CAPÍTULO 01
Eu morri. Ou pelo menos, eu pensei que tivesse. Até acordar em um corpo que não era meu. Eu sempre pensei que a vida fosse preciosa. Agora, eu sei que ela é apenas um empréstimo. Abro meus olhos sentindo meu corpo pesado e com dificuldade de trazer ar aos pulmões. Sento ereta com a cabeça explodindo como fogos de artificio, dores absurdas me nocateiam,tento me sentar. Gemendo, caío de volta na cama. O quarto era luxuoso, com cortinas de seda e móveis elegantes. Mas nada parecia familiar.
A luz ardia em meus olhos e meu corpo estava estranho. A pontada como agulhas me perfurava a mente e imagens que nunca tinha visto antes, tentavam se infiltrar, com algo que não era meu. Segurando com as duas mãos minha cabeça, tento recobrar um pouco de senso, para aliviar a dor. Faço uma tentativa de abrir os olhos novamente com mais clareza mas é insuportável demais, a luz machuca meus olhos, então os fecho. "Onde estou?", sussurrei, tentando lembrar, e com dificuldade percebo que eu falava de forma estranha, me debato, fazendo meu corpo se lembrar como se mexer. Escuto algo bater e fechar e depois algumas vozes perto de mim. Sinto o toque de alguém e tento me afastar, mas quem quer que seja não se afasta. Finalmente consigo me mexer um pouco para ficar em pé, faço mais uma tentativa de abrir os olhos, dessa vez a luz desaparece, me dando o deslumbre de onde eu estava. Alguém fechou as cortinas do lugar, possibilitando minha visão por completo, vasculho o ambiente com paredes das cores cremes pasteis de um amarelo claro ao azul anil. Sinto meus pés se encolherem a textura de um carpete , olho para baixo vendo pés tão brancos quanto de um cadáver. Ainda respirando com dificuldades fico parada observando os móveis brancos como dentes clareados, às cortinas agora fechadas de camadas de véu pesado, uma porta branca de madeira. Um quarto de gente rica, supus. Uma pessoa continuava falando, mas eu não estou prestando atenção. Será que morri ? penso, Não... me viro para quem quer que seja. Vejo uma mulher de cabelos pretos e alguns fios cinzas perfeitamente amarrados em um coque apertado, com olhos azuis que me observam com preocupação. Será uma enfermeira? Olho para suas roupas, um vestido preto que vai até seus tornozelos faz ela parecer uma irmão em cristo, mas não uma enfermeira.Será que foi ela que me atropelou enquanto ia pra sua missa de fim de semana ? Ela tenta se aproximar de mim mas me afasto, eu não conheço ela, não sei aonde estou e agora sinto frio em todas as partes desse meu corpo que agora parece mais fraco do que já era, deve ser por isso que meus pés parecem mortos. Levo a mão direta a têmpora massagiando o local que ainda dói, então algo me parece errado, olho para elas e levo um susto, elas parecem tão pálidas quanto meus pés, vejo as veias dilatadas, roxas fazendo caminhos até meu antebraço. Sinto minhas pernas fraquejarem e me sento no chão ainda sem desviar meus olhos, as vozes estão perto mas parecem longe. Olho para baixo novamente , para o carpete creme e depois para o que estou vestindo, não era uma camisola de hospital como pensava, era uma camisola de dormir , mas era como uma que mulheres do século 19 usavam, branca e grossa com bordados azuis. O que estava acontecendo, será que alguém muito rico me atropelou e me trouxe para o hospital de rico deles? Tentei me levantar novamente, e dessa vez consegui. O quarto girou, mas managei manter o equilíbrio. A mulher de coque perfeito vem para me amparar e dessa vez aceito, meu corpo estava muito estranho, estava gelado e sem forças. Quanto tempo fiquei aqui ? Será que fiquei tanto tempo assim pra me sentir outra pessoa? Tento falar mas... estranho, porque minha voz não sai? Será que fiquei sem voz por causa do acidente?
____ Estranho...
Uma voz macia e calma diz, olho ao redor para ver quem era, vejo algumas mulheres na porta com roupas de domésticas, e me viro para a mulher de coque perfeito, que fala agora com clareza.
