Capítulo 9
Ethan voltou para a sua cela. Sentou diante de seus pertences organizados no parapeito da janela. De lá, pegou o último livro embaixo da pilha. Abriu na página 74. Lá estava ela, com aqueles olhos azuis, sorriso franco, bochechas rosadas e os cabelos loiros caindo por seus ombros, cobrindo seus seios.
Caroline Anderson. Filha do importante Sr. Anderson. Ela tinha quinze anos quando seu pai, querendo lhe dar disciplina, a matriculou em aulas de equitação. A menina não gostava de seguir regras. Questionava tudo e todos. E foi contrariada que chegou até o centro de treinamento da cidade para ter aulas de montaria.
O treinador contratado sabia que não seria uma tarefa fácil. A postura da menina ao deixar o carro que lhe trouxe dizia muito. Braços cruzados, passos pesados e cara amarrada. Após uma semana nessa rotina que lhe foi imposta, a expressão em seu rosto tomou outra forma. Estava completamente enfeitiçada por aquele rapaz de sorriso largo, olhos amendoados e cabelos precisando urgentemente ser domados.
Toda vez que o grande campeão passava perto, Caroline não conseguia disfarçar o arrepio que sentia por todo o seu corpo. As aulas agora passaram a ser interessantes. Todos os dias depois do colégio corria para vestir as roupas apropriadas, entrava no carro e pedia para o motorista ir rápido.
Passou a ser uma aluna disciplinada, mesmo fazendo atividades que julgava desnecessárias ou até mesmo humilhantes para o seu nível social. Acabava fazendo de bom grado, tudo para impressionar Ethan Lewis, o grande campeão. Não precisava ter feito tanto esforço, o rapaz já havia lhe dado o coração sem ao menos trocarem uma palavra.
"— Tente deixar suas costas mais eretas, contraia o músculo do abdômen, isso lhe dará mais equilíbrio..."
E com essas palavras, Ethan iniciaria o primeiro de muitos diálogos que passariam a ter naquele verão. Passaram alguns meses entre olhares, acenos e sorrisos, até o rapaz tomar coragem e falar com a garota. Ele sabia de quem era filha e já havia sido diversas vezes advertido por todos, inclusive por seu pai. Mas como resistir ao que os sentimentos determinam? Ignorou todos e se arriscou. Ela correspondeu. Também não tinha escapatória, estava apaixonada platonicamente por ele.
O primeiro contato de seus lábios aconteceria algumas semanas após as primeiras palavras trocadas. Foi o primeiro beijo de Caroline e o primeiro beijo apaixonado de Ethan. Naquele dia, soube que se casaria com ela a qualquer custo. Sua missão passou a ter dois objetivos: dar uma vida melhor para o pai e se casar com a Srta. Anderson.
Cada um tinha o seu treino. Quando terminavam, davam um jeito de se encontrarem às escondidas. Ficavam horas deitados sob a sombra do carvalho. Sentiam o peito apertar quando chegava a hora da moça retornar para sua casa. Quando as aulas de Caroline recomeçaram, sempre que havia folga entre uma preparação e outra Ethan dava um jeito e ia ao seu encontro. E dessa forma Sr. Anderson acabou sabendo do namoro. E o tornou proibido. Caroline não teria mais aulas de equitação.
Ethan intensificou o treino. Estava disposto a ser melhor do que foi na campanha anterior. O pai olhava com desconfiança e tristeza. Por mais dificuldades que passassem, sempre conseguiu dar tudo ao filho e isso estava totalmente fora do seu alcance, o pai daquela garota não aceitaria ter como genro o filho do treinador. Por mais dinheiro que Ethan pudesse ganhar, ele sempre seria inferior à filha do grande empresário, detentor de uma das maiores fortunas daquele lugar.
Caroline se rebelou, tentou fugir de casa, apanhou. Ethan se afastou. Mas prometeu que ganharia a competição e seria pela segunda vez campeão internacional, e quando isso acontecesse, o pai dela o aceitaria. Ambos estavam iludidos, o amor cegava. A menina esperou, torceu, foi nas competições, que aconteciam perto de casa, escondida. E em uma dessas, perdeu a virgindade. Fizeram amor um dia antes de Ethan embarcar para as competições fora do país. Ficariam meses afastados. Fizeram amor quando ele retornou, praticamente já como o grande campeão daquele ano. Apenas uma competição faltava para ter o prêmio em suas mãos.
A nova fivela em sua cintura foi removida com muito cuidado pelas mãos delicadas de Caroline. A unha na cor roxa fazia com que sua pele parecesse ainda mais alva. O brilho dourado da fivela, com um belo cavalo cravado, adornado por pedraria de esmeralda, foi deixado de lado sobre o criado-mudo, ao lado da cama daquele quarto de motel em que Ethan se registrara mais cedo. Passou meses esperando esse momento, de poder ter a sua linda garota de volta aos seus braços, e agora em um lugar adequado e sem pressa.
