentado atrás de uma imponente mesa de mogno, me observando com um olhar perscrutador que parecia ver além da minha superfície. Seu rosto forte, com linhas marcadas, transmitia autoridade e experiência, como se cada ruga e cada sulco contasse uma história. Seus cabelos escuros estavam eretos, como se desafiassem a gravidade, e seus olhos azuis, penetrantes, me fizeram sentir vulnerável, como se estivesse exposta a uma luz intensa. Eu não pude deixar de notar a semelhança entre nós, ou pelo menos, metade de mim. Astória tinha uma aparência mista estranha, como se fosse uma combinação de dois mundos diferentes. Marta e Sawyer se retiraram, fechando a porta atrás deles, e eu me peguei sozinha com Victor, como se estivéssemos suspensos no tempo, à espera de que algo acontecesse.
___Olá, Astória__ disse ele, com sua voz profunda. ___É bom finalmente te conhecer.
Engoli em seco, tentando encontrar palavras.
___Olá... As palavra pareciam conter areia soando estranhas em meus lábios.
Ele continuava com sua expressão de desinteresse enquanto me examinava, como se estivesse analisando um objeto estranho que não sabia para que servia. Eu pensava que sua repulsa se mostraria para mim, mas não me sentia tão constrangida quanto esperava, pois sabia que ele se sentia igualmente desconfortável comigo. Ele não sabia o que falar ou fazer, e eu podia sentir sua hesitação, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas para expressar sua confusão.
Mas apesar de sua hesitação, sua presença dominava o lugar. Ele era como um monólito, sólido e imponente, e eu podia sentir o peso de sua autoridade. Depois de sua longa examinada, vi o quanto estava decepcionado. Seu rosto, que antes era uma máscara de desinteresse, agora mostrava uma sombra de desapontamento, como se tivesse esperado encontrar algo mais em mim. Eu me senti um pouco magoada com sua reação, mas também senti uma ponta de curiosidade. O que ele havia esperado encontrar em mim? afinal eu nem era filha dele mesmo.
___Sente-se, disse ele, sua voz firme, mas não rude. __Temos muito a discutir. Obedeci, me sentindo como uma criança repreendida, com um misto de nervosismo e curiosidade. Meu olhar vagou pelo ambiente, notando os retratos antigos e os objetos valiosos que adornavam a sala. A atmosfera era opulenta, mas também um pouco sombria.
___Você não parece nada com sua mãe, , disse ele, estudando meu rosto com um olhar intenso que me fez sentir como se estivesse sob uma lupa. Sua voz era neutra, mas eu pude detectar uma ponta de curiosidade, como se estivesse tentando entender como eu havia herdado certas características, mas não outras. Era como se ele estivesse procurando por algo que não estava lá, algo que eu não podia fornecer. Eu senti um leve arrepio ao ouvir suas palavras, e uma onda de ansiedade me invadiu. Eu não era Astória, mas a sensação de estar presa em um corpo que não me pertencia era sufocante. Eu queria sair rapidamente daquele corpo, daquela pele que não era minha. E, ao olhar para Victor, percebi o quanto ele queria que eu me parecesse mais com a mãe de Astória, e não com ele. Era como se ele estivesse procurando por uma conexão com o passado, e eu não era a chave que ele procurava.
___Eu não a conheci, então não saberia dizer, respondi, observando atentamente suas reações. Queria ver como ele reagiria às minhas palavras, pois tudo nele parecia me irritar... não, tudo nele parecia irritar Astória. Era como se eu estivesse sentindo as emoções dela, presa em uma pele que não era minha.__Não gosto de me comparar com pessoas que não conheço, soltei corajosamente, tentando manter a calma. Victor apoiou seus ombros na cadeira e colocou as mãos à frente, seus olhos brilharam rapidamente, mas logo voltaram ao seu ar de desinteresse de sempre. Ele demorou a falar, e por um momento, pensei que ele não iria responder.
No entanto, ele finalmente falou, sua voz baixa e suave. ___Parece que tem mais de mim do que pude imaginar__ disse ele, seus olhos me estudando com uma intensidade que me fez sentir desconfortável. Era como se ele estivesse vendo algo em mim que eu mesma não via, algo que me fazia sentir uma conexão com ele que eu não queria sentir.
Mas ele queria o quê? Parecia que a garota na sua frente estava apenas lhe atrapalhando, e isso tirou todo o nervosismo que existia em mim. Eu me senti mais calma e segura, como se tivesse encontrado um equilíbrio interior.
