CAPÍTULO 02
Abri os olhos lentamente, sentindo uma dor latejante na cabeça. O quarto estava silencioso e escuro, exceto pela luz fraca que entrava pelas cortinas fechadas. Reconheci o quarto onde havia acordado pela primeira vez. Tentei me sentar, mas uma onda de tontura me fez recuar.
Caí de volta nos travesseiros, fechando os olhos. A dor latejante persistia. Respirei fundo, tentando me acalmar. Ao abrir os olhos novamente, observei o quarto. O relógio na mesa marcava 3h45. A janela fechada não deixava entrar nenhum som do exterior. Senti-me isolada. Tentei me sentar novamente, mais lentamente. A tontura ainda existia, mas consegui manter o equilíbrio. Olhei ao redor, procurando respostas. O quarto estava vazio, levantei-me, cambaleando até a janela. Abri as cortinas, deixando a luz da lua entrar. O jardim estava deserto e silencioso, senti um arrepio por causa da geada que vinha de fora, me virei e examinei cada canto do quarto, procurando qualquer pista.
Dirigi-me ao armário e o abri, revelando uma coleção de roupas elegantes e caras. Mas, apesar da opulência, nada me dizia quem eu era. Fechei o armário, sentindo-me frustrada e confusa. Meu olhar se desviou para o espelho e, ao ver meu reflexo, meu olhar foi atraído para uma cicatriz fina e quase imperceptível no lado esquerdo do meu pescoço. Era como se alguém tivesse aranhado minha pele com uma faca, deixando uma marca sutil, mas inconfundível.
Senti uma sensação de familiaridade ao olhar para a cicatriz no meu pescoço. Era como se aquela marca fosse uma parte de mim há muito tempo. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim começou a se agitar. A dor latejante voltou, e com ela, lampejos de memória fragmentados que não pareciam ser meus.
Os lampejos se intensificaram, e eu vi dedos no meu pescoço, uma faca sendo colocada na minha pele. O sangue em minhas mãos. A imagem era terrível, mas também... familiar. Como se eu tivesse vivido aquela cena antes.
Mas então, a imagem mudou. Uma pessoa sentada ao piano, tocando uma melodia triste e bela. Os dedos pareciam conhecer cada tecla, cada acorde. A música era como um bálsamo para a minha alma, e lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu ouvia. E então, outra imagem: eu no jardim, olhando para um homem desconhecido. O sol brilhava, iluminando sua pele clara, mas seu rosto era um borrão sem sentido. Eu estava com medo, meu coração batia forte e minha mente estava confusa. Quem era aquele homem? Por que eu estava com medo dele?
Fico de joelhos tentando fugir dessas lembranças que começam a se esvair aos poucos, Olho ao redor, procurando por algo conhecido: Um quadro de uma mulher desconhecida na parede, Um vaso de flores secas na mesa. Um livro aberto sobre a escrivaninha.O quarto parecia uma cápsula do tempo, guardando segredos e histórias não contadas. Levantei-me, aproximando-me da escrivaninha. O livro aberto era "A História Sem Fim", de Michael Ende. A página aberta mostrava o capítulo de Atreyu e Bastiano. Uma frase sublinhada: "A realidade é apenas uma das muitas histórias possíveis." Pelo menos ela gostava de ler como eu, penso. Continuo vendo se encontro mais alguma coisa, tiro o livro do lugar e uma chave cai no chão, ela era pequena e antiga , olhei pelo quarto, mas não parecia que existisse alguma porta ou passagem secreta por ali, olhei para a escrivaninha, nada alem de retratos e livros, me abaixo pra pegar a chave, algo chama minha atenção no compartimento de baixo, uma entrada para a chave pequena se escondia bem ali, inseri a chave na pequena fechadura e girei. O compartimento se abriu, revelando um diário com capa de couro azul. O nome "sacrum" em latim estava gravado em letras douradas. Abri o diário, e uma folha solta caiu. Uma data: 20 de março.
"Hoje, descobri a verdadeira razão pela qual estou aqui. Não sou quem penso ser. Minha vida é uma mentira." Isso parecia interesante, Continuei lendo:
"Ele veio até mim, mas não entendi. Talvez eu tenha sido ingênua por ter me apaixonado por ele, ou talvez tudo tenha se tornado caos naquele dia em que o encontrei no jardim." Parece que ela está falando do homem desconhecido que eu vi no jardim nas minhas memórias, mas quem era ele? Deixo o enigma de lado por agora e volto a ler, na esperança de encontrar mais pistas sobre ele.