____ O que é estranho senhorita?
Ela frange a testa em preocupação, e eu faço o mesmo pois não sei por que ela me perguntou isso. Então escuto a voz novamente, mas dessa vez vindo de mim.
_____ Meu corpo...
Me assusto, essa voz era minha?
____ Seu corpo?
Porque ela estava me chamando de senhorita afinal? As mulheres que estavam começando a arrumar o quarto perfeitamente já arrumado saem sem dizer uma palavra.
____ Estar se sentindo bem senhorita Astòria ?
____ Por que você está me chamando de senhorita Astòria ? Coloco a mão na testa com minha desorientação.
Ela enruga a testa como se eu estivesse falando outro idioma.
____ Acho que a senhorita ainda não está bem, é melhor chamar o médico novamente.
Não entendo, já não estávamos no hospital? Mas ela já está saindo para fora do quarto, e outra mulher mais jovem entra para me ajudar ir para cama, ela volta seus afazeres de antes e me deixa sozinha.
Volto meu olhar para meus pés e minhas mãos, tudo estava estranho. Vendo o quarto, encontro uma penteadeira com alguns espelhos, me levanto com cuidado para não cair novamente e aos poucos vou me acostumando com meus passos . Chego a penteadeira e olho com cuidado para o espelho, mas em vez de encontrar pele parda bronzeada, olhos negros e cabelos castanhos lisos encontro outra pessoa olhando para mim. ambâ escuro no olho direito e azul escuro do outro. Lábios carnudos que acentuavam a cor natural da carne, pele pálida com algumas sardas marrons em um nariz de estrela de cinema, cílios longos, maçãs do rosto perfeitas, e o cabelo, negros como carvão meio ondulados Mas também liso com merchas prateadas.
Olhei para o reflexo, perplexa. Quem era essa garota? Onde estava meu corpo? Meus olhos? Meu cabelo?
A jovem que me ajudou anteriormente se aproximou.
___Senhorita, por favor, volte para a cama.
___Quem sou eu? perguntei, sentindo pânico.
___Não...__Ela me olha hesitante__ Você está bem senhorita?
___Perguntei quem é essa aqui!
Miro no espelho para a garota palida me olhando.
___É você senhorita
Mentirosa!
Olhei para o espelho novamente, procurando respostas.
___Onde está minha mãe?.
___Senhorita Astória?__ Ela parece confusa, refletindo o caos que me rodeia, pois ninguém oferece explicações lógicas? Ela se encolhe um pouco e quando fala não é o que eu queria ouvir.
___...Seu pai estará aqui pela tarde, ou talvez venha amanhã já que está escurecendo. E sua avó encontrará a senhorita na mansão.
Eu não tinha pai algum. E que historia era essa de avó?
A confusão me consumia. O que aconteceu comigo?
___ Acho que a senhorita não se sente bem
___Estou ótima...
Digo, tentando raciocinar com clareza. A mulher sai em desespero, me deixando sozinha com meu reflexo estranho. Tentei me lembrar de algo, qualquer coisa. Mas minha mente estava vazia.
Tudo estava fugindo do que eu achava ser real; eu estava morta, em um mundo além da vida? Nada fazia sentido. Nunca me importei com a morte, mas agora ela estava causando discordia em minha vida, e eu não sabia como fugir dessa encruzilhada.
A mulher de coque perfeito entra e dessa vez o médico está junto dela, a jovem tambem entra bem atrás um pouco preocupada.
___Senhorita Astória, deveria estar na cama. Corine me disse que você estava se sentindo mal.
Olho para a jovem cujo o nome é Corine que desvia seu olhar do meu, isso era...medo?
___Eu.não. me. chamo. Astória__digo pausadamente tentando controlar meu corpo de tremer na frente deles__E estou bem, ou pelo menos eu acho que estou___Penso em minha mãe; ela era péssima, mas não iria ficar de braços cruzados sem me procurar.__ Quero saber da minha mãe. Onde ela está?
Ela desvia o olhar para o médico e depois faz um jesto de cabeça para que a jovem me ajude a voltar para cama, eu me desvisilho dela
___Não, eu não quero deitar, eu quero a minha mãe, vocês sabem se ela veio me ver depois do acidente?
___ Senhorita... acho que ainda não estar bem.
O médico falou, e meu olhar se fixou nele. Seu bigode francês e estatura baixa contrastavam com a gravidade de sua expressão.