___No entendo, não parece me querer aqui, eu disse com o mesmo ar de desinteresse que ele havia demonstrado até então. Minha voz era neutra, sem qualquer traço de emoção, e eu pude ver uma leve surpresa em seus olhos. Ele não esperava que eu reagisse daquela maneira, e isso me deu uma sensação de satisfação. Eu estava começando a entender o jogo dele, e estava pronto para jogar também.
___Me disseram que você era uma garota mimada que pensava apenas no seu próprio umbigo, disse ele, seu olhar intensificando-se enquanto me estudava. __Mas parece ter mudado depois do acidente. Para alguém que mal falava, parece se comunicar muito bem agora. Sua voz era ligeiramente irônica, e eu pude sentir uma onda de coisas inexplicáveis ao ouvir suas palavras.
Ele estava me testando, mas eu também não iria ficar para trás. Na minha outra vida, eu era introvertida, mas não a ponto de não ter amigos ou sair. O que era exatamente como parecia ser Astória, e ele sabia disso. Eu pude sentir uma ponta de interesse em seu olhar, como se ele estivesse calculando o que fazer com essa informação.
___Eu não lembro de nada disso, disse eu, minha voz firme e segura, tentando manter a calma diante da intensidade do seu olhar. __Mas também não lembro de ninguém aqui.__ Meu olhar encontrou o dele, e por um momento, senti como se minha alma congelasse com a sua presença. O ar parecia ter ficado mais denso, e eu pude sentir a tensão entre nós.
Para romper o clima gelido, eu decidi mudar de assunto. __Eu soube que queria falar comigo. Seria sobre o acordo? perguntei, tentando soar indiferente. Ele levantou uma sobrancelha, surpreso com a minha pergunta.
___Então sabe do acordo?, perguntou ele, sua voz ligeiramente irônica. __Fico impressionado que alguém que perdeu a memória saiba sobre o acordo. Ele me estudou com um olhar penetrante, como se estivesse tentando descobrir como eu havia descoberto sobre o acordo. Eu pude sentir uma ponta de desconfiança em seu olhar, e eu sabia que precisava ter cuidado com o que dizia em seguida.
___As paredes são finas e as pessoas falam alto, senhor, disse eu, tentando explicar como eu havia ouvido falar sobre o acordo. Ele parecia me estudar com cuidado, como se estivesse procurando por alguma coisa em meu rosto.
__Entendo, disse ele, seu tom de voz sugerindo que ele não estava realmente interessado em saber como eu havia descoberto sobre o acordo. __Acho que tenho que pedir para que os empregados sejam mais cuidadosos com as palavras na mansão.__ Ele estava brincando, mas eu pude sentir uma ponta de irritação em sua voz.
__Não sei por quê, disse eu, decidindo jogar o jogo dele. __Acho que podem ter suas liberdades de expressão. Eu já iria saber de qualquer maneira.__ Eu dei de ombros, tentando parecer indiferente. __Não sei qual é o problema.
Ele me olhou por um momento, como se estivesse tentando decidir se eu estava sendo sincera ou não. Então, ele sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos. __Sim, acho que você iria saber de qualquer maneira, disse ele, sua voz cheia de ironia.
___Mas mesmo que eu tenha ouvido falar do acordo, só ouvir o nome "acordo" não significava que eu soubesse o que ele é. Ele me encarou, como se estivesse decidindo se devia falar ou não.
___Você é a única Hunter da nossa geração nascida mulher, disse ele finalmente, sua voz baixa e séria. __Isso torna você minha unica herdeira , mas ainda não é uma Hunter e, certamente, não é confiável. Ele me estudou com um olhar crítico, como se estivesse avaliando minha capacidade de entender a complexidade da situação.
Respirei fundo, confusa e um pouco irritada com a sua atitude. __Não entendo, disse eu, tentando manter a calma. Por que ser mulher é um problema para vocês? Ou por que você desconfia de algo em mim? Eu o encarei, desafiando-o a explicar melhor sua posição. O que é que eu fiz para que você não confie em mim?
Pela primeira vez, vi uma reação nele, parecia não saber por qual caminho ir para me abordar. Seu rosto, normalmente impassível, mostrou um lampejo de incerteza, como se estivesse tentando decidir como proceder.
__Eu ouvi falar sobre a garota reclusa da casa Fiorelli, disse ele, me escrutinando com um olhar intenso. __Você cresceu com elas, e maltratando os empregados, onde as mulheres comandam. Isso a tornou... visível, uma pessoa mimada que tem de tudo pela matriarca, mas... Ele pausou, como se estivesse escolhendo as palavras certas. ___É claro que não confio em você ou naquela família, e é por isso que tenho minhas dúvidas se realmente perdeu a memória.