"Encontrei um jeito de escapar, mas preciso de coragem para enfrentar a verdade." A Página estava um pouco rasgada, então não dava pra ver o que ela tinha descoberto. Frustrada, viro a página seguinte, mas estava em branco. As demais também. O silêncio era ensurdecedor. Procurei ao redor em busca de mais pistas, na escrivaninha e no quarto, mas ele era tão limpo e arrumado que parecia não ter muitas coisas. A única exceção era uma casa de bonecas que me dava arrepios e que eu não estava disposta a mexer.
Ouvi um som vindo do corredor. Passos leves, se aproximando. Meu coração começou a bater mais rápido, e eu me senti como se estivesse congelada no lugar. O diário escorregou de minhas mãos, caindo no chão com um som suave, me abaixei para pegar ele, mas antes de consegui a porta se abriu lentamente, e uma figura se perfilou na entrada . Eu me levantei, olhando para a mulher que havia entrado com uma bandeja em mãos. Ela era a governanta de quando acordei aqui, seus olhos castanhos me olhavam com preocupação.
___Você está bem, senhorita?, ela perguntou, aproximando-se de mim com uma expressão de preocupação__Você parece... perdida.
Eu hesitei, sem saber o que dizer. Meu olhar se desviou para o diário que jazia no chão. Eu não queria que ela o visse, não era meu, eu tinha mexido sem autorização, e a dona desse corpo com certeza não iria gostar que outras pessoas soubessem dele, arasto ele com o pé direito para de baixo da escrivaninha sem que ela perceba .E me forço a olhar para ela, tentando parecer calma.
___ Sim, estou bem__ , eu disse, sorrindo.___Apenas um pouco... cansada.
Ela me olhou com ceticismo, mas não disse nada. Em vez disso, ela se aproximou mais de mim e colocou uma mão no meu braço.
___Venha, vamos nos sentar___, ela disse, me guiando até uma cadeira próxima___Você precisa descansar.
Eu me sentei, me sentindo um pouco mais calma. Mas meu olhar ainda se desviava para o diário, que jazia no chão, esquecido. Eu sabia que precisava encontrar uma maneira de pegá-lo, antes que ela o visse. Enquanto isso, a mulher se sentou ao meu lado, olhando-me com preocupação.
___O que está acontecendo com você?___ ela perguntou, sua voz suave e carinhosa. ___Você parece tão...perdida
___Eu só estou me sentindo estranha___, eu disse, olhando para ela desconfiada.___E acho que não consigo processar tudo isso.__Minha voz tremia ligeiramente, mas eu me forcei a continuar.__Mas mais que tudo, quero saber se já encontraram minha mãe.
Ela para de repente, como se tivesse sido pega desprevenida pela minha pergunta.
___Senhorita? , ela disse, sua voz hesitante.
___Eu... ainda quero respostas__ eu disse com a voz firme.__E até agora, vocês não me deram nada. Nada sobre o que aconteceu com minha mãe, nada sobre o que está acontecendo comigo.__Eu senti uma onda de frustração e desespero. ___Por que vocês não me dizem o que está acontecendo?
Ela me olhou com uma expressão de compaixão, mas também de hesitação.
___Eu... não sei se posso responder às suas perguntas senhorita, já falamos sobre sua mãe...__ela disse.__Mas eu posso tentar ajudá-la a encontrar as respostas que você procura, posso falar novamente do acidente ou sobre o que quiser saber sobre sua mãe.
Eu a olhei com ainda mais desconfiança, sem saber se podia confiar nela. Mas algo em sua expressão me fez acreditar que ela estava tentando ajudar
___Falaram que ela morreu__eu disse, minha voz firme e determinada__ E isso não é possível. Eu já falei... essa mulher da qual vocês acreditam ser minha mãe, na verdade, não é nada para mim.
Ela me olhou com uma expressão de surpresa e confusão.
___O que você quer dizer?, ela perguntou.___Você não se lembra de sua mãe?
Eu sacudi a cabeça. ___Não, não me lembro de nada. E mesmo que eu me lembrasse, eu não acredito que essa mulher seja minha mãe, minha mãe é outra.
Ela me olhou com uma expressão pensativa.
___Eu não entendo o que você está dizendo senhorita__ela disse.__Mas você precisa entender que... sua mãe foi uma pessoa muito importante. E que ela morreu já faz tempo...