___ Sei que deve estar estranhando seu corpo e o ambiente ao seu redor, mas é compreensível, tendo em vista que a senhorita ficou tanto tempo deitada na cama, mas agora precisa se adaptar.
___ Eu não preciso de nada!.quanto tempo fiquei desacordada?
Eles ficam ansiosos e se olham nervosos , como se a resposta pudesse me afetar de alguma maneira.
__Seis meses.
Respondeu, baixando a cabeça.
Seis meses?
___O que aconteceu comigo?, insisti
O médico respirou fundo.
___Você estava indo para a casa quando ouve o acidente de carro. O motorista perdeu o controle e o carro caiu em um lago. Você foi resgatada, mas...".
___Mas o quê? pressionei pois não era assim que eu lembrava que tinha sido o acidente.
___Você ficou em coma. E agora...
___Eu tenho certeza que fui atropelada, esse não é meu acidente__ Disse eu o cortando, e em completa agunia.
Ele me encara com preocupação assim como a mulher. Eu me lembrava de ser atingida por um carro em alta velocidade, e depois tenho certeza de ter morrido nele, e agora eu acordava aqui nesse lugar com um corpo diferente? isso claramente não era real, eu só podia está sonhando, ou pior, essas pessoas tinham me sequestrado e feito algo muito estranho em mim. A ideia começa a se criar de forma assustadora em minha cabeça e meu desespero só aumenta.
___ A senhoria precisa descansar, não estar pronta pra ficar andando, precisa ficar mais forte minha senhora.
O médico fala, vindo me ajudar a sentar e eu deixo pois estou cansada demais dessa narrativa.
___ Eu não sei quem são vocês, mas eu precisso, sair daqui. Quero falar com a luce___digo querendo me levantar novamente mas caindo na cama.
O médico se aproximou da senhora de coque perfeito, cuja preocupação era evidente, eu não sabia o motivo dessa inquietação por alguém desconhecida como eu.
___Mas quem é luce senhorita? Diz o médico.
___Minha mãe?! Olho para ele irritada.
Ele também não parece satisfeito. Isso estava começando a me irritar.
___Se não me deixarem sair daqui, irei à polícia. Vocês não podem me sequestrar e inventar uma história tão ridícula assim. Vocês sabem o quanto minha mãe deve estar preocupada comigo? Ela deve estar agora mesmo na polícia.___ O que eu duvidada muito, ela só pensava em si mesma.
Me levanto sem conseguir respirar direito. A senhora de coque perfeito franze a testa, surpresa com a minha reação.
___ Minha mãe já deve ter colocado um aviso de 'procurada' no Facebook, Instagram e até no WhatsApp!___Tento ser dramatica mas não parece funcionar, pois eles continuam me encarando perplexos.
Saio andando até a porta para ir embora, mas paro quando a mulher de coque perfeito começa a chorar.
___ Minha senhora, como algo assim pôde acontecer ?
___ Não chore senhora marta, isso pode acontecer com qualquer um, o importante è que ela está aqui e a salva.
___ Mas como Roger? a mãe morreu a dez anos e ela chama por ela como se estivesse aqui
___ Por favor senhora Marta, se controle.
Eles estavam de brincadeira, só podia ser.
Marta de coque perfeito me olha com os olhos chorosos e vem até mim segurando minha mão
___ Me desculpe senhorita, mas já vi essa familia sofrer demais, e agora a senhorita está assim, não quero ter que vê-la tão perdida como se não fosse mais você.
Mas não era por sua causa que eu tinha parado e sim pelo que ela falou da minha mãe
___ Voce disse que minha mãe morreu há dez anos? isso é impossivel.
___ Olhe?! é o que digo, ela não lembra mais nem de sua pobre mãe, que descanse em paz.
___ Eu entendo sua preocupação senhora Marta, mas por favor não chore mais.
Diz o médico.
Meus olhos estavam arregalados sem saber o que fazer, será que luce tinha morrido enquanto eu estava em coma?