Segurou com suas mãos grandes e cheias de calos os cabelos loiros, colocando-os para trás. A garota sorriu e fechou os olhos azuis. Em sua barriga havia borboletas brigando por espaço. Não era a primeira vez que isso ia acontecer, mas em todas sempre havia aquela mesma sensação de libertação, de plenitude querendo ser alcançada. Conseguia sentir quando o seu corpo já suado parava de se mover e ficava aninhado contra o peito daquele que lhe oferecia mais do que proteção.
Os lábios dele colaram nos dela com suavidade. Os sabores se misturavam. Os olhos foram fechados para prolongar cada vez mais as sensações. Caroline, nas pontas dos pés, se entregava de corpo e alma àquele beijo demorado. Apoiada em seu pescoço, desceu suavemente suas mãos macias pela camisa xadrez em tons de preto e azul, alcançando a camiseta branca encardida que vinha por baixo. Abraçaram-se apertado. Caroline batia no meio do seu peito e Ethan colocou o queixo sobre sua cabeça e sentiu o cheiro doce que vinha de seus cabelos. As unhas bem-feitas raspavam carinhosamente por aquelas costas largas e de músculos definidos. Ethan suspirou quando o toque chegou perto de sua cintura. Segurou as duas mãos dela e a conduziu até a cama. Caroline deitou e esperou. Uma espera curta, suficiente para poder ver o dorso nu do seu namorado.
— Meu Deus! O que aconteceu? — a voz dela ecoou alta naquele quarto.
— Com o quê? — Ethan percebeu do que se tratava aquele espanto em Caroline. — Meus hematomas? Isso acontece sempre, não precisa ficar preocupada. — Sentou-se ao seu lado na cama, segurando uma de suas mãos. — Depois de sacolejar e ser jogado de um lado para o outro e as tantas quedas, isso aqui não é nada, tenho muita sorte de não ter quebrado nenhum osso.
— Já quebrou antes? — Caroline se aproximou olhando atenta os machucados. Nesse momento era como se pudesse sentir a dor que seu amado sentiu quando aquelas marcas lhes foram gravadas.
— Alguns — sorriu e beijou suas mãos.
— Está doendo? — Caroline, com sua mão livre, passava com cuidado sobre os roxos espalhados pelo corpo de Ethan.
— Quando estou com você não sinto nenhuma dor, nenhum mal me alcança. Você é meu anjo, nunca se esqueça disso!
Caroline, com lágrimas nos olhos, jogou-se naqueles braços firmes. Deitaram encaixados naquela cama de segunda e de lençóis ásperos. Mas não estavam ligando para isso. Tinham naquele momento tudo que precisavam: um ao outro. O amor que ofereciam. Testa com testa, olho a olho, nariz a nariz, bocas unidas. Peito com peito, braços se envolvendo e roupas perdendo suas funções.
Devagar um se entregava ao outro, mais uma vez. Os dedos longos dele contornaram toda a extensão do corpo de Caroline. Tocava em lugares que a faziam gemer de prazer, e Ethan atentamente a observava. Gravava tudo em sua memória, e agora, mais de vinte anos depois do que se passou naquele quarto conseguia lembrar-se até do cheiro do perfume que ela usava.
Fazia muitos anos que não chorava. Chorou por muito tempo desde que conheceu seu anjo loiro — era assim que se referiu a ela por um longo tempo. Ela tinha esse efeito. Fazia com que chorasse até sem motivo, apenas de observá-la entre as flores, e não conseguia conter as lágrimas que caíam. Eram lágrimas de alegria e tristeza, de orgulho e de raiva. E depois, já quase no fim, de decepção. Não conseguiu cumprir com a promessa que havia feito ao Sr. Anderson. Havia fracassado. Talvez o homem estivesse, do buraco onde foi sepultado, dançando em comemoração ao que estava prestes a acontecer com o genro que tanto detestou.
— Está acabando, apenas alguns dias e voltarei a te ver.
Beijou aquele retrato da amada ainda jovem. Pediu que Matias lhe trouxesse aquele em específico. Queria ter ali com ele a imagem dela de quando ainda eram felizes juntos, já bastava o sofrimento dentro dos muros, precisava de algo que lembrasse que foi feliz com ela, a razão do seu viver. Assim pensava até esses últimos dias terem chegado. Então tudo mudou. E agora era tarde, não dava mais tempo para consertar, apenas desejava que no final pudesse ser perdoado. Colocou aquele papel contra o peito, fechou os olhos e sonhou. O sonho mais bonito que se recordaria.
xXx
Personagem novo na área! O que acharam de Caroline?
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