Eu senti uma onda de angustia subindo, tudo estava errado. E por mais que essa mulher fosse gentil, ela era igualmente tão perdida quanto eu agora. Sua hesitação em responder às minhas perguntas apenas aumentava minha desconfiança. Ela hesitou por um momento antes de responder novamente, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.
___Eu... eu não sei o que dizer__ ela disse finalmente, sua voz suave e hesitante. __Eu estou tentando ajudá-la, mas é difícil saber por onde começar.
Eu a olhei fixamente, tentando ler sua expressão. Ela parecia sincera, mas eu não podia me permitir confiar nela cegamente. Não até que eu soubesse mais sobre o que estava acontecendo. Ela apontou para a bandeja cheia do café da manhã que estava sobre a mesa.
A bandeja estava cheia de uma seleção de bolinhos frescos, biscoitos e uma pequena jarra de geleia caseira. Havia também uma xícara de chá quente, que exalava um aroma suave e reconfortante. O conjunto era simples, mas agradável, e meu estômago roncou de fome ao ver a comida. Mas minha atenção foi desviada pela mulher, que estava sentada ao meu lado, com um sorriso no rosto.
___Mas não precisa se preocupar, senhorita___ela disse.__Logo, logo estará por aqui, dando ordens novamente como se nada tivesse acontecido. Agora, coma um pouco. Você precisa se alimentar.
Enruguei o nariz. O que ela estava dizendo? Ela era bem esquisita .Eu me senti estranha ao ouvir essas palavras mas eu estava com tanta fome que deixei para lá
Pego a xícara de chá quente, me sentindo observada. O aroma do chá era convidativo, mas minha mente estava turbulenta. Um barulho vindo do corredor chamou nossa atenção. Passos apressados ecoaram, e Marta, visivelmente irritada, olhou para a porta.
___Se precisar de algo, senhorita, estou à disposição. Com sua licença, preciso atender a uma questão urgente
Ao sair, ela deixou a porta um pouco aberta. acabei ouvindo vozes baixas no corredor.
___Elas estão inquietas com a senhorita aqui___ uma voz disse, baixa e preocupada.
___ Mas o que elas esperam que façamos?__disse Marta com a voz igualmente baixa e ansiosa.__ ele não permitirá que ela saia, ela está em sua propriedade
Eu me senti confusa, tentando entender do que estavam falando. Quem era "ele" e por que não permitiria que eu saísse? E quem eram "elas" que estavam inquietas? Meu coração começou a bater mais rápido, enquanto eu tentava fazer conexões.
___ A senhora sabe que elas não desejam que a garota se aproxime dele.
dele? Eu senti um arrepio na espinha. Será que estavam falando do homem que eu vi nas memórias de mais cedo? O homem que parecia tão misterioso e perigoso?
___ Mesmo com o tratado entre eles? marta perguntou, como se estivesse questionando a lógica da situação___Afinal, ela tem nós para protegê-la
___ O medo é que ele a influencie.___A outra voz disse, com um tom de preocupação.__ Nós, como empregados leais da casa Fiorelli há anos, não sabemos se ele permitirá que continuemos ao lado dela, e sabe como elas são, principalmente a matriarca.
___ Sabiamos que essa guerra iria acontecer assim que ela acordasse, elas poderiam pelo menos pensar na saúde da senhorita.
Um murmúrio de concordância ecoou pelo corredor, seguido de passos que se afastavam. Marta retornou, notando que havia deixado a porta aberta. Seu semblante se tornou pavoroso, e ela fechou a porta suavemente, em silêncio. Em seguida, se virou para mim, seu olhar preocupado com o que eu havia ouvido..
___Desculpe, senhorita __disse ela, com uma voz baixa.__Não queríamos perturbá-la.
Sua expressão trazia uma mistura de preocupação e constrangimento.
___Quem são elas e o que é o tratado entre eles?___perguntei sem rodeios
Marta hesitou, mas eu não permitiria que ela evitasse minha pergunta como das outras vezes.
___A família Fiorelli. Seus parentes...Mas não quero chateá-la com coisas supérfluas, senhorita.
É claro que ela diria isso. Ela percebeu o erro de deixar a porta aberta, mas também não deveria ter falado tão perto do quarto onde eu estava.
___quem era o homem que veio aqui ? quis saber, afinal ao menos isso ela deveria me responder
Eu sabia que ela falava a verdade sobre não querer me chatear. Ela pisava em ovos comigo, como se eu fosse de vidro e qualquer palavra errada fosse me desmantelar. Não era do meu interesse saber sobre essa família também, mas se eu queria entender o que se passava ali, eu tinha que me infiltrar até sair daqui em segurança.