Seu olhar intensificado me fez sentir um arrepio. Eu senti como se estivesse sendo analisada, como se ele estivesse procurando por algo em mim que pudesse confirmar ou negar minhas alegações.
__Seus olhos com a heterocromia de cores diferentes um do outro, cabelo de mechas prateadas e pele alabastrina são marcas registradas dos Hunters, disse , sua voz baixa e séria. __Por isso, sei que é minha filha, mas também pode estar mentindo sobre ser essa boa moça.__Ele me estudou como fez desde que cheguei aqui
Eu não sabia o que dizer, sentindo-me como se tivesse sido golpeada por uma acusação injusta. Ele realmente me acusava de mentir? Eu me senti ofendida pela sua falta de confiança em mim mesmo ele não sendo nada meu e eu tendo roubado o corpo da sua filha de verdade
___Realmente acha que eu seria capaz disso?, perguntei, minha voz tremendo de indignação. __Você diz que ouviu por aí, mas como meu suposto pai, não deveria achar isso de mim. Eu me senti como se estivesse lutando para manter a minha dignidade, enquanto ele parecia estar me julgando e me condenando sem sequer me dar a chance de me defender.
Ele parecia entediado, como se a conversa estivesse começando a ser demais para ele. Isso me fez querer sair dali sem nunca olhar para trás, deixando para trás a humilhação que ele me havia causado. Ele se levantou, cruzando os braços e indo para perto de uma janela, ficando de costas para mim.
___Não é porque você é minha filha que vou confiar em você, disse ele, sua voz firme e autoritária. __Afinal, os Hunters sempre foram comandados por homens. Não é que não deixávamos mulheres comandar, é que nunca existiu uma... até você nascer.__ Ele se virou e olhou para mim, seus olhos me estudando com uma intensidade que me fez sentir desconfortável.
__É claro que irei cuidar de você e lhe prover tudo que precisar , continuou ele, sua voz um pouco mais suave, mas ainda assim firme. __Mas meus homens não irão seguir você, não quando você é uma das princesas Fiorelli. Ele me olhou com uma expressão séria, como se estivesse me alertando sobre algo que eu não sabia.
Olhei para ele perplexa, sentindo-me como se estivesse perdida em uma conversa que não entendia. __Desculpa, como assim comandar seus homens?, perguntei, tentando entender o que ele estava dizendo. __Eu não vi aqui atrás das suas coisas, na verdade me perdi a muito tempo nessa história de única mulher Hunter.
Sua expressão se tornou dura, e eu pude ver uma ponta de irritação em seus olhos. Ele não estava sendo irônico e nem estava brincando. Ele estava falando sério, e eu sabia que precisava entender o que ele estava dizendo se quisesse sobreviver nesse mundo.
___Não se preocupe, você terá uma parte da minha herança, disse ele, olhando para mim dos pés à cabeça com seu desinteresse costumeiro. __Mas não será apta para ter o resto. Isso eu já verifiquei pessoalmente.__ Ele se virou novamente, como se a conversa estivesse encerrada.
___E para que tudo dê certo entre as duas famílias, continuou ele, sua voz firme e autoritária, __decidimos que você ficará com Agatha no condado. E para isso, vai precisar disfarçar seus traços. Ninguém precisa saber que Victor Hunter tem uma filha mulher. Isso só me daria dor de cabeça.
Eu me senti humilhada e mal por ser mulher naquele momento. Não precisava de nada daquilo, mas tinha que entrar no teatro, representar o papel que me havia sido designado. __Me parece que você está sendo machista pra caramba, disse eu, infletindo com ironia. __Não pegou bem, 'pai'. Eu o encarei, desafiando-o a responder, a explicar por que estava me tratando daquela maneira.
____Não é machismo, é necessário, disse ele, sua voz firme e autoritária. __Você não daria conta, não depois de ter nascido como nasceu. Suas mãos não têm o que é preciso. Ele me olhou com uma expressão séria, me avaliando.
__E o que seria preciso?, perguntei, sentindo-me cada vez mais frustrada com a conversa. Estava mesmo supondo querer algo que não queria? Victor Hunter observou meu semblante determinado, como se estivesse procurando por algo em mim.
__Calos, disse ele, levantei minhas sobrancelhas sem saber o que fazer com aquela informação. __Como? Calos? O que isso significa?, perguntei, sentindo-me confusa e intrigada.