___ Quero saber o nome__ Digo desconfiada
___ O nome? o médico rebate confuso
___ O nome da minha mãe, como ela se chamava?
O médico hesita antes de responder:
___ Seu nome era Emily Fiorelli.
___Emily...Fiorelli?", repeti, com a descrença.
Eu nunca tinha ouvido falar dessa mulher, eles estavam loucos se iriam me prender aqui. Saio do quarto sem olhar para trás, desço alguns lances de escada ainda perdida e vou parar em um jardim. O sol brilhava sobre as flores vibrantes, mas não consegui apreciar a beleza ao meu redor. Eu ainda estava processando as palavras do médico: Emily Fiorelli. Essa mulher não era minha mãe, Eu me lembrava dela, e ela não era essa tal de Emily, eu estava aliviada, pelo menos luce não tinha morrido e sim essa Emily. Uma lágrima rolou pelo meu rosto sem que eu percebesse, o que era estranho porque eu quasse nunca chorava . Eu estava perdida, confusa e sozinha. Ninguém parecia entender o que eu estava passando. Nem mesmo eu mesma. De repente, ouvi passos atrás de mim.
___Senhorita Astória?"
chamou uma voz suave. Não respondi, convencida de que ela buscava alguém por perto.
___Senhorita Astória, você está bem?
Me virei dando de cara com Corine, a mulher que havia me ajudado no quarto.
___Você tá falando comigo
Ela me olhou sem compreender e fez que sim.
___Foi mal, mas eu não sou essa Astória. Deve ter se enganado.
Eu me virei, achando que a conversa tivesse acabado, mas ela falou novamente.
___Mas a senhorita é Astória.
Olho para a mulher de cabelos loiros e pele de porcelana.
___Não, não sou. Talvez você seja ela.
Falo a desafiando
Ela hesita.
___Talvez... talvez a senhorita esteja confusa devido ao acidente.
Sacudi a cabeça.
___Você acha?__ ela me encara com preocupação.
Suspiro, derrotada.
__Sabe se alguém sabe o que está acontecendo comigo?
___Mas... o médico disse...
___Eu estou bem__ interrompi __ Só estou confusa
Um silêncio desconfortável pairou entre nós. Olho para ela, que parecia não querer mais falar.
___E então? Sabe quem pode me ajudar? Digo, impaciente.
____Vamos falar com sua avó amanhã__ ela sugere, esperançosa.__ Talvez ela possa ajudar a senhorita com isso.
Minha avó? De novo isso, eu não tinha uma a muitos anos, não queria falar com uma desconhecida , mas talvez ela realmente soubesse de algo.
___Perfeito__digo
Eu estava começando a ficar mal, minhas pernas estavam querendo derreter de fraqueza, eu precissava voltar pra casa, mas não sabia como.
___Você pode me dizer onde ela tá agora?__ perguntei sem rodeios.
___Ela fica na mansão principal dos Fiorelli
___Fiorelli, como o sobrenome de Emily?___perguntei, seguindo a lógica___...esse lugar fica muito longe daqui?
___Sim, a senhorita Emily era filha da matriarca da casa Fiorelli, a mais nova__respondeu ela, fazendo uma pausa antes de continuar.__E a casa fica um pouco longe, mas o motorista virá buscá-la assim que se recuperar do acidente. Ela chamará a senhorita em algum momento. Senhorita, o médico e a senhora Marta estão muito preocupados. Por favor, venha para o quarto.
___Sei..__suspiro frustrata.
Eu não queria ficar mais aqui, e não queria esperar para encontar uma desconhecida. Estava com medo, poderiam muito bem estarem querendo meus orgãs, sei lá. Mas eu precisava ter calma. De repente, escutei passos vindo em nossa direção. Limpei os olhos; eu estava muito fraca. Eles não precisavam ver mais fraquezas em mim. No entanto, foi difícil pensar direito quando a fraqueza do meu corpo aumentou. Senti minha consciência se esvair enquanto os passos se aproximavam. Tentei manter os olhos abertos, mas a fraqueza prevaleceu. Caí para frente de joelhos, me sentindo perdida. A escuridão me puxava para o abismo novamente, e não havia nada que eu pudesse fazer.
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