Seu tom de pele voltou ao normal e ela respondeu, suspirando:
___ Era apenas o mordomo, senhorita. Ele costuma fofocar por aí
Arregalei os olhos. Eles tinham até um mordomo? mas essa curiosidade tinha que ser deixada de lado, eu precisava saber sobre outra coisa que eles mencionaram
___E o acordo? O que é ele? perguntei.
Ela voltou a ficar agitada, suas mãos se mexendo uma na outra, me deixando ansiosa.
___Senhorita, não deveria se importar com isso___, disse ela, tentando se controlar.__ Foi um erro de minha parte ser tão desatenta.
___Mas quero saber mesmo assim, Marta__insisti.__Sente aqui
apontei para a cadeira ao meu lado, e lhe observei com atenção, esperando pelas palavras que se seguiriam.
___O acordo entre o senhor Hunter e a matriarca da casa Fiorelli, mas apenas eles sabem melhor lhe dizer senhorita
Estava desanimada. Ela falava sobre tudo, mas não falava sobre nada que me desse acesso ao que eu realmente queria saber. Tudo ali parecia um sonho louco para mim, e eu estava percebendo que eu teria que falar com alguém que me desse as respostas certas.
___ E posso saber por que essas... "elas" querem que eu saia daqui mesmo com esse acordo?, perguntei, sentindo uma mistura de curiosidade e frustração.
Um silêncio incômodo pairou no quarto.
___Elas, na verdade, são suas tias__disse Marta, hesitante.__Elas não querem que o Sr. Hunter se envolva com elas e descubrir que você é filha dele. Isso mudou tudo.
___ Do que você está falando?
perguntei, sentindo-me confusa e surpresa. Marta parecia surpresa com minha confusão, e eu não podia culpá-la. Eu mesma não sabia o que estava acontecendo. Marta respirou fundo antes de continuar.
___Você é filha do Sr. Hunter, senhorita. Ele é um homem muito poderoso e influente, e suas tias... bem, elas têm motivos para querer manter você longe dele.
Eu senti como se tivesse sido atingida por um raio. Filha do Sr. Hunter? quem era esse agora? Eu não sabia nada sobre meu pai, apenas que ele havia abandonado minha mãe antes de eu nascer.
___Isso não pode ser verdade__, disse eu, me sentindo como se estivesse sonhando. __Eu não sei nada sobre meu pai. Minha mãe nunca me contou nada sobre ele, e duvido que seja esse Hunter.
Seus olhos se arregalaram em surpresa
___ Desculpe, senhorita, mas... não lembra do Sr. Hunter?
Eu senti uma onda de confusão. Será que ela não escutou? Nada fazia sentido. Eu estava ficando louca.
___Não...?__ digo, não entendendo bem o que deveria fazer. Minha mente estava um caos, e eu sentia como se estivesse perdendo o controle.
Marta olhou para mim com compaixão. ___Eu sinto muito, senhorita. Eu não deveria ter contado isso para você. Mas agora que você sabe, você precisa entender que suas tias têm medo do que ele possa manter algum controle sobre a senhorita, ainda mais com sua mente tão confusa quanto esta agora.
___Ele é tão assustador assim pra elas agirem dessa maneira? perguntei, sentindo uma mistura de curiosidade e confusão.
Marta sorriu e puxou minhas mãos para seu colo, um gesto que me fez sentir um pouco desconfortável.
___Ele não faria nada contra a senhorita__disse ela__ Afinal, você é a única filha dele. Suas tias só estão preocupadas com a sobrinha delas.
___Hum...__, resmunguei, meio embaraçada com o contato físico.
___O Sr. Hunter cuidou da senhorita depois que sofreu o acidente__disse Marta, com uma expressão de preocupação.__ Sei que descobriu quem ele era depois, mas como pode ter se esquecido disso?
Eu senti uma onda de confusão e desorientação. Eu sabia quem eu era, mas eles acreditavam que eu era Astoria Fiorelli, a pessoa que habitava esse corpo. Para eles, eu tinha apenas perdido a memória.
___Então eu descobri que ele era meu pai depois?__ perguntei, tentando entender a cronologia dos eventos. __Mas como isso é possível? Eu não me lembro de nada disso.__entrei no teatro, eu me sentia como uma atriz , interpretando um papel que não era meu. Estava tentando entender a história de Astoria Fiorelli, mas tudo parecia tão distante e irreal. Eu só queria saber como eu vim parar aqui, nessa vida que não era minha.