__Você não entenderia, disse , sua voz baixa e misteriosa. __E se entendesse, não estaria viva para saber o suficiente.__ Ele me olhou com uma expressão enigmática, como se estivesse escondendo algo de mim. Eu senti um arrepio na espinha, como se estivesse diante de um segredo perigoso e proibido.
O que ele queria dizer com isso? Eu senti um misto de confusão e curiosidade. __O que você quer dizer com 'calos'?perguntei novamente, tentando entender o significado por trás de sua palavra.
Ele me ignorou e continuou falando. __Você só precisa levar sua vida normalmente, e Agatha irá ajudá-la nisso. Só assim eu posso confiar em você e naquela família. Esse é o acordo. Sua sugestão me fez hesitar, eu senti que havia algo mais por trás de suas palavras.
__Ah, e quem é Agatha?, perguntei, sentindo uma ponta de curiosidade. Ele se virou e me olhou com algo escondido em seus olhos azuis. ___Minha mãe, sua avó, disse ele, sua voz baixa e séria.
__Deve ser suficiente para mantê-la segura de olhos curiosos, disse ele, sua voz firme . Minha mente estava em turbilhão, tentando processar todas as informações que ele estava me dando. Meu raciocínio era muito raso , e agora tudo que ele falava fazia tudo ficar ainda mais complicado.
__Mas eu nem conheço essa Agatha, disse eu, me sentindo um pouco desesperada. __Como espera que eu fique com ela? Eu olhei para ele, procurando por alguma resposta, mas ele apenas sorriu sem vontade, me fazendo sentir ainda mais insegura.
___Assim como não conhece ninguém, estou certo?, disse ele, sua voz cheia de ironia. Eu assenti com sua espertesa em me fazer temer. Ele estava certo, eu não conhecia ninguém, e agora estava sendo forçada a ir morar com uma mulher que eu nunca havia conhecido.
___Eu não posso continuar aqui na mansão?, perguntei, me sentindo esperançosa. A mansão era grande e luxuosa, e eu me sentia segura aqui. __Ela me parece bem grande, disse eu, olhando em volta da sala.
Ele me olhou com uma expressão séria, e eu pude sentir que ele estava pensando em algo. __Não é seguro, disse ele finalmente. __Você precisa ir para um lugar onde possa ter uma vida normal. Victor continuava com seu ar inabalavel como se estivesse orando em segredo para que a convesra terminasse logo
___Não, disse ele, sua voz baixa e firme. __Ninguém pode saber sobre nossa relação. Quem sabe é de confiança, e então sabe que se falar, nada de bom virá para essa pessoa. Ele me olhou com um aviso sério, como se estivesse me advertindo sobre as consequências de revelar nosso relacionamento.
___Ah, então ele confia em alguém?, disse eu baixinho, no tom de ironia. Que novidade. Eu não pude evitar o sarcasmo, considerando que ele parecia tão desconfiado e controlador.
__Você parece ter muito o que falar, não é?, disse ele, me estudando com um rosto sério.
__Eu tenho, disse eu, cruzando os braços e olhando para ele com desafio. __Mas sei que não vou ter respostas. Eu sabia que ele não iria me dar as respostas que eu queria
___Vamos logo para que possamos acabar com essa conversa, disse ele, impaciente. Eu não queria mais ouvir suas evasivas e desculpas.
__O que aconteceu entre você e minha mãe?, perguntei, olhando para ele com curiosidade. Esperei, e pela primeira vez, vi sua máscara cair. Ele não sabia o que falar, e eu pude ver a hesitação em seus olhos. Foi um momento de vulnerabilidade, e eu aproveitei para pressioná-lo. __Eu quero saber, disse eu, minha voz firme e determinada.
___Acho que por hoje basta, disse ele, se esquivando e me ignorando, como se estivesse ansioso para encerrar a conversa. __Os Fiorelli podem explicar melhor o acordo. Eles estão mais... familiarizados com os detalhes. Sua resposta foi breve e seca, mas era esperado dele.
__Eu disse que não teria respostas..., murmurei para mim mesma, sentindo-me um pouco frustrada. Ele não estava disposto a me dar as respostas que eu queria, e agora estava me dispensando.
__Os Fiorelli cuidarão de você por agora, disse ele, indo para a porta e agora com pressa de se livrar de mim. __Nós... não nos veremos por um tempo e será melhor assim. Com isso, ele se virou e saiu, me deixando com mais perguntas do que respostas. Fiquei parada, observando a porta fechada, sentindo-me confusa e um pouco perdida. O que havia de errado com ele? As perguntas giravam em minha mente, sem respostas.
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