__sim, a senhorita ficou tão abalada quando descobriu...
Humm, essa Astoria parecia bem desequilibrada, pensei, analisando a situação. "Nada contra, mas ela era rica e não aguentava saber que tinha um pai rico por aí? Eu nunca conheci o meu, e estava feliz com isso. O mundo dela deve ter virado de cabeça para baixo com essa mudança.
Marta me olhou com uma expressão de preocupação, mas eu a interrompi antes que ela pudesse dizer algo.
___Elas não precisam se preocupar com nada, Marta__ disse eu, organizando as coisas na bandeja__ Não sou burra a ponto de me deixarem fazer a cabeça. Eu posso cuidar de mim mesma
Eu estava cansada e só queria ir para a cama e resolver tudo isso pela manhã, mas minha curiosidade sempre falava mais alto. marta parecia divertida, e me impediu de continua arumando a bandeja
___sei que sim senhorita....
Marta hesitou, olhando para mim com uma expressão de dúvida.
___A senhorita mudou um pouco__disse ela, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.
Estar diferente de antes era um eufemismo. Eu era outra pessoa, mas se eu continuasse repetindo isso, eles poderiam acabar me trancando em um hospício ou parar de me levar a sério.
___ A falta de memória me roubou a minha personalidade também?__ quis saber, sentindo uma onda de curiosidade. O comentário dela de que eu mandava nas pessoas não me agradou, e eu queria saber melhor sobre isso.
Marta hesitou novamente antes de responder.
___ bom senhorita...ela hesitou__... a senhorita era mais fechada e não falava muito__ disse ela, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. __Não que não gostasse de como era, mas eu entendo que também quer saber o que falta na memória.
Eu revirei os olhos, cansada disso. ___Pelo que você começou a dizer antes, parecia que eu era uma megera__ disse eu, tentando manter a calma. __Pode falar, não vou ficar chateada.
Marta parecia pensar se ia continuar ou não, mas eu pedi que ela prosseguisse. Ela falou relutantemente. ___A senhorita era um pouco difícil, sim... gostava de tudo no seu lugar, de nenhuma sugestão em suas roupas ou móveis. Não falava muito, mas era um tanto... mimada.
Marta disse e esperou que eu explodisse, mas eu não estava sentindo nada. Era irônico, eu odiava garotas como Astoria e vim justo para assumir essa personalidade. Eu não sabia se deveria rir ou chorar.
____Eu disse que não iria ficar brava, pode relaxar, Marta__, tranquilizei a mulher, que estava visivelmente nervosa. Marta assentiu, refletindo sobre as palavras que havia dito.
___Acho que falamos demais, senhorita__ disse ela, olhando para mim com preocupação__ Parece cansada e deve descansar.
Olhei para o relógio na parede e vi que já eram quase 4 da manhã. Astoria era um enigma, e eu não queria mergulhar mais fundo em sua vida. O problema era que minha curiosidade estava começando a me consumir. Eu sempre fui uma pessoa calma e tranquila, nada me afetava, mas agora parecia que tudo estava fora do meu controle.
Era tudo muito estranho. A família de Astoria era estranha. Eles disseram que Hunter iria aparecer pela tarde, mas nem sinal dele. Isso me deixava tranquila, pois eu não estava com vontade de conhecer ele ou o resto da família. Um bocejo escapou da minha boca, e meus olhos começaram a fechar. Eu precisava dormir um pouco. Me levantei e fui para a cama, caindo com um baque e fechando os olhos.
___ Eu agradeço por ter cuidado de mim Marta, por sorte eu acordo amanhã e percebo que tudo isso foi apenas um sonho muito louco.
Ouvir Marta sorrir tristemente.
___Espero que sim, senhorita. Descanse.
Antes de adormecer por completo, ouvi alguém entrar no quarto e a voz de um homem falou, rompendo o silêncio.
___Então ela realmente perdeu a memória?__ perguntou ele, com uma nota de curiosidade em sua voz
Marta respondeu logo em seguida, com uma voz baixa ___Sim, ela não parece se lembrar de nada, senhor.
O homem grunhiu, como se estivesse pensando em algo. ___Isso é bom__ disse ele finalmente. ___Não quero que ninguém saiba, estamos entendidos.
___Sim, senhor Victor
disse ela, com uma voz que transmitia medo.
A escuridão me envolveu, e eu finalmente consegui descansar